A MODELAGEM MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: UMA EXPERIÊNCIA EM ATIVIDADES DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO
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- Ester Branco Teves
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1 A MODELAGEM MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: UMA EXPERIÊNCIA EM ATIVIDADES DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO Ana Paula dos Santos Malheiros Resumo A formação inicial de professores tem sido investigada a partir de diferentes enfoques, dentre as quais a Modelagem i, que pode ser compreendida como um caminho metodológico para se trabalhar com a Matemática em sala de aula, a partir da realidade do aluno. E, para que a Modelagem chegue às salas de aula da Educação Básica, pesquisas no contexto da Educação Matemática evidenciam que um dos caminhos possíveis é a sua incorporação, na prática, nos cursos de Licenciatura em Matemática. Diante desse contexto, nesse texto é apresentada e discutidaa opção de um futuro professor de Matemáticaem levar a Modelagem para sala de aula em atividades desenvolvidas durante o estágio supervisionado. A abordagem metodológica utilizada foi qualitativa. Os resultados mostram que mesmo diante de vários empecilhos, o futuro professor mobilizou saberes docentes de modo a encontrar a melhor alternativa para levar a Modelagem para a escola. Ele buscou seu próprio espaço, por acreditar que uma experiência com amodelagem, no papel de professor, contribuiria para despertar o interesse dos alunos para com a Matemática, além de romper com um modelo educacional baseado na educação bancária, mesmo que momentaneamente. Ainda, com tal experiência, ele reforçou suas conjecturas acerca das potencialidades do trabalho com a Modelagem em sala de aula, considerando, principalmente, o envolvimento e interesse dos estudantes e se declarou seguro para levar a Modelagem para suas aulas de Matemática, em suas futuras turmas. Palavras-chave: Educação Matemática. Licenciatura em Matemática. Paulo Freire. Introdução De acordo com as diretrizes curriculares para o curso de Licenciatura em Matemática (BRASIL, 2001), o professor da Educação Básica deve ter uma visão do papel da aprendizagem da Matemática na formação de indivíduos para o exercício de sua cidadania. Para tanto, a Modelagem, que pode ser compreendida comoum caminho metodológico para se trabalhar com a Matemática em sala de aula (BRASIL, 2006), tem sido apontada como uma das possibilidades para que isso aconteça. Nesse sentido, a partir de observações da realidade e de questionamentos, discussões e investigações, os estudantes, orientados pelo professor,partem de um tema de interesse deles e, ao fazerem Modelagem, se deparam com problemas que podem modificar as ações na sala de aula, além da forma como se compreende o mundo. Tal ideia se aproxima daquilo 01097
2 2 que Freire (2005) denomina leitura de mundo (MEYER; CALDEIRA; MALHEIROS, 2011). No cenário nacional, desde 1970 pesquisas e práticas sobre a Modelagem, no contexto da Educação Matemática, têm surgido. Entretanto, resultados destacam que ela ainda não chegou, de fato, às salas de aula de Matemática (SILVEIRA; CALDEIRA, 2012), mesmo que muitos professores demonstrem ser simpáticos à proposta. Diante desse panorama em que se têm pesquisas que evidenciam que professores de Matemática, embora receptivos às ideias da Modelagem, não as levam para sala de aula, um projeto de pesquisaestá em desenvolvimento.como parte dos resultados de tal projeto, nesse texto, apresento e discuto a opção de um futuro professorao levar a Modelagem para a sala de aula em atividades desenvolvidas com um pequeno grupo de estudantes, durante o estágio supervisionado. O contexto dessa investigação foi a disciplina Metodologias de Ensino de Matemática e Estágio Supervisionado II, ministrada no último ano de um curso de Licenciatura em Matemática. Tal disciplina tem como principal objetivocontribuir com a formação do futuro professor para o trabalho docente nos ensino Fundamental e Médio, por meio de sua participação em processos de ensino e aprendizagem nos diferentes espaços educacionais. Nela, os estudantes executam um Projeto de Estágio em que está previsto, dentre outras, regência em sala de aula e projetos de orientação aos alunos nos quais os futuros professores, a partir do diálogo com a escola, optam por realizar diferentes ações, como reforços, oficinas, projetos, etc. Elas são também consideradas atividades de regência, visto que os licenciandos atuam como professor em todas elas. A diferença está, na maior parte das vezes, na natureza das atividades desenvolvidas e no número de alunos, já que elas acontecem, em sua maioria, no período inverso ao das aulas. A partirdo objetivo e docontexto do estudo, a metodologia adotada na pesquisa é de caráter qualitativo, visto que uma de suas principais características é seu aspecto interpretativo. Nela, pesquisador, tem como objetivo compreender de que forma as pessoas, em um contexto particular, pensam e agem. Em particular, para esse texto, será utilizada a noção de estudos de casos qualitativos (STAKE, 2003). [...] Se fosse uma turma minha, minha turma mesmo, eu trabalharia em sala de aula Em Malheiros (2014) discuti que o contato com a Modelagem em diferentes contextos de um curso de Licenciatura em Matemáticafez com que um estudante 01098
3 3 mudasse de postura e se sentisse seguro para levá-la às aulas de Matemática, em suas atividades de estágio supervisionado. Tal fato corrobora o que a literatura em Educação Matemática tem apontado com relação às possibilidades da Modelagem no contexto da formação inicial de professores. Autores como Silva(2007) evidenciam que é preciso que a Modelagem seja incorporada, na prática, nos cursos de Licenciatura em Matemática. É importante ler e discutir sobre Modelagem, mas isso não é suficiente. É preciso fazer Modelagem nas diferentes disciplinas presentes no currículo, ou seja, ela não deve ficar restrita as disciplinas de cunho pedagógico.acredito também que as disciplinas de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado são lócus importantes para que questões relacionadas à Modelagem em sala de aula, em particular, sejam vivenciadas.com isso, os pesquisadores destacam que a Modelagem poderá ser incorporada na prática dos futuros professores. No caso da experiência do futuro professor, descrita nesse texto, quando questionado sobre o porquê ele optou por levar a Modelagem para suas atividades de estágio, ele respondeu que foi uma tentativa de tentar inserir uma nova metodologia na escola [...] e de fazer com que os alunos se aproximassem mais da Matemática, tivessem mais interesse em aprender [...] a partir de coisas do dia a dia deles, ou seja, a ideia do licenciando era tentar aproximar a Matemática da realidade de seus alunos, como forma de despertar o interesse dos estudantes, corroborando o que muitas pesquisas evidenciam. Para tanto, ele trabalhou a partir do interesse dos alunos por jogos escolares e os orientou para que criassem um modelo de arquibancada para a quadra da escola. Conteúdos como proporção, área, volume, unidades de medidas, regra de três, dentre outros, foram explorados ao longo do desenvolvimento da atividade de Modelagem. Ainda, discussões sobre acessibilidade, custos, meio ambiente, etc. também ocorreram, o que reforça a perspectiva crítica ao se trabalhar com a Modelagem nas aulas de Matemática, contribuindo para a leitura de mundo dos estudantes (MEYER; CALDEIRA; MALHEIROS, 2011). Entretanto, ele não trabalhou com a Modelagem nas aulas de regência e sim nos projetos de orientação, por vários fatores. Por que eu achava que teria mais tempo... como essa seria a minha primeira vivência, eu achei que no horário de projetos, daria para eu controlar melhor o tempo, o conteúdo.ainda, evidenciou que o desconhecimento da professora responsável pela turma acerca da Modelagem causou certa estranheza quando ele fez a proposta. Entretanto, ela não se mostrou disposta a 01099
4 4 conhecê-la. Ademais, a exigência da escola para que a linearidade do currículo não fosse alterada, o limite de horas aula e o conteúdo estipulado para as atividades de regência o fizeram desistir de trabalhar com a Modelagem nas aulas. Segundo ele, se fosse uma turma minha, minha turma mesmo, eu trabalharia em sala de aula, mas como era a turma de outro professor, eu preferi trabalhar no horário de Projetos, que era um horário meu. Diante dorelato do futuro professor, é possível perceberque sua vontade de trabalhar com a Modelagem na escola, em suas atividades de estágio, fez com que ele mobilizasse seus saberes docentes (TARDIF, 2012), de modo a encontrar a melhor alternativa para que isso acontecesse.os empecilhos enfrentados não o impediram de fazer com que ele mudasse seus planos. Para ele, era importante vivenciar uma experiência com Modelagem, agora, no papel de professor (ele já havia vivenciado enquanto aluno, no ano anterior).ademais, a busca por um espaço dele evidencia que ele queria se colocar enquanto professor efetivo daquela turma de estudantes, com o intuito de romper com um modelo educacional baseado na educação bancária (FREIRE, 2005), levando uma nova metodologia que pudesse despertar o interesse dos estudantes. De acordo com o futuro professor, no início, ele pensou em desistir, pois os estudantes demoraram um pouco para se envolver com o trabalho com a Modelagem em sala de aula. Tal fato pode ser justificado pela mudança de paradigma educacional ao se trabalhar com a Modelagem, pois nela, os estudantes se tornam ativos ao longo de todo o processo. Mas, passada essa fase, os estudantes se mostraram interessados e trabalharam com Modelagem de maneira satisfatória, de acordo com o licenciando, o que, para ele, evidenciou as potencialidades do trabalho com a Modelagem em sala de aula, considerando, principalmente, o envolvimento e interesse dos estudantes. Segundo ele, foi uma experiência muito importante, que o fez sentir seguro para levar a Modelagem para suas aulas de Matemática, em suas futuras turmas. Considerações Finais Nesse texto apresentei, de maneira breve, parte dos resultados de uma experiência de um futuro professor de Matemática com a Modelagem, em suas atividades de Estágio Supervisionado. Diante do exposto, é possível conjecturar que as vivências com a Modelagem em diferentes momentos da formação inicial contribuíram para que o futuro professor mobilizasse seus saberes docentes e a levasse para as aulas 01100
5 5 de Matemática, com o intuito de tentar romper, mesmo que momentaneamente, o paradigma educacional vigente. Desse modo, é importante que diferentes possibilidades pedagógicas, não só as relacionadasà Modelagem, sejam levadas aos cursos de formação inicial, para que os futuros professores vivenciem-nas e percebam suas potencialidades para as salas de aula da Educação Básica. Referências BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Orientações Curriculares para o Ensino Médio, v. 2. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Parecer CNE/CES 1.302/2001,de 06 de novembro de Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Matemática, Bacharelado e Licenciatura FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 49ª Reimpressão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, MALHEIROS, A. P. S. A Modelagem Matemática na Formação Inicial de Professores: a mudança de postura de Alexandre. In.:Congresso Nacional de Professores (2.: 2014: Águas de Lindóia); Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores (12.: 2014: Águas de Lindóia). Anais...Disponível em: MEYER, J. F. C. A.; CALDEIRA, A. D.; MALHEIROS, A. P. S. Modelagem em Educação Matemática. Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora, SILVA, D. K. Ações de modelagem para a formação inicial de professores de Matemática. In: BARBOSA, J. C.; CALDEIRA, A. D.; ARAÚJO, J. L. Modelagem Matemática na Educação Matemática Brasileira: Pesquisas e Práticas Educacionais. Recife: Sbem, p (Biblioteca do Educador Matemático). V.3. SILVEIRA, E.; CALDEIRA, A. D. Modelagem na sala de aula: resistências e obstáculos. Bolema. Rio Claro, SP. V. 26, n 43, pp Ago STAKE, R. Cases Studies. In.: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (Eds.). Strategies of Qualitative Inquiry. 2a. Ed. Thousand Oaks, CA: Sage, P TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Profissional. 14ª Ed. Petrópolis: Editora Vozes,
6 6 i Nesse texto, Modelagem será utilizada como sinônimo de Modelagem em Educação Matemática, evitando com isso possíveis repetições
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