Adicional de insalubridade. Intermitência Previsto o pagamento do adicional em norma coletiva, referido apenas a trabalho em câmara frigorífica e sem maior especificação, deve a cláusula ser interpretada do modo mais favorável ao trabalhador, e conforme a jurisprudência para casos análogos, sendo de considerar que se a exposição decorre habitualmente da função, a intermitência se reveste de habitualidade, e o adicional é devido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso ordinário em que são partes, como recorrente, BARCELOS & CIA LTDA e, como recorrida, PATRÍCIA GOMES LEAL. Irresignada com a decisão da 1ª Vara do Trabalho de Campos dos Goytacazes a fls. 146/149, da lavra da juíza Simone Soares Bernardes, que julgou procedente em parte o pedido, recorre ordinariamente a reclamada a fls. 150/154. Alega que a entrada eventual em câmaras frigoríficas não dá direito ao adicional de insalubridade, a norma coletiva sendo clara no sentido de que somente quem trabalha no interior de câmara frigorífica tem direito ao adicional; que a reclamante trabalhava no setor de frios, setor conhecido em todos os supermercados, onde se atende aos consumidores para entrega de presunto, queijo, etc.; que lhe foi aplicada a pena de confissão por ter dito não saber se a reclamante exerceu mais de uma função na empresa, sem observar que a 4841 1
reclamante também disse em seu depoimento que no início de 2006 havia passado para a função de caixa; que essa foi a data admitida na contestação, sendo juntados os pagamentos respectivos, concernentes ao adimplemento do adicional de quebra de caixa instituído pela norma coletiva; que tendo em vista a confissão da reclamante, que colide com a alegação constante da inicial de ter trabalhado como caixa desde agosto de 2005, correto aplicar a confissão à reclamante, pois dessa confissão se extrai a verdade real. Pede a reforma do julgado, nos termos do recurso. Representação regular a fls. 47. Depósito recursal e custas a fls. 155/156. Sem contrarrazões, conforme certidão a fls. 158 vº. É o relatório. VOTO I Conhecimento Conheço do recurso, por tempestivo e aviado no feitio legal. II Mérito ADICIONAL DE INSALUBRIDADE O pedido está fundado na alegação feita na inicial de que a reclamante trabalhou de 01.7.03 a 30.3.05 na função de auxiliar de padaria, em tal função tendo que entrar com frequência na câmara frigorífica para apanhar mercadorias (laticínios e frios em geral). Afirma a recorrente que a entrada na câmara frigorífica era eventual, sendo a função básica da reclamante o atendimento de 4841 2
fregueses no balcão do setor. Um parêntese importante: o pedido não está fundado na lei, e sim em disposição de convenção coletiva, vindo os instrumentos convencionais a fls. 100 a 130. São as seguintes as respectivas cláusulas e vigências: a) fls. 100/107: Cláusula 6ª, vigência de 01.11.02 a 31.10.03; b) fls. 108/113: Cláusula 6ª, vigência de 01.11.03 a 31.10.04; c) fls. 115/121: Cláusula 7ª, vigência de 01.11.04 a 31.10.05; d) sem interesse, vigente fora do período do pedido. A sentença considerou, com o cuidado devido, que as duas primeiras convenções invocadas apenas asseguraram o adicional aos empregados que trabalhavam exclusivamente em açougue, o que não era o caso da reclamante. E impôs condenação com base na terceira, cuja Cláusula 7ª passou a atribuir o adicional aos empregados que trabalham em câmaras frias em supermercados. Em termos de prova dos fatos não pode a recorrente se prender a confissão ficta pelo depoimento de seu preposto (fls. 144), embora de fato tenha este admitido que a reclamante exerceu diversas funções, e declarado ignorância quanto às funções que a reclamante exerceu, e em que horários. Isso permite considerar confissão ficta, e a recorrente passa ao largo do fato de haver a única testemunha ouvida (fls. 144/145) confirmado que a reclamante no setor de frios adentrava dentro (sic) da câmara fria para somente quando era necessário buscar um produto lá dentro; que não sabe especificar qual a frequência com que a autora adentrava na câmara fria. Ora, na contestação a ora recorrente simplesmente negou a entrada em câmara fria. Por outro lado, ante a prova de que entrada em 4841 3
câmara fria havia, impende avaliar tal situação da mesma forma como se avalia quando o pedido é feito com base na lei, i.e., distinguindo entre eventualidade (alegada pela recorrente, e que não dá direito a adicional), e intermitência, que é a habitualidade sem permanência (que dá direito ao adicional). Pois bem, se a reclamante, trabalhando no setor de frios, tinha que entrar na câmara frigorífica quando era necessário buscar produto, tenho como evidente que se tratava de entrada intermitente, sendo coisa normal de sua função. Buscar produtos na câmara frigorífica para atender o setor não pode ser atividade eventual, uma vez que esses produtos são mantidos no setor apenas em quantidades pequenas, para atender aos pedidos imediatos. Como o nome já indica, são frios, produtos que precisam ser mantidos resfriados para maior durabilidade; e justamente por isso o estoque fica guardado em câmara frigorífica, para ir sendo retirado à medida que a quantidade mantida no balcão se esgota. Destarte, como se trata de pedido fundado em cláusula normativa, cuja interpretação deve ser da forma mais favorável ao empregado, e sendo a interpretação dada a que mais se ajusta à jurisprudência, tenho por correta a decisão. Nego provimento. ADICIONAL DE QUEBRA DE CAIXA A sentença condenou a reclamada a pagar a verba em epígrafe relativamente ao período de agosto de 2005 a fevereiro de 2006, considerando a confissão ficta da reclamada a que já se fez referência. Diz a recorrente que não foi observado que a reclamante também disse em seu depoimento que no início de 2006 havia passado para a função de caixa. Tem inteira razão, uma vez que em depoimento 4841 4
pessoal (fls. 144) a reclamante por 2 vezes confessou que não exercera a função de caixa a partir de agosto de 2005: uma, quando admite que a partir de 2004 passou para a função de repositora de perfumaria até aproximadamente início de 2006 ; outra, confirmando tal confissão com a declaração de que no início de 2006 passou para a função de caixa (da lanchonete e depois de loja). A confissão real prevalece sobre a confissão ficta, acrescendo que a confissão real ocorreu antes da inquirição do preposto da reclamada, de modo que sua confissão ficta apenas se aplica aos fatos que ainda estavam por provar. De modo que a condenação apenas deve prevalecer para os meses de janeiro e fevereiro de 2006. Dou provimento parcial. ISTO POSTO Dou PROVIMENTO PARCIAL ao recurso para reduzir a condenação a pagamento de quebra de caixa aos meses de janeiro e fevereiro de 2006. Dada a redução da condenação, substitui-se o valor fixado na sentença, arbitrando o valor atualizado da condenação em R$ 1.900,00 com custas reduzidas proporcionalmente a R$ 38,00. Vistos e bem examinados, A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Quarta Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, dar provimento parcial ao recurso para reduzir a condenação a pagamento de quebra de caixa aos meses de janeiro e fevereiro de 2006. Dada a redução da condenação, substitui-se o valor fixado na sentença, arbitrando o valor atualizado da condenação em R$ 4841 5
1.900,00 com custas reduzidas proporcionalmente a R$ 38,00. Rio de Janeiro, 23 de Maio de 2011. Desembargador Federal do Trabalho Damir Vrcibradic Relator 4841 6