A importância do fluxo de caixa no mercado de capital



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Karina de Oliveira Cota Bacharel em Ciências Contábeis pela FACSAL Faculdade da Cidade de Santa Luzia karina.cota1@gmail.com Sania Ferreira De Lima Bacharel em Ciências Contábeis pela FACSAL Faculdade da Cidade de Santa Luzia limasania@gmail.com Recebido em 05/10/2012. Aprovado em 15/12/2012 Resumo Neste trabalho, cuja temática abordou especificamente uma das inúmeras ferramentas das Ciências Contábeis, o fluxo de caixa. Foram analisadas trinta e duas empresas de capital aberto, com ações negociadas em bolsas de valores. Os objetivos foram apurar a importância e efeitos dessa ferramenta, no resultado final das ações negociadas no mercado financeiro de determinadas empresas listadas na Bovespa. A metodologia empregada foi bibliográfica, explicativa e documental. Além de bibliografias de renomados autores da área contábil e mercado financeiro, sítios da rede mundial de computadores, a internet, foram também de grande valia. O resultado das pesquisas permitiu concluir que existe uma correlação entre as oscilações nas atividades do fluxo de caixa e a variação do preço da ação no mercado. Palavras-chave: Fluxo de caixa, mercado financeiro, ações Abstract In this work, whose thematic was specifically approached one of the countless tools of the Accounting Sciences, the cash flow. Thirty two companies of open capital, with actions negotiated in stocks exchange, were analyzed. The objectives went to investigate the importance and effects of that tool, in the final result of the actions negotiated in the finance market certain striped companies in Bovespa. The used methodology was bibliographical, documentary and explanatory. Besides of renowned authors' bibliographies in accounting area and finance market, sites of the world net of computers, the internet, were also valuable. The result of the researches allowed to conclude that a correlation exists among the oscillations in the activities of the cash flow and the variation of the price of the action in the stock market. Key Words: Cash flow, finance market, stock. 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 1

Introdução A natureza deste trabalho foi o levantamento de práticas empresariais, no uso específico de uma das inúmeras ferramentas das Ciências Contábeis para o comportamento saudável de uma organização. De posse desta ferramenta, que é demonstração de fluxo de caixa, partiu-se para um modelo, na qual buscou-se verificar existência de uma relação entre a liquidez da organização e o valor de seus títulos emitidos no mercado de capitais, ou seja, suas ações. A pesquisa se deterá com base em dados contábeis e financeiros de 32 empresas pertencentes a diversos segmentos de mercado, as quais possuem ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo. Justifica-se a escolha do tema pela importância da demonstração de fluxo de caixa, que hoje é um dos principais instrumentos que possibilita uma visão singular e representativa da situação econômica da empresa e que permite decisões com a minimização do risco. Como objetivo geral, este estudo, buscou identificar a importância e impacto do fluxo de caixa na negociação das ações de empresas listadas na bolsa de valores. Especificamente, objetivou-se descrever a importância do fluxo de caixa para o mercado financeiro, analisar as movimentações contidas nesse demonstrativo a fim de identifica a existência de resultado positivo ou negativo do investimento no mercado de capitais e verificar, assim, a existência de uma relação entre o fluxo de caixa e o valor da ação. Referencial Teórico Os teóricos Iudícibus, Marion & Faria (2009) e Marion (2005) acreditam que o sucesso de uma empresa depende de todos os setores que a compõe. Cada qual desses setores com sua devida importância. Esse trabalho se deterá em um âmbito geral na Contabilidade e mais especificamente em um dos instrumentos por ela usada, o fluxo de caixa. Frequentemente os responsáveis por determinada empresa tomam decisões, todas importantes, vitais para o sucesso do empreendimento. Por isso, há a necessidade 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 2

de informações corretas, de subsídios que contribuam para uma boa tomada dessas decisões. Como, por exemplo, comprar ou alugar maquinários, necessidade de terceirizar determinado serviço, formar o preço adequado do produto. O 1º Congresso Brasileiro de Contabilidade 1, realizado em setembro de 1924, aprovou a primeira definição oficial de contabilidade no Brasil, dispondo o seguinte: Contabilidade é a ciência que estuda e pratica as funções de orientação, controle e registro relativo aos atos e fatos da administração econômica. A Contabilidade é o instrumento que auxilia a alta administração a tomar decisões, pois é através dela [da Contabilidade] que se coletam todos os dados econômicos, mensurando-os monetariamente, registrando-os e sumarizando-os em forma de relatórios, que contribuem sobremaneira para a tomada de decisão. (Iudicibus et al., 2009; Marion, 2005) Para Marion (2005) a Contabilidade representa a linguagem dos negócios, mensura os resultados das empresas, permite avaliar o desempenho e elaborar as diretrizes para se tomar decisões. Ainda, segundo o autor... a Contabilidade surgiu basicamente da necessidade de donos de patrimônio que desejavam mensurar, acompanhar a variação e controlar suas riquezas. Daí, poder-se afirmar que a Contabilidade surgiu em função de um usuário específico, o homem proprietário de patrimônio, que, de posse das informações contábeis, passa a conhecer melhor sua saúde econômico-financeira, tendo dados para propiciar tomada de decisões mais adequadas. (Marion, 2005, p. 26). Já Iudícibus et al.(2009) define o objetivo da Contabilidade como sendo o de fornecer informações estruturadas de natureza econômico-financeira. Demonstrações contábeis A Lei das Sociedades por Ações Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007, que alterou e revogou alguns dispositivos da Lei 6.385 e 6404/76 estabelecem que, ao fim de cada exercício social (ano), a diretoria fará elaborar, com base na escrituração contábil, as seguintes demonstrações contábeis, para as sociedades 1 Disponível em http://www.cfc.org.br/uparq/hist_congressos.pdf 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 3

anônimas (de capital aberto e fechado), e de outras naturezas jurídicas, principalmente as tributadas pelo Lucro Real. De acordo com as Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS) os demonstrativos financeiros da empresa deverão ser publicadas em dois jornais: no Diário Oficial e num jornal de grande circulação. Outro aspecto importante é que as demonstrações financeiras de cada exercício devem ser publicadas com a indicação dos valores correspondentes das demonstrações do exercício anterior. As notas explicativas devem complementar, juntamente com outros quadros analíticos, as demonstrações financeiras. Balanço patrimonial O Balanço Patrimonial é a peça contábil que retrata a posição (saldo) de todas as contas de uma entidade após todos os lançamentos das operações de um período terem sido feitos, após todos os provisionamentos (depreciação, devedores duvidosos etc.) e ajustes, bem como após o encerramento das contas de receitas e despesas terem sido executados. Retrata a situação estática da entidade. Evidencia os ativos e passivos em ordem de liquidez, apresentando a situação liquida patrimonial e financeira da entidade. (Iudicibus et al., 2009). Demonstração do resultado do exercício Entende que a Demonstração de Resultado do Exercício é o reflexo dos efeitos das decisões operacionais dos administradores da empresa. É um suplemento ao Balanço Patrimonial pois explica o componente principal de variação na conta Patrimônio Líquido, bem como permite elaborar diversas análises de desempenho. (Helfert, 2000). Demonstração de lucros ou prejuízos acumulados A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados poderá ser incluída na demonstração das mutações do patrimônio líquido, se elaborada e divulgada pela empresa, pois não inclui somente o movimento da conta de lucros ou prejuízos acumulados, mas também o de todas as demais contas do patrimônio líquido. (Jacinto, 1987) 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 4

Demonstração das mutações do patrimônio líquido E a demonstração elaborada a fim de mostrar as mudanças ocorridas, indicando a origem e valor de cada acréscimo ou diminuição do patrimônio. A sua importância tornou-se mais acentuada após novos critérios da lei, pois a demonstração indica claramente a formação e utilização de todas as reservas, servindo também para melhor compreensão, inclusive quanto ao calculo dos dividendos obrigatórios. (FIPECAFI & Ernst & Young, 2010) Demonstração do valor adicionado A DVA tem por objetivo principal demonstrar o valor da riqueza gerada pela entidade, bem como sua distribuição aos colaboradores, financiadores, acionistas e o governo. Segundo o Pronunciamento Técnico CPC 09 Demonstração do Valor Adicionado, o valor adicionado representa a riqueza criada pela empresa, de forma geral, medida pela diferença entre o valor das vendas e os insumos adquiridos de terceiros. Demonstração de fluxo de caixa É o demonstrativo que espelha a situação atual de caixa da empresa. (Assaf Neto & Silva, 1997). A DFC apresenta as entradas e saídas das disponibilidades de caixa e é o principal instrumento de gestão financeira, permite planejar, controlar e analisar as receitas, investimentos, entradas e saídas de recursos monetários, permitindo executar programações e projetá-las para longo prazo. (Silva, 2010) O interesse pelo fluxo de caixa teve início a partir de 1961 com a publicação do Accounting Procedures Board (APB). Em 1987 foi publicado o Accounting Standards (SFAS 95) pelo Financial and Accounting. Foi o ponto de partida para, assim, estabelecer normas para elaboração do relatório. (Sá, 2009) No início da década de 1980, os órgãos internacionais de regulamentação contábil iniciaram estudos para introduzir a Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC), em substituição à Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos (DOAR), nos demonstrativos contábeis. O primeiro país a oficializar essa substituição foi o Canadá, em setembro de 1985. Em outros países, a DFC também foi oficializada 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 5

como, por exemplo, nos Estados Unidos, em novembro de 1987 e no Reino Unido, em 1991. No entanto, na França e na Alemanha existe a recomendação de publicação dos dois demonstrativos. (Lustosa, 1997). No Brasil a DFC foi regulamentada em substituição a DOAR pela Lei nº 11.638/07, que altera dispositivos da Lei nº 6.404/76 sobre matéria contábil. Posteriormente o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), criou o Pronunciamento Técnico (CPC 03), que apresenta as normas contábeis a serem seguidas no Brasil, para elaboração do Fluxo de Caixa. O Demonstrativo dos Fluxos de Caixa é no mínimo uma indicação das alterações ocorridas no saldo de caixa do exercício e segregados em três fluxos: i) operacional; ii) financeiro e iii) investimentos. (Marion, 2005) Para Silva (2010) o fluxo de caixa deve ser considerado como fundamental e indispensável como meio para sinalizar os rumos financeiros do negócio. Esta fundamentalidade pode ser expressa, tendo-se em vista, que é possível uma empresa apresentar lucro líquido e um bom retorno sobre os investimentos e, ainda sim vá à falência. O fluxo de caixa não consistente pode acarretar a quebra ou fracasso da empresa (Goldratt & Cox, 1990; Smith, 1996). Hendriksen (1982) deixa claro que, com o aumento da complexidade das atividades operacionais, vem a necessidade de desenvolver as demonstrações do fluxo de caixa. Entretanto tal complexidade pode provocar disparidades entre quando são apresentadas as receitas e despesas lançadas e os períodos em que os correspondentes fluxos de caixa realmente ocorrem. Assim cria-se uma maior oscilação no fluxo de caixa das empresas, pois os fatores externos, tais como as inflações ou mudanças no cenário econômico podem afetar mais rapidamente os fluxos de caixa do que o próprio lucro contábil. De acordo com Drucker (1992) há muito tempo que uma empresa pode operar sem lucros por muitos anos, desde que possuam um fluxo de caixa adequado. De fato, um aperto na liquidez costuma ser mais prejudicial do que um aperto nos lucros. 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 6

Principais finalidades do fluxo de caixa Para atingir as metas e ter um fluxo de caixa eficaz, determinadas ações e observações são necessárias. Iudicibus et al. (2009), deixa claro que este demonstrativo deve ser analisado conjuntamente com os demais e que sua finalidade é permitir honrar compromissos, identificar liquidez, solvência e flexibilidade financeira. Antecipadamente deve-se ter conhecimento do Caixa da empresa e, se necessário for, fazer eventuais ajustes. Silva (2010) considera que é importante a informação da forma de trabalho da empresa, se esta apresenta aperto ou folga financeira. Bancos, clientes, fornecedores, movimento de Caixa, tudo deve ser mantido sob controle no dia a dia, com valores atualizados e realistas. Desta forma, se conseguirá atingir as finalidades propostas através dessa ferramenta contábil, que é o Fluxo de Caixa. Fluxo de caixa e a sua importância Além da área financeira todos os demais departamentos da empresa devem se comprometer com os resultados de caixa, por isso os responsáveis pelo fluxo de caixa devem ficar atentos a alguns tópicos, como... os prazos de fabricação dos produtos [...], as decisões de compras [...], políticas de cobrança mais ágeis e eficientes, [...] controle mais próximo sobre os prazos concedidos, e [...] avaliar cuidadosamente o perfil de seu endividamento (Assaf Neto & Silva, 1997, p. 71). O objetivo primário da DFC é disponibilizar informações relevantes sobre a movimentação financeira de uma empresa, ocorridos durante um determinado período, facilitando o processo de administração dos recursos disponíveis na empresa (Iudicibus et al., 2009), ou seja, a DFC registra a origem de todas as entradas e saídas de dinheiro no caixa em determinado período (Marion, 2005). Já Kroetz (2000) esclarece que a DFC representa as modificações no saldo das disponibilidades da entidade durante determinado período. Ressalta que essa demonstração agrega valores constantes no caixa e nos bancos. Por isso, nota-se que é importante destacar que, na elaboração da DFC, o conceito de caixa é ampliado para também considerar os investimentos qualificados como equivalentes de caixa. Conforme Iudícibus et al. (2009), equivalentes caixa são os investimentos 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 7

de altíssima liquidez, prontamente conversíveis em uma quantia conhecida de dinheiro e que apresentam risco insignificante de alteração de valor. Deve-se ressaltar que a definição citada é a adotada pelo IASB. O fluxo de caixa é um dos instrumentos gerenciais de maior eficiência pois permite o planejamento e controle financeiro da empresa, constituindo-se assim em elemento básico e indispensável para o administrador em sua visão de longo prazo (Assaf Neto & Silva, 1997; Zdanowicz, 2000). Já Frezatti (1997) inclui o curto prazo ao definir a funcionalidade do fluxo de caixa também em operações táticas. Silva (2010) sintetiza estes posicionamentos ao estabelecer que os objetivos do fluxo de caixa são muitos, mas o principal é a visão geral de todas as atividades (entradas e saídas) diárias. Pode-se colocar o fluxo de caixa como a principal ferramenta da gestão financeira, permitindo que as empresas possam projetar seus recursos financeiros e operacionais por certo período. Assim é possível com o fluxo de caixa verificar, planejar e controlar eventuais excedentes e escassez de caixa, para poder tomar decisões e medidas que venham sanar qualquer situação posterior que venha prejudicar a empresa (Silva, 2010). Para a utilização do fluxo de caixa não importa o tamanho ou a natureza operacional da empresa não é contraproducente administrá-la sem o acompanhamento do Fluxo de Caixa, especialmente quando se tem certa urgência nas tomadas de decisões de pagamentos, recebimentos, aplicações, investimentos e assim por diante (Perez Junior & Begalli, 1999) A DFC divide-se em três grupos: i) atividades operacionais; ii) atividades de financiamento; iii) atividades de investimento. São consideradas atividades operacionais: Entradas: recebimentos pela venda de produtos e serviços [...]; recebimento de juros [...] sobre aplicações financeiras em outras atividades; [...] qualquer outro recebimento [...] de investimento ou financiamento, [...]. Saídas: pagamentos a fornecedores [...], pagamentos aos governos federal, estadual e municipal, [...] financiamentos [...] (Iudicibus et al., 2009, p. 352 353) 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 8

As atividades operacionais do fluxo de caixa indicam como a empresa tem gerado caixa para amortizar seus empréstimos, manter a capacidade operacional da entidade, pagar dividendos, dentre outros. Normalmente elas se relacionam com as transações que aparecem na DRE, e que envolvam atividades relacionadas com a produção da empresa (Iudicibus et al., 2009). Devem ser consideradas atividades de financiamento os fundos de caixa despendidos, pagamento de empréstimos, obrigações de leasing de capital, resgate de debêntures. fundos de caixa recebidos e empréstimos de curto e longos prazo (Olinquevitch & De Santi Filho, 1993). A importância das atividades de financiamento é decorrente para prever as exigências sobre futuros fluxos de caixa. Elas compreendem as alterações dos saldos das contas que compõem o passivo financeiro de curto e de longo prazo e patrimônio liquido. Acredita que o ciclo financeiro representa o tempo entre o pagamento a fornecedores e o recebimento de vendas (Sá, 2009). Com relação às atividades de investimento, a terceira das atividades operacionais, são elencadas certas operações:... de entrada: recebimento do principal dos empréstimos, [...] pela venda de títulos de investimento [...] pela venda de participações em outras empresas, [...] resgate de participações pelas entidades investidas, [...] venda de imobilizado e de outros ativos fixos utilizados na produção. Saídas: desembolso dos empréstimos, pagamento pela aquisição de títulos patrimoniais, pagamento, de terreno, edificações, equipamentos ou outros ativos fixos utilizados na produção (Iudicibus et al., 2009, p. 353). Pode-se afirmar que o fluxo das atividades de investimentos compreende as alterações dos saldos das contas que compõem o ativo não circulante. Por outro lado, quando sublinha que tais fluxos de caixa representam a extensão em que os dispêndios dos recursos são feitos pela entidade com a finalidade de gerar resultados e fluxos de caixa no futuro, a norma brasileira deixa claro que o fluxo das atividades de investimentos representa a porção estratégica do fluxo de caixa (Sá, 2009). Fatores que afetam o fluxo de caixa Para se evitar um desvio das previsões e objetivos do fluxo de caixa, faz-se necessário a preocupação com questões internas e externas em uma empresa. 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 9

Dentre essas preocupações, no âmbito interno pode-se citar as ações para incrementar a competitividade no mercado. Compras extras, o período entre as receitas e pagamentos, prazos que por ventura tenha-se extrapolado diante daquele prazo agendados com os fornecedores, consequências de um endividamento, entre outras (Silva, 2010). Com relação às questões externas entende-se que poderão também afetar os resultados do fluxo de caixa. Dentre elas são os efeitos da inflação, uma possível retração do mercado e a consequente queda nas vendas, o surgimento de novos concorrentes, alteração nas Leis que regem o mercado e uma possível inadimplência por parte dos clientes (Silva, 2010). Funções do administrador financeiro O administrador financeiro tem como principais funções, i) a análise financeira dos registros e demonstrativos financeiros; ii) elaborar o fluxo de caixa da empresa, para se antecipar de eventuais problemas de liquidez, obtendo tempo hábil para resolvêlo; iii) elaborar uma análise econômica financeira das alternativas possíveis de investimento dos recursos gerados pela atividade operacional da empresa ou de novos investimentos dos sócios; iv) fornecimento de informação precisa sobre a situação financeira da empresa, servindo como base para tomadas de decisões nas atividades de compras, vendas, crédito, cobrança entre outras; v) elaborar um orçamento financeiro referente á obtenção e a captação, aplicação de recursos, no curto e no longo prazo; vi) acompanhamento da inadimplência dos clientes; vii) elaborar uma politica de crédito e cobrança que se encaixe a empresa; viii) adotar medidas que aperfeiçoe os custos (Silva, 2010). Formas de apresentação da demonstração do fluxo de caixa A demonstração do fluxo de caixa pode ser apresentada de duas formas: o método direto ou indireto e é necessário que a empresa escolha um modelo de fluxo de caixa que melhor atenda a suas necessidades, pois tais informações devem ser mais clara e transparente possível, para poder ter a facilidade de analisar as variações do que foi planejado com o que está realizado. (Silva, 2010) Conforme representação da FIGURA 1: 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 10

FIGURA 1: Método de Elaboração do Fluxo de Caixa. Fonte: Sá (2009, p.36) Nestes dois métodos podem-se enfatizar que:... o método direto explicita as entradas e saídas brutas de dinheiro dos principais componentes das atividades operacionais como o recebimento pelas vendas de produtos e serviços e os pagamentos a fornecedores e empregados. O saldo final das operações expressa o volume liquido de caixa provido ou consumido pelas operações durante o período. O método indireto faz a conciliação entre o lucro liquido e o caixa gerado pelas operações, por isso é também chamado de método da conciliação (Iudicibus et al., 2009, p. 575). As empresas que utilizam o método direto devem classificar seus fluxos de operações: i) recebimento de clientes, incluindo os recebimentos de arrendatários, concessionários e similares; ii) recebimento dos juros e dividendos; iii) outros recebimentos de operações, se houver; iv) pagamentos a empregados e aos fornecedores de produtos e serviços, neste caso, inclui-se serviços de segurança, publicidade e similares; v) juros e impostos pagos; vi) outros pagamentos das 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 11

operações, se houver. O FASB e o CPC 03 incentivam, mas não obrigam as empresas a adicionarem outras informações que considere úteis (Iudicibus et al., 2009). Deve-se observar que o fluxo de caixa obtido pelo método direto é importante para demonstrar o processo de formação de caixa de uma empresa. Isso permite uma projeção diária das entradas e saídas de caixa, pois trata-se de um elemento insubstituível, quando se há um planejamento financeiro (Sá, 2009). Já o método indireto do fluxo de caixa baseia-se em dados das demonstrações contábeis, no qual se utiliza as variações das contas contábeis no inicio e no fim dos períodos considerados (Sá, 2009). Na mesma linha de ideia, o autor define que o fluxo de caixa obtido pelo método indireto parte da observação de que apenas dois fatores têm a capacidade de liberar ou retirar recursos do fluxo de caixa: o lucro (ou prejuízo) e os fatos que provoquem variações nas contas do Ativo (menos o disponível) e do Passivo. Sistema financeiro nacional Os temas anteriores focaram-se numa das ferramentas disponibilizada pelas Ciências Contábeis e o uso adequado desta ferramenta permite ás empresas uma bem sucedida experiência na participação efetiva na economia do país. Já com os próximos tópicos pretende-se desenvolver um segundo tema, que diz respeito ao sistema econômico vigente. Um sistema produtivo forte precisa, antes de tudo, ser organizado e bem estruturado. Para tal, são necessários alguns fundamentos que servirão para nortear as instituições financeiras, seja privadas ou públicas, cuja finalidade é a de captar, distribuir ou transferir recursos (Assaf Neto, 2012) Fazem parte de organograma denominado Sistema Financeiro Nacional (SFN), o Banco Central do Brasil (Bacen), Conselho Monetário Nacional (CMN), e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Gerenciado pelo Ministério da Fazenda, esses três principais agentes financeiros são responsáveis pela normalização do mercado. Na outra ponta, atuam os agentes intermediários, ou seja, os bancos 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 12

comerciais ou de investimentos, sociedades de arrendamento mercantil ou de crédito, financiamento e investimento e associações de poupança FIGURA 2. FIGURA 2- Organograma do Sistema Financeiro Nacional. Fonte: Banco Central do Brasil. O mercado financeiro é composto por tomadores ou agentes deficitários e emprestadores ou agentes superavitários. Os agentes superavitários são denominados poupadores, que possui um excesso de fundos e que desejam aplicar suas poupanças para maximizar seus lucros, investindo em títulos para receber ganho ao final de determinado período de tempo. Os agentes deficitários são denominados tomadores, pois não dispõem de excedentes de renda e buscam o mercado financeiro para obter créditos para complementar suas necessidades (Andrezo, 2006; Kerr, 2011). A remuneração destes empréstimos é classificada como juros, ou seja, é a remuneração dos poupadores. Desta forma, as instituições que fazem essa intermediação entre operações, captam dos investidores (superavitários) e repassam aos tomadores (deficitários), cobrando uma taxa de intermediação (Mellagi Filho & Ishikawa, 2003). No mercado financeiro são negociados títulos, denominados ativos financeiros, que podem ser prefixados ou pós-fixados. No primeiro caso, os juros são definidos no ato do investimento, enquanto na segunda forma, usa-se um índice oficial que 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 13

servirá como indexador e esse índice poderá ser, por exemplo, o Índice Geral de Preços Médios (IGP-M) (Assaf Neto, 2012). É possível encontrar diferentes classificações para o mercado financeiro, porém segundo Gitman (2005) os dois mercados financeiros básicos são o mercado monetário e o mercado de capitais. A definição de mercado monetário é: Neles são realizados operações de curto e curtíssimo prazo, com o objetivo de controlar a liquidez dos meios de pagamento da economia, via operações de mercado aberto, de redesconto, depósitos compulsórios. Esse segmento também é utilizado para a aplicação de saldos de caixa de curto prazo das empresas. Ele abrange títulos públicos, certificados de depósitos interfinanceiros (CDI), conta garantida e hotmoney (Kerr, 2011, p. 5). Já o mercado de capitais pode ser definido como uma relação financeira criada por varias instituições e condições que permitem aos fornecedores e aos tomadores de fundos de longo prazo realizar transações (Gitman, 2005). Entretanto, Assaf Neto (2012) sustenta que além desses dois mercados, o mercado financeiro é subdividido em mais dois grandes segmentos de intermediação financeira, que são o mercado de crédito e o mercado cambial. No mercado de credito se concentram os bancos comerciais. É neste mercado que é realizada a maior parte das operações de curto e curtíssimo prazo. Já o mercado cambial é onde são realizadas as operações de compra e venda de moeda estrangeira (Kerr, 2011). Mercado de capitais No atual cenário econômico, notam-se, cada vez mais, empresas tornando pública a negociação de suas ações. O mercado de capitais assume um papel dos mais relevantes no processo de desenvolvimento econômico. É o grande elo que liga os poupadores, e os investidores, ou seja, os carentes que necessitam de recursos e apresentam deficit de investimento com os que provem de recursos abundantes (Assaf Neto, 2012). 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 14

A espinha dorsal desse mercado é formada pelas varias bolsas de valores que oferecem um local para a realização de negócios como debêntures (obrigações) e ações. (Gitman, 2005). As bolsas de valores são entidades físicas, constituídas sob a forma de associações, civis sem fins lucrativos, com responsabilidades e funções de interesse público. Operadores capacitados negociam títulos e valores mobiliários das empresas, que são as ações (Assaf Neto, 2012) Toda movimentação nas bolsas são regidas por leis próprias, por exemplo, a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, com sucessivas alterações e a recente Lei nº 12.431, de 27 de junho de 2011 2. A 1ª instituição do gênero no Brasil, a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, foi criada em 1845. Outras foram fundadas, como a Bolsa Livre, criada em 1890 e a razão social alterada em 1895 para Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo. Em 1960 esta bolsa passa a ter a denominação de Bolsa de Valores de São Paulo BOVESPA. Com economia em ascensão, antes da virada do século existiam nove bolsas de valores em atividades no Brasil. Naturalmente sob o efeito da globalização implantada no sistema econômico mundial, de acordo com o Portal Investidores, sítio da Bovespa 3 celebrou-se no início da década de 2000, acordo para a integração das nove bolsas de valores existentes à época em atividade no Brasil, por meio do qual toda a negociação de renda variável em bolsa, no País passou a ser realizada na BOVESPA. Nos anos seguintes houve reavaliação, com encerramento operacional de algumas dessas bolsas, resultando em apenas quatro: a própria Bovespa, a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ), onde operava também a BM&F, a Bolsa de Valores de Minas Gerais, Espírito Santo e Brasília (BOVMESB) e a Bolsa de Valores da Bahia, Sergipe e Alagoas (BOVESBA), porém sem qualquer atividade de negociação de valores mobiliários. Contudo, atualmente todas as operações são realizadas exclusivamente na Bolsa de Valores de São Paulo, o que a torna principal instituição do gênero no Brasil. 2 Disponível em http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1976/6404.htm, 3 Disponível em http://ri.bmfbovespa.com.br/site/portal_investidores/pt/a_bovespa/mer. aspx 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 15

Em 2008, houve a união da BM&F e a Bolsa de valores de São Paulo, tornando-se assim umas das maiores bolsas do mundo em valor de mercado, que por sua vez, tornou-se BMF&Bovespa. Para introduzir os principais produtos negociados no mercado de ações, tomou-se como base o que é oferecido pela bolsa de valores. Na Bovespa são negociadas ações, opções sobre ações e compra diferida de ações (mercado a termo). As ações são títulos mobiliários que representam uma fração do capital de uma organização. Ressalta-se que o acionista não é um credor da companhia, mas um coproprietário com direito a participação em seus resultados (Assaf Neto, 2012; Mellagi Filho & Ishikawa, 2003) Estes títulos também devem ser considerados como valores representativos de uma parcela do capital social de uma empresa e negociadas no mercado. Eles refletem a participação dos proprietários da ação no capital da empresa. Essas ações podem ser classificadas em ordinárias e preferenciais. A primeira tem direito a voto, enquanto a segunda tem prioridade nos recebimentos de dividendos (Assaf Neto, 2012) O que rege os valores das ações são as condições do mercado econômico do país e do mundo, bem como os resultados apurados principalmente pelo fluxo de caixa da empresa. O investidor Um investidor aplica seu dinheiro numa Bolsa de Valores para obter maiores rendimentos que uma caderneta de poupança ou fundo de renda fixa, por exemplo, para proporcionar uma renda extra ou mesmo para uma aposentadoria tranquila (Piazza, 2010) Muitos cuidados são necessários, desde pesquisar e conhecer sobre o mercado, até a escolha de uma corretora confiável, que funcionará como o canal entre o investidor e a bolsa de valores. Existem dois tipos de investidor, o primeiro é o passivo, que é o precipitante, inexperiente não conhece os termos técnicos do mercado, não tem uma visão ampla do mercado. O segundo é o ativo, o qual conhece os termos técnicos e tem noções de como funciona o mercado de capitais (Piazza, 2010) 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 16

Existem evidencias que o investidor se utiliza frequentemente e em medida cada vez maior, de dados contábeis. As informações contábeis são de fundamental importância para evitar as imperfeições de mercado, representada pela Seleção Adversa (Schadéwitz & Blevins, 1998) A abertura de informações (disclosure) é um fator crítico para o funcionamento de um mercado de capitais eficientes. As empresas fornecem informações através de seus relatórios financeiros, incluindo demonstrativos financeiros, notas de rodapé, análise e discussão por parte dos gestores, assim como outros tipos de documentos exigidos pelos órgãos reguladores. A disclosure é sem dúvida um instrumento importante para as empresas, servindo para apresentarem seu desempenho estratégico, visão de mercado e principalmente a preocupação em interagir com os acionistas. È um instrumento essencial para o investidor que avalia as oportunidades e a real situação da empresa Pode-se afirmar que os investidores racionais, percebendo os potenciais riscos, evitam assumir posição acionária em companhias cuja quantidade e qualidade de abertura de informações é consistentemente abaixo das expectativas (Schadéwitz & Blevins, 1998). A informação contábil financeira (tanto da própria empresa como de seus competidores) é essencial para a avaliação das oportunidades de investimentos em uma economia, tanto para os próprios gestores tomarem decisão sobre um projeto de investimento, como para os investidores alocarem seus recursos de forma mais eficiente entre as diferentes opções disponíveis no mercado. Pode-se destacar ainda o papel de governança da informação contábil, já que a mesma serve como um dos instrumentos de monitoramento dos gestores da empresa pelos investidores externos (Bushman & Smith, 2003). Pode-se reconhecer que existem cinco componentes que impactam o valor das empresas e consequentemente o preço de suas ações no mercado: i) a situação da economia, do mercado de ações, do quadro político e de outras questões macroeconômicas que afetam cada setor e cada empresa; ii) o crescimento das operações da própria empresa, refletido em de novos produtos e serviços, aumento da participação no mercado, eficiências internas e melhoria de produtividade; iii) 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 17

boas práticas de governança corporativa, responsabilidade socioambiental e desenvolvimento sustentável; iv) melhores resultados financeiros, demonstrados pelo crescimento nas receitas, nas margens e nos lucros; e v) transparência no fornecimento da melhor informação possível, de forma que os investidores e analistas possam entender plenamente os três primeiros componentes (Mahoney, 2007). É através da análise das demonstrações financeiras que auditores, internos ou externos, avaliam o desempenho da empresa analisada, o que tornará essa empresa atrativa ou não para investimentos na Bolsa de Valores. As principais demonstrações financeiras são: Balanço Patrimonial, Mutações Patrimoniais (ou dos Lucros ou Prejuízos Acumulados), do Resultado do Exercício e das Origens e Aplicações de Recursos. Ressalta-se,... é necessário estar alerta quando se analisam certas demonstrações financeiras; por exemplo, as sociedades cooperativas genuínas não estarão obrigadas à estrutura que se vai analisar à frente. Assim, às vezes deixam simplesmente de aplicar o método da equivalência patrimonial, não adotam necessariamente o Regime de Competência, chegam até o ponto de, às vezes, não atualizarem suas dívidas em moeda estrangeira à cotação da data de fechamento etc (Assaf Neto, 2012, p. 77). Para Mahoney (2007) a relevância dos relatórios financeiros para os investidores está no balanço patrimonial, na demonstração do resultado e na demonstração do fluxo de caixa. Apesar dos esforços dos órgãos reguladores em criar padrões uniformes de divulgação, é a área da empresa conhecida como RI Relações com Investidor que define como descrever as situações e a quantidade de informações a serem fornecidas. O fluxo de caixa é considerado uma das ferramentas mais eficazes e utilizadas por analistas de investimentos. O seminário promovido pelo IBRI em 2008 comprovou que os analistas buy and sell side dão ênfase a modelos de avaliação que priorizam o fluxo de caixa descontado e utiliza este método como ferramenta de análise. Mahoney (2007) define o analista sell side como o profissional que atuam em bancos e corretoras de valores, fazendo a prospecção de investimentos e recomendando a compra ou a venda de ações, acompanhando de perto o desempenho e o comportamento das empresas e suas ações. Dessa forma, o 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 18

trabalho desse profissional demanda informações pontuais e mais detalhadas, significando uma maior necessidade de contato muito próximo e constante com a área de RI. Metodologia Segundo Vergara (2006), existe diversos tipos de pesquisas. A classificação utilizada para este estudo será a da presente autora, que propõem dois critérios básicos, quanto aos fins e quanto aos meios de investigação. Na subdivisão quanto aos fins, foi utilizada a pesquisa explicativa, a qual segundo Vergara (2006) tem como objetivo o esclarecimento dos fatores para a ocorrência de um determinado fenômeno. Quanto aos meios de investigação foram utilizadas as pesquisas bibliográficas e documentais. A pesquisa bibliográfica segundo Rummel (1972) é quando utiliza materiais escritos. Para Vergara (2006) é considerada com um estudo sistematizado que tem seu desenvolvimento baseado em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas ou em qualquer material que seja de fácil acesso para o publico em geral e, neste estudo, foi empregada para a elaboração de todo o referencial teórico. Em relação à pesquisa documental, Gil (1999) relata que a diferença em relação à pesquisa bibliográfica é quanto à natureza da fonte, uma vez que, a primeira vale-se de materiais que não receberam nenhum tratamento analítico, ou que poderão sofrer algum tipo de adequação ou transformação de acordo com o objetivo do estudo. Vergara (2006) deixa claro que para a efetivação da pesquisa documental deve-se utilizar, independente da natureza, documentos internos de órgão públicos e privados, e de posse de pessoas. Gil (1999) ressalta que uma das vantagens desse tipo de pesquisa está em proporcionar uma visão mais clara do problema e por constituir uma fonte estável e rica de dados. Deste modo, esta pesquisa pode ser classificada como explicativa, tendo em vista, que a questão problema busca identificar uma relação entre o fluxo de caixa e o valor da ação e quanto aos meios, esta pesquisa pode ser classificada como documental por empregar documentos emitidos pelas próprias empresas, baseando- 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 19

se na leitura e interpretação dos fluxos de caixa e cotação do valor das ações divulgados pelas empresas analisadas. Como amostra desta pesquisa foi utilizado um grupo de 32 empresas de capital aberto, com ações cotadas na BM&FBovespa: Ambev, Anhaguera, Braskem, Cedro, Cemig, Cielo, Copel, Coteminas, Duratex, Embratel, Estácio, Gerdau, Globex, Hypermarcas, Ibovespa, Itautec, Klabim, Kroton, Light, Magnesita, Marcopolo, Marfrig, MMX, Natura, OGX, Petrobrás, Positivo, TAM, Telemar, TIM, Usiminas, VALE, Valefert e VIVO. Como instrumentos de pesquisa foram utilizados os Demonstrativos de Fluxo de Caixa e a cotação histórica das ações das empresas definidas na amostra. A pesquisa foi desenvolvida por meio de informações online. Em primeiro momento, foi retirado diretamente do site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) 4, as informações referentes ao FCO(Fluxo de Caixa Operacional, FCI(Fluxo de Caixa de Investimento e FCF(Fluxo de Caixa de Financiamentos), dados obtidos dos trimestres de março, junho de 2010 e março e junho de 2011 de cada empresa listada. Os dados para o período analisado do valor da ação foram retirados do site de relacionamento com investidores de suas respectivas empresas. Em seguida, foi aplicada uma estatística de associação, de modo a identificar uma relação entre os valores levantados pela questão problema. Apresentação dos dados e analise dos resultados Com base nos dados pesquisados, foi elaborada uma tabela com os respectivos valores de fluxo de caixa gerado pelas atividades e seu respectivo valor da ação em determinado período. Como ferramenta de analise, foi utilizado o método de correlações, que segundo Gitman (2005) é uma medida estatística que identifica relação, a qual pode ser negativa, quando duas series se movimentam em direções opostas ou positiva quando as séries analisadas se deslocam em sentidos iguais. Para Triola (2005) existe uma correlação entre duas variáveis quando uma delas está, de alguma forma, relacionada com a outra. 4 Disponível em http://www.cvm.gov.br/ 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 20

As tabelas apresentadas a seguir, demonstram a variação dos valores dos fluxos de caixa e o preço das ações. Para a sua elaboração foi criado uma variável dummy, a qual, apresenta os seguintes valores: 0 (zero) para empresa cuja variação foi negativa e 1 (um) cuja variação foi positiva, tanto dos fluxos de caixa, quanto do valor de fechamento da ação. Analisou-se inicialmente a movimentação semestral do fluxo de caixa em relação ao preço da ação. TABELA 1: Variação do fluxo de caixa operacional e do preço da ação. Janeiro Julho 2010 Janeiro Julho 2011 % Empresas FCO Preço Ação % Empresas FCO Preço Ação 28% 0 0 19% 0 0 31% 1 1 38% 1 1 6% 0 1 3% 0 1 34% 1 0 41% 1 0 Fonte: Próprias autoras. Com base nos dados obtidos pela Tabela 1, de janeiro a junho de 2010 e 2011, 34% e 41% respectivamente das empresas aumentaram seu fluxo de caixa e o preço da ação caiu. Esta relação pode levar a vários motivos, entretanto segundo Gitman (2002), aumento nas duplicatas a receber e em estoques, resultando em grandes saídas de caixa e pode indicar problemas de credito ou de estocagem, respectivamente. TABELA 2: Variação do fluxo de caixa de investimento e do preço da ação. Janeiro Julho 2010 Janeiro Julho 2011 % Empresas FCO Preço Ação % Empresas FCO Preço Ação 56% 0 0 53% 0 0 0% 1 1 0% 1 1 38% 0 1 41% 0 1 6% 1 0 6% 1 0 Fonte: Próprias autoras. Os valores informados pela Tabela 2 é referente ao Fluxo de Caixa de Investimento. De Janeiro á Junho houve redução do fluxo de caixa e o preço da ação. Observa-se que isso aconteceu para 56% das empresas em 2010 e 53% em 2011. Como as atividades de investimentos estão ligadas ao longo prazo, identifica-se uma preocupação do investidor com esta relação temporal da empresa, ou seja, com porção estratégica do fluxo de caixa. 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 21

A Tabela 3 se refere ao Fluxo de Caixa de Financiamento e o preço da ação no mesmo período. Analisando os dados pode-se observar que em 2010 houve uma dualidade nos resultados, ou seja, 31% das empresas analisadas o FCF reduziu e o preço da ação também. Em outros 31% das empresas analisadas houve aumento do fluxo e redução no valor da ação. Já em 2011, 41% das empresas aumentaram o fluxo de caixa e o preço da ação caiu. As operações de elevação do fluxo de caixa de financiamento resultam de empréstimos e aumento do capital próprio. Segundo Sá (2009) o fluxo de caixa das atividades de financiamento representa a porção tática do fluxo de caixa. TABELA 3: Variação do fluxo de caixa de financiamento e do preço da ação. Janeiro Julho 2010 Janeiro Julho 2011 % Empresas FCO Preço Ação % Empresas FCO Preço Ação 31% 0 0 19% 0 0 22% 1 1 22% 1 1 19% 0 1 19% 0 1 31% 1 0 41% 1 0 Fonte: Próprias autoras. Conforme os Gráficos 1 e 2 foi possível verificar que existe uma correlação entre os valores dos fluxos de caixa e o valor da ação, com maior destaque para o fluxo de caixa gerado pela atividade operacional da empresa. 60% 40% 20% 0% FCO FCI FCF Positiva Negativa GRAFICO 1- Correlações entre a variação dos fluxos de caixa e a variação do preço das ações para o ano 2010. Fonte: Próprias autoras. 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 22

60% 40% 20% 0% FCO FCI FCF Positiva Negativa GRAFICO 2- Correlação entre a variação dos fluxos de caixa e a variação do preço das ações para o ano de 2011. Fonte: Próprias autoras. De posse destas informações, pode-se observar que no ano de 2010, 59% das empresas pesquisadas apresentou uma correlação positiva no fluxo de caixa operacional, 56% no fluxo de caixa de investimento e 50% no fluxo de caixa de financiamento. Já em 2011 esta correlação mostrou-se menor em todos os fluxos da empresa. Portanto, conforme dados acima, existe uma correlação, ou seja, as duas variáveis estão de alguma forma relacionadas. Considerações finais Este trabalho estabelece como resultado a existência de uma correlação entre o fluxo de caixa e o valor da ação no mercado de capitais. Porém, essa correlação não pode ser caracterizado como causa e efeito, pois não existe relação de dependência entre as variáveis analisadas. Deve-se evitar a conclusão de que a correlação implique em uma causalidade, pois as duas variáveis estudadas podem ainda estar afetadas por condições externas, no caso uma terceira variável oculta. Observou-se ainda que os empresários estão arriscando mais, contudo a atividade operacional da empresa esta financiando seus investimentos. As empresas estão menos conservadoras, ou seja, sua capacidade de pagamento de dívidas em curto prazo está maior e assim investem o seu capital. Os empresários estão preferindo investir para aumentar a rentabilidade e continuidade do negócio. Visto que as empresas estão crescendo, os investidores buscam ações no mercado que deem maior retorno numa negociação e mais segurança de recebimentos. 1-30 jul./dez. 2012 n. 1 v. 1 Santa Luzia REAC 23