SENTENÇA I - RELATÓRIO Município de Salvador ajuizou ação de consignação em pagamento em face do Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde e Contendores das Doenças Endêmicas Epidemiológicas do Estado da Bahia SINDACS/BA e do Sindicato dos Servidores da Prefeitura do Salvador - SINDSEPS, postulando o constante da inicial (fls.1/6) e juntando documentos (fls.7/184). O consignante depositou a quantia a ser consignada no dia 13/07/2012 (fl. 192). Em audiência do dia 16/07/2012 as partes se fizeram presentes, tendo sido apresentadas as contestações à ação consignatória pelos sindicatos consignados (fls. 195/202 e 453/463, 1º e 2º consignados, respectivamente) acompanhadas de documentos (fls. 203/452 e 464/526, 1º e 2º consignados, respectivamente), bem como tendo o 2º consignado (Sindicato dos Servidores da Prefeitura do Salvador SINDSEPS) apresentado reconvenção (fls. 527/536), acompanhadas de documentos (fls.537/599), sendo deferido o prazo para que o 1º consignado juntasse aos autos outros documentos, bem como para que o consignante se manifestasse das contestações e documentos juntados pelos consignados, além de ser deferido prazo para que o 2º consignado (SINDSEPS) se manifestasse do documento intitulado extrato de alterações de dados perene (fls.599) juntado pelo 1º consignado (SINDACS/BA), motivo pelo qual a audiência foi redesignada. Alçada fixada em R$ 25.000,00. Nessa mesma audiência foi requerido pelo 1º consignado (SINDACS/BA) que fosse decretada a revelia do 2º consignado (SINDSEPS), deixando essa magistrada para proceder om a análise do pleito em outra oportunidade, ante a necessidade da análise da documentação trazida aos autos que comprovariam os fundamentos do requerimento (documentos de representação do SINDSEPS e documento de fls.599 juntado aos autos pelo 1º consignado). O 1º consignado (SINDACS/BA) juntou aos autos documentação (que fora deferida o prazo na audiência do dia 16/07/2012) às fls. 606/691. O consignante se manifestou das defesas e documentos juntados pelos consignados em petição de fls.694/698, não tendo o 2º consignado se manifestado quanto a documentação juntada pelo 1º consignado, conforme deferido em audiência do dia 16/07/2012. Em audiência do dia 23/10/2012 as partes se fizeram presentes, tendo inicialmente o 1º consignado (SINDACS/BA) reiterado o pedido de decretação de revelia do 2º consignado (SINDSEPS), tendo essa magistrada imediatamente se pronunciado que apenas apreciaria aludido pleito quando da prolação da sentença, após o que o consignante/reconvindo juntou aos autos contestação à reconvenção apresentada 1
pelo 2º consignado (SINDSEPS) às fls.706/707, bem como tendo o 1º consignado/reconvindo (SINDACS/BA) apresentado aos autos contestação à reconvenção apresentada pelo 2º consignado (SINDSEPS) às fls.708/719, juntando ainda, documentos (fls.720/811). O 2º consignado/reconvinte audiência foi dispensado o interrogatório das partes, tendo as mesmas declarado que não tinham mais provas a produzir. Razões finais reiterativas pelo 2º consignado/reconvinte e aduzidas pelo consignante/reconvindo e pelo 1º consignado/reconvindo. Recusadas as propostas de conciliação. Autos conclusos para julgamento. II FUNDAMENTOS. II. 1 DA CONSIGNAÇÃO. II. 1.1 PREAMBULARMENTE Entendo que no processo do trabalho a ação de consignação em pagamento só é admitida com a finalidade de evitar a mora do autor (que possuiu o prazo para realizar algum pagamento ou entrega de documento), em caso de recusa do réu em receber aludido pagamento, ou mesmo em caso de desaparecimento do credor, ou ainda em caso em que o autor não saiba a quem devem ser pagas as verbas que possuiu prazo para pagar (quando há dúvida por parte do autor a quem deve ser paga aludida verba), tendo como efeito reflexo a quitação dos valores consignados em juízo. Cumpre salientar que embora entenda seja admissível a aplicabilidade da norma processual civil quanto a ação de consignação em pagamento, essa norma só pode ser aplicável em caso de omissão e compatibilidade com os princípios e normas do direito do trabalho/processo do trabalho, a teor do art.467 da CLT. Por essa razão, entendo que o prazo previsto no art.893, I do CPC é inaplicável na ação de consignação em pagamento na Justiça do Trabalho, vez que não há omissão da CLT quanto ao prazo para pagamento das verbas aqui consignadas (contribuições sindicais), já que o próprio art.583 da CLT estabelece o prazo para que seja realizado aludido pagamento. II. 1.2 DA REVELIA DO 2º CONSIGNADO (SINDSEPS) Requereu o 1º consignado que fosse decretada a revelia do 2º consignado já que o diretor Bruno da Cruz Carianha, presente na audiência inaugural (no dia 16/07/2012 fls.189/190), não teria capacidade de representação, já não se encontra como diretor do sindicato, conforme comprova documentação juntada às fls.599. 2
Pois bem. 14ª VARA DO TRABALHO DE SALVADOR O caput e o 3º do art.522 da CLT estabelece que: Art. 522. A administração do sindicato será exercida por uma diretoria constituída no máximo de sete e no mínimo de três membros e de um Conselho Fiscal composto de três membros, eleitos esses órgãos pela Assembléia Geral. 3º - Constituirão atribuição exclusiva da Diretoria do Sindicato e dos Delegados Sindicais, a que se refere o art. 523, a representação e a defesa dos interesses da entidade perante os poderes públicos e as empresas, salvo mandatário com poderes outorgados por procuração da Diretoria, ou associado investido em representação prevista em lei. Pelo teor do dispositivo legal acima transcrito constata-se que os sindicatos apenas serão representados perante os poderes públicos (dentre os quais o poder judiciário) por seus diretores ou delegados sindicais ou por pessoa comandado outorgado pela diretoria. À vista da documentação acostada aos autos, em especial os documentos de ata de posse (fls.556/557), da ficha de qualificação dos eleitos (fls.558/564) da ata de eleição do coordenador geral (fls.565/566) e respectiva prova da publicação desta ata no DO (fls.567) e do extrato de alteração de dados perene do SINDSEPS (fls.599), contato que o Sr. Bruno da Cruz Carianha faz parte da chapa 2 (A Força da Base Autonomia e Luta), eleita como representante do SINDSEPS para o triênio de 2010/2013, sendo membro da diretoria colegiada deste sindicato, funcionando, pois como diretor. Cumpre ressaltar que o a obrigatoriedade de registro que menciona a OJ nº 15 da SDC do C.TST ( SINDICATO. LEGITIMIDADE "AD PROCESSUM". IMPRESCINDIBILIDADE DO REGISTRO NO MINISTÉRIO DO TRABALHO. (inserida em 27.03.1998) A comprovação da legitimidade "ad processum" da entidade sindical se faz por seu registro no órgão competente do Ministério do Trabalho, mesmo após a promulgação da Constituição Federal de 1988 ), diz respeito apenas ao registro da entidade no MTE e não à alteração do registro dos seus membros representantes, pelo que, entendo ser indiferente constar no documentos de fls.599 a situação da alteração como válida ou inválida. Assim, não há o que se falar em revelia do 2º consignado (SINDSEPS) já que se fez presente à audiência inaugural por meio de diretor regularmente eleito. 3
II. 1.3 DA REPRESENTAÇÃO SINDICAL DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE E AGENTES DE COMBATE DE ENDEMIAS. Sustenta o consignante que os tanto o 1º consignado (SINDACS/BA), quanto o 2º consignado (SINDSEPS) afirmam ser a única entidade sindical representante da categoria acima mencionada. Diz que ante a divergência quanto a representação sindical existente entre os 2 sindicatos consignados quanto à representação dos agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias, não teve como saber a quem deveria efetuar o pagamento da contribuição sindical obrigatória relativa ao ano de 2012, motivo pelo qual consignou o valor de R$ 66.302,33 referente a aludida contribuição para desonerar-se de sua obrigação. O 1º sindicato consignado (SINDACS/BA) alega em sua contestação que é o único representante da categoria dos agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias (inclusive dos que trabalham para o Município de Salvador). Diz, que aludidos trabalhadores sempre foram representados por ele, desde antes de terem seu regime jurídico alterado para o estatutário (fls.236/325, 331/334, 357/378, 383/384, 403/432, 434/452 e 653/692) e que mesmo quando passaram a serem servidores públicos (em 20/01/2011) continuaram resolvendo os seus impasses através do SINDACS/BA, inclusive no que tange à paralização e movimento paredista. (fls.226/230, 235/356, 379/382, 385/400 e 433) Alega, que os agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias trata-se de categoria diferenciada, nos termos do 3º do art.511 da CLT, já que existe lei específica que rege as suas atividades (Lei nº 11.350/2006 e Lei Municipal nº 7.196/2007) e como tal pode dissociar-se do sindicato principal para ser representado por um sindicato específico (SINDACS), nos termos do art.571 da CLT. Afirma que ante ao princípio da liberdade sindical (art.5º, XVII da CF/1988) os próprios agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias têm o direito de escolherem o sindicato ao qual desejam se filiar e que desejam que o represente e que os aludidos agentes teriam escolhido o SINDACS para representalos, já que mesmo quando passaram a serem servidores públicos (em 2011) continuaram resolvendo os seus impasses através do SINDACS/BA, inclusive no que tange à paralização e movimento paredista. Junta aos autos Por sua vez, o 2º consignado (SINDSEPS), diz, também, ser o único representante 4
da categoria dos agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias que trabalham para o Município de Salvador. Alega que à partir da promulgação da Lei nº 7.955 de 20/01/2011, os agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias tiveram a possibilidade de optarem pela mudança do regime do celetista para o estatutário e que quase a totalidade desses agentes optaram pela transmudação do regime para o estatutário e que à partir de então esses agentes passaram a ser verdadeiros servidores públicos municipais, pelo que passaram a ser representados pelo SINDSEPS, já que esse sindicato consta no seu estatuto, em seu art.55, 2º que aludida entidade congrega todos os servidores públicos do município de Salvador (seja celetistas ou estatutários). Aduz, que ante ao princípio da liberdade sindical (art.5º, XVII da CF/1988) os próprios agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias têm o direito de escolherem o sindicato ao qual desejam se filiar e que desejam que o represente e que os aludidos agentes teriam escolhido o SINDSEPS para representa-los (junta aos autos ata de assembleia do dia 09/03/2012, bem como lista de presença de assembleia do dia 09/05/2012 fls.585/592). Por fim, diz que ante ao princípio da unicidade sindical apenas um sindicato pode representar os agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias que trabalham para o Município de Salvador e que esse sindicato é o SINDSEPS. Pois bem. Inicialmente entendo que a existência de um sindicato específico (SINDACS) para representar todos os agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias do estado da Bahia, representando inclusive esses trabalhadores que são servidores públicos do Município de Salvador, não fere o princípio da unicidade sindical (mesmo existindo no Município de Salvador um Sindicato que representa todos os servidores públicos do Município de Salvador - SINDSEPS). A uma, porque o SINDACS-BA é mais abrangente que o SINDSEPS, já que abrange os diversos municípios elencados no parágrafo único do art.2º do seu Estatuto (fls.212) e não apenas o Município de Salvador (base territorial do SINDSEPS art. 1º do seu estatuto fls.465); a duas porque entendo que, em razão do princípio da especificidade econômica, é completamente possível cingir-se a representação de um determinado grupo em outros grupos específicos, como aconteceu no caso sob análise em que o SINDSEPS representa todos os servidores públicos do Município de Salvador, enquanto que o SINDACS representa apenas os servidores públicos 5
do Município de Salvador que exercem o cargo de agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias. Esse vem sendo inclusive o posicionamento dos Tribunais pátrios, como se depreende do julgado abaixo: DESMEMBRAMENTO DE SINDICATO. O desmembramento de sindicato é admitido no direito sindical brasileiro, conforme arts. 570 e 571 da CLT. Sendo os Auditores Fiscais da Receita Estadual uma categoria específica, é licito o desmembramento de sindicato por especificidade econômica, vez que isso não implica em ofensa ao princípio da unicidade sindical (Processo: 01273-2009-016-16-00-6- RO; TR16, Relator: James Magno Araújo Farias; data da publicação: 22/03/2011). AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRINCÍPIO DA UNICIDADE SINDICAL DEMEMBRAMENTO VÁLIDO DE SINDICATO. O princípio da unicidade sindical não garante ao sindicato a intangibilidade de sua base territorial, permitindo que sindicatos sejam criados a partir do desmembramento da base territorial de outra entidade, desde que o território de ambos não se reduza a área inferior a de um município. Precedentes do STF e do TST. Agravo de Instrumento a que se nega provimento. (AIRR 1347/2005-053-02-40 - 8º Turma Ministra Relatora Maria Cristina Irigoyen Peduzzi DJ 28/03/2008) Ora, o que se depreende do julgado acima é que é perfeitamente possível ser criado um sindicato para representar uma categoria profissional específica a retirando da esfera de representatividade de outro sindicato que representa uma categoria no gênero. Foi exatamente isso que ocorreu entre o SINDACS/BA e o SINDSEPS, já que o primeiro apenas representa a categoria específica dos servidores municipais que exercem o cargo de agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias (espécie do gênero servidor público municipal), enquanto que o segundo representa todos os servidores públicos do Município de Salvador (gênero). Vale ainda deixar claro que essa especificidade é permitida legalmente, como se depreende dos arts. 570 e 571 da CLT: Art. 570. Os sindicatos constituir-se-ão, normalmente, por categorias econômicas ou profissionais, específicas, na conformidade da discriminação do quadro das atividades e profissões a que se refere o art. 577 ou segundo a subdivisões que, sob proposta da Comissão do Enquadramento Sindical, de que trata o art. 576, forem criadas pelo ministro do Trabalho, Indústria e Comércio. 6
Parágrafo único - Quando os exercentes de quaisquer atividades ou profissões se constituírem, seja pelo número reduzido, seja pela natureza mesma dessas atividades ou profissões, seja pelas afinidades existentes entre elas, em condições tais que não se possam sindicalizar eficientemente pelo critério de especificidade de categoria, é-lhes permitido sindicalizar-se pelo critério de categorias similares ou conexas, entendendo-se como tais as que se acham compreendidas nos limites de cada grupo constante do Quadro de Atividades e Profissões. Art. 571. Qualquer das atividades ou profissões concentradas na forma do parágrafo único do artigo anterior poderá dissociar-se do sindicato principal, formando um sindicato específico, desde que o novo sindicato, a juizo da Comissão do Enquadramento Sindical, ofereça possibilidade de vida associativa regular e de ação sindical eficiente. Assim, por ser a categoria dos agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias uma categoria diferenciada, já que regida por lei específica (Lei nº 11.350/2006 e Lei Municipal nº 7.196/2007), completamente possível a criação de sindicato específico para representá-la, como de fato acorreu coma criação/existência do SINDACS-BA. Essas razões já seriam suficientes para reconhecer que o sindicato que representa a categoria dos agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias do Município de Salvador (sendo estatutário ou não) é o SINDACS/BA. Cumpre, ainda, esclarecer que entendo que princípio da unicidade sindical deve curvar-se ao princípio da liberdade sindical, insculpida no art. 5º, XVII da CF/1988, que no meu entender se consubstancia na liberdade que detém cada trabalhador em escolher qual o sindicato que melhor o representa. Ora, restou demonstrado nos autos que o SINDACS, mesmo depois dos agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias do Município de Salvador terem - quase em sua completude - modificado o seu regime jurídico para o estatutário (em 20/01/2011), continuaram representado aludida categoria, tanto é assim que continuou fazendo reinvindicações em prol de aludida categoria (fls.310/311; 335/336), realizando intermediação de negociações junto ao Município de Salvador e o Ministério Público, inclusive informando sobre a possibilidade de paralização e greve (fls.326/330, 337/340), representando a categoria perante o MPT (fls.385/386, 394/395, 398/400). 7
Ademais, a OJ nº 15 da SDC, do C.TST, informa que SINDICATO. LEGITIMIDADE "AD PROCESSUM". IMPRESCINDIBILIDADE DO REGISTRO NO MINISTÉRIO DO TRABALHO. (inserida em 27.03.1998) A comprovação da legitimidade "ad processum" da entidade sindical se faz por seu registro no órgão competente do Ministério do Trabalho, mesmo após a promulgação da Constituição Federal de 1988, não tendo o SINDSEPS em nenhum momento sequer suscitado que houve vício na criação ou registro do SINDACS-BA o que o legitima como sindicato, podendo representar a categoria dos agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias do Município de Salvador, até mesmo porque restou comprovado os autos a regular inscrição/registro do SINDACS-BA no órgão do MTE (fls.204/205). Assim, entendo que o sindicato que representa os agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias (inclusive os que são servidores públicos do Município de Salvador) é o SINDACS. Registre-se que muito embora tenha o SINDSEPS alegado em sua defesa que os agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias lhe escolheram para representá-los, apenas juntou aos autos como prova de suas alegações ata de assembleia geral ocorrida no dia 09/03/2012 onde a pauta versava quanto à mudança na representatividade sindical e onde restou decidido que a representação deveria mudar para o SINDSEPS (fls.585/586), embora não traga qualquer comprovação de quantos agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias estavam presentes nessa assembleia, já que trouxe aos autos lista de presença em assembleia distinta (do dia 09/05/2012 fls.587/592). Por todas essas razões, JULGO PROCEDENTE a ação de consignação em pagamento (já que comprovada a plausibilidade da dúvida do consignante quanto a quem deveria ser paga a contribuição sindical, ante a discussão entre os sindicatos consignados de quem teria a representatividade da categoria dos agentes comunitários de saúde e agentes de combate de endemias), declarando quitação do valores depositados pelo consignante no que tange à contribuição sindical obrigatória do ano de 2012, devendo esse valor ser liberado, por meio de alvará judicial, em prol do 1º consignado (SINDACS-BA - Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde e Contendores das Doenças Endêmicas Epidemiológicas do Estado da Bahia) nos limites e em conformidade com o art.589 da CLT. II. 2 DA RECONVENÇÃO. II. 2.1 DA FALTA DE INTERESSE DE AGIR (INADEQUAÇÃO DO RITO). 8
Suscitou o 1º reconvindo/consignante (Município de Salvador) a preliminar de ausência de condição da ação por falta de interesse de agir do reconvinte (2º consignado SINDSEPS), em razão da inadequação do rito. Diz que a ação reconvencional apenas é admitida quando a reconvenção versa sobre matéria conexa com a ação principal ou com os fundamentos da defesa e que isso não aconteceu na ação reconvencional. Razão não assiste ao 1º reconvindo/consignante (Município de Salvador), isso porque a ação reconvencional versa exatamente quanto a mesma matéria aduzida na contestação à ação de consignação em pagamento apresentada pelo reconvinte/2º consignado (SINDSEPS). Assim, REJEITO a preliminar de falta de condição da ação (por ausência de interesse de agir, por inadequação de procedimento) suscitada pelo 1º reconvindo/consignante (Município de Salvador). II. 2.2 DA ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM Suscitaram tanto o 1º reconvindo/consignante (Município de Salvador), quanto o 2º reconvindo/1º consignado (SINDACS/BA) a preliminar de ausência de condição de ação por ilegitimidade passiva ad causam. Entendo que a legitimidade passiva é uma das condições da ação que se revela na pertinência subjetiva da ação, ou seja, se a parte indicada como devedora da relação jurídica processual pode ser, ainda que abstratamente, vinculada à relação jurídica de direito material. No caso sob análise, patente a ilegitimidade passiva do 1º reconvindo/consignante (Município de Salvador) em relação à ação reconvencional, pois o objeto de aludida demanda é o reconhecimento por esse juízo de qual sindicato (SINDACS ou SINDSEPS) seria legítimo representante da categoria dos agentes comunitários de saúde e agentes contendores endemias, ou seja, trata-se de demanda em que se discute a representatividade sindical não havendo o que se falar na inclusão de qualquer pessoa na lide que não sejam os sindicatos que pleiteiam o reconhecimento da representatividade sindical. Assim, ACOLHO a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam suscitada pelo 1º reconvindo/consignante (Município de Salvador), e por consequência extingo a ação reconvencional sem resolução do mérito em relação a este reconvindo, com fulcro no art.267, VI do CPC. 9
No que tange à preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pelo 2º reconvindo/1º consignado (SINDACS-BA), também assiste razão a este reconvindo. Isso porque a reconvenção apenas pode ser proposta contra o autor da ação principal, o que não era o caso do 2º reconvindo/1º consignado (SINDACS-BA), que era na realidade, réu litisconsorte do reconvinte (SINDSEPS) na ação principal. Assim, ACOLHO a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam suscitada pelo 2º reconvindo/1º consignado (SINDACS-BA), e por consequência extingo a ação reconvencional sem resolução do mérito em relação a este reconvindo, com fulcro no art.267, VI do CPC. II. 3 - DA JUSTIÇA GRATUITA Postulam o 1º consignado (SINDACS-BA) e o 2º consignado/reconvinte o deferimento dos benefícios da justiça gratuita, dizendo serem impossibilitados de arcar com as despesas processuais nos termos da Lei 1.060/50 e Lei 5.584/70. Tenho que, com fulcro no 3º do art. 790 da CLT, o benefício da justiça gratuita apenas pode ser concedido a pessoa física. Nestes autos os sindicatos agem na qualidade de parte no processo, pelo que, ainda que se admitisse a possibilidade de estender o beneficio da gratuidade da justiça ao sindicato ou à pessoa jurídica, não prevalece, em relação a tais entes, a presunção de hipossuficiência econômica, sendo imprescindível a prova da precariedade financeira, o que no caso sob análise, não se verifica. INDEFIRO o requerimento formulado. II. 4 - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS A condenação em honorários advocatícios na Justiça do Trabalho está condicionada aos requisitos previstos na Súmula 219 do c. TST. Assim, considerando que os sindicatos estão a agir na qualidade de partes no processo, as suas precariedades financeiras não se presume, devendo ser comprovadas, o que aqui não se verifica. INDEFIRO o pedido formulado. III CONCLUSÃO Ante o exposto, e considerando o que mais dos autos consta, REJEITO a preliminar de falta de interesse de agir por inadequação do procedimento suscitada pelo 1º reconvindo/consignante (Município de Salvador), ACOLHO a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam suscitada pelos 1º e 2º reconvindos (respectivamente Município de Salvador e SINDACS-BA) no que tange à ação reconvencional, e por consequência extingo a ação reconvencional sem resolução do mérito com fulcro no art. 267, VI do CPC, e julgo PROCEDENTE a AÇÃO DE 10
CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO movida pelo MUNICÍPIO DE SALVADOR em face do SINDACS-BA e do SINDSEPS, declarando a quitação do valores depositados pelo consignante (Município de Salvador) no que tange à contribuição sindical obrigatória do ano de 2012, devendo esse valor ser liberado, por meio de alvará judicial, em prol do 1º consignado (SINDACS-BA - Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde e Contendores das Doenças Endêmicas Epidemiológicas do Estado da Bahia) nos limites e em conformidade com o art.589 da CLT. declaro que as verbas objetos dessa ação não possuem natureza salarial, pelo que não há incidência de contribuição previdenciária nem fiscais. Custas pelos sindicatos consignados de R$1.326,04, calculadas sobre R$66.302,33, valor arbitrado à causa apenas para esse efeito. Custas da ação reconvencional apenas pelo sindicato reconvinte/2º consignado (SINDSEPS) no importe de R$ 20,00 calculadas sobre R$ 1.000,00 valor arbitrado à causa apenas para esse efeito. INTIMEM-SE AS PARTES. Salvador/Ba, 28 de novembro de 2012. JAQUELINE VIERA LIMA DA COSTA Juíza do Trabalho 11