PROCESSO Nº: 0803340-15.2015.4.05.0000 - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO AGRAVANTE: COOPERATIVA MISTA DE PESCA DE ITACARE ADVOGADO: RAFAELA CÂMARA SILVA AGRAVADO: INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVACAO DA BIODIVERSADE EMBARGANTE: INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVACAO DA BIODIVERSADE RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA - 2ª TURMA RELATÓRIO Trata-se de embargos de declaração opostos pelo INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSADE - ICMBio contra o seguinte acórdão: AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARCAÇÃO QUE PENETROU UNADE DE CONSERVAÇÃO COM INSTRUMENTO DE PESCA. INFRAÇÃO AMBIENTAL. LIBERAÇÃO DA EMBARCAÇÃO APREENDA. 1. Trata-se de agravo de instrumento interposto por COOPERATIVA MISTA DE PESCA DE ITACARÉ - COOMPI contra decisão que, nos autos de ação ordinária, indeferira a antecipação dos efeitos da tutela, a qual objetivava a imediata liberação da embarcação apreendida, bem como de todos os petrechos e pescados a ela integrados, após a autuação levada a efeito pelo INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO E BIODIVERSADE - ICMBio, ora agravado. 2. A Cooperativa agravante é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, constituída com o escopo de fomentar a atividade de pesca através da prestação de serviços aos seus associados, simples pescadores. No dia 29 de abril de 2015, após a recente aquisição de embarcação pela recorrente para a realização de grandes pescas (que fora obtido através de linhas de crédito, a exemplo do Programa Nacional de Financiamento da Ampliação e Modernização da Frota Pesqueira Nacional, Lei nº. 10.849/2004), houve a penetração, por parte do barco da agravante, em Unidade de Conservação (Reserva Biológica do Atol das Rocas) com o porte de instrumento de pesca. Tal atitude acarretou a lavratura, por parte do ICMBio, ora recorrido, do Auto de Infração nº. 036003 e a aplicação da multa no importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais), bem como a apreensão da referida embarcação denominada de "COOMPI I", lavrando-se o respectivo Termo de Depósito nº. 21923. 3. É verdade que, em princípio, inexiste qualquer arbitrariedade ou ilegalidade na atuação do ICMBio agravado, até porque, dentro de seu mister fiscalizatório (poder de polícia), houve a regular autuação da Cooperativa agravante, com a lavratura de Termo de Depósito, visto que restou apreendida sua embarcação que frequentava lugar proibido (portando instrumento de pesca), qual seja, a "Reserva Biológica do Atol das Rocas", considerada Unidade de Conservação, o que, sem dúvidas, caracteriza infração ambiental, suscetível de sanção por parte da Administração Pública. As alegações relativas à suposta ausência de data no auto não se mostram relevantes, porquanto
formalidade que não tem o condão de eivar de forma insuperável o ato administrativo. 4. Entretanto, o procedimento administrativo terá o condão de revelar as cominações legais para a infração, de modo que se revela impróprio manter-se a apreensão da embarcação. Com efeito, nada justifica tolher-se o administrado do acesso ao seu bem, mormente porque a Administração tem os meios próprios para constranger ao cumprimento da proteção ao meio ambiente, inclusive com a imposição de multa. Notese, ademais que a referida autuação remonta aos idos do mês de abril de 2015 (29/04/2015) e ainda resta pendente de apreciação e julgamento a defesa administrativa lançada pela agravante ao ICMBio agravado. 5. Observe-se, de resto, que a Cooperativa recorrente é servil ao fomento da pesca através da prestação de serviços aos seus associados, simples pescadores que retiram seu sustento diário da embarcação financiada pela política pública do "Profrota Pesqueira, Lei 10.849/2004", que trouxe maior facilidade à atividade por eles desenvolvida. 6. A plausibilidade do direito material existe, sobretudo considerando-se que a egrégia Segunda Turma desta Corte tem entendido cabível a liberação de veículos ou embarcações apreendidos transportando irregularmente mercadorias, mesmo nos casos de cometimento de infrações ambientais. Doutra banda, o perigo da demora da prestação jurisdicional é manifesto, dada a necessidade de subsistência dos pescadores e de suas famílias que dependem daquela embarcação. Ademais, a medida é reversível, caso se determine ao final em sentido diverso. 7. Agravo de instrumento provido, para determinar a liberação da embarcação apreendida, bem como os apetrechos que a integram. Sustenta o embargante, em suas razões, que o acórdão foi omisso ao não ter se manifestado expressamente sobre dispositivos normativos que determinam a apreensão dos bens utilizados no cometimento de infrações ambientais, a exemplo dos arts. 25 e 72 da Lei n. 9.605/98 e dos arts. 101, 102, 105 e 106, todos do Decretolei n. 6.514/08. É o relatório. PROCESSO Nº: 0803340-15.2015.4.05.0000 - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO
DE INSTRUMENTO AGRAVANTE: COOPERATIVA MISTA DE PESCA DE ITACARE ADVOGADO: RAFAELA CÂMARA SILVA AGRAVADO: INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVACAO DA BIODIVERSADE EMBARGANTE: INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVACAO DA BIODIVERSADE RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA - 2ª TURMA VOTO Cabíveis, em tese, os embargos, por apontarem omissão no decisum, passo a apreciálos. Inicialmente, registro que é pacífico na jurisprudência o entendimento de que o Juiz não fica adstrito aos fundamentos invocados pelas partes, nem tampouco está obrigado a responder a todas as suas alegações. Firmando o seu convencimento, deve expor as razões que o levaram a proferir tal decisão, em cumprimento ao comando constitucional que exige sejam fundamentadas as decisões, sob pena de nulidade. A fundamentação, no entanto, não abrange um questionário com todas as respostas aos quesitos levantados pelas partes. Não merece guarida a pretensão do ICMBio embargante, uma vez que esta Egrégia Segunda Turma tem fincado o posicionamento de que é possível a liberação de veículos ou embarcações apreendidos transportando irregularmente mercadorias, ainda que em casos de cometimento de infrações ambientais, visto que nada justifica tolher-se o administrado do acesso ao seu bem, mormente porque a Administração tem os meios próprios para constranger ao cumprimento da proteção ao meio ambiente, inclusive com a imposição de multa. Demais disso, inexiste omissão quanto aos dispositivos citados pela embargante, pois a previsão legal de apreensão de bens utilizados no cometimento de infrações ambientais não impede sua posterior liberação, mercê da falta de razoabilidade em manter-se o bem apreendido, dada a necessidade de subsistência dos pescadores e de suas famílias que dependem daquela embarcação. Na realidade pretende a embargante que se acolha a interpretação reputada correta
pela parte aos dispositivos legais que aponta, mas tal configura pretensão a rejulgamento. Nessa senda, não padecendo o acórdão de qualquer omissão, obscuridade ou contradição, não há que se falar em embargos declaratórios com o simples objetivo de forçar o reexame da matéria. Com força no aludido, NEGO PROVIMENTO AOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. É como voto. PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA Desembargador Federal Relator PROCESSO Nº: 0803340-15.2015.4.05.0000 - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO AGRAVANTE: COOPERATIVA MISTA DE PESCA DE ITACARE ADVOGADO: RAFAELA CÂMARA SILVA AGRAVADO: INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVACAO DA BIODIVERSADE EMBARGANTE: INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVACAO DA BIODIVERSADE RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA - 2ª TURMA
EMENTA PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. FINALADE DE REJULGAMENTO. INOCORRÊNCIA DE OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURADE. 1. Embargos de declaração que suscitam a existência de omissões, contradições ou obscuridades, no que toca a aspectos do julgamento, a pretexto de reapreciar a matéria com a consequente atribuição de efeito infringente; 2. O que em verdade pretende o embargante é que se acolha a interpretação reputada correta pela parte aos dispositivos legais que aponta, mas tal configura pretensão a rejulgamento; 3. Embargos de declaração desprovidos. ACÓRDÃO Vistos, Relatados e discutidos os presentes autos, em que figuram como partes as acima indicadas. DECE a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade, NEGAR PROVIMENTO AOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, nos termos do voto do Relator e das notas taquigráficas, que passam a integrar o presente julgado. Recife, 1º de dezembro de 2015.
PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA Desembargador Federal Relator