Presente ruim e futuro econômico desanimador para a construção civil
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- Sara Tomé Santana
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1 CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS DA CONSTRUÇÃO E DO MOBILIÁRIO RECONHECIDA NOS TERMOS DA LEGISLAÇÃO VIGENTE EM 16 DE SETEMBRO DE 2010 Estudo técnico Edição nº 17 outubro de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico CONTRICOM Reconhecida nos term os da legislação vigente em 16 de setem bro de 2010 Presente ruim e futuro econômico desanimador para a construção civil 1
2 Setor já espera o pior resultado dos últimos 14 anos O setor da construção civil deverá fechar 2014 com o prior resultado dos últimos 14 anos. Diante do fraco desempenho da economia como um todo, o término dos empreendimentos da Copa do Mundo e as dificuldades para aumentar os investimentos em infraestrutura, a previsão é que o Produto Interno bruto (PIB) do setor reverta o quadro de crescimento robusto dos últimos anos e caia 6,2%. No ano passado, a construção civil teve participação de 5,4% no PIB total do país e empregou mais de 2 milhões de trabalhadores. O melhor resultado ocorreu em 2010, quando o PIB do setor avançou 11,6%, influenciado, em especial, pelo boom imobiliário. De lá para cá, o crescimento das atividades do setor foi um pouco mais modesto. Em 2013, avançou 1,6% e criou apenas 48 mil postos de trabalho (abaixo dos 95 mil de 2012). No segundo trimestre deste ano, o nível de atividade do setor despencou 9,6% comparado a igual período de Esse resultado negativo é decorrente de vários fatores, tais como o atraso e adiamento de obras da infraestrutura, elevação do endividamento das famílias, o aumento do custo dos materiais e o arrefecimento do mercado imobiliário. Por exemplo, de janeiro a julho deste ano as vendas de imóveis novos caíram 49% e o número de lançamento de novas unidades, 21,5%, comparado a igual período de O cenário de incertezas eleitorais também causou uma freada no setor. Outra incerteza é com relação aos programas voltados para portos e ferrovias, por exemplo, que representam grande volume de mão-de-obra e contratos bilionários, mas que ainda não saíram do papel. Nesse 2
3 quadro de incertezas e freadas o mercado de trabalho do setor se encontra em queda e as contratações praticamente estagnadas. Uma notícia positiva para o setor é a continuidade do programa Minha Casa, Minha Vida, com 350 mil novas unidades a partir do ano que vem. Mas esse é apenas um dos negócios do setor. Se não houver reação em outras áreas, a recuperação da atividade fica mais difícil e o desemprego deverá aumentar em No primeiro trimestre, segundo o IBGE, o PIB da construção civil caiu 0,9% - e as projeções do Relatório de Inflação do Banco Central (BC), divulgado quinta-feira, são de um declínio de 2,3% em 2014 e de 1,5% em Gráfico 01: PIB da Construção Civil recua (em %) Fonte: IBGE A inflação do setor também preocupa. A taxa de inflação dos custos de materiais para a construção civil está subindo gradativamente sendo que no último mês subiu mais que o dobro agravando a crise no setor imobiliário. Segundo um levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas, a inflação referente ao setor da construção civil aumentou 2,03% no mês de maio. O Índice Nacional de Custo da Construção Mercado (INCC-M) já acumula alta de 8,18% nos últimos 12 meses, enquanto o índice nacional está em 6,5%. 3
4 A remuneração dos trabalhadores do setor O setor da Construção Civil apresenta uma das menores remunerações reais médias ao mês em relação aos principais segmentos econômicos do país, estão situados na penúltima colocação. Os trabalhadores da Construção Civil possuem uma renda superior apenas ao segmento econômico da Agropecuária. Isso não é nada animador uma vez que se sabe que o segmento da Agropecuária possui historicamente uma baixa formalização da mão-de-obra ocupada e muita informalização o que geram também uma baixa remuneração. O gráfico 2 mostra os valores das remunerações por segmento econômico nos anos de 2011, 2012 e Analisando os valores, verifica-se que o setor da Construção Civil apresentou remunerações de R$ em 2011, R$ em 2012 (crescimento real de 3,65%) e R$ em 2013 (crescimento real de 4,33%). Os trabalhadores melhor remunerados se encontram na Indústria Extrativa Mineral, variando de R$ em 2011 para R$ em 2013, seguidos dos trabalhadores nos Serviços Industriais de utilidade pública (SUIP), que variou de R$ em 2011 para R$ 3.752, ou seja, sofreram uma queda real nos salários de 2,6%, por conta da política governamental de represamento das tarifas públicas o que afetou as empresas e os trabalhadores desse segmento. 4
5 Gráfico 02: Evolução da remuneração média real mensal da Construção Civil e de outros setores econômicos (em R$) a 2013 Fonte: IBGE Com relação aos níveis salariais comparativos entre os sexos masculino e feminino no setor da construção a tabela 1 mostra que as mulheres ganham mais do que os homens na proporção de 7,0% a mais em 2012 e de 5,2% a mais em Houve, portanto uma redução na diferença salarial entre os sexos. Tabela 1: Diferença da remuneração média recebida pelos homens em relação às mulheres por setor econômico 2012 e 2013 (em %) Setor de Atividade Econômica Extrativa mineral 2,8 2,9 Indústria de Transformação 34,9 34,6 Serviços industriais de utilidade pública 14,1 13,9 Construção Civil -7,0-5,2 Comércio 19,4 18,4 Serviços 20,8 21,4 Administração Pública 27,2 24,8 Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca 19,3 18,3 Fonte: CAGED/Ministério do Trabalho e Emprego 5
6 Com relação aos ganhos nas negociações coletivas de trabalho, a tabela 2 mostra que o setor da construção civil auferiu maiores ganhos reais de salários em todo o período considerado de 2008 a 2014 em relação a aos principais segmentos econômicos do país. Tabela 2: Aumento real médio, por atividade econômica na Indústria (em %) Atividade Econômica Alimentação 0,86 0,61 0,86 1,32 1,68 0,80 1,46 Construção e Mobiliário 1,73 1,25 2,80 2,39 3,41 1,77 2,00 Fiação e Tecelagem 0,73 0,23 0,76 0,61 1,20 0,56 1,31 Gráfica 0,80 0,60 1,57 0,78 1,42 0,83 1,23 Metalúrgica, Mecânica e Mat. Elétrico 1,25 0,65 1,57 1,78 2,57 1,27 1,87 Química e Farmacêutica 0,77 0,18 1,01 1,10 1,51 0,79 1,08 Vestuário 0,22 0,25 0,99 0,72 1,53 0,99 1,14 Fonte: DIEESE. SAS-DIEESE Sistema de Acompanhamento de Salários O nível de emprego no setor Desde janeiro deste ano o aumento das demissões vem sendo verificado. Não há uma expectativa de recuperação no curto prazo, principalmente do setor de infraestrutura, que é menos otimista e depende mais de encomendas governamentais. Não há perspectiva no curto prazo de reverter o processo de demissões. Os três setores da construção pesquisados (infraestrutura, edifícios e serviços especializados) também registraram queda no emprego nos últimos meses. O saldo de demissões no primeiro semestre de 2014 já soma trabalhadores em todo o setor da construção (gráfico 3). 6
7 Com relação aos tipos de demissões, elas ocorrem principalmente nos contratos por prazo indeterminado. Eles representam entre 76% e 79% no caso dos contratos urbanos e em 85% quando se agregam os contratos urbanos e rurais. Já os contratos temporários representam entre 6,0% e 4,4% do total das demissões. Outro ponto importante é com relação às causas dos desligamentos dos trabalhadores dos seus empregos. Mais da metade das rescisões devese à iniciativa do empregador e são sem causa, outra quinta parte vincula-se ao término de contrato. Essa situação revela a flexibilidade contratual que, por sua vez, facilita a rotatividade no mercado de trabalho. Além do fantasma do desemprego que já ameaça os lares dos trabalhadores, a taxa de rotatividade na construção civil é a maior de todos os setores econômicos do país (gráfico 3). As demissões de trabalhadores pela própria empresa chegam a 87,4% (2013), com base em números da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Esse valor fica ainda maior quando se leva em conta fatores alheio à vontade das empresas, como aposentadoria, morte ou demissão voluntária. Com essas inclusões a taxa geral alcança 114,9% em Esse percentual significa que, para cada vínculo do estoque médio do setor, em cada ano, existiram vários vínculos desligados. Gráfico 3: Desemprego no setor em comparação aos demais setores econômicos 7
8 Acidentes de trabalho no setor O setor da construção civil lidera o ranking dos setores industrias que mais registra acidentes de trabalho no Brasil. O quantitativo dobrou em seis anos, conforme o gráfico abaixo. A quantidade de acidentes cresceu de em 2008 para (gráfico 4). Gráfico 4: Evolução dos acidentes de trabalho na Construção Civil (Quantidade ao ano) 8
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