Provimento do recurso. A C Ó R D Ã O

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1 SEXTA CÂMARA CÍVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº AGRAVANTE: RONALDO RAMOS DE MELLO AGRAVADO: PAULO PIRES DE OLIVEIRA RELATOR: DES. BENEDICTO ABICAIR AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO POPULAR E AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONEXÃO/CONTINÊNCIA. NÃO RECONHECIMENTO PELO JUÍZO. DECISAO QUE MERECE REFORMA. Com efeito, verifica-se que a causa de pedir das ações coincide perfeitamente, pois investem contra o pagamento de diárias aos vereadores do Município de Petrópolis em decorrência de viagens e missões oficiais, nos anos de 2005 a 2006, sem as devidas comprovações e posteriores prestações de contas, bem como, ambas as demandas postulam o ressarcimento dos cofres públicos em decorrência dos fatos narrados, embora a pretensão formulada na ACP seja mais ampla. Quanto a identidade de partes, no sistema das ações coletivas o que interessa é a identidade da relação jurídica posta em juízo, bastando a parcial identidade entre as partes da ação popular e da ação civil pública para que se reconheça, igualmente, a ocorrência de continência. Reconhecimento da continência. Reforma da decisão agravada. Provimento do recurso. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , em que é Agravante

2 RONALDO RAMOS DE MELLO e Agravado PAULO PIRES DE OLIVEIRA. ACORDAM os Desembargadores da Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, em prover o recurso, nos termos do voto do Relator. R E L A T Ó R I O Cuida-se de agravo de instrumento, com pedido de liminar, manejado contra decisão proferida pelo Juízo da 4ª Vara Cível de Petrópolis que, nos autos da Ação Popular ajuizada pelo ora agravado, rejeitou os embargos de declaração, mantendo a decisão que afastou a preliminar de conexão e continência arguidas por Ronaldo Ramos de Mello. Inconformado, recorre o agravante alegando, em síntese, que o Autor da ação popular ingressou com 14 ações populares iguais em face de cada um dos 14 vereadores do Município de Petrópolis, além dos membros da mesa diretora da Câmara Municipal de Petrópolis, visando à anulação dos atos de concessão de diárias para que os vereadores participassem de cursos/congressos/seminários, o ressarcimento dos valores recebidos e a condenação nas penas de improbidade administrativa; que, posteriormente, o ministério público estadual ingressou com a ação civil pública nº , com o mesmo objeto da ação popular, anular os atos de concessão das diárias, obter o ressarcimento das mesmas e a condenação nas penas de improbidade administrativa; que há a necessidade de reunião dos feitos, pois entre a Ação Popular nº e a Ação Civil Pública nº , há continência, tendo em vista que a Ação Civil Pública trata do mesmo assunto, embora com pedido

3 mais abrangente e mais preciso do que o formulado na ação popular; que, ao verificar a continência entre as ações, requereu a reunião dos processos, o que não foi deferido pelo Juízo Singular. Contudo, tal medida foi deferida no processo envolvendo o vereador Bernardo Chin Rossi, conforme cópia da decisão trasladada para o presente instrumento; que a única diferença entre as duas ações é quem figura no polo ativo das demandas e o pedido mais amplo da ACP. Decisao, fls. 30, que indeferiu efeito suspensivo. Informações prestadas pelo Juízo, fls. 33, comunicando acerca do cumprimento do art. 526 do CPC e da manutenção da decisão agravada. Não foram apresentadas contrarrazões. Parecer da procuradoria de Justiça, fls. 37/45, opinando pelo provimento do recurso. V O T O Versa a controvérsia a respeito da existência de conexão/continência entre a Ação Popular nº e a Ação Civil Pública nº O Magistrado de primeira instância decidiu pela não reunião dos processos, pois entendeu que enquanto em uma ação busca-se dirimir discussão quanto à legalidade dos atos administrativos praticados pelos réus, na outra o fim colimado é obter preceito sancionador e ressarcimento, bem como por entender não estar presente a identidade de partes.

4 Com efeito, verifica-se que a causa de pedir das ações coincide perfeitamente, pois investem contra o pagamento de diárias aos vereadores do Município de Petrópolis em decorrência de viagens e missões oficiais, nos anos de 2005 a 2006, sem as devidas comprovações e posteriores prestações de contas, bem como, ambas as demandas postulam o ressarcimento dos cofres públicos em decorrência dos fatos narrados, embora a pretensão formulada na ACP seja mais ampla. Quanto a identidade de partes, deve-se levar em conta que o sistema processual coletivo não conceituou especificamente a conexão e continência, portanto, resta valer-se do CPC, que por sua vez, contempla, apenas, a jurisdição singular, logo, não se pode repicar tais elementos para o diverso ambiente da jurisdição coletiva, onde se cuida de interesses metaindividuais. Dessa forma, no sistema das ações coletivas o que interessa é a identidade da relação jurídica posta em juízo, bastando a parcial identidade entre as partes da ação popular e da ação civil pública para que se reconheça, igualmente, a ocorrência de continência. Neste sentido: APELACAO DES. CARLOS EDUARDO PASSOS - Julgamento: 29/10/ DECIMA OITAVA CAMARA CIVEL PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POPULAR. Litispendência entre ações coletivas. Insuficiência do critério da tríplice identidade. Coincidência do polo ativo, não exigida para a configuração do fenômeno processual. Adequação do instituto às características do sistema processual coletivo. Maior amplitude da causa de pedir e do pedido formulados na outra ação popular. Identidade parcial entre as demandas. Continência caracterizada. Impossibilidade de reunião das ações, em virtude do julgamento das demandas. Incidência do verbete n 235, da Súmula do STJ. Extinção do processo sem apreciação do mérito. Recurso prejudicado.

5 PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. SUPOSTA OFENSA AO ARTIGO 535 DO CPC. INOVAÇÃO RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE VÍCIO NO ACÓRDÃO RECORRIDO. AÇÃO COLETIVA. LITISPENDÊNCIA CONFIGURADA. SÚMULA 83/STJ. 1. Inexiste no acórdão recorrido omissão, obscuridade ou contradição, não fica caracterizada ofensa ao art. 535 do CPC. 2. É vedado à parte recorrente, em sede de embargos de declaração e agravo regimental, suscitar matéria que não foi suscitada anteriormente, em virtude da ocorrência da preclusão consumativa. 3. A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que nas ações coletivas, para efeito de aferição de litispendência, a identidade de partes deverá ser apreciada sob a ótica dos beneficiários dos efeitos da sentença, e não apenas pelo simples exame das partes que figuram no pólo ativo da demanda. Incidência do óbice da Súmula 83/STJ. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg nos EDcl no REsp /RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/09/2015, DJe 17/09/2015) Logo, nos termos do art. 105, do CPC, havendo conexão ou continência deve o juiz ordenar a reunião das ações para que sejam julgados simultaneamente, evitando, assim, o risco de decisões conflitantes. Pelo exposto, voto pelo provimento do recurso, a fim de reformar a decisão agravada e determinar a reunião das ações. Rio de Janeiro, DESEMBARGADOR BENEDICTO ABICAIR RELATOR