A pesquisa em desenvolvimento: apontamentos iniciais



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Hernández, Fernando - Transgressão e Mudança na Educação os projetos de trabalho; trad. Jussara Haubert Rodrigues - Porto Alegre: ArtMed, 1998.

Transcrição:

PERCURSO FORMATIVO NA PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE: A INICIAÇÃO CIENTÍFICA NO CURSO DE PEDAGOGIA Deise Becker Kirsch 1 Doris Pires Vargas Bolzan 2 Tratarmos da profissionalização docente, especialmente no que se refere a formação inicial, instiga-nos a discutir as questões do desenvolvimento de competências necessárias para a prática profissional. Desse modo, perguntamos: o que podemos considerar competência? De que forma ocorre o desenvolvimento das competências? Como podemos falar em desenvolver competências a partir da pesquisa na formação do professor? São esses alguns dos questionamentos que propusemos abordar neste texto em torno das competências profissionais. Para iniciar, apoiamo-nos na seguinte idéia: Na dinâmica das novas formas organizativas de formação profissional, o conceito de competência emerge como uma categoria básica, que procura unir operativamente teoria e prática, ao assumir que toda teoria tem implicações práticas e toda prática tem consigo uma teoria (implícita ou não), que a sustenta e por sua vez se faz necessário conhecê-la para fundamentar as ações profissionais. (RAMALHO, 2004, p.69) Defendemos essa afirmação acerca da competência e da sua repercussão teórica e prática pelo fato de que, na formação inicial do professor, temos uma controvérsia: há claramente o estudo de teorias necessárias para embasarem o trabalho docente, porém, a forma como estão estruturadas as matrizes curriculares dos cursos de licenciatura, como também, a maneira como as ações práticas de alguns formadores são exercidas, acabam gerando um descrédito no acadêmico de que este corpo teórico não lhe seja necessário, pois é vista a teoria pela teoria, sem relação com sua fundamentação para a prática. A visão importante, de se colocar as teorias a favor das ações docentes, na maioria das vezes, não é considerada nesse processo formativo. Decorre disso uma ação docente, após a formação inicial, muitas vezes, baseada na mera reprodução da vivência escolar desse professor, através da concepção tradicional de ensino: o mestre transmite, o aluno reproduz. Dessa maneira, não há suporte teórico na 1 Autora. Aluna do Curso de Mestrado em Educação PPGE/CE/UFSM Bolsista CAPES. 2 Orientadora. Professora Doutora PPGE/CE/UFSM.

2 formação inicial que permita aos acadêmicos refletirem sobre a prática pedagógica que, posteriormente, irão desenvolver, pois há um círculo fechado no processo educativo, impedindo que a formação do docente, bem como, sua prática futura na escola básica avance e sofra transformações, de maneira que tais acontecimentos contribuam para a qualidade da formação humana. Para que possamos, então, deixar de lado situações não satisfatórias na realidade escolar, no que concerne ao processo de ensino-aprendizagem, precisamos buscar novas alternativas para a profissionalização docente, sendo que necessitamos pensar no desenvolvimento de competências no percurso formativo do professor, considerando desde a formação inicial o ponto de partida como também a continuada, pois a formação de competências é um processo e não um produto (RAMALHO, 2004), tendo como base um corpo teórico aliado às ações práticas, a fim de que haja a formação integral do profissional da educação. Nessa perspectiva, o que consideramos competência é a possibilidade do sujeito mobilizar saberes, habilidades, atitudes, valores, com responsabilidade, com antecipação, com criação, com síntese e com risco no desenvolvimento de uma determinada função, ou seja, o exercício da competência depende de pôr em movimento todos os conhecimentos do indivíduo em uma situação prática. (PERRENOUD, 2002). Criar essa possibilidade ao futuro docente significa prepará-lo para os diferentes impasses que surgem no transcurso da prática, permitindo que ele mobilize todos os seus conhecimentos, desenvolvendo assim competência para saber agir nas mais distintas situações da prática docente. Sendo assim, as idéias de Ramalho (2004, p.81) contribuem: As considerações aqui postas possibilitam compreender que as competências não são transmissíveis. Elas são características dos profissionais que se formam à luz de uma relação dinâmica, complexa, dialogando com o objeto da profissão, num tempo real, baseadas em recursos que são mobilizados com eficácia e eficiência. Portanto, para a formação de professores seja qualificada, não é possível que haja memorização ou reprodução das atitudes dos formadores. A academia, bem como a escola, são os espaços de aprender competências a partir das experiências profissionais que são disponibilizadas, através da relação entre os saberes teóricos e o início do exercício da profissão. O contexto real é o ambiente ideal para isso, porém o futuro professor precisa estar consciente de que não irá vivenciar todas as situações possíveis da sala de aula no seu processo formativo inicial, estando constantemente preparado para uma realidade escolar

3 imprevisível e em constante mudança. Dessa forma, o desenvolvimento de competências significa o que Alarcão (2003, p.104) aborda como conhecimento necessário ao professor: É um saber agir em situação. Isso não significa afirmar que o docente seja mero executor de tarefas, mas que, em um determinado tempo/espaço, ele poderá mobilizar seus saberes e seus fazeres na busca de soluções para os desafios que se impõem. Nessa perspectiva, a pesquisa coloca-se como um estímulo na formação inicial de professores, no momento em que esta propõe, ao acadêmico, um espaço a mais para que se depare com situações-problema de sua profissão. Como sugere Ramalho (2004), a pesquisa tem a possibilidade para que os professores, em sua formação, superem a metodologia da superficialidade, na qual há a construção de saberes do senso comum. A pesquisa vem como alternativa para a transformação do currículo e da escola, a partir do instante em que permite a vivência nos contextos reais da profissão. A atitude para a pesquisa supõe utilizar métodos e as produções das ciências como referências na construção dos novos saberes e competências que, ligados às posições críticas e ao contexto, possibilitarão as potencialidades dos professores para a inovação educativa. (RAMALHO, 2004, p.28) No momento em que acreditamos na pesquisa como elemento formativo da profissão docente, estamos abandonando o modelo de racionalidade técnica e abrindo espaço para vislumbrar o professor como construtor de sua profissão (RAMALHO,2004). Isso se explica porque ele é sujeito ativo no contexto acadêmico e escolar, tem a possibilidade de criar, investigar, procurar compreender sua realidade e, assim, buscar soluções para as incertezas de sua profissão. As competências, portanto, inserem-se aqui como possíveis de serem desenvolvidas a partir do envolvimento com a pesquisa na formação inicial. As vivências propiciadas aos acadêmicos, através dessa atividade científica, vem corroborar para seu crescimento pessoal e profissional, pois necessita que ele saiba além do conteúdo específico de sua formação e esteja disposto a lidar com o incerto. Também que possua uma argumentação teórica frente a uma situação real com a qual se defronta e que necessita explicação. Além disso, que esteja em permanente interação social, com os diferentes atores envolvidos no processo investigativo e que possuem distintos saberes, ao mesmo tempo em que esteja aberto para apreender nos variados contextos nos quais se insere, durante sua atividade de pesquisa. Dessa maneira, possibilita-se, ao acadêmico, experiências diversas e que estão além

4 de uma sala de aula na universidade. Expande-se o espaço de construção de conhecimentos, tornando o curso de licenciatura enriquecido de experiências que ultrapassam a relação professor-aluno e aluno-aluno que as disciplinas explicitam. A pesquisa, como atividade que promove o desenvolvimento de competências, contribui, assim, para o pensamento reflexivo e crítico, pois o sujeito não se insere nela para cumprir uma exigência curricular ou mesmo garantir sua nota no final do semestre. Ele está ali, na maioria das vezes, para pensar sobre o que investiga, necessita saber que fundamentos embasam sua investigação, qual sua posição frente a determinado acontecimento e o porquê dessa escolha. Portanto, precisa agir e não ficar somente como mero ouvinte e/ou espectador. Assim, inerente à pesquisa está a reflexão e a crítica como desencadeadoras do processo de profissionalização docente com qualidade, impulsionados através da formação inicial. Segundo Ramalho (2004, p.90) a trilogia reflexão/investigação/crítica são pilares básicos das concepções teóricas que sustentam a formação inicial (...), portanto, necessárias para que competências sejam desenvolvidas e contribuam no processo formativo, a fim de que este seja apenas o início de um percurso contínuo de aprendizagens pelo professor. Nesse sentido, quando falamos de desenvolvimento profissional e da atividade de pesquisa na formação docente, podemos também nos referir à autonomia que estas proporcionam para a aprendizagem do sujeito. Esse elemento é relevante, pois na aprendizagem adulta, condição específica da formação dos professores, segundo Marcelo García (1999), é mais significativa quando ocorre de forma autônoma. Entretanto, aprender com autonomia não significa dizer aprender sozinho. Podemos compreender como um processo que ocorre também coletivamente e que Marcelo García (1999, p.53) expõe: A aprendizagem autónoma inclui, como se pode observar, todas aquelas atividades de formação na qual a pessoa(individualmente ou em grupo) toma a iniciativa, com ou sem ajuda de outros, de planificar, desenvolver e avaliar as suas próprias atividades de aprendizagem. Aprender, como aspecto relevante da profissão docente, individual ou coletivamente, implica articular todas as experiências já vivenciadas, assim como os conhecimentos já apropriados para que haja a (re)construção destes a partir dos novos que surgem. Dessa maneira, a aprendizagem adulta significativa emerge deste processo e os professores têm a possibilidade de reorganizar, de forma autônoma, com responsabilidade e conforme seus interesses, os saberes e as vivências.

5 Portanto, pensarmos na formação de competências significa compreendermos o professor como pessoa adulta, como sujeito agente de sua própria história e, assim, proporcionar o ambiente formativo docente que considere suas experiências e que explore, através de situações específicas, as potencialidades desse indivíduo para a qualificação profissional. A pesquisa em desenvolvimento: apontamentos iniciais Apesar da pesquisa estar em andamento, é possível trazermos alguns dados relevantes encontrados a partir das entrevistas semi-estruturadas, abertas e individuais com as egressas do Curso de Pedagogia dos anos de 2004 e 2005, da Universidade Federal de Santa Maria. Assim, ao buscarmos compreender a repercussão do envolvimento com a iniciação científica na formação inicial das pedagogas, partimos da abordagem metodológica qualitativo-narrativo, de cunho sociocultural, através da qual mapeamos as experiências que as pedagogas egressas tiveram a partir da atividade de pesquisa desenvolvida na graduação. Os achados iniciais apontam contribuições positivas na formação inicial das professoras que foram bolsistas de iniciação científica no Curso de Pedagogia. Eis algumas falas: [...] o envolvimento com a pesquisa só vem complementar e dar mais subsídios pra nossa formação, acho que nesse sentido é um aprofundamento teórico, porque às vezes em sala de aula a gente não tem a oportunidade de ir mais a fundo, tanto estudando os autores, ou até mesmo discutindo questões metodológicas [...] Rosa A fala da egressa aponta-nos a idéia do aprofundamento teórico que o projeto de pesquisa proporciona ao acadêmico, ultrapassando o espaço da sala de aula universitário, o que possibilita ampliar os conhecimentos teóricos e pedagógicos do profissional da educação. Outro fator relevante que aparece nas falas das egressas é em relação ao contato com as instituições escolares, bem como com seus professores, durante a graduação, antes mesmo do estágio supervisionado, o que proporciona a ampliação dos conhecimentos teóricos e práticos no ambiente escolar, local de atuação docente. No projeto de extensão a gente faz vivências com os professores e eles contam, relatam fatos que acontecem na escola [...] os teus saberes são mais ligados assim, tu já não entra numa realidade ideal, tu já entra numa realidade mais concreta, palpável, então isso te possibilita uma maior segurança até no que tu vai desenvolver durante [o estágio]. E eu ter me

6 envolvido em projetos de pesquisa eu acho que fez muita diferença no momento do estágio, pra minha formação, acho que tu sai muito mais consciente do papel do professor, das dificuldades e do que tu quer nessa formação profissional [...] Nair Além disso, evidenciamos que o envolvimento com a atividade de pesquisa influenciou as professoras a continuarem estudando posteriormente a formação inicial, corroborando para que elas não se acomodassem e sim para sempre estarem buscando qualificação profissional acerca dos temas educacionais, como aparece nas falas: Como eu já estava falando sobre a formação continuada, isso me ajudou bastante na escolha do meu projeto, do tema pra meu projeto de pesquisa na especialização [...] Suzi A participação nos projetos fez com que eu buscasse a minha formação continuada tentando o curso de pós-graduação, pra continuar[...] Grazi Concluímos assim que, o espaço da iniciação científica no Curso de Pedagogia, possibilitou aos sujeitos a ampliação de seus saberes teóricos e pedagógicos através das experiências na Universidade e nas escolas. Podemos, então, falar em competências necessárias à prática profissional no momento em que acadêmicos vivenciam situações diversas e significativas na formação inicial, bem como terminam esta etapa de seus estudos aptos a enfrentarem os desafios da ação docente. REFERÊNCIAS ALARCÃO, Isabel. Formação continuada como instrumento de profissionalização docente. In: VEIGA, Ilma Passos A (org.). Caminhos da profissionalização do magistério. São Paulo: Papirus, 2003. 3º ed. MARCELO GARCÍA, Carlos. Formação de Professores: para uma mudança educativa. Portugal: Editora Porto, 1999. PERRENOUD, Philippe. A prática reflexiva no ofício de professor. Porto Alegre: Artmed, 2002. RAMALHO, Betania Leite. Formar o professor, profissionalizar o ensino perspectivas e desafios. Porto Alegre: Sulina, 2004. 2º ed.