FIT-BH: A HISTÓRIA BIA MORAIS. FIT-BH: The history



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Transcrição:

FIT-BH: A HISTÓRIA BIA MORAIS FIT-BH: The history

12 O FIT teve sua primeira edição em 1994. Suas raízes, contudo, devem ser buscadas anos antes, em uma série de transformações na vida cultural de Belo Horizonte entre o fim dos anos 1980 e o início da década de 1990. Até fins dos anos 80, cultura e turismo integravam uma só pasta na esfera pública municipal. Em 1989, nasceu a Secretaria Municipal de Cultura (SMC), atual Fundação Municipal de Cultura. Ancorada no conceito proposto pela Constituição de 1988 - o reconhecimento do direito de acesso da população à produção e ao consumo de cultura - o órgão já surgiu com a diretriz de reorientar as atividades culturais do município. Nesse contexto novo e fértil, começou a ser idealizado, em 1993, o Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte - FIT-BH. Desde 1990, o Grupo Galpão promovia, com apoio da SMC, o Festin - Festival Internacional de Teatro de Rua. A nova direção do Teatro Francisco Nunes, que assumiu em 1993, tinha a proposta de promover um festival de teatro de palco. Buscando concentrar força de trabalho, verbas, tempo e energia, a então secretária Municipal de Cultura, Maria Antonieta Cunha, propôs a fusão das duas propostas criando um único e grande evento. Nascia aí o FIT-BH. Sua primeira edição, de 2 a 12 de junho de 1994, teve promoção da Prefeitura de Belo Horizonte e realização conjunta do Teatro Francisco Nunes e do Grupo Galpão. Com espetáculos no palco e na rua, programação descentralizada e atividades de formação e reflexão, o FIT-BH marcou presença a partir daí. A receptividade do público foi automática: apesar de interferirem no cotidiano da cidade, fazendo muito barulho e alterando a ordem aparente, os grupos foram acolhidos, aplaudidos e festejados, causando agradável impressão - especialmente nos artistas de fora. O impacto na cidade Divinas Palavras Da Rin Produções Artísticas/Bahia/ 1998 (Foto: Guto Muniz) Logo na abertura, a versão moderna de uma horda primitiva, precedida por um cachorro metálico incandescente e um trio elétrico, rolava tambores em pleno centro de Belo Horizonte, anunciando que nem a cidade, nem as artes cênicas locais seriam mais as mesmas. Era o grupo francês Générik Vapeur, que com Bivouac arrastou pelas ruas um público assombrado, enlouquecido e maravilhado. Duas prioridades nortearam a concepção do evento: democratização do acesso e descentralização da programação. Na primeira edição, além de teatros e espaços abertos da região Centro-Sul, bairros como Santa Tereza e Santa Efigênia, ônibus e metrô foram palco de espetáculos e intervenções. Foram instituídos, também, os eventos especiais, com programação totalmente gratuita, visando formação e atualização dos profissionais das artes cênicas. Na primeira edição, destaque para o seminário de reflexão sobre estética teatral, exposições, mostras de vídeo, oficinas, entre as quais uma de interpretação, com base no método do Centro de Pesquisa Teatral, com o diretor Antunes Filho. Dois temas abordados na primeira edição iriam se tornar presentes em edições subseqüentes: o teatro de rua e a relação entre política e estética na América Latina. Depois de cada dia de muito trabalho, a diversão e a descontração têm sido a tônica do FIT-BH desde seu início: após as apresentações de espetáculos, artistas, equipe e público curtem a noite em eventos programados pelo festival. Em 1994, a equipe programou o Lulu em Off (com apresentações artísticas no antigo Bar do Lulu, que na época era um dos locais mais agitados da noite belo-horizontina), a FIT Festa Belas Artes e o Fiesta Show Baile. Inicialmente freqüentadas apenas por integrantes do campo das artes cênicas, as noites do FIT-BH foram aos poucos conquistando outros segmentos. Prova disso é que, na última edição, realizada em 2006, nos 11 dias do festival, em torno de 3.000 pessoas de todas as classes sociais, tribos, idades e regiões da cidade compareceram, a cada noite, ao ponto de encontro no Parque Municipal. É proposta do FIT-BH, desde seu lançamento, pro-

gramar atividades também nos anos em que o evento não se realiza, o que aconteceu por duas ocasiões: a primeira em junho de 1995, numa prévia da segunda edição: o grupo francês Les Cousins fez, no Teatro Marília, duas apresentações gratuitas do espetáculo Ça n'a pas Été Facile!. Em agosto, foi a vez do grupo espanhol La Puppa apresentar, no mesmo teatro, No Comment. Ainda naquele ano, o ator e diretor Cacá Carvalho ministrou uma oficina e apresentou, no Centro Cultural UFMG, o espetáculo O Homem com a Flor na Boca. Expansão Na segunda edição do evento, em 1996, teve início a longa parceria com a Associação Movimento Teatro de Grupo de Minas Gerais, integrada por importantes grupos profissionais mineiros. Essa parceria com o MTG se repetiu nas edições de 1997, 1998, 2000 e 2002. Em 1996, o FIT se expandiu no tempo, no espaço, em número de espetáculos, de apresentações e em equipe. Ampliado para 15 dias, alcançou também Betim, Contagem e Mariana, cidades próximas a Belo Horizonte. Pesquisa feita junto ao público, durante o evento, revelou 88% de avaliação positiva, 7% de avaliação regular, 5% de desconhecimento e 0% de avaliação negativa. O grupo Comediants, da Espanha, fez o espetáculo de abertura: Dimonis, uma espécie de ritual demoníaco, na Praça da Estação, às escuras, proclamava o triunfo do instinto, levando o público ao delírio. Cada uma das nove regiões administrativas da capital recebeu uma apresentação de rua, num exercício de ampliação da descentralização do festival. Novos temas entraram em debate nos eventos especiais: a possibilidade de cooperação entre festivais internacionais de teatro (com a realização do segundo encontro dos diretores dos eventos brasileiros do gênero), política editorial, pressões do mercado, perspectivas e tendências, temas abordados no Encontro de Editores de Cadernos de Cultura. 13 Hibrid - Sémola Teatre/Espanha/1996) (Foto: Guto Muniz)

14 Edição especial Nas origens do FIT, ficou estabelecido que sua periodicidade seria bienal. Apesar disso, na condição de evento cultural de maior aceitação popular em Belo Horizonte, ele não poderia ficar de fora da programação do centenário da cidade, em 1997. Uma edição especial e compacta foi realizada, contando com a participação de sete grupos internacionais, seis nacionais e uma co-produção Brasil/Índia. Não Desperdice sua Única Vida - Cia Luna Lunera/BH/2006) (Foto: Kika Antunes) Além de valorizar a diversidade estética e a qualidade, a edição procurou homenagear grupos com passagem marcante pela história do FIT: o Générik Vapeur, da França, por exemplo, reapresentou Bivouac, dessa vez com participação do Bloco Afro Porto de Minas, e trouxe o novo espetáculo Coche Porque? Porque Coche?; o também francês Flash Marionnettes, muito festejado desde 1996, pelo gesto simpático de transpor para o português o texto de A Corte dos Vagabundos, tornando-o acessível, foi novamente convidado, assim como a dupla espanhola Boni & Caroli, que reapresentou Side Car. Duas presenças marcantes: o Teatro Circular de Montevideo, criado em 1954, além do espetáculo Aeroplanos, de Carlos Gorostiza, promoveu um encontro com o tema Circular: 43 Anos de Jornada e uma exposição retrospectiva, com fotos da história do grupo; a outra foi o grupo Teatro Mínimo (Brasil/Índia), que apresentou ao público, além do espetáculo Kathakali - Teatro Sagrado do Malabar (inspirado no Mahabharata), uma demonstração da técnica do Kathakali, reelaboração de uma das formas cênicas mais antigas do mundo. Em 1997, o MTG-MG, afirmando a condição de artistas de seus integrantes, produziu uma grande intervenção urbana, propondo a retomada da cidade para a conquista da cidadania cultural. A Expedição Zum Zum Zum Lá No Meio do Mar reuniu 18 grupos de Belo Horizonte e 700 atores. O resultado foi uma grande celebração em plena Praça Sete, no Centro da cidade. Formato ideal A quarta edição, em 1998, traz como novidades produções da Ásia, África e América Central. O ano marca, também, a busca de um formato ideal para o festival, livre de carências e excessos. Tanto cuidado era para evitar o risco do gigantismo e, conseqüentemente, a perda do controle operacional e da qualidade. A agenda foi reduzida para 11 dias. Na abertura, o grupo francês Plasticiens Volants mobilizou grande público, que, extasiado, conduziu Ézili, deusa egípcia da fertilidade, enorme criatura inflável, por vários quarteirões da cidade, até a Praça da Estação. O grupo voltou a encantar o público com o espetáculo Dom Quixote, sempre num verdadeiro desafio às leis da gravidade. Na programação dos Eventos Especiais, sete oficinas foram ministradas, algumas abordando temas inéditos no festival, como crítica teatral, comédia, voz, antiteatro. Duas exposições, demonstrações de métodos e encontros completaram a programação. Na busca por espaços alternativos, o FIT- BH tem desempenhado, também, a função de reativador de espaços. Depois de recolocar para funcionar a Serraria Souza Pinto, em 1994, o festival programou, para o complexo de galpão, quadras e auditório da Rede Ferroviária Federal, que se encontrava desativado, o primeiro Estação em Movimento, que substituiu o Bar do FIT como ponto de encontro. Todas as noites, depois dos espetáculos, participantes, equipe e público se reuniam para conversar, dançar, ouvir música e assistir a intervenções.

Primeiro balanço A quinta edição do festival, em 2000, foi também a oportunidade para um primeiro balanço: em sete anos de realização, o FIT-BH havia recebido 87 grupos, quase 50 espetáculos internacionais e um total de 459 apresentações (250 de palco, 209 de rua), que atingiram em torno de 450 mil pessoas nas nove regiões administrativas de Belo Horizonte. Somam-se aos espetáculos os eventos especiais, com a realização de 29 oficinas inteiramente gratuitas, além de mostras de vídeo e debates, conferências, entre outras atividades. A abertura foi marcada por um lance de ousadia: a direção do FIT-BH programou um espetáculo inesperado, O Bracelete de Jade e Outras Árias de Ópera Chinesa, com o grupo Chinese Theatre Circle, de Singapura. O enorme público que compareceu à Praça da Estação, acostumado a montagens com grandes efeitos visuais, itinerantes, com muito barulho e movimento, assistiu, reverente, aos 90 minutos da apresentação, revelando maturidade para conviver com a diversidade cultural. A edição foi uma oportunidade para homenagear o Circo Irmãos Simões, integrado pela quarta geração de uma família de artistas do picadeiro, que luta para manter viva a chama da arte circense. O grupo apresentou o espetáculo Debaixo da Lona. O Estação em Movimento passou a funcionar, a partir dessa edição, no Parque Municipal, onde permaneceu desde então. A Mostra Off, uma seleção de intervenções cênicas e musicais de jovens artistas mineiros, foi programada para o local. Pela segunda vez, atividades foram programadas para o ano entre duas edições. Em maio de 2001, entre a quinta e a sexta edições, foi lançado, no Teatro Francisco Nunes, o livro de Guto Muniz e Kika Antunes, Rever o FIT, com fotos dos festivais anteriores. O Asno - Grupo Fora do Sério/São Paulo/1994 (Foto: Eugênio Sávio)

16 Público recorde Em 2002, o FIT-BH atingiu um público recorde de 165.585 pessoas, superando a expectativa inicial de 150 mil. A abertura ficou a cargo do grupo Close-Act, da Holanda, com Malaya, em que acrobatas se balançavam em cordas suspensas por cima do público e atores em pernas-de-pau invadiam a platéia, tendo ao fundo fogos de artifício. Dois brasileiros, André Curti e Arthur Ribeiro, que têm uma companhia de teatro na França, a Dos à Deux, foram responsáveis por um dos momentos mais marcantes dessa edição, com Aux Pieds de la Lettre, um espetáculo de teatro gestual, de rara beleza. Textos de Nelson Rodrigues estiveram presentes, mais uma vez, com Perdoa-me por me Traíres, da Cia. Luna Lunera (BH), e Meu Destino é Pecar, da Cia. dos Atores (RJ), e o mais popular texto de Dias Gomes, O Pagador de Promessas, foi apresentado pelo Depósito de Teatro (RS). Novo avanço na meta de descentralizar: cada uma das nove administrações regionais recebeu em seus bairros entre duas e quatro apresentações gratuitas de espetáculos. A percepção da sensível queda na produção de teatro de rua em Belo Horizonte levou a produção do Festival a programar o FIT-BH Rua, uma série de atividades para discutir as possíveis razões do fato. Diretores e atores foram convidados a apresentar roteiros que, depois de aprovados, receberam uma verba para montagem de micropeças de rua que integraram a grade principal. Outra novidade foi a promoção, no Ponto de Encontro, no Parque Municipal, da 1ª Mostra Movimentos Urbanos, um painel das manifestações populares tradicionais e contemporâneas que ocorrem na cidade. Grandes projetos Na sétima edição, em 2004, o evento completou dez anos de existência. Seu parceiro de realização foi a Soama - Sociedade dos Amigos do Teatro Marília, em substituição ao MTG. O grupo Strange Fruit, da Austrália, abriu a programação com The Spheres, um espetáculo noturno, na Praça da Estação, no Centro da cidade, onde atores performáticos se apresentaram sobre grandes esferas brilhantes, com elementos de grande força visual. A programação foi organizada em projetos, entre os quais o do CICT - Centro Internacional de Criação Teatral - o Théâtre des Bouffes du Nord Peter Brook (França), que constou de apresentação do espetáculo Tierno Bokar, com direção de um dos mais importantes encenadores contemporâneos do mundo, Peter Brook, aulas práticas, mostra de vídeos, bate-papos com o elenco e conferência com o diretor; Homenagem a Álvaro Apocalypse e Terezinha Veloso, criadores do Giramundo Teatro de Bonecos (BH), com apresentação de Cobra Norato e o I Seminário do Boneco; o Teatro da Vertigem, com apresentação da Trilogia Bíblica (O Paraíso Perdido, O Livro de Jó e Apocalipse 1, 11) e oficinas de aperfeiçoamento técnico, com acompanhamento de montagem e preparação dos espetáculos, sob a coordenação do Teatro da Vertigem e do Galpão Cine Horto. Houve, nessa edição, a continuidade da proposta de incentivo à produção do teatro de rua, com a criação do Prêmio Fomento à Montagem de Espetáculos de Rua. O Grupo Galpão, que nunca se apresentara no FIT-BH, trouxe dois espetáculos, O Inspetor Geral e Um Molière Imaginário. Foi lançado, também, o projeto FIT Escola, com apresentações teatrais e debates a cargo da Graduação em Teatro da UFMG, do Teatro Universitário da UFMG e do Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado. Um milhão de pessoas A 8ª edição do FIT-BH, em 2006, atingiu um público direto de mais de 120 mil pessoas. Com os números das sete edições anteriores, foi alcançada a marca de um milhão de espectadores desde que o evento foi criado. Durante 11 dias, o festival movimentou, além de Belo Horizonte, cinco cidades do interior de Minas Gerais (Lagoa Santa, Betim, Contagem,

Itaúna e Ouro Branco), marcando presença em teatros, espaços alternativos, praças, ruas e parques. A abertura do FIT-BH 2006 se deu em duas etapas. No Palácio das Artes, foi apresentado, para convidados, o espetáculo As Folhas que Resistem ao Vento, da Companhia Koffi Kôkô, do Benin. Em seguida, o grupo Ósmego Dnia, da Polônia, na Praça da Estação, mostrou Arka, em que grandes portais em chamas passavam entre as pessoas. A programação produziu, mais uma vez, reflexão ética e estética e, ainda que não inten-cionalmente, refletiu a realidade universal con-temporânea, falando de temas como guerras, migrações impostas, exílio e violência, mas tam-bém trazendo lirismo, poesia e muitas gargalhadas. Nessa edição, o FIT-BH deu seqüência ao projeto de incentivo à produção de teatro de rua, iniciado em 2002. A novidade foi a criação do Ateliê de Produção, que deu suporte às montagens vencedoras na confecção de cenários, figurino e objetos de cena, estilo, maquiagem. Foram incluídas, também, atividades reflexivas sobre teatro de rua. Alguns números Edições Apresentações Público geral (8) (palco, rua e (espetáculos espaços e atividades) alternativos) FIT-BH/1994 92 53.700 FIT-BH/1996 117 133.000 FIT-BH/1997 64 105.176 FIT-BH/1998 88 152.054 FIT-BH/2000 102 124.029 FIT-BH/2002 89 165.250 FIT-BH/2004 118 151.000 FIT-BH/2006 120 122.823 TOTAL 790 1.007.032 17 O Bracelete de Jade e outras árias de ópera chinesa Chinese Theatre Circle/Singapura/2000 (Foto: Kika Antunes)

18 Assim é o FIT-BH Realização: Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura, em parceria com o setor privado, através de captação de recursos via leis de incentivo à cultura, ou por outros meios. Desde 2006, o festival tem como parceira de realização a Associação de Amigos da Fundação de Educação Artística - Flama. Periodicidade: bienal, em anos pares: 1994, 1996, 1997 (edição especial Centenário de Belo Horizonte), 1998, 2000, 2002, 2004, 2006, 2008. Duração: 11 dias. Conceito: festival não temático. Sua programação busca unir diversidade de linguagens à qualidade artística. Há o cuidado de evitar o gigantismo e a superficialidade de eventos espetaculosos. Grade: mínimo de 22 e máximo de 30 espetáculos. Média de 100 a 120 apresentações. Média de 60% de espetáculos internacionais, 20% nacionais e 20% locais. Grade cuidadosamente elaborada, sem superposição de horários, para permitir ao público assistir a todos os espetáculos; e, aos integrantes de grupos participantes, a possibilidade de assistir a espetáculos de outros grupos. Democratização: para oferecer amplo e democrático acesso da população aos espetáculos, é programada uma média de 50% de apresentações em espaços abertos (ruas, praças, parques), totalmente gratuitas; o restante da programação ocorre em teatros e espaços alternativos, com acesso por meio de ingressos que podem ser adquiridos, antecipadamente, em pacotes, por preços extremamente acessíveis à maioria da população ou, mais próximo ao evento, por preços normalmente praticados nos teatros da cidade. Descentralização: programação de um mínimo de cinco apresentações em cada um dos bairros das nove Administrações Regionais de Belo Horizonte. Programação também em cidades da Região Metropolitana da capital. Eventos Especiais: programação totalmente gratuita de oficinas especializadas e livres, exposições, debates, lançamentos de livros, palestras, mesas-redondas, mostras de vídeos e exposições de método de trabalho dos grupos, entre outras atividades. Ponto de Encontro: espaço de confraternização entre público, artistas e equipe. Funciona todas as noites, durante o FIT-BH, no Parque Municipal, no Centro da cidade. Pontos-de-venda de comidas e bebidas. A mostra Movimentos Urbanos funciona no Ponto de Encontro, com programação diversificada que busca estimular e difundir o trabalho de artistas e grupos representantes da cultura popular tradicional e contemporânea da cidade. O FIT-BH integra o Núcleo dos Festivais Internacionais, ao lado do Festival Internacional de Londrina - Filo (Paraná), Porto Alegre em Cena (Rio Grande do Sul), Riocenacontemporânea (Rio de Janeiro), Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (São Paulo) e Cena Contemporânea (Distrito Federal). Esses eventos têm em comum a parceria público-privada. Aux Pieds de La Lettre Cie Dos à deux/ Brasil-França/2002 (Foto: Guto Muniz)

COMENTÁRIO Marcelo Castilho Avellar A trajetória do Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte é exemplar da maneira como produtores culturais e público se influenciam mutuamente e são influenciados pelo ambiente. É como se os dois lados participassem de um jogo de estímulos, respostas e interações, em que cada jogador propõe suas idéias e desejos sobre o que é arte, mas, ao mesmo tempo, modifica essas idéias e desejos a partir do que percebe na jogada do outro. Vamos examinar alguns exemplos. Podemos aceitar que a primeira versão do FIT-BH tenha surgido por inteiro da cabeça de seus idealizadores, Carlos Rocha, Eid Ribeiro e o pessoal do Galpão; que tenha surgido do que eles consideravam necessário mostrar ao público de Belo Horizonte, do que eles apreciavam em suas andanças pelo mundo e queriam nos mostrar, do que eles julgavam importante fazer parte de nosso cotidiano. Esse juízo, contudo, era construído a partir de impressões mais ou menos difusas, não havia sido experimentado no confronto com a realidade do público. mesmo quando não eram adequados à proposta deles, decepcionando-se nas manifestações mais contemplativas quando rea-lizadas em espaço público. E as versões posteriores do FIT-BH dariam particular trabalho a seus organizadores, numa busca constante de grandes espetáculos que pudessem saciar aquele vício. Bendito preço. Belo Horizonte tem, hoje, um público surpreendentemente bem treinado para a diversidade cultural. Seus artistas, expostos a essa diversidade, passariam a considerá-la, cada vez mais, um valor estético em si mesmo. Num processo nitidamente evolucionista, precisaram se adaptar àqueles gostos que se transformavam em função do evento. E até o próprio FIT-BH, em sua ânsia de responder à demanda, tomaria seu próprio destino nas mãos, decidindo interferir no ambiente, em vez de ser conduzido por ele - em momentos de recessão no mercado de espetáculos de rua, por exemplo, o festival passaria de consumidor a fomentador da produção, garantindo a si mesmo a capacidade de responder às demandas de seu público. Essa experiência foi surpreendente. Ninguém - organizadores do festival, artistas, espectadores - imaginava o choque que Bivouac, do grupo francês Générik Vapeur, produziria naquele fim de tarde de 2 de junho de 1994. Ninguém estava preparado para uma intervenção que praticamente paralisou a cidade, ninguém estava preparado para a interação que o público estabeleceu com a performance, ninguém imaginava que um festival de artes pudesse se integrar tão subitamente à vida belo-horizontina. Houve um preço a pagar. O Générik Vapeur e outros grupos que viriam depois se sentiriam frustrados ao não encontrar, em outros lugares, platéias tão interativas como as de Belo Horizonte, como se a própria idéia da intervenção houvesse, aqui, ganhado uma concretude final. Boa parte do público ficaria viciada em processos interativos, tentando produzi-los em outros espetáculos, O que seria de nós sem as coisas que não existem SP/Brasil/Itália/2006 (Foto: Guto Muniz)

20 FIT had its first edition in 1994. Its origins, however, should be found some years before, in a series of transformations in the cultural life of Belo Horizonte between the late 1980s and the early 1990s. Up until the end of the 80s, culture and tourism integrated the same branch in the city public sphere. In 1989 the Secretaria Municipal de Cultura - SMC (Municipal Secretariat of Culture) was founded, and is now known as Fundação Municipal de Cultura (Municipal Foundation of Culture). Anchored on the concept proposed by the Constitution of 1988 - the recognition of the population's right to have access to the production and consumption of culture - the organism was created with the intention of reorienting the cultural activities of the city. In this new and fertile context the Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte - FIT-BH begun to be conceived in 1993. Since 1990 Grupo Galpão, supported by the SMC, had promoted the Festin - Festival Internacional de Teatro de Rua. The new direction of Francisco Nunes Theater, which had taken over in 1993, had the purpose of promoting a festival of stage theater. Seeking to concentrate work force, contingency, time and energy, the Municipal Secretary of Culture at the time, Maria Antonieta Cunha, proposed to join both proposals by creating a unique and big event. FIT-BH was born then. Its first edition, from June 2 to 12, 1994, was promoted by the City Administration of Belo Horizonte and was a joint event by the Francisco Nunes Theater and Grupo Galpão. With spectacles on stage and on the streets, decentralized programming and formation and reflection activities, FIT- BH has been a highlight since then. Receptivity from the audience was automatic: although they interfere in the city's everyday life, making a lot of noise and modifying the Aeroplanos - Teatro Circular de Montevidéu/Uruguai/1997 (Foto: Fred erico Antoniazzi) apparent order, the groups were welcomed, applauded and acclaimed, causing a very agreeable impression - especially among the foreign artists. Impact on the city Right from the start the modern version of a primitive horde, preceded by an incandescent metallic dog and a sound truck, rolled drums in the city center, announcing that neither Belo Horizonte nor the local performing arts would be the same anymore. It was the French group Générik Vapeur, which with Bivouac dragged down an astonished, crazed and amazed crowd over the streets. Two priorities were the guides for the conception of the event: democratization of access and decentralized programming. In the first edition, besides theaters and open spaces of the Center-South region, neighborhoods such as Santa Tereza and Santa Efigênia, buses and the metropolitan train became stages for spectacles and interventions. Special Events were also created with totally free-of-charge shows, aiming at the formation and update of performing arts professionals. In the first edition, the reflection seminar about theater aesthetics, exhibitions, video displays, workshops, one of them over interpretation based on the method from Centro de Pesquisa Teatral, with director Antunes Filho, were the highlights. Two themes touched in the first edition would be present in the following editions: the street theater and the relationship between politics and aesthetics in Latin America. After each hard work day, fun and good times have been the motto of FIT-BH since its beginning: after spectacles, artists, staff and the audience enjoy the night in events programmed by the Festival. In 1994 the production programmed Lulu em Off (with artistic performances at Bar do Lulu - which was at that time one of the most crowded bars in Belo Horizonte), the FIT Festa Belas Artes and the Fiesta Show Baile (two party events). Initially attended only by members of the performing arts, little by little the FIT-BH nights conquered other fields. An evidence of this is that, in the last edition, occured in 1996, in 11 days of Festival, around 3.000 people from all social classes, tribes, ages and city regions showed up every night at the meeting point, the Parque Municipal (Municipal Park). Programming activities in the years in which the event does not happen is also a proposal of FIT-BH, and this has occurred twice: the first in June 1995, in a previous for the second edition: the French group Les Cousins gave at the Marília Theater two free shows of the spectacle Ça n'a pas Été Facile!. In August, Spanish group La Puppa presented No Comment, also at the same theater. Still in that year, actor and director Cacá Carvalho gave a workshop and presented the spectacle O Homem com a Flor na Boca at Centro Cultural UFMG (Cultural Center of the Minas Gerais Federal University).

Expansion In the second edition of the event, in 1996, was initiated the long partnership with Associação Movimento Teatro de Grupo de Minas Gerais (Minas Gerais Group Theater Movement Association), integrated by important professional groups from the state of Minas Gerais. This partnership was repeated in the 1997, 1998, 2000 and 2002 editions. In 1996 FIT expanded itself in time, in space, in number of spectacles, shows and staff. Extended to 15 days, it also reached Betim, Contagem and Mariana, cities close to Belo Horizonte. A research done with the audience during the event showed 88% of positive evaluation, 7% of regular, 5% of ignorance and 0% of negative opinion. The Comediants group from Spain made the opening spectacle: Dimonis, a kind of demoniac ritual, at Praça da Estação (Station Square), in the darkness, proclaiming the triumph of instinct and taking the public to a state of delirium. Every one of the nine administrative regions of the capital received one street show, in an exercise of expanding the Festival decentralization. New themes came into question in the Special Events: the possibility of cooperation between international theater festivals (with the second meeting of directors of Brazilian events of the genre), editorial policies, market pressure, perspectives and tendencies, all discussed at Encontro de Editores de Cadernos de Cultura (Newspaper Culture Section Editors' Meeting). Special edition In the origins of FIT it was established that its periodicity would be biennial. In spite of this, in the condition of the cultural event with the most popular acceptance in Belo Horizonte, it could not be left out of the program of the city centennial in 1997. One special and compact edition was promoted, counting on the presence of seven international groups, six national ones and a Brazil/India co-production. In addition to valuing aesthetic diversity and quality, the edition paid homage to groups with remarkable passages in FIT history: Générik Vapeur, from France, for instance, showed Bivouac again, this time with the participation of Bloco Afro Porto de Minas, and brought the new spectacle Coche Porque? Porque Coche?; the also French group Flash Marionnettes, acclaimed since 1996 for the nice gesture of translating into Portuguese the text of A Corte dos Vagabundos and thus making it accessible, was invited again, and so was the Spanish duo Boni & Caroli, who presented Side Car once more. Two remarkable presences: in addition to the spectacle Aeroplanos by Carlos Gorostiza the Teatro Circular de A Lenda de um Povo que Perdeu o Mar (Teatro de Los Andes Bolívia - 1994) (Foto: Eugênio Savio) Montevideo, created in 1954, promoted a meeting with the theme Circular: 43 Anos de Jornada and a retrospective exhibition that presented to the audience, besides the spectacle Kathakali - Teatro Sagrado do Malabar (inspired in Mahabharata), a demonstration of the Kathakali technique, a re-elaboration of one of the world oldest performing features. In 1997 MTG-MG affirmed the artist condition of its members and produced a great urban intervention proposing the recapture of the city for the conquest of cultural citizenship. The Expedição Zum Zum Zum Lá no Meio do Mar reunited 18 groups from Belo Horizonte and 700 actors. The result was a great celebration at Praça Sete (Sete Square) in the city center. Ideal format The fourth edition in 1998 brought new productions from Asia, Africa and Central America. That year also marks the pursue of an ideal format for the Festival, with no lacks or excesses. Such care had the intention of avoiding the risk of becoming a giant Festival and consequently losing operational control and quality. The programming was reduced to 11 days. At the opening French group Plasticiens Volants attracted a great audience, who, astonished, drove Ézili, the Egyptian goddess of fertility, a huge inflatable creature, down over several blocks of the city until the Praça da Estação. The group again pleased the public with the spectacle Dom Quixote, always in a true challenge to gravity laws. In the Special Events program seven workshops were offered, some of them dealing with fresh themes in the Festival such as theater critique, comedy, voice, anti-theater. Two exhibitions, demonstration of methods and meetings completed the program. Searching for alternative spaces, FIT-BH has also played the role of reactivating spaces. After reinstating Serraria 21

22 Retrato da Avareza, da Luxúria e da Morte Teatro de La Abadia/Espanha/1997 (Foto: Kika Antunes) Souza Pinto (a Municipal space for events), in 1994, the Festival programmed, for the area formed by a hangar, squares and the auditorium of the Rede Ferroviária Federal (Federal Train Network), which was out of operation, the first Estação em Movimento, which replaced the Bar do FIT as meeting point. Every night, after spectacles, performers, staff and the public got together to talk, dance, listen to music and watch interventions. First balance The fifth edition of the Festival, in 2000, was also the opportunity for a first balance: in seven years of existence, FIT- BH had received 87 groups, almost 50 international spectacles and a total of 459 shows (250 on stages, 209 on the streets), which had reached about 450 thousand people in the nine administrative regions of Belo Horizonte. In addition to the spectacles there were the Special Events that had offered 29 free workshops, video shows, debates and conferences, among other activities. The opening was marked by a courage act: FIT-BH direction booked an unexpected spectacle, O Bracelete de Jade e Outras Árias de Ópera Chinesa, with the group Chinese Theater Circle, from Singapore. The huge audience who came to Praça da Estação and was used to itinerant productions with great lighting effects, lots of noise and movement, reverently watched the 90 minutes of the show, revealing a maturity to live together with cultural diversity. The edition was an opportunity to homage the Circo Irmãos Simões, formed by the fourth generation of a family of circus ring artists, working hard to keep alive the fire of circus art. The group presented the spectacle Debaixo da Lona. Since this edition the meeting point Estação em Movimento started functioning at the Parque Municipal, where it has remained. Mostra Off, a selection of scenic and musical interventions by young artists from the state of Minas Gerais, was booked for the place. For the second time, activities were programmed for the year between the two editions. In May 2001, between the fifth and sixth editions, the book Rever o FIT, by Guto Muniz and Kika Antunes with pictures of the previous Festivals, was released at Francisco Nunes Theater. Record audience In 2002, FIT-BH reached a record public of 165.585 people, overcoming the initial prediction of 150 thousand people. The opening was given to group Close-Act, from Holland, with the show Malaya, in which acrobats would balance themselves in suspended ropes above the public, and actors on stilts invaded the audience space, with fireworks in the background. Two Brazilian artists, André Curti and Arthur Ribeiro, who have a theater company in France, Dos à Deux, were responsible for one of the most remarkable moments of this edition, with Aux Pieds de la Lettre, a spectacle of gesture theater of rare beauty. Texts by playwright Nelson Rodrigues were present once again, with Perdoa-me por me Traíres, by Cia. Luna Lunera (BH), and Meu Destino é Pecar, by Cia. Dos Atores (RJ); and the most popular text by Dias Gomes, O Pagador de Promessas, was staged by Depósito de Teatro (RS). A step forward in the decentralization goal: each of the nine regional administrations received from two to four free performances in its neighborhoods. The sensible perception of decrease in the production of street theater in Belo Horizonte led the Festival producers to book FIT-BH Rua, a series of activities aiming at discussing the possible reasons for that fact. Directors and actors were invited to present screenplays that, after approved, would get funds to set micro street plays which would make part of the main schedule. Another new thing was the promotion at the meeting point in Parque Municipal of the 1ª Mostra Movimentos Urbanos (1st Urban Movement Show), a panel of traditional and contemporary popular manifestations which take place in the city. Great projects In its seven edition in 2004 the event celebrated ten years. Soama - Sociedade dos Amigos do Teatro Marília (Marília Theater Friends Society) replaced MTG as its production partner. Group Strange Fruit from Australia opened the program with The Spheres, a night show at Praça da Estação, in the city center, where performing actors presented themselves on shining spheres with elements of great visual force. The program was organized in projects, among which the CICTs (Centro Internacional de Criação Teatral) - the

Théâtre des Bouffes du Nord Peter Brook (France), featuring the performance Tierno Bokar, directed by one of the world most important contemporary theater directors, Peter Brook, as well as practical classes, a video show, talks with the cast and a conference with the director; Homenagem a Álvaro Apocalypse e Terezinha Veloso (a homage to the creators of Giramundo Puppet Theater from Belo Horizonte), featuring Cobra Norato and the I Seminário do Boneco; the Teatro da Vertigem, presenting the Biblical Trilogy (O Paraíso Perdido, O Livro de Jó and Apocalipse 1, 11) and workshops on technical improvement with stage setting and performance preparation, under the coordination of Teatro da Vertigem and Galpão Cine Horto. In this edition there was the continuity of the proposal of fostering the production of street theater with the creation of Prêmio Fomento à Montagem de Espetáculos de Rua (Street Theater Fostering Award, an incentive to the stage setting of street shows). Grupo Galpão, who had never presented at FIT-BH, brought two performances, O Inspetor Geral and Um Molière Imaginário. Project FIT Escola was also released, with theater shows and debates coordinated by the theater professors at the Minas Gerais Federal University, Teatro Universitário and the Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado (Clóvis Salgado Foundation Artistic Formation Center). One million people The 8th FIT-BH edition in 2006 reached a direct public of over 120 thousand people. Adding the seven previous editions, it marked a total of one million spectators since the event was created. For eleven days the Festival shook Belo Horizonte as well as five cities in the interior of the state of Minas Gerais (Lagoa Santa, Betim, Contagem, Itaúna and Ouro Branco), with activities in theaters, alternative spaces, squares, streets and parks. The opening of FIT-BH 2006 occurred in two moments. At Palácio das Artes the performance As Folhas que Resistem ao Vento, by the Koffi Kôkô Company from Benin, was showed for guests only. After that, the group Ósmego Dnia, from Poland, presented at Praça da Estação the performance Arka in which great burning portals moved around the attending audience. The program once again produced an ethic and aesthetic reflection and, even if not intentionally, mirrored the contemporary universal reality, discussing themes such as wars, imposed migrations, exile and violence, but also raising lyricism, poetry and laughter. In that edition, FIT-BH continued with the project of incentive to the production of street theater started in 2002. The news was the creation of Ateliê de Produção (Production Atelier), which supported the winning productions by building the sets, making costumes and scene objects, style and make-up. Reflection activities on street theater were also included. Some numbers 23 Paraíso Perdido Teatro da Vertigem/SP/2004 (Foto: Guto Muniz) Editions Shows General audience (8) (stage, street (performances and alternative and activities) spaces) FIT-BH/1994 92 53.700 FIT-BH/1996 117 133.000 FIT-BH/1997 64 105.176 FIT-BH/1998 88 152.054 FIT-BH/2000 102 124.029 FIT-BH/2002 89 165.250 FIT-BH/2004 118 151.000 FIT-BH/2006 120 122.823 TOTAL 790 1.007.032

A Máquina - produção independente/ba/2000 (Foto: Guto Muniz) 24 This is FIT-BH Promotion: Belo Horizonte City Hall, represented by the Fundação Municipal de Cultura, in partnership with the private sector by means of culture incentive laws or other ways. Since 2006, the Festival has the Associação de Amigos da Fundação de Educação Artística - Flama (Association of Friends of the Artistic Education Foundation) as its production partner. Periodicity: biennial, in even years: 1994, 1996, 1997 (Belo Horizonte Centenanial special edition), 1998, 2000, 2002, 2004, 2006, 2008. Duration: 11 days. Concept: non-thematic festival. The program tries to bring together diversity of languages and artistic quality, being careful to avoid overgrowing and the superficiality of flashy events. Program: minimum 22 and maximum 30 spectacles.. Average 100 to 120 performances.. Average 60% international performances, 20% national, 20% local.. Carefully elaborated timetable with no superposition of show times, allowing the audience to watch all performances and enable the members of participating groups the possibility of watching the other groups' performances. Democratization: in order to offer the population wide and democratic access to the performances, an average 50% of the shows are programmed free of charge in open spaces (streets, squares and parks); the remaining attractions occur in theaters and alternative spaces, with access by means of tickets which can be bought in advance in packs at prices very accessible to most of the population or, in the days near the event, with prices usually practiced by the theaters in the city. Decentralization: a minimum of five shows are programmed in every neighborhood of the nine Belo Horizonte Regional Administrations. There is also a programming in the cities around the capital. Special Events: a totally free program with specialized, free workshops, exhibits, debates, book releases, lectures, round tables, video shows and demonstrations of the groups' work methods, among other activities. Meeting Point: a space for the public, artists and staff to get together every night, during FIT-BH, at Parque Municipal in the city center. Food and drinks are sold there. The display Movimentos Urbanos happens at the Meeting Point, with a diverse program aiming at stimulating and disseminating the work of artists and groups who represent the traditional and contemporary popular culture of the city. FIT-BH is a member of the Núcleo dos Festivais Internacionais (International Festivals Association), along with Festival Internacional de Londrina - Filo (state of Paraná), Porto Alegre em Cena (Rio Grande do Sul), Riocenacontemporânea (Rio de Janeiro), Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (São Paulo) and Cena Contemporânea (Brasília). These events share the public-private partnership system.

COMMENT Marcelo Castilho Avellar The trajectory of the Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte is exemplary in the way that cultural producers and the audience influence each other and are influenced by the environment. It is as if both sides take part in a game of stimulus, response and interaction, in which each player proposes their ideas and wishes about what art is, but at the same time modifies these ideas and wishes from what they notice in the other participant's moves. Let us take a look at some examples. We can accept the fact that the first version of FIT came totally from its creators' minds, Carlos Rocha, Eid Ribeiro and the people from Galpão; that it appeared from what they considered necessary to show to the public of Belo Horizonte, from what they appreciated in their travels around the world and wanted to show us, from what they judged important to be part of our daily life. This judgment, however, was construed from more or less diffuse impressions, and had not yet been experimented on the confrontation with the reality of the public. This was a surprising experience. Nobody - the Festival organizers, artists, spectators - could imagine the shock that Bivouac, by French group Générik Vapeur, would produce in that late afternoon on June 2, 1994. Nobody was prepared for an intervention that practically paralyzed the city, nobody was prepared for the interaction the public had with the performance, nobody imagined that an arts festival could be so suddenly integrated in the life of Belo Horizonte. There was a price to pay. Générik Vapeur and other groups which came later would be frustrated for not finding in other places such interactive audiences as in Belo Horizonte, as if the idea of the intervention itself had gained here a final concreteness. The better part of the public would be addicted to interactive processes, trying to produce them in other performances even when they were not adequate to their proposals, becoming disappointed with the more contemplative manifestations carried out in public spaces. And the later versions of FIT-BH would make its organizers work particularly hard, in a constant search for great performances which could satisfy that addiction. Na Solidão dos Campos de Algodão - Art in Obra/RJ/1997) (Foto: Guto Muniz) A blessed price that was. Belo Horizonte has today a surprisingly well-trained audience for cultural diversity. Its artists, exposed to this diversity, started to consider it, more and more, as an aesthetic value in itself. In a clearly evolutionary process, they needed to adapt themselves to those tastes which transformed themselves according to the event. And even FIT-BH itself, in its desire to respond to the demand, would take its own destiny in its hands, deciding to interfere in the environment instead of being conducted by it - in moments of recession in the market of street spectacles, for example, the Festival would shift from being a consumer to becoming a promoter of productions, guaranteeing the capacity of answering the demands of its public.

Quando a Vida Eterna se Acabar - La Zaranda - Teatro Inestable de Andalucía la Baja/Espanha/2000 (Foto: Kika Antunes)