RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 700.228 RIO GRANDE DO SUL RELATOR : MIN. LUIZ FUX RECTE.(S) : ALDAIR SCHINDLER E OUTRO(A/S) ADV.(A/S) :TATIANA MEZZOMO CASTELI RECDO.(A/S) :ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. REGIME DE SOBREAVISO. PAGAMENTO DE HORAS EXTRAS. AUSÊNCIA DE PROVA DE INCORREÇÃO NO PAGAMENTO DAS HORAS EXTRAS. ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO LOCAL. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 280 DO STF. OFENSA AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. OFENSA REFLEXA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 636 DO STF. 1. A repercussão geral pressupõe recurso admissível sob o crivo dos demais requisitos constitucionais e processuais de admissibilidade (art. 323 do RISTF). Consectariamente, se o recurso é inadmissível por outro motivo, não há como se pretender seja reconhecida a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso (art. 102, III, 3º, da Constituição Federal). 2. A ofensa a direito local não viabiliza o apelo extremo (Súmula 280 do STF).
3. O princípio da legalidade e sua eventual ofensa não desafiam o recurso extraordinário quando sua verificação demanda a análise de normas de natureza infraconstitucional. 4. A Súmula 636 do STF dispõe: Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade, quando a verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão recorrida. 5. In casu, o acórdão recorrido assentou: APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. POLICIAL CIVIL. REGIME DE SOBREAVISO. PAGAMENTO DE HORA EXTRA JORNADA. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. NECESSIDADE DE PRÉVIA AUTORIZAÇÃO PARA O PRÉSTIMO DE SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO. LEI COMPLEMENTAR Nº 10.098/94 E DECRETO Nº 40.987/2001 E Nº 43.438/04. AUSÊNCIA DE PROVA. ÔNUS DO AUTOR, A TEOR DO DISPOSTO NO ART. 333, I, DO CPC. ADEMAIS, O REGIME DE SOBREAVISO NÃO POSSUI PREVISÃO LEGAL. NÃO DEMONSTRAÇÃO DE EVENTUAL INCORREÇÃO NO PAGAMENTO DAS HORAS RECEBIDAS DE FORMA EXTRAORDINÁRIA. NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME. 6. Agravo a que se nega seguimento. 2
DECISÃO: Trata-se de agravo nos próprios autos contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário interposto com fundamento no artigo 102, III, a, da Constituição Federal, em face de acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, assim ementado: APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. POLICIAL CIVIL. REGIME DE SOBREAVISO. PAGAMENTO DE HORA EXTRA JORNADA. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. NECESSIDADE DE PRÉVIA AUTORIZAÇÃO PARA O PRÉSTIMO DE SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO. LEI COMPLEMENTAR Nº 10.098/94 E DECRETO Nº 40.987/2001 E Nº 43.438/04. AUSÊNCIA DE PROVA. ÔNUS DO AUTOR, A TEOR DO DISPOSTO NO ART. 333, I, DO CPC. ADEMAIS, O REGIME DE SOBREAVISO NÃO POSSUI PREVISÃO LEGAL. NÃO DEMONSTRAÇÃO DE EVENTUAL INCORREÇÃO NO PAGAMENTO DAS HORAS RECEBIDAS DE FORMA EXTRAORDINÁRIA. NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME. Nas razões de recurso extraordinário, os recorrentes apontam ofensa ao artigo 37 da Constituição Federal. Pleiteiam a aplicação analógica da Consolidação das Leis do Trabalho, já que não há disposição estatutária relativa ao regime de sobreaviso. Alegam que o sistema de sobreaviso é imposto aos servidores sem a devida contraprestação. O Tribunal a quo negou seguimento ao apelo extremo por entender que a controvérsia possui natureza infraconstitucional. Nas razões de agravo, alega-se que há violação a dispositivo constitucional. É o relatório. DECIDO. Ab initio, a repercussão geral pressupõe recurso admissível sob o crivo dos demais requisitos constitucionais e processuais de admissibilidade (art. 323 do RISTF). Consectariamente, se o recurso é 3
inadmissível por outro motivo, não há como se pretender seja reconhecida a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso (art. 102, III, 3º, da Constituição Federal). O agravo não merece prosperar. É que a controvérsia foi decidida à luz da legislação infraconstitucional local: Lei Complementar estadual 10.098/94, Lei Complementar estadual 11.649/2001, Decreto 40.987/2001 e Decreto 43.438/2004. Incide, desta feita, a orientação da Súmula 280 do Supremo Tribunal Federal, de seguinte teor: Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário. A respeito do enunciado da Súmula 280, traz-se a lume as lições do ilustre professor Roberto Rosas, verbis: A interpretação do direito local ou então a violação de direito local para possibilitar o recurso extraordinário é impossível, porque o desideratum do legislador e a orientação do STF são no sentido de instituir o apelo final no âmbito da lei federal, mantendo a sua supremacia. A Súmula 280, seguindo nessa esteira, afirma que por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário. Ressalte-se que, quando as leis estaduais conflitam no tempo, a matéria já está no plano do direito federal, porquanto o Direito Intertemporal é do âmbito da lei federal (RE 51.680, Rel. Min. Luiz Gallotti, DJU 1.8.1963). Quanto às leis municipais adota-se o mesmo ponto concernente às leis estaduais. As Leis de Organização Judiciária são locais, estaduais, portanto não podem ser invocadas para a admissão de recurso extraordinário, sendo comum os casos onde surgem problemas no concernente ao julgamento da causa pelo tribunal a quo, discutindo-se a sistemática nos julgamentos: juízes impedidos, convocação de juízes etc. (RE 66.149, RTJ 49/356). (in, Direito Sumular. 12ª ed. São Paulo: Malheiros, 2004). Ademais, pontuo que a alegação de ofensa ao princípio da legalidade, quando sua verificação demanda a análise de normas de natureza infraconstitucional, não viabiliza a abertura da instância 4
extraordinária. Inteligência da Súmula 636 do STF, adiante transcrita: Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão recorrida. A propósito, cito as considerações do professor Roberto Rosas in Direito Sumular, 12ª edição, Editora Malheiros, verbis: O Recurso Extraordinário é cabível por contrariedade a dispositivo constitucional, de forma direta. Se a invocação do princípio da legalidade (CF art. 5º, II) demanda exame da lei ordinária para justificar esse princípio, então, não há matéria a ser examinada no recurso extraordinário. Ex positis, nego seguimento ao agravo, com fundamento no artigo 21, 1], do RISTF. Publique-se. Int.. Brasília, 18 de outubro de 2012. Ministro LUIZ FUX Relator Documento assinado digitalmente 5