Ciência e prática Avaliação da história presente e passada de cárie dentária dos alistados da Escola da Guarda em Portalegre (Premiado como melhor trabalho de investigação do concurso de pósteres do XVI Congresso da Associação Portuguesa de Higienistas Orais, com o patrocínio da MAXILLARIS) 26 MAXILLARIS MAIO 2016
Ciência e prática Victor Assunção. Higienista oral. Doutorado em Ciências e Tecnologias da Saúde (ramo de Higiene Oral) pela Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa (FMDUL). Professor adjunto da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Portalegre. Professor auxiliar convidado da FMDUL. victorassuncao@essp.pt Henrique Luís. Higienista oral. Doutorado em Ciências e Tecnologias da Saúde (ramo de Higiene Oral) pela Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa (FMDUL). Professor auxiliar da FMDUL. Professor adjunto convidado da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Portalegre Luís Soares Luís. Engenheiro de produção. Doutorado em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa. Professor adjunto da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria. Portalegre. Victor Assunção Introdução A cárie dentária é uma doença crónica das mais comuns a nível mundial, estando presente em todas as populações afetando o ser humano ao longo da sua vida (Fejerskov, 2004). A doença descreve-se frequentemente como um processo físico e químico, que se produz na superfície dentária através de períodos de desmineralização e remineralização da superfície dentária, (Struzycka, 2014). Os fatores microbiológicos, genéticos, imunológicos, dietéticos, comportamentais e ambientais, interagem entre si e contribuem para o aparecimento e progressão da cárie dentária (Aas et al., 2008). Para manter uma boa saúde oral, é necessário uma boa aderência aos comportamentos promotores de uma correta higiene oral. Apesar da importância da higiene oral, os recrutas aparentam ter dificuldades na realização da sua higiene oral de forma apropriada e eficiente (Buunk-Werkhoven et al., 2009). A prontidão dos soldados é muitas vezes baixa devido à necessidade de intervenções dentárias frequentes, o que pode levar à ausência no campo de batalha ou às tarefas atribuídas (Skec et al., 2006). MAXILLARIS MAIO 2016 27
Ciência e prática Os profissionais de saúde oral reconhecem que as avalia - ções de saúde e de higiene oral são de grande importância para o desenvolvimento de programas de saúde oral (Zadik, Zusman, Galor & Dinte, 2009). Além deste facto, a escolha do autocuidado por parte do recruta pode ser considerado como um aspeto importante nos comportamentos de higiene oral. Assim, as crenças e as atitudes de cada indivíduo para um bom comportamento de higiene oral podem ter um papel importante na manutenção de uma boa saúde oral (Levin & Shenkman, 2004), o que poderá levar a um menor número de tratamentos durante os treinos e destacamentos (Buunk-Werkhoven et al., 2009). Objetivo Avaliar a história presente e passada de cárie dentária dos alistados da Escola da Guarda (GNR), através do Índice de Dentes Cariados, Perdidos e Obturados por dente (CPO-D). Métodos Este trabalho consiste num estudo observacional e transversal, do tipo descritivo, com uma componente analítica. Os critérios de inclusão foram os seguintes: Ser alistado da Escola da Guarda/CIP (GNR). Possuir idade igual ou superior a 19 anos e inferior ou igual a 69 anos. Assinar o consentimento informado e esclarecido de participação no estudo. Após o consentimento da Escola da Guarda/CIP (GNR) para a realização do trabalho, e obtido o pedido de autorização para participação através do consentimento informado e esclarecido, observaram-se os indivíduos para obtenção dos dados relativos à sua cavidade oral. Como instrumento de avaliação, utilizou-se o CPO-D de Klein, Palmer e Knutson (Klein, 1938). Resultados Para a avaliação do CPO-D dos alistados (n = 274) observaram-se um total de 8.043 dentes, com uma média de 29 dentes por alistado. Observou-se que 6.545 dentes se encontravam sãos (81,37%), e a sua distribuição na cavidade oral pode ver-se na figura 1, onde se nota que o menor número de dentes sãos se verifica nos dentes molares, sendo os dentes anteriores inferiores os que apresentam um maior número de dentes sãos. O valor médio de CPO-D, e a contribuição média de cada um dos componentes observa-se na tabela 1. O componente obturado é o que mais contribui para o valor final de CPO-D. Fig. 1. Distribuição do número de dentes sãos, por dente. 28 MAXILLARIS MAIO 2016
Mínimo Máximo Média (dp) Número de dentes cariados 0 10 1,25 (1,972) Número de dentes perdidos 0 9 0,87 (1,582) Número de dentes obturados 0 20 4,35 (3,647) Índice CPO-D 0 22 6,46 (4,809) Tabela 1. Valores cefalométricos iniciais. Ciência e prática A maioria dos alistados (54,4%; n = 149) apresentava um valor de CPO-D menor ou igual a seis. Sendo o valor mínimo de zero e o máximo de 22, como pode observar-se na figura 2. O valor de CPO-D = 0 registou-se em 9,12% dos alistados (n = 25) e o valor mais elevado de CPO-D = 22 em 0,36% (n = 1) dos alistados, a moda do valor de CPO-D é de cinco. O valor de CPO-D = 0 registou-se em 9,12% dos alistados (n = 25) e o valor mais elevado de CPO-D = 22 em 0,36% (n = 1) dos alistados, a moda do valor de CPO-D é de cinco. O número de indivíduos livres de cáries é de 140 alistados (51%). A distribuição do número de dentes cariados observa-se na figura 3. A assimetria entre os dentes posteriores e os anteriores é notória, revelando-se também clara a diferença entre os sextantes anteriores, sendo o sextante anterior superior o que apresenta maior número de dentes cariados. A arcada dentária superior apresenta um maior número de dentes cariados. Os dentes mais cariados, considerando os presentes na cavidade oral, são o 26, o 18, o 37 e o 38 com valores percentuais superiores a 10% dos dentes presentes cariados. O dente 33 apresentou-se sempre são, estando os restantes dentes anteriores inferiores entre os dentes menos cariados da cavidade oral com valores percentuais inferiores a 1%. Fig. 2. Distribuição de valores de CPO-D em percentagem. MAXILLARIS MAIO 2016 29
Ciência e prática Fig. 3. Distribuição do número de dentes cariados. A representação gráfica do número de dentes perdidos pode observar-se na figura 4. Da observação da figura verifica-se uma clara assimetria da distribuição de dentes perdidos, com um número mais elevado de perdas na mandíbula, sendo de salientar os primeiros e segundos molares como os dentes mais perdidos. A representação gráfica dos dentes obturados pode observar-se na figura 5. Os dentes posteriores apresentam um maior número de obturações, com o primeiro molar em evidência como sendo o dente mais obturado. Os dentes superiores anteriores apresentam mais obturações do que os dentes anteriores inferiores. Fig. 4. Distribuição do número de dentes perdidos. Fig. 5. Distribuição do número de dentes obturados. 30 MAXILLARIS MAIO 2016
Fig. 6. A Escola da Guarda, assim como outras instituições de instrução militar, pode tornar-se num local privilegiado de educação para a saúde oral, onde os higienistas orais podem e devem desenvolver o seu trabalho. Fotos cedidas pelo Centro de Formação de Portalegre da Escola da Guarda. Ciência e prática Conclusões Este trabalho permitiu conhecer a história presente e passada de cárie dentária de uma população que apresenta poucos dados. A informação obtida indica um valor elevado de história de cárie, o que permite antever a necessidade de implementação de um programa de promoção de saúde oral. A Escola da Guarda, assim como outras instituições de instrução militar, pode tornar-se num local privilegiado de educação para a saúde oral, onde os higienistas orais podem e devem desenvolver o seu trabalho. Reconhecendo a proximidade da GNR com as popula - ções de todo o país, o fato de receberem informação sobre saúde oral permitirá não só me - lhorar a sua saúde, como capacitar estes militares como agentes de divulgação de boas práticas de saúde oral na comunidade. Bibliografia 1. Aas JA, Griffen AL, Dardis SR, Lee AM, Olsen I, Dewhirst FE, Paster BJ. Bacteria of dental caries in primary and permanent teeth in children and young adults. J Clin Microbiol. 2008; 46(4): 1407-1417. 2. Buunk-Werkhoven YA, Dijkstra A, Van der Wal H, Basic N, Loomans SA, Van der Schans CP, Van der Meer R. Promoting oral hygiene behavior in recruits in the Dutch Army. Mil Med. 2009; 174(9): 971-976. 3. Fejerskov O. Changing paradigms in concepts on dental caries: consequences for oral health care. Caries Res. 2004; 38(3): 182-191. 4. Klein H, Palmer CE, Knutson JW. Studies on Dental Caries. Dental Status and Dental Needs of Elementary School Children. Public Health Rep. 1938; 53. 5. Levin L, Shenkman A. The relationship between dental caries status and oral health attitudes and behavior in young Israeli adults. J Dent Educ. 2004; 68(11): 1185-1191. 6. Skec V, Macan JS, Susac M, Jokic D, Brajdic D, Macan D. Influence of oral hygiene on oral health of recruits and professionals in the Croatian Army. Mil Med. 2006; 171(10): 1006-1009. 7. Struzycka I. The oral microbiome in dental caries. Pol J Microbiol. 2014; 63(2): 127-135. 8. Zadik Y, Zusman SP, Galor S, Dinte AF. Dental attendance and selfassessment of dental status by Israeli military personnel according to gender, education, and smoking status, 1998-2006. Mil Med. 2009; 174(2): 97-200. MAXILLARIS MAIO 2016 31