Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro 23ª CÂMARA CÍVEL

Transcrição

1 AGRAVO DE INSTRUMENTO n º AGRAVANTE: UNIMED SEGUROS SAÚDE S/A AGRAVADO: THIAGO ROSA ASSIS DE OLIVEIRA RELATOR: DES. MARCELO CASTRO ANÁTOCLES DA SILVA FERREIRA AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. TUTELA ANTECIPADA CONCEDIDA PARA DETERMINAR QUE A AGRAVANTE, NO PRAZO DE 48 HORAS, PROCEDESSE À AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE CIRURGIA, COM O FORNECIMENTO DO MATERIAL NAS EXATAS CARATERÍSTICAS E QUANTIDADES ELEITA PELO PROFISSIONAL MÉDICO DO AGRAVADO, SOB PENA DE MULTA DIÁRIA DE R$ 1.000,00. MULTA MAJORADA PARA R$ ,00, FACE À INFORMAÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DA TUTELA ANTECIPADA. CIRURGIA AUTORIZADA PELA AGRAVANTE, FORA DO PRAZO FIXADO NA DECISÃO. AGRAVADO QUE OPTOU POR NÃO REALIZAR A CIRURGIA NA DATA AGENDADA, POR PROBLEMAS PESSOAIS. RECURSO A QUE DÁ PARCIAL PROVIMENTO, NA FORMA DO ARTIGO 557, 1º-A, DO CPC, PARA REDUZIR A MULTA POR DESCUMPRIMENTO DA TUTELA ANTECIPADA, FIXANDO A MESMA EM R$ ,00. 1

2 DECISÃO Trata-se de agravo de instrumento, interposto pela UNIMED SEGUROS SAÚDE S/A contra decisão proferida pelo Juízo da 31ª Vara Cível da Comarca da Capital, nos autos de Ação de Obrigação de Fazer, ajuizada por THIAGO ROSA ASSIS DE OLIVEIRA. Na ação originária, o agravado, em novembro de 2013, relata que solicitou à agravante autorização para a realização do procedimento cirúrgico de urgência a que necessita ser submetido, face ao risco do rompimento de feixe vasculo-nervoso, e consequente risco de parestesia em face e região mandibular. Afirma que, que apesar de ter autorizado a realização do procedimento cirúrgico, a agravante negou o fornecimento dos materiais indicados pelo cirurgião. Em 28/11/2013, foi concedida a antecipação dos efeitos da tutela pretendida, tendo sido determinado que a agravante, no prazo de 48 horas, procedesse à autorização para realização do procedimento médico cirúrgico descrito na inicial, com o fornecimento do material nas exatas caraterísticas e quantidades eleitas pelo profissional médico do agravado, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (um mil reais). Face à informação de descumprimento da decisão que concedeu a tutela antecipada, foi majorada a multa para R$ ,00 (cem mil reais), em 18/12/2013, publicada a decisão em 07/01/

3 Requer a agravante a reforma da decisão, sustentando que o procedimento foi autorizado, mas o próprio agravado optou por não realizar a cirurgia agendada para 14/12/2013, por problemas pessoais, tendo reagendado a cirurgia, conforme ligações gravadas em mídia. Aduz que a multa arbitrada configura enriquecimento ilícito do agravado, violando os princípios da proporcionalidade e razoabilidade. Informações do Juízo (e-doc 00031), onde informa o cumprimento do disposto no artigo 526 do CPC, mantendo sua decisão, sustentando que a multa foi majorada, uma vez que a agravante foi intimada pessoalmente em 29/11/2013 para cumprir a tutela antecipada no prazo de 48 horas, deixando transcorrer mais de 17 dias sem qualquer comprovação idônea do seu cumprimento. Entende que a alegação da agravante de que o tempo fixado na decisão é exíguo colide com o seu comportamento de já ter usufruído, no todo, de mais de 19 dias e, ainda assim, não cumprir a ordem judicial, optando por agravar o risco à vida do autor. O agravado não apresentou contrarrazões. Em consulta ao sítio eletrônico do Tribunal de Justiça, foi constatado já ter sido proferida sentença de procedência, datada de 11/02/2014, tendo sido condenada a agravante a pagar ao agravado, a título de dano moral, a importância de R$ 6.000,00 (seis mil reais). O recurso foi instruído com os documentos digitalizados no anexo, atendendo ao disposto nos artigos 524 e 525 do Código de Processo Civil. 3

4 É o relatório. Decido. O recurso é tempestivo, tendo sido devidamente preparado, estando presentes os demais requisitos de admissibilidade. Cabe frisar que a relação jurídica se enquadra no conceito de relação de consumo regulada pela Lei nº 8078/90, norma de ordem pública, cogente e de interesse social. O caso concreto discutido aqui já foi amplamente debatido nas Câmaras Cíveis e nos Tribunais Superiores, razão pela qual, nos termos do artigo 557 do Código de Processo Civil, permite seja decidido monocraticamente. Entendo que assiste razão em parte à agravante. No caso em apreço, verifica-se que a agravante pretende a redução da multa por descumprimento da tutela antecipada concedida, que foi majorada para o valor de R$ ,00 (cem mil reais), alegando que é desproporcional e irrazoável, e que configura enriquecimento ilícito do agravado, uma vez que foi autorizada a cirurgia, que foi reagendada por problemas pessoais do mesmo. Conforme dispõe o artigo 461 4º do Código de Processo Civil, é cabível a imposição pelo Magistrado de multa para assegurar o resultado prático equivalente ao do adimplemento da tutela antecipada concedida. Outrossim, o artigo 461 6º permite que seja alterado o valor da multa quando esta se tornar insuficiente ou excessiva. 4

5 Entendo que na presente hipótese, a aplicação da multa pelo Juízo a quo foi correta, mas sua majoração foi excessiva, violando os Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade, o que poderia gerar enriquecimento ilícito do agravado. Isto porque restou comprovado pela agravante que, apesar de não cumprida a tutela antecipada no prazo determinado pelo Juízo de 1ª instância, a cirurgia foi agendada para 14/12/2013, não tendo sido realizada por opção do agravado, que alegou problemas de falta de agenda por ser final de ano. Neste sentido, o seguinte precedente do Egrégio Superior Tribunal de Justiça: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL AÇÃO INDENIZATÓRIA - EXECUÇÃO DO VALOR REFERENTE À MULTA DIÁRIA - VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA - REDUÇÃO DO QUANTUM EXECUTADO - POSSIBILIDADE DE OFÍCIO OU A REQUERIMENTO DA PARTE. 1. O legislador concedeu ao juiz a prerrogativa de impor multa diária ao réu com vista a assegurar o adimplemento da obrigação de fazer (art. 461, caput, do CPC), bem como permitiu que o magistrado afaste ou altere, de ofício ou a requerimento da parte, o seu valor quando se tornar insuficiente ou excessiva, mesmo depois de transitada em julgado a sentença, não se observando a preclusão ou a coisa julgada, de modo a preservar a essência do instituto e a própria lógica da efetividade processual (art. 461, 6º, do CPC). 2. Do acórdão recorrido (fl. 554, e-stj) verifica-se que a recorrente já depositou R$ ,00 (trinta 5

6 mil e oitocentos reais) a título de astreintes, restando o saldo devedor de R$ ,00 (cento e dez mil duzentos e quarenta e um reais), quantia que se distancia dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Nesses termos, diante da excessividade do valor da multa diária agora executado, impõe-se a sua limitação ao valor já depositado, por se mostrar suficiente e adequado para os fins que lhe presta, sob pena de enriquecimento ilícito. 3. Certo é que o valor estabelecido a título de astreintes não pode gerar um enriquecimento sem causa da acionante, agora exequente, razão pela qual impositiva era a sua redução, tarefa que pode perfeitamente ser realizada durante a fase de execução das astreintes, com base no disposto no art. 461, 6º, do CPC, consoante entendimento consolidado nesta Corte Superior. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp /RJ, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 28/05/2013, DJe 11/06/2013) Assim sendo, com amparo no artigo 557, 1º-A do Código de Processo Civil, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso para reduzir a multa por descumprimento da tutela antecipada, fixando a mesma em R$ ,00 (vinte mil reais). Comunique-se. Intimem-se. Rio de Janeiro, 03 de abril de DES. MARCELO CASTRO ANÁTOCLES DA S.FERREIRA Relator 6