Armindo Daniel Tiago MD, PhD, END September, 2014



Documentos relacionados
REGULAÇÃO HORMONAL DO METABOLISMO

DIABETES MELLITUS. Prof. Claudia Witzel

Hormonas e mensageiros secundários

Tópicos da Aula. Classificação CHO. Processo de Digestão 24/09/2012. Locais de estoque de CHO. Nível de concentração de glicose no sangue

Células A (25%) Glucagon Células B (60%) Insulina Células D (10%) Somatostatina Células F ou PP (5%) Polipeptídeo Pancreático 1-2 milhões de ilhotas

24 de Outubro 5ª feira insulinoterapia Curso Prático Televoter

Diabetes INVESTIGAÇÕES BIOQUÍMICAS ESPECIALIZADAS

Diabetes Mellitus em animais de companhia. Natália Leonel Ferreira 2º ano Medicina Veterinária

Congresso do Desporto Desporto, Saúde e Segurança

14º Encontro da Saúde Militar da SADC Avanços no Tratamento da Diabetes Tipo2

TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DO DIABETES MELLITUS: SULFONILUREIAS E BIGUANIDAS

EXERCÍCIO E DIABETES

Disciplina de BIOQUÍMICA do Ciclo Básico de MEDICINA Universidade dos Açores. 1º Ano ENSINO PRÁTICO DIABETES MELLITUS

Saiba quais são os diferentes tipos de diabetes

Os efeitos endocrinológicos na cirurgia da obesidade.

CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA DA SAÚDE CESAU

ESPECTRO. ALTERAÇÕES METABÓLICAS DA OBESIDADE e DMT2 EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES Diabetes Tipo 2 em Crianças. Classificação de Diabetes em Jovens

Dia Mundial da Diabetes - 14 Novembro de 2012 Controle a diabetes antes que a diabetes o controle a si

O QUE SABE SOBRE A DIABETES?

VI - Diabetes hiperglicémia


DIABETES E CIRURGIA ALVOS DO CONTROLE GLICÊMICO PERIOPERATÓRIO

Alterações Metabolismo Carboidratos DIABETES

Tratamento de diabetes: insulina e anti-diabéticos. Profa. Dra. Fernanda Datti

Disciplina: FISIOLOGIA CELULAR CONTROLE DA HOMEOSTASE, COMUNICAÇÃO E INTEGRAÇÃO DO CORPO HUMANO (10h)

Veículo: Jornal da Comunidade Data: 24 a 30/07/2010 Seção: Comunidade Vip Pág.: 4 Assunto: Diabetes

Profa. Fernanda Oliveira Magalhães

Diabetes Mellitus e Exercício

DM Tipo 1 e Tipo 2: Principais abordagens terapêuticas e medicamentosas Marcio Krakauer

DIABETES TIPO 2 PREVALÊNCIA DIAGNÓSTICO E ABORDAGEM. Paula Bogalho. S. Endocrinologia Diabetes e Metabolismo

à diabetes? As complicações resultam da de açúcar no sangue. São frequentes e graves podendo (hiperglicemia).

INSULINOTERAPIA. Aluna: Maria Eduarda Zanetti

Sessão Televoter Diabetes

OS 5 PASSOS QUE MELHORAM ATÉ 80% OS RESULTADOS NO CONTROLE DO DIABETES. Mônica Amaral Lenzi Farmacêutica Educadora em Diabetes

Insulinização. Niepen Programa de Educação Continuada Educação Continuada para APS. Dra Carla Lanna Dra Christiane Leite

Protocolo para controle glicêmico em paciente não crítico HCFMUSP

AS MODERNAS INSULINAS

DIABETES MELLITUS. Curso de semiologia em Clínica Médica II

NÚMERO: 002/2011 DATA: 14/01/2011 ASSUNTO: PALAVRAS CHAVE: PARA: CONTACTO:

17/08/2014. Prof. Me. Alexandre Correia Rocha Prof. Me Alexandre Rocha

PALAVRAS-CHAVE Diabetes mellitus. Insulina. Acompanhamento farmacoterapêutico.

Diabetes mellitus em felinos Ricardo Duarte

Curso: Integração Metabólica

VOCÊ CUIDA DO SEU DIABETES, A GENTE CUIDA DE VOCÊ.

Sessão Televoter Diabetes. Jácome de Castro Rosa Gallego Simões-Pereira

Incretinomiméticos e inibidores de DPP-IV

DIABETES MELLITUS. Ricardo Rodrigues Cardoso Educação Física e Ciências do DesportoPUC-RS

Pré diabetes. Diagnóstico e Tratamento

PERFIL PANCREÁTICO. Prof. Dr. Fernando Ananias. MONOSSACARÍDEOS Séries das aldoses

Como prescrever o exercício no tratamento do DM. Acad. Mariana Amorim Abdo

Que tipos de Diabetes existem?

Diabetes. Fisiopatologia e Farmacoterapia II. Introdução. Insulina 12/02/2012. Introdução Ilhotas de Langerhans

AS SOLUÇÕES A prevalência da diabetes na população portuguesa entre os anos é:

Tratamento do Diabético com Doença Renal Crônica

Insulinoterapia na Diabetes tipo 2

Diabetes Tipo 1 e Cirurgia em Idade Pediátrica

PALAVRAS CHAVE Diabetes mellitus tipo 2, IMC. Obesidade. Hemoglobina glicada.

IDENTIFICANDO AS COMPLICAÇÕES DO DIABETES MELLITUS EM FREQÜENTADORES DE UM CENTRO REGIONAL DE ESPECIALIDADES (CRE) 1

Workshop em insulinoterapia CASOS CLÍNICOS. Joana Guimarães e Márcia Alves 16 de Maio de 2014

Sessão Televoter Diabetes

Dossier Diabetes Índice

METABOLISMO DE LIPÍDEOS

ALTERAÇÕES METABÓLICAS NA GRAVIDEZ

11º Curso Pós-Graduado NEDO 2010 Endocrinologia Clínica Diabetes. Diabetes: avaliação da evolução e do tratamento

Abordagem Diagnóstica e Terapêutica da Diabete Melito Não Complicada em Cães

Diabetes - Introdução

Diabetes mellitus em felinos

47 Por que preciso de insulina?

METABOLISMO. - ATP é a moeda energética da célula

Tome uma injeção de informação. Diabetes

PALAVRAS-CHAVE Diabetes mellitus. Aconselhamento. Glicemia.

Estudo mostra que LANTUS ajudou pacientes com Diabetes Tipo 2 a atingirem a meta recomendada pela ADA para o controle de açúcar no sangue

TRABALHO SUBMETIDO AO 4º ENDORIO PRÊMIO INGEBORG LAUN (MÉRITO CIENTÍFICO) CONTROLE GLICÊMICO DE MULHERES COM DIABETES GESTACIONAL

Profa. Dra. Maria Cristina Foss-Freitas Departamento de Clínica Médica Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

DIABETES MELLITUS: MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EVIDENCIADAS EM IDOSOS ATENDIDOS EM UMA UNIDADE SAÚDE DA FAMÍLIA DO MUNICÍPIO DE ALAGOA GRANDE-PB

Retinopatia Diabética

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DO DIABETES MELITUS - ADO

Cetoacidose Diabética. Prof. Gilberto Perez Cardoso Titular de Medicina Interna UFF

O QUE POSSO FAZER PARA REDUZIR O RISCO DE COMPLICAÇÕES DECORRENTES DO DIABETES TIPO 1?

Conheça mais sobre. Diabetes

FACULDADE DE FARMÁCIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA. Bases Fisiológicas da Sede, Fome e Saciedade Fisiologia Humana

Como surge o diabetes? Como surge o diabetes?

Insulinoterapia na Diabetes tipo 2

ATIVIDADE FÍSICA E DIABETES. Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

APOSTILA AULA 2 ENTENDENDO OS SINTOMAS DO DIABETES

Programa Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) Campanha de Prevenção e Controle de Hipertensão e Diabetes

DROGAS HIPOGLICEMIANTES

Os portadores de diabetes representam 30% dos pacientes que se internam em unidades coronarianas.

Pesquisa revela que um em cada 11 adultos no mundo tem diabetes

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM. Fisiologia Endócrina. O Pâncreas. Prof. Wagner de Fátima Pereira

Dra. Kátia R. P. de Araújo Sgrillo.

Bruno de Oliveira Fonseca Liga de Diabetes UNIUBE 11/06/2012

Transcrição:

Armindo Daniel Tiago MD, PhD, END September, 2014

1. Objectivos do tema 2. Fisiologia da regulação da glicose 2. Fisiopatologia da DM e diagnóstico da DM 3. Classificação das complicações da DM 4. Fisiopatologia das complicações 5. Abordagem terapêutica da DM e das complicações 6. Considerações finais

Geral Compreender a DM, suas complicações e respectivo tratamento Específicos Diagnosticar a DM Explicar a fisiopatologia da DM Tratar correctamente a DM com base nos mecanismos fisiopatológicos Compreender a ocorrência e mecanismo das complicações agudas e crónicas

Glicose como fonte vital de energia para as células Necessidade de controlo rigoroso da glicémia 70 a 99 mg/dl (3,9 a 5 mmol/l) Vários mecanismos (órgãos) de controlo da glicose Intestino, Fígado, pâncreas (2), músculo esquelético, tecido adiposo, rins, cérebro

Hormonas Insulina, glucagona, incretinas, Necessidades metabólicas do corpo Jejum/Pós-prandial Exercício/repouso Sistema nervoso (central e periférico)

Aumento de transporte de glicose para as células (GLUT) Aumento da utilização da glicose Promoção da glicogénese Promoção da lipogénese

Promoção da glicogenólise hepática Promoção da gliconeogénese (aminoácidos e acido láctico)

Duas incretinas Glucagon-like peptide-1 (GLP-1) Glucose-dependent insulinotropic polypeptide (GIP), também conhecido como gastric inhibitory polypeptide Acção sobre secreção de insulina (aumenta 60% pp) e glucagona(diminui) e atraso no esvaziamento gástrico

Difusão facilitada: GLUT, 12 tipos diferentes GLUT 4 (mais usado: músculos cardíaco e esquelético e tecido adiposo). Necessidade de insulina Fígado e cérebro: GLUT 1, 2, 3, e 8 (presentes na membrana celular, sem necessidade de insulina)

Balanço de glicose como resultado de captação, uso, armazenamento e excreção pelas células ou tecidos

Hiperglicémia como desequilíbrio dos mecanismos reguladores (todos os órgãos envolvidos) Resistência insulínica (excepto cérebro): defeitos nas vias de sinalização? / nº de receptores de insulina?/ síntese de glicose muscular estimulada pela insulina

Deficiência insulínica ( massa de células beta por aumento de apoptose e defeitos secretores da células Beta: papel da glicotoxicidade e lipotoxicidade) Aumento da produção hepática de glicose (insulinorresistência hepática e disfunção das células alfa com hiperglucagonemia) Disfunção de adipócitos ( capacidade de armazenamento de TG e libertação de AGL) O conceito de octecto apocalíptico

Islet -cell Impaired Insulin Secretion Decreased Incretin Effect Increased Lipolysis Islet -cell Increased Glucagon Secretion Increased Glucose Reabsorption Increased HGP Neurotransmitter Dysfunction Decreased Glucose Uptake

100 80? Time of diagnosis Normal -cell function by HOMA (%) 60 40 Pancreatic function ~50% of normal 20 0 10 8 6 4 2 0 2 4 6 Time (years) HOMA=homeostasis model assessment Adapted from Holman RR. Diabetes Res Clin Pract 1998;40(suppl 1):S21 5. 14

DM tipo 1 DM tipo 2 Diabetes Gestacional Outros tipos específicos Por vezes classificação difícil de estabelecer (obesidade)

1. A1C 6.5%. The test should be performed in a laboratory using a method that is NGSP certified and standardized to the DCCT assay. * OR 2. FPG 126 mg/dl (7.0 mmol/l). Fasting is defined as no caloric intake for at least 8 h. * OR 3. 2-h plasma glucose 200 mg/dl (11.1 mmol/l) during an OGTT. The test should be performed as described by the World Health Organization, using a glucose load containing the equivalent of 75 g anhydrous glucose dissolved in water. * OR 4. In a patient with classic symptoms of hyperglycemia or hyperglycemic crisis, a random plasma glucose 200 mg/dl (11.1 mmol/l).

Agudas Cetoacidose diabética Coma hiperosmolar Hipoglicémia Crónicas Microvasculares Macrovasculares

Em relação com o nível de controlo da glicémia e duração da doença (específicas da DM) Afectam microcirculação e em relação com: Glomérulo: Rim (nefropatia diabética) IRC Retina: Olhos (retinopatia diabética) Cegueira Nervos (neuropatia diabética) Amputação

Não específicas da DM Afectam vasos de maior calibre Carótidas: Cérebro AVC Coronárias: Coração DCV Membros (juntamente com neuropatia e infecções) amputações

20

Considerar o tipo de DM Quatro pilares principais de tratamento Alimentação saudável Composição (quantidade e qualidade) Actividade física regular 150 minutos por semana. Combinar prazer e saúde Educação contínua Empoderamento do doente e família Medicamentos. ADOs e Insulina

Repouso célula β Controlo metabólico adequado Anulação da glucotoxicidade Melhoria da função insulino-secretora

Stepwise intensification of treatment for continuity of control HbA 1c above target FBG above target HbA 1c above target FBG at target HbA 1c above target Basal Add basal insulin and titrate Oral agents Lifestyle changes Basal bolus Basal plus three prandial Basal Plus 2 Stepwise addition of two prandial for largest glucose excursions Basal Plus 1 Add prandial insulin for largest glucose excursion Progressive deterioration of -cell function Adapted from Raccah D, et al. Diabetes Metab Res Rev 2007; 23:257-264 26

HIpolicémia Controlo glicémico

E quando na DM2? Falência secundária aos ADO Corticoterapia Situações de infecção com hiperglicémia agravada Intolerância aos ADO Insuficiência renal ou hepática moderadas a graves

Peso do doente (resistência insulínica) Nível de actividade física (quanto maior menor a dose) Insuficiência renal (diminuir dose) Doença coexistente (em geral diminuir dose) Hábitos alimentares ( guloso - maior dose)

Ter em conta a secreção diária de insulina Dose diária média usada: 0,2-0,8 u/kg/dia Lembrar que: a diferença entre veneno e medicamento está na dose adequada Portanto, a prudência recomenda iniciar com 0,1-0,2 u/kg/dia (período de lua de mel, glicotoxicidade)

32 CLASSES Basal Bolus Premixed * Multiple Daily Doses # Continuous Subcutaneous Insulin Infusion REGIMENS Basal only TDD given at bedtime Basal-bolus (MDI)* basal at bedtime bolus before each of 3 main meals Premixed before breakfast before supper BEST REGIMEN as physiological as possible CSII # > basal-bolus > premix > basal

Insulin analogues Basal TDD given at bedtime Basal-bolus 50% given as basal at bedtime, e.g. insulin detemir 50% as bolus 10-20 min before meals ( 3), e.g. insulin aspart Premixed (e.g. biphasic insulin aspart) OD TDD at suppertime BD - 50% at breakfast + 50% at supper Human insulins Basal only TDD given at bedtime Basal-bolus 40% as basal at bedtime, e.g. NPH 60% as bolus, 1/3 30 min before each of the 3 main meals, e.g. SHI Premixed 2/3 30 min before breakfast 1/3 30 min before supper 33

Quando ocorre falencia aos ADOs, insulinoterapia deve ser iniciada 1 A insulinoterapia deve imitar a secreção fisiológica de insulina (basal e estimulada) em 24 hours 3 &4 Resolva primeiro a hiperglicémia em jejúm adicione insulina basal aos AHO 2 Uma única dose nocturna com insulina lenta ou intermédia, 3 com baixo risco de hipoglicémia 2 1. Hirsch IB. Clin Diabetes 2005;23:78 86. 2. Riddle M. Diabetes Care 2003;26:3080 86. 3. Lepore M. Diabetes 2000;49:2142 8. 4. Garg SK. Family Practice 2006;S1-S12. 34

Necessidade de regulação adequada da glicémia Hiperglicémia desequilíbrios resultantes de funcionamento de vários órgãos DM como condição que requer abordagem integrada Tratamento dependente do diagnóstico correcto Várias opções de tratamento: AHOs, insulina, dieta, exercício e educação