A APRENDIZAGEM DE UMA ALUNA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL MEDIADA PELA TERAPIA ASSISTIDA POR CÃES Simone Gomes Ghedini Departamento de Educação Especial, FFC, Unesp, Marília, SP Thaís Oliveira Bunduki Curso de Terapia Ocupacioanal, FFC, Unesp, Marília, SP Eixo Temático: 8 Agência Financiadora: PIBIC/CNPq Palavras-Chave: Terapia assistida. Aprendizagem. Deficiência intelectual. Terapia Ocupacional. INTRODUÇÃO O uso de animais de forma terapêutica não é recente. Mas, apesar de se saber que o vínculo afetivo entre animais e seres humanos beneficia a saúde e traz uma melhor qualidade de vida para as pessoas, ainda há uma carência na divulgação de pesquisas teóricas e práticas científicas na área. Os animais podem contribuir na autoestima, coordenação motora, atenção, verbalização, cuidado com si mesmo, motivação e diminuição de comportamentos agressivos, podendo ocorrer a melhora no desenvolvimento como um todo. Estudos realizados por Flôres (2009) apontam que são inúmeros os benefícios físicos, mentais, sociais e emocionais que os animais podem proporcionar tanto em terapias como, simplesmente, no convívio diário. Bem estar, afastamento do estado da dor, encorajamento das funções da fala e das funções físicas, redução da pressão sanguínea e freqüência cardíaca, estímulos a memória e cognição, diversão e diminuição do isolamento, oportunidade de comunicação e convivência, possibilidade de troca de informações e de ser ouvido, sentimento de segurança, socialização e motivação, diminuição da ansiedade, relaxamento e alegria, aumento da confiança em si próprio e do grupo e diminuição do estresse.
Com a convivência, datada há milhares de anos os humanos aprenderam a obter vantagens dessa parceria com os animais. De uma simples funcionalidade, o homem passou a sentir afeto por esses outros seres e percebeu que além de uma função, eles poderiam dar-lhes algo muito mais valioso, promoção de saúde (FLÔRES, 2009). Tratando especificamente dos cães, a Terapia Facilitada por Cães (TFC), também conhecida como Cinoterapia, surge aproximadamente no século XVIII na Inglaterra, onde foi descoberta que a presença do cão traz benefícios psicológicos, pedagógicos e sociais a pessoa (Ferreira, 2012). Esse mesmo autor diz que na Cinoterapia, o cão é utilizado para fins terapêuticos ou educacionais, como instrumento de estimulação essencial para os órgãos sensoriais, cinestesia e para o sistema límbico, sendo empregada hoje nas áreas da psicologia, psiquiatria, fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional. Segundo Capote e Costa (2011) a Terapia assistida por Animais é realizada por profissionais da área da saúde e é documentada e avaliada de forma a desenvolver e melhorar os funcionamentos físico, social, emocional e cognitivo das pessoas envolvidas no processo. Apresenta objetivos claros e dirigidos, com critérios estabelecidos, sendo o animal parte integral do processo de tratamento. Esses animais têm ajudado a realizar atividades lúdicas que estimulam o equilíbrio, a fala, a expressão de sentimentos, a imaginação e o autoconhecimento com resultados comprovados (MALLON, 1992 apud FLÔRES, 2009). Para Ferreira (2012), embora a TAA traga benefícios em qualquer fase da vida do ser humano, ela é especiamente indicada para crianças, pois elas estabelecem com os cães uma comunicação recíproca que possibilita o desenvolvimento da autoestima, respeito e companheirismo. Uma das características dos cães que favorecem o vínculo com o ser humano é a interação social e uso de mecanismos de comunicação. Dessa forma, a espécie canina e o ser humano se desenvolvem na interação com demais componentes de seu meio ambiente social. Assim, o cão adquiriu um importante papel na sociedade contemporânea, sendo foco de fortes vínculos afetivos (ALTHAUSEN, 2006). Visto que a terapia com animais tem grande potencial terapêutico, profissionais da saúde e da educação passam a utilizar o animal como recurso auxiliar no desenvolvimento afetivo, social e cognitivo das pessoas (CAETANO, 2010).
Os estudos de Leal e Natalie (2007) consideram que as intervenções que se ocupam da participação de animais possuem objetivos diretos de promover atividades que contribuam para a saúde e o bem-estar das pessoas tanto com função motivacional, educacional, lúdica ou terapêutica, assim como o de melhorar o funcionamento físico, social, emocional e cognitivo, numa perspectiva biopsicossocial. A interação entre crianças e animais é inata, pois não exige uma interação verbal, os gestos, a curiosidade de um sobre o outro, o afago, enfim, o contato de um com o outro tem um significado além das palavras (DOTTI, 2005, p.17). OBJETIVO O presente trabalho teve por objetivo avaliar a eficácia do uso da terapia assistida por cães no processo de aprendizagem de uma aluna com deficiência intelectual. MÉTODO Foram propostas 10 sessões de Terapia Assistida por Cães para uma aluna de 15 anos, com diagnóstico de deficiência intelectual matriculada em uma sala regular de ensino de uma escola do município de Marília, São Paulo, Brasil. Para realização do trabalho, os responsáveis pela aluna foram previamente esclarecidos sobre o trabalho a ser realizado e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a participação da aluna no mesmo. O projeto foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Filosofia e Ciências, Unesp, Campus de Marília, São Paulo, Brasil. Nas sessões de terapia ocupacional foram trabalhados conteúdos específicos nos quais a aluna apresentou maiores dificuldades, de acordo com a avaliação previamente realizada, por meio do Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) (Poker et al., 2013). RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os dados obtidos na avaliação inicial, a aluna apresenta dificuldade acentuadas em suas funções cognitivas, no que diz respeito à atenção, memória auditiva,
visual, verbal e numérica, linguagem (compreensão e expressão da linguagem oral) e raciocínio lógico. Quanto à função motora, apresenta maior comprometimento na lateralidade, orientação espaço-temporal e coordenação motora. Em relação à função pessoal-social demonstra facilidade em socializar-se, porém, baixa auto-estima em situações de aprendizado ou resolução de problemas. Para as 10 sessões iniciais apresentadas neste trabalho, foram propostas atividades que trabalharam o raciocínio lógico da aluna, visto ser um aspecto de dificuldade muito enfatizado pela escola. Todas as sessões foram assistidas por um cão manso, de médio porte, sob controle periódico de médico veterinário e apresentando boa saúde, vacinas de raiva, gripe, giárdia em dia e vermifugado periodicamente. A aluna demonstrou boa interação com o animal, melhorando os aspectos de memória e cognição e oportunidade de comunicação e convivência, conforme apontado por Flôres (2009). Todas as atividades propostas para a aluna envolveram situações de interação com o cachorro, servindo de motivação para realização das mesmas. Embora as dificuldades da aluna na área do raciocínio lógico sejam bem acentuadas, após o término das sessões propostas verificou-se que houve melhora nos aspectos trabalhados, além de melhorar o funcionamento físico, social, emocional e cognitivo, numa perspectiva biopsicossocial, conforme observado por Leal e Natalie (2007). A aluna já conhecia os números e, a partir das sessões realizadas, passou a identificar os sinais matemáticos e realizar exercícios simples de soma e subtração, com auxílio de material concreto. Passou a reconhecer os valores de algumas notas de dinheiro e realizar operações básicas com as mesmas. CONCLUSÃO Com base nesses resultados, verificamos que a Terapia Assistida por Cães foi eficiente para a aluna com deficiência intelectual, o que favoreceu também seu processo de aprendizagem e inclusão no sistema regular de ensino, além de contribuir em sua autoestima, coordenação motora, atenção, verbalização, cuidado com si mesma e motivação para aprendizagem, ocorrendo então a melhora no desenvolvimento como um todo.
Destaca-se aqui a necessidade de continuidade do trabalho para que outras áreas nas quais a aluna apresentou dificuldades na avaliação possam ser também trabalhadas, gerando benefícios ainda maiores para a aluna, por meio da Terapia Assistida por Cães. Desta forma, conclui-se que a Terapia Assistida por Cães é eficaz no atendimento de alunos com deficiência intelectual, melhorando assim seu funcionamento físico, social, mental e cognitivo. REFERÊNCIAS AUTHAUSEN, S. Adolescentes com Síndrome de Down e cães: compreensão e possibilidades de intervenção. 2006. 170p. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. CAETANO, E. As contribuições da TAA Terapia Assistida por Animais à psicologia. Disponível em: ttp://www.bib.unesc.net/biblioteca/sumario/000044/00004406.pdf. Acesso em: 07 de abril de 2015. CAPOTE, P. S. O.; COSTA, M. P. R. Terapia Assistida por Animais: aplicação no desenvolvimento psicomotor da criança com deficiência intelectual. São Carlos: Edufscar, 2011. DOTTI, J. Terapia e Animais. 1ª ed. São Paulo: Noética, 2005. FERREIRA, J. M. A Cinoterapia na APAE/SG: um estudo orientado pela teoria bioecológica do desenvolvimento humano. Conhecimento & Diversidade, Niterói, n.7, p. 98-108, jan./jun. 2012. FLÔRES, L. N. Os benefícios da interação homem animal e o papel do médico veterinário. Porto alegre, RS. 2009. Monografia (Especialização em clínica médica de pequenos animais) Universidade Federal Rural do Semi-Arido. LEAL, G.; NATALIE, K. Afeto que cura. 2007. Disponível em: www.fag.edu.br/graduacao/fisioterapia/arquivos/afetoquecura.pdf. Acesso em 7 abril de 2015. POKER, R. B.; MARTINS, S. E. S.O.; OLIVEIRA, A. A. S.; MILANEZ, S. G. C.; GIROTO, C. R. M. Plano de Desenvolvimento Individual para o Atendimento Educacional Especializado. 1 a ed. Marília/Brasília/São Paulo: Oficina Universitária/CAPES/Cultura Acadêmica Editora, 2013. v. 1. 184p.