ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. Em face do princípio da isonomia consagrado no art. 5º, caput, da CF faz jus o autor ao adicional periculosidade, visto que o direito ao adicional não decorre da função desempenhada, nem do fato de ser ou não servidor público, mais sim da localização à exposição aos riscos. Recurso a que se dá provimento. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Ordinário em que são partes, como Recorrente MARCIO RIBEIRO DA SILVA, e como Recorrido, PROJEL PLANEJAMENTO ORGANIZAÇÃO E PESQUISA LTDA. Irresignado com a decisão da 50ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro (fls. 330/333), da lavra da Exma Juíza Maria Helena Motta, que julgou procedente em parte os pedidos constantes da exordial, recorre ordinariamente o reclamante (fls. 341/344). Alega que faz jus ao recebimento do adicional de periculosidade, tendo em vista que sempre prestou serviços para a recorrida dentro da sede da Polícia Federal, esclarece que o local onde exercia sua atividade laborativa funcionava a DELINST (Delegacia de Defesa Institucional, SINARME (Sistema Nacional de Armas) e a DRE (Delegacia Regional de Repressão a Entorpecentes), sendo que nestes setores era acondicionado todo tipo de produtos explosivos, químicos/inflamáveis e tóxicos, todos nocivos à saúde, tais como: granadas, gás lacrimogêneo e bombas e substâncias químicas (maconha, LSD, crack, cocaína e êxtase). Informa que os 3637 1
policiais circulavam constantemente pelo andar portando armas de pequeno e grosso calibre, além de granadas e outros explosivos, o que colocava sua vida em risco. Afirma que funcionava na sede da Polícia Federal na parte central do prédio, uma bomba de combustível com gasolina, álcool e diesel que abastecia todas as viaturas da polícia. Relata a ocorrência de um incêndio nos anos de 1999 e 2000. Assevera que constam nos autos laudos técnicos elaborados pelo Ministério do Trabalho que informam a existência de condições periculosas no referido local de trabalho. Frisa que o julgador a quo baseou sua r. sentença no laudo pericial equivocado, pois este não considerou o laudo do Ministério do Trabalho. Pugna pela utilização da prova emprestada, consubstanciada nas sentenças de processos que tramitam na 15ª e 22ª VT desta Região, que foram acostadas na fls. 237 e 252, cuja matéria é a mesma (adicional de periculosidade), bem como seriam idênticos os laudos do Ministério de Trabalho. Por fim, requer a concessão do adicional de periculosidade correspondente a 30% do seu salário, conforme previsão do art. 193 da CLT c/c Súmula 271. Contrarrazões da reclamada (fls. 347/348) sem preliminares e, no mérito, prestigiando o julgado. Não houve remessa dos autos ao douto Ministério Público do Trabalho, por não se vislumbrar qualquer das hipóteses previstas no anexo do Ofício PRT/1ª Reg. Nº 27/08-GAB, de 15/01/2008. É o relatório. V O T O CONHECIMENTO legais de admissibilidade. Conheço do recurso, por preenchidos os pressupostos 3637 2
MÉRITO REMUNERAÇÃO Alega o reclamante que faz jus ao recebimento do adicional de periculosidade em face da exposição a produtos explosivos, químicos/inflamáveis e tóxicos no local de prestação de serviços, conforme laudo pericial do Ministério do Trabalho. Decide-se. É incontroverso que o reclamante laborava para a reclamada nas dependências da sede da Polícia Federal, localizada na Av. Rodrigues Alves nº 1, Praça Mauá, desta cidade, na função de digitador no período de novembro de 1999 a 6 de outubro de 2005 no setor DELEMIG (DELEGACIA DE IMIGRAÇÃO). O Juízo Originário entendeu que não era devido ao reclamante o referido adicional com base no laudo do perito do Juízo acostado às fls. 294/299 com esclarecimentos complementares às fls. 316/322, concluindo que o local de trabalho do autor (DELEMIG) ficava no primeiro andar e o depósito da DELINST localizado no terceiro andar tinha pequenas de pólvora, estavam separados por aproximadamente 103 metros de distância, que bomba de combustível que abasteciam os veículos oficiais estava distante do local da prestação dos serviços a ponto de não oferecer riscos ao trabalhador. Não obstante, é necessário ressaltar que o perito indicado pelo juízo não teve acesso ao depósito, bem como ocorreu à interpretação errônea da Policia Federal quanto ao Ofício do Juízo, pois foi informado apenas o quantitativo dos armamentos apreendidos, e não o quantitativo do armamento de uso da Polícia armazenado no andar, sendo que o perito do Juiz fez seu laudo pericial com base nestas 3637 3
informações, como pode ser constatado abaixo (fls. 260/261): Inicialmente, cumpre informar que não possuímos qualquer manifesto de carga, pois o Departamento de Polícia Federal não adquire pólvora (usada exclusivamente na Academia Nacional de Polícia, para recarga) ou explosivos para uso nas Superintendências Regionais (estaduais). Possuímos no depósito, além das munições de uso desta Superintendência Regional, armas, munições e explosivos, decorrentes de apreensões e guardadas por períodos variáveis a critério do juízo responsável pela sua destinação. Quanto à solicitação de acesso do Sr. Perito ao depósito, considero, salvo melhor juízo, desnecessária, pois o material existente hoje é diferente do existente no período de interesse no processo (novembro/99 a outubro/05) que passamos a descrever, após pesquisa nos livros de registro de materiais apreendidos. Não é crível que o depósito da sede da Polícia Federal no Rio de Janeiro tenha apenas a quantidade de 525 (quinhentos e vinte e cinco) gramas de pólvora e 12 gramas de espoleta indicada pelo perito (fl. 296). O laudo pericial do Fiscal do Trabalho sobre a periculosidade/insalubridade foi realizado no ano de 2000 (fls. 192/197), a pedido da própria Polícia Federal. Logo, teve livre acesso ao depósito, que à época denominava-se DELOPS, e em 2010, época realização do 3637 4
laudo do expert do Juízo, DELINST: (...) DELOPS: Trata-se da Delegacia de Ordem Política e Social, em cujas instalações ficam estocadas grandes quantidades de munição de diversos calibres, para uso cotidiano da SRPF além de artefatos bélicos apreendidos. Segundo levantamento efetuado, no momento da inspeção haviam estocados 76.280 (setenta e seis mil e duzentos e oitenta) cartuchos de calibres diversos. Considerando que cada um contém em média 11 (onze) gramas de explosivo (pólvora), a quantidade total estimada de material explosivo (encapsulada) é de 839 (oitocentos e trinta e nove) Kg. De acordo com o quadro do anexo 1 da NR -16, tal quantidade delimita uma área de risco com raio de 365 (trezentos e sessenta e cinco) metros. (...) Conclusão: 2 do ponto de vista científico e legal fica caracterizada a periculosidade para: 2.1 Servidores permanentes na área delimitada por um círculo com raio de 365 (trezentos e sessenta e cinco) metros e com centro no paiol de munições da DELOPS de acordo com o quadro do anexo 1 da NR -16. Ressalte-se que a metodologia utilizada pelos peritos encontra-se correta, visto que se utilizam da NR - 16 como parâmetro de 3637 5
referência, tendo sido medida pelo expert indicado pelo Juiz a distância entre do local de trabalho do autor e o depósito à fl. 298: (...) o local de trabalho do autor DELEMIG ficava no 1º andar e o depósito da DELINST no 3º pavimento separados por aproximadamente 103 (cento e três metros). Frise-se que o laudo oficial da DRT não se trata se prova emprestada, pois foi realizado em atendimento a solicitação da Polícia Federal, bem como é contemporâneo ao período da prestação dos serviços do reclamante à recorrida. Em face do princípio da isonomia consagrado no art. 5º, caput, da CF faz jus o autor ao adicional periculosidade, visto que o direito ao adicional não decorre da função desempenhada, nem do fato de ser ou não servidor público, mais sim da localização à exposição aos riscos. Se fosse contratado diretamente pela Polícia Federal/União teria recebido o adicional por força do laudo pericial aplicado pela tomadora de Serviço. Todavia, em sendo empregado de empresa terceirizada, necessitou vir ao judiciário. Destaco que o Juiz não esta adstrito ao laudo pericial produzido pelo perito indicado nos autos, podendo formar sua convicção com outros elementos, como preceitua o artigo 436 do CPC. Neste sentido a seguinte jurisprudência: RECURSO DE REVISTA. (...) 2. DOENÇA OCUPACIONAL. CONVENCIMENTO DO JULGADOR. PROVAS. Em matéria de doença 3637 6
ocupacional, via de regra, a prova depende de minuciosa averiguação dos complexos elementos envolvidos, dependentes de constatação através de perícia técnica (art. 145 do CPC). O Juízo, no entanto, tendo como norte o princípio da livre persuasão racional, não está vinculado à conclusão do laudo do perito nomeado, podendo firmar sua convicção com outros elementos provados nos autos (arts. 131 e 436 do CPC, ambos aplicados subsidiariamente ao processo do trabalho), como o fato de que o INSS reconheceu a natureza acidentária do benefício concedido ao Reclamante, assim como a existência de nexo causal entre a doença e a ocupação exercida na Reclamada. Recurso de revista não conhecido, no aspecto. Processo: RR - 115900-92.2006.5.17.0011 Data de Julgamento: 27/06/2012, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 29/06/2012. AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. DOENÇA OCUPACIONAL (LER). INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. REALIZAÇÃO DE NOVA PERÍCIA. (...) 2. O Tribunal Regional negou valor probatório ao laudo pericial, conforme prevê o art. 436 do CPC, porquanto o perito não examinou o local de trabalho e houve dissonância entre o laudo e o depoimento da própria reclamante, no que concerne ao tipo de lesão, 3637 7
além de reputar ausentes a culpa do empregador e o nexo de causalidade. Agravo a que se nega provimento. Processo: Ag-AIRR - 415100-72.2008.5.09.0195 Data de Julgamento: 05/06/2012, Relator Ministro: Walmir Oliveira da Costa, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 08/06/2012. Por fim, escorreito o entendimento do Juízo de Origem quanto a não concessão do adicional de periculosidade, em face da bomba de combustível estar localizada distante do local da prestação do serviço, conforme parâmetros fixados na NR-16. Todavia, o mesmo não se pode afirmar sobre a periculosidade decorrente dos explosivos. Assim, nos termos do art. 436, do CPC, dou provimento. Destarte, dou provimento ao recurso ordinário para condenar a reclamada a pagar o adicional de periculosidade previsto no artigo 193 da CLT, observado o marco prescricional. CONCLUSÃO Ante o exposto, conheço do recurso e no mérito DOU-LHE PROVIMENTO para condenar a reclamada a pagar o adicional de periculosidade previsto no artigo 193 da CLT, observado o marco prescricional. Vistos e examinados, A C O R D A M os Desembargadores da 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, DAR- 3637 8
LHE PROVIMENTO para condenar a reclamada a pagar o adicional de periculosidade previsto no artigo 193 da CLT, observado o marco prescricional. Rio de Janeiro, 10 de outubro de 2012. Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da Silva Desembargadora do Trabalho Relatora 3637 9