MICROBIOTA ANFIBIÔNTICA

Documentos relacionados
Microbiologia Geral- Jean Berg Biotecnologia - UFERSA

Microbiota Normal do Corpo Humano

Porque nos alimentamos?

Metabolismo dos Carboidratos

FONTES DE CONTAMINAÇÃO DOS ALIMENTOS. Profa. Msc Márcia Maria de Souza Americano

UNIDADE 2 Alimentação e Digestão

Para que serve o alimento?

Alimentação Saudável A Nutrição & Os Nutrientes. O que são Nutrientes? Quais as funções dos Nutrientes?

NERVITON PLUS É MAIS ENERGIA!!!

Microbiota Residente, Indígena ou Autóctone do Corpo Humano

Leveduras vivas na nutrição de ruminantes e monogástricos

21/03/2017. Microbiota Residente, Indígena ou Autóctone do Corpo Humano. Características da Microbiota Residente

ALERGIA INTOLERÂNCIA ALIMENTAR. Laíse Souza. Mestranda Programa de Pós Graduação em Alimentos e Nutrição PPGAN / UNIRIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO HOSPITAL DE CLÍNICAS COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR

POTENCIAL DE PRODUÇÃO DE PLANTAS FORRAGEIRAS. Maria Aparecida Salles Franco Curso de Veterinária Disciplina: Forragicultura e Plantas Tóxicas

PROVA DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Cód. 15/A. A substância que converte o pepsinogênio (forma inativa) em pepsina (forma ativa) no estômago é:

Graduação em Biotecnologia Disciplina de Biotecnologia Microbiana II. Probióticos. Por que devemos consumí-los diariamente?

CARACTERÍSTICAS GERAIS DA MICROBIOTA HUMANA

DIVISÕES DA FISIOLOGIA

Papel do Laboratório de Microbiologia no Diagnóstico Laboratorial: Orientações para a Prática e

As Bactérias A palavra bactéria vem do Grego, onde bakteria

Catálogo de Produtos Biscoitos Integrais

Silvia Alice Ferreira Enfermeira - DVHOSP

ABSORÇÃO CUTÂNEA E PROBLEMAS DE PELE. Professora: Erika Liz

PRÓBIÓTICOS-PREBIÓTICOS E MICROBIOTA

08/03/2012. Anatomia e fisiologia comparada do trato gastrointestinal de aves e suínos. Professor Luciano Hauschild. Similaridades

Avaliação de uma fração proteica de 38 a 40 kda isolada de Acinetobacter baumannii como alvo para imunoterapia

Sistema Urinário. 2º ano 2013 Profa. Rose Lopes

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM. Fisiologia Gastrintestinal - Digestão e Absorção -

Unidade III Nutrição na doença e agravos à saúde. Tipos de dietas e consistência NUTRIÇÃO APLICADA À ENFERMAGEM. Profa Dra Milena Baptista Bueno

Produtos que são submetidos a VISA Medicamentos Fitoterápicos Insumos farmacêuticos Correlatos Cosméticos Saneantes e outros

Fatores intrínsecos e extrínsecos que controlam o desenvolvimento microbiano nos alimentos

Digestão intra e extracelular

A Química da Vida. Anderson Dias Felipe Knak

Profª Drª Maria Luiza Poiatti Unesp - Campus de Dracena

FISIOLOGIA ANIMAL - UERJ

Sangue Eritrócitos. Fisiologia Molecular BCT 2S/2011. Universidade Federal de São Paulo EPM/UNIFESP

LEITES E FÓRMULAS INFANTIS AJUDA PARA CRESCER

Lista de exercícios de Biologia - Prof. João Paulo. Sistema Digestório

Rua Cristina Montanari Rovere, 20/30 Vila Faustina Valinhos SP

Exercício de Fixação: Características Gerais da Microbiota do Homem

Glândulas. Paratireóides

ALIMENTOS E NUTRIENTES

Utilização da Análise do Leite como ferramenta de monitoramento e ajustes de dietas em rebanhos de gado de leite

Disciplina: Controle de Qualidade Série: 2ª Turmas: L/N/M/O Curso: Técnico em Agroindústria

Existe uma variedade de cápsulas, pós, chás e outros produtos no mercado com uma só promessa: acelerar o metabolismo para emagrecer mais rápido.

PRODUTOS DA COLMEIA GUIA DE ACONSELHAMENTO

CARACTERÍSTICAS GERAIS DA MICROBIOTA DO HOMEM

Como estabelecer uma Diretriz Multiprofissional para guiar a Higiene do Ambiente Hospitalar?

Bactérias. Meios de Cultura e Curva de crescimento in vitro. Meios de cultura

AÇÃO DOS LACTOBACILLUS NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL INTRODUÇÃO

Por que Devemos Olhar os Rótulos dos Alimentos? Palestrante: Liza Ghassan Riachi CICLO DE PALESTRAS ALIMENTAÇÃO E SAÚDE

DIAGNÓSTICO DA ALIMENTAÇÃO HUMANA ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO

Manejo nutricional de cães e gatos

Ofertas válidas de 10 setembro a 30 de setembro de 2015.

Imunologia. Introdução. Imunidade = resistência a infecções. Células, tecidos e moléculas que medeiam resistência = sistema imune

O que você precisa saber sobre óleos e gorduras ÓLEOS E GORDURAS

11/03/2018 INTRODUÇÃO A MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS ASPECTOS HISTÓRICOS. INTRODUÇÃO A MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS

História Natural da Doença

Como transformar o lanche das cinco em um lanche saudável? Nutricionista: Patrícia Souza

Programa Analítico de Disciplina EAF210 Microbiologia de Alimentos

LIPÍDIOS. 1º ano Pró Madá

Acessulfame K: é um adoçante derivado do potássio, seu poder adoçante é de até 200 vezes maior do que a sacarose. O Acessulfame K

Proteínas e aminoácidos

DISCIPLINA DE ANATOMIA E FISIOLOGIA ANIMAL SISTEMA URINÁRIO. Prof. Dra. Camila da Silva Frade

NUTRIÇÃO - DIGESTÃO MICROBIANA EM RUMINANTES

Qual é a função do cólon e do reto?

Grandes Áreas de Ensino da Saúde Especialização Patologia Clínica em Oncologia

CÉLULA VEGETAL E PAREDE CELULAR

TIPOS DE ALIMENTOS E FORMAS DE PRODUÇÃO

PROBIÓTICOS EM PREVENÇÃO DE INFECÇÃO: AFINAL VALE A PENA? Lourdes das Neves Miranda Hospital Geral de Pirajussara

Profa. Dra. AKEMI TERAMOTO DE CAMARGO

DISCIPLINA NOÇÕES DE NUTRIÇÃO E DIETÉTICA CARBOIDRATOS PROFESSORA IVETE ARAKAKI FUJII

Estrutura Celular. Célula Animal

Célula Procarionte X Célula Eucarionte

BIOQUÍMICA DOS ALIMENTOS: AMIDO RESISTENTE E FIBRAS. Patricia Cintra

Microorganismos no Rúmen: bactérias e fungos Prof. Raul Franzolin Neto FZEA/USP Campus de Pirassununga

Lactantes Nutrição na Lactação

INTRODUÇÃO A MICROBIOLOGIA DOS ALIMENTOS

Exercício de Fixação: Características Gerais da Microbiota do Homem

Procedimentos Técnicos. NOME FUNÇÃO ASSINATURA DATA Dr. Renato de Lacerda Barra Filho Dr. Ivo Fernandes. Gerente da Qualidade Biomédico

Infecções Genitais Femininas

Prof. Giovani - Biologia

Metabolismo Energético das Células. Processos Exergônicos: Respiração Celular Fermentação

Quanto ao sistema digestório humano, analise as afirmações abaixo e assinale V (verdadeiro) ou F (falso):

BIOLOGIA - 3 o ANO MÓDULO 21 SISTEMA HUMANA

GUIA RÁPIDO NUTRIÇÃO INFANTIL

Catálogo Edição NaturalTech 2016

ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DO ALEITAMENTO MATERNO*

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição Ciclo de Palestras

Alimentos Funcionais Gastronomia Aplicada a Nutrição Profª Cláudia Gomes

PREGÃO PRESENCIAL Nº 44/2016 ANEXO I RETIFICAÇÃO DA NUMERAÇÃO DOS ITENS ONDE SE LÊ: Valor unitário. Valor total. Item Produto Qnt

Universidade Federal da Paraíba - UFPB Centro de Ciências Agrárias - CCA Grupo de Pesquisa Lavoura Xerófila - GPLX

PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO SUBSECRETARIA DE ENSINO COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO

Comensalismo. Simbiose Parasitismo benefícios nutricionais, estimulação do sistema imune, e regulação da colonização endógena e exógena.

PlanetaBio Resolução de Vestibulares UNICAMP ª fase

Prof. Deise Laura Cocco Microbiologia Cursos da Saúde BACTÉRIAS: DA MICROBIOTA NORMAL A PATOGENICIDADE

Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE BACTERIOLOGIA VETERINÁRIA MICROBIOTA ANFIBIÔNTICA PROF. RENATA F. RABELLO 2º SEMESTRE INTRODUÇÃO Definição: Microrganismos freqüentemente encontrados no organismo de indivíduos saudáveis. Residente X transitória. Regiões em contato com meio externo pele e mucosas. Bactérias, vírus, fungos e protozoários. 10 13 células (humanos) X 10 14 bactérias. Aquisição durante e logo após o nascimento. Modificações durante a vida. Quantidade e qualidade variável: região do corpo (ex. ph, umidade, substâncias inibitórias); espécie do hospedeiro (ex. humanos, bovinos); características do hospedeiro (ex. idade, alimentação, higiene); ambiente. Astronautas Antimicrobianos antes do vôo ( relativamente estéreis ) 6 semanas após vôo Flora = contatos imediatos DISTRIBUIÇÃO Pele: barreira protetora (físico químico microbiológico); pêlo (primeira barreira); mecanismos de controle: ph, ácidos graxos Crianças peito X mamadeira Crianças Países desenvovidos X em desenvolvimento (secreções sebáceas) e lisozima. 1

distribuição variável: > [ ] áreas com > umidade e o T; OUVIDO EXTERNO: Bactérias e fungos (pequenas quantidades) em cães e gatos; S. aureus, Staphylococcus epidermidis, Micrococcus sp e coliformes (cães). clima, idade e higiene; Micrococcus sp., Staphylococcus sp.; Streptococcus α- hemolíticos, Acinetobacter sp (cães e gatos); S. epidermidis (animais domiciliados) nichos; OUVIDO MÉDIO: Corynebacterium, Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Streptococcus e Branhamella sp (cães); Propioniobacterium acnes (folículos pilosos de cães). Trato respiratório (TR): TR superior grande variedade e quantidade de microrganismos. Bordetella bronchiseptica (tosse dos canis) alguns cães saudáveis. Trato gastrointestinal (monogástricos): quantidade de bactérias aeróbias e anaeróbias, além de fungos; dieta; ambiente. TR inferior normalmente estéril Cavidade oral: umidade, temperatura, ph (~ neutro) e nutrientes microbiota complexa e densa; distribuição variável (ex. língua, dentes, mucosa...) formação da placa dental cárie e doenças periodontais. 2

Mecanismos de regulação: atividade peristáltica; ácido gástrico; funcionamento imune intestinal (ex. IgA no ID); atividade antibacteriana da bile e do suco pancreático; microbiota (produtos metabólicos, bacteriocinas). Trato gastrointestinal (ruminantes): diversidade de microrganismos (bactérias, fungos e protozoários); vegetais fibrosos digestão depende das atividades metabólicas de microrganismos (rúmen e IG); digestão e absorção de nutrientes (células microbianas, AGV e vitaminas do complexo B); transformam proteínas de em de qualidade; ataque a substâncias tóxicas na dieta (mas produzem também). composição da microbiota dieta; Trato genitourinário: uretra anterior e vagina; uretra: GP e micoplasma, dentre outros (cães); > ITUs migração ascendente; anaeróbios (GP, GN, bastões, cocos, espiroquetas). Vagina: anaeróbios, micoplasma e Ureplasma sp., (mas também CGP, BGN ); composição influência de hormônios e ambiente. estro: cérvix aberta colonização uterina; diestro: predisposição à piometra, pois cervix fecha e imunossupressão. EFEITOS DA MICROBIOTA Benéficos Estímulo antigênico desenvolvimento normal do SI. Defesa contra patógenos (interferência bacteriana): substâncias (ex. ácidos graxos na pele, bacteriocinas e produtos metabólicos no TGI); ph (ex. lactobacilos na vagina ambiente ácido) nichos ocupados (receptores). 3

Produção de uma variedade de compostos: vitaminas K e B12 (microbiota intestinal). ácidos orgânicos (valor metabólico). Auxiliam na absorção de nutrientes (ex. microbiota ruminal e intestinal). Inativação de substâncias cancerígenas e tóxicas. O que acontece quando a microbiota não está presente? Animais livres de germes tendem a viver mais. Não desenvolvem cárie. SI menos desenvolvido e mais vulnerável. Maléficos Potencial de disseminação para regiões estéreis. Infecções oportunistas. Como pode acontecer? perfuração do intestino; extração dental (ex. estreptococos viridans corrente sangüínea); bactérias do TGI ascendem à uretra ITU; tratamentos invasivos (ex. cirurgias e outros) ex. infecções hospitalares; pele descontinuada; modificações da microbiota: uso de antimicrobianos (infecção exógena ou infecção endógena*); * clindamicina Clostridium difficile diarréia ou colite pseudomembranosa. alterações ambientais (ex. ph da vagina); SI ineficaz (ex. AIDS, corticóides). Probióticos Suplementos alimentares de microrganismos vivos capazes de promover o equilíbrio da microbiota intestinal, exercendo efeitos benéficos para saúde. Ex. Lactobacillus, Bifidobacterium. Função: controle do colesterol e diarréias; redução do risco de câncer; promotores de crescimento (animais). 4

Humanos e animais. Diferentes formulações: componentes de alimentos industrializados (ex. leites fermentados, iogurte); pó ou cápsulas; mistura mineral (animais). Prebióticos Ingrediente alimentar não digerível que pode promover a seleção de espécies bacterianas benéficas para o homem. Carboidratos: não hidrolizáveis por enzimas digestivas; derivados da galactose, maltose, xilose e frutose. Digeridos pela microbiota intestinal (IG). Produtos comestíveis (ex. biscoitos e leites). Estudos em fase inicial promissoras. Prébióticos x probióticos: microbiota protetora natural * * probióticos - preparo mais complexo Simbióticos Misturas de probióticos e prebióticos que afetam o hospedeiro de forma benéfica. Prebióticos sobrevivência e implantação dos probióticos no IG. Ex. derivados de frutose + bifidobactérias. Estudos em fase inicial promissoras. 5