QUINTA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO



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Transcrição:

QUINTA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO AÇÃO RESCISÓRIA Nº. 009576-61.2013.8.19.0000 AUTORA: ALVINA COUTO DE JESUS RÉ: REAL TOKYO MARINE VIDA E PREVIDÊNCIA S/A RELATORA: DESEMBARGADORA CLAUDIA TELLES Ação rescisória. Indenização securitária. Recusa ao pagamento. Alegação de violação de literal disposição de lei. Inteligência do art. 485, inciso V, do CPC. Iudicium rescindens. Violação do texto de forma clara, direta, constatável prima facie. Seguro de vida. Ação proposta pela beneficiária e não pela segurada. Consumação do prazo prescricional não caracterizada. Aplicável ao caso o disposto no art. 205, do Código Civil, conforme entendimento pacificado no STJ. Alegação de doença preexistente. Ausência de prévio exame médico ou prova da efetiva má-fé da segurada. Negativa injustificada de pagamento. Seguradora obrigada a efetuar o ressarcimento respeitando-se os termos e limites da apólice. Precedentes jurisprudenciais. Procedência do pleito rescisório e do pedido de cobrança. Improcedência da pretensão de indenização por danos morais. Vistos, relatados e discutidos estes autos da ação rescisória nº 00009576-61.2013.8.19.0000, em que é autora Alvina Couto de Jesus e ré Real Tokio Marine Vida e Previdência S/A. Acordam os Desembargadores que compõem a Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça, por unanimidade de votos, em julgar procedente a ação rescisória para rescindir a sentença de primeiro grau e julgar parcialmente procedente o pedido formulado na ação de cobrança, nos termos do voto da Desembargadora Relatora. CLAUDIA TELLES DESEMBARGADORA RELATORA 1

RELATÓRIO Trata-se de ação rescisória impugnando sentença prolatada pelo juízo da Quinta Vara Cível de Niterói/RJ (conforme pasta 183, do index eletrônico) - nos autos de ação de cobrança de indenização securitária cumulada com pedido de indenização por danos morais - e que julgou extinto o processo, na forma do artigo 269, inciso IV, do CPC, ao reconhecer a caracterização da prescrição do direito de ação da autora. O decisum que ora se busca rescindir transitou em julgado conforme certificado pela secretaria do juízo (pasta 211, do index eletrônico). A autora invoca a violação literal ao artigo 205, do Código Civil, bem como a ocorrência de erro de fato, pretendendo a rescisão da sentença e o subsequente julgamento do feito com o reconhecimento da procedência dos pedidos de cobrança e reparação formulados. Ela esclarece que, na qualidade de beneficiária do seguro de vida contratado pela falecida Lúcia Cristina da Gama Castro (conforme certidão acostada às fls. 44 dos autos pasta 27, do index eletrônico), requereu à seguradora o pagamento da indenização securitária contratada, mas recebeu resposta negativa da mesma, ao argumento de que a segurada teria omitido doença pré-existente à contratação do seguro. Com a recusa da seguradora (ocorrida no mês de março/2003 o óbito se deu no dia 20/08/2002) a autora ajuizou a ação de cobrança que foi julgada extinta, na forma acima indicada, uma vez que o juízo monocrático entendeu que o prazo prescricional aplicável ao caso seria aquele inserido no artigo 206, 1º, inciso II, do Código Civil e não o previsto no artigo 205, do mesmo diploma legal, conforme o entendimento da autora. A demandante ainda ressalta que o juízo incorreu em erro de fato, ao aplicar à autora beneficiária da apólice de seguro - prazo prescricional próprio da relação segurado/segurador e, portanto, incabível à presente hipótese, sendo esses os fundamentos da rescisão pretendida. 2

Em sua contestação (pasta 227, do index eletrônico) a parte ré suscita preliminares de inépcia da inicial (alegando que a autora não indica o dispositivo legal que entende violado) e de não preenchimento dos requisitos de admissibilidade da ação rescisória (uma vez que o entendimento sobre a matéria discutida não estaria consolidado na jurisprudência). No mérito, reiterou a preliminar de prescrição, arguida no processo rescindendo, salientando que não houve violação literal a qualquer dispositivo legal, nem a comprovação de erro de fato, razão pela qual pugnou pelo julgamento da ação, com o acolhimento das preliminares suscitadas ou, caso ultrapassadas estas, o reconhecimento da improcedência do pedido formulado. A doutra Procuradoria de Justiça apresentou seu parecer (pasta 251, do index eletrônico) manifestando-se pela improcedência da ação. Este o relatório. VOTO Inicialmente, impõe-se a rejeição das preliminares suscitadas pela demandada em sua peça de defesa. Não há que se falar em inépcia da inicial, uma vez que, da análise da referida peça verifica-se que os fatos descritos são suficientes para identificar o conflito de interesses, a pretensão está demonstrada por documentos e foi bem entendida pela réu, que contestou integral e adequadamente os seus termos, não tendo sofrido qualquer prejuízo ao seu direito de apresentar ampla defesa ou em exercer o contraditório. Ademais, como ressaltou o Ministério Público em seu parecer, a autora fez expressa menção à violação do artigo 205, do Código Civil em sua inicial. Além disso, diferentemente do entendimento da contestante e do próprio parquet, não se trata de hipótese de aplicação do verbete nº 343, da Súmula do Egrégio STF, uma vez que existe sólida jurisprudência a amparar a pretensão autoral, como ora se passa a demonstrar. Sabe-se que a ação rescisória tem como principal objetivo rescindir a sentença de mérito, transitada em julgado, propiciando novo 3

julgamento da causa nas hipóteses previstas no artigo 485, do Código de Processo Civil. Sobre seu cabimento oportuna as lições de Fredie Didier Jr. e Leonardo José Carneiro da Cunha 1 : A ação rescisória, pelo menos quando fundada no inciso V do art. 485 do CPC, constitui mecanismo, de estrito direito, destinado ao controle de decisão de mérito transitada em julgada. Em outras palavras, na ação rescisória fundada no inciso V do art. 485 do CPC não se permite o reexame de fatos ou de provas, é dizer, não se permite a ação rescisória para tratar sobre questão de fato. E, ao contrário do que pretende a seguradora ré, a autora foi capaz de demonstrar a solidez dos fundamentos com os quais pretende alcançar a rescisão do julgado. Isso porque, a matéria discutida se encontra, de fato, amplamente discutida no STJ, que já manifestou o pacificado entendimento de que o prazo prescricional aplicável ao caso era em julgamento do beneficiário para a cobrança do seguro de vida é, de fato, aquele pretendido pela autora, ou seja, dez anos a contar da recusa de pagamento da seguradora, com aplicação do disposto no artigo 205, do Código Civil, e não como constou da sentença. Os seguintes extratos jurisprudenciais demonstram tal entendimento do tribunal superior: PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AGRAVO. SEGURO. AÇÃO PROPOSTA POR BENEFICIÁRIO CONTRA A SEGURADORA. PRESCRIÇÃO ÂNUA. INAPLICABILIDADE. - Consoante pacífico entendimento desta Corte, não se aplica o prazo prescricional ânuo, previsto no art. 178, 6º, II, do CC/16, à ação proposta pelo beneficiário contra a seguradora. Os mutuários são meros beneficiários e não participam do contrato de seguro. 1 In Curso de Direito Processual Civil, 8ª Edição, Editora Podium, 3º volume, Bahia, 2010, p. 400 e 401. 4

5 Precedentes. - Agravo regimental conhecido e não provido. (AgRg no REsp 1297042 Relatora Ministra Nancy Andrighi - 28/05/2012) AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA ALTERAR A DECISÃO AGRAVADA. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. ORIENTAÇÃO DA SÚMULA Nº 229/STJ. IRRELEVÂNCIA. PRESCRIÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 205 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. 1. A agravante não trouxe argumentos novos capazes de infirmar os fundamentos que alicerçaram a decisão agravada, razão que enseja a negativa do provimento ao agravo regimental. 2. Esta Corte tem entendimento de que, no caso de terceiro beneficiário de contrato de seguro de vida em grupo, o prazo para propositura da ação indenizatória é dez anos, quando o sinistro ocorra já na vigência do Código Civil de 2002, o que é o caso dos autos. 3. Irrelevante a aplicação da Súmula nº 229/STJ à presente discussão. 4. A morte da segurada deu-se em 04/02/2003 e a ação foi proposta em 15/01/2007. Não escoado, portanto, o prazo de dez anos previsto no art. 205 do Código Civil de 2002, aplicável aos contratos de seguro de vida em grupo, segundo jurisprudência deste Tribunal. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag 1179150/RJ, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 02/09/2010, DJe 13/09/2010) AGRAVO REGIMENTAL. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. AÇÃO MOVIDA PELO BENEFICIÁRIO. PRAZO PRESCRICIONAL. Pacífico o entendimento desta Corte no sentido de que o terceiro beneficiário de seguro de vida em grupo, o qual não se confunde com a figura do segurado, não se sujeita ao lapso prescricional ânuo previsto no artigo 178, 6º, II, do CC/16, mas, ao prazo vintenário, na forma do artigo 177, correspondente às ações pessoais, ou decenal, em consonância com o artigo 205 do CC/2002. Agravo improvido. (AgRg no REsp 715.512/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/11/2008, DJe 28/11/2008)

RECURSO ESPECIAL - CIVIL - SEGURO - AÇÃO PROPOSTA POR BENEFICIÁRIO CONTRA A SEGURADORA - PRESCRIÇÃO ÂNUA - INAPLICABILIDADE RECURSO NÃO CONHECIDO. 1 - Consoante pacífico entendimento desta Corte, não se aplica o prazo prescricional ânuo, previsto no art. 178, 6º, II, do CC/16, à ação proposta pelo beneficiário contra a seguradora. Precedentes. 2 - Assentado nas instâncias ordinárias que os mutuários são meros beneficiários e não participaram do contrato de seguro, decidir em sentido contrário demandaria o reexame do conjunto probatório, o que é vedado na estreita via do recurso especial, ex vi da Súmula n 07/STJ. 3 - Recurso especial não conhecido. (REsp n 233438 Rel. Min. Jorge Scartezzini Julgamento: 16/05/06 4ª T) No mesmo sentido, a jurisprudência desta corte: Apelação. Sumária. Seguro de vida em grupo. Cobrança de pecúlio por morte. Preliminar de ilegitimidade ativa que se rejeita: o segurado faleceu no estado civil de viúvo, deixando como únicos filhos os autores, que, na condição de herdeiros, são os beneficiários do pecúlio. Prescrição inocorrente: contra o beneficiário não corre o prazo ânuo previsto no art. 206, 1º, II, "b", do CC/02 para o próprio segurado. Precedentes jurisprudenciais. Não comprovada a má-fé do segurado de forma inequívoca, nem deste havendo sido exigido prévio exame médico, responde a apelante pelo pagamento da indenização. Desprovimento do recurso. (Apelação Cível nº 0143295-54.2004.8.19.0001 - Des. Jessé Torres - Segunda Câmara Cível - Julgamento: 22/10/2008) grifos nossos Ação de Cobrança - Seguro de vida - Prescrição - Inocorrência - Prescrição ânua que não se aplica quando a pretensão é do beneficiário do seguro contra a seguradora - Contrato de seguro e óbito que ocorrem na vigência do Código Civil de 1916. Exegese dos artigos 177 do diploma civil e 27 do Código de Defesa do Consumidor - Desprovimento do recurso. 6

(Apelação Cível nº 0062909-66.2006.8.19.0001 - Des. Camilo Ribeiro Ruliere - Décima Sétima Câmara Cível - Julgamento: 27/02/2008) grifos nossos Inegável, portanto, a violação a literal disposição de lei, in casu, ao artigo 205, do Código Civil, não se aplicando ao caso ora em julgamento nem o disposto no artigo 206, do Código Civil, nem o disposto no artigo 27, da Lei 8.078/90, conforme a remansosa jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça acima transcrita. Nessa linha de intelecção, tendo o óbito da segurada ocorrido em 20/08/2002, a recusa no pagamento da indenização securitária à beneficiária no dia 24/03/2003 (fls. 41 pasta 27, do index eletrônico) e a ação proposta em março de 2009, ou seja, perfeitamente dentro dos limites previstos na legislação, não ocorreu, de forma alguma, a prescrição. Assim sendo, impõe-se a rescisão da sentença monocrática, conforme entendimento já sedimentado desta corte: Rescisória. Lei. Violação. O ordenamento processual, caracterizada a violação de norma de lei, autoriza a rescisão da sentença por esse motivo. (0021057-94.2008.8.19.0000 Des. Milton Fernandes de Souza j. 14.10.2008-5ª CC) Ação Rescisória. Violação de literal disposição de lei (artigos 485, V c/c 298, parágrafo único do CPC). A falta de prévia e pessoal intimação da, aqui, Autora, sobre a homologação de desistência em relação ao outro réu, com a consequente abertura de prazo para contestar a ação originária, de rito Sumário, não pode originar a decretação de sua revelia. Manifesta procedência do pedido. Precedentes do E. STJ e desta E. Corte. Sem fixação de verbas sucumbenciais, diante da constatação de error in procedendo. Pedido rescindente acolhido. (0035348-65.2009.8.19.0000 Des. Gilberto Rego j. 02.06.2010 6ª CC) Ação rescisória. Ausência de intimação da ré, ora autora, da desistência quanto ao outro réu na ação primitiva. Prejuízo evidente ao direito de defesa, acarretando a decretação da revelia e a sentença de 7

procedência da ação de cobrança. Ciência da ora autora apenas na execução. Nulidade da sentença, o que foi reconhecido pela própria empresa ora ré. Cabimento da presente ação rescisória, sem arbitramento, contudo, de verbas sucumbenciais, pelo fato de ter ocorrido evidente nulidade de sentença, havendo error in procedendo para o qual a empresa ora ré em nada contribuiu. Procedência da ação rescisória, para se declarar a nulidade da sentença, com o prosseguimento regular do processo primitivo, sem fixação de verbas sucumbenciais. (0007903+43.2007.8.19.0000 Des. Nanci Mahfuz j. 07.10.2008 12ª CC) Quanto ao mérito, propriamente dito, da ação de cobrança a controvérsia cinge-se em aferir a legitimidade da recusa da seguradora em pagar a indenização decorrente do contrato de seguro de vida à beneficiária da apólice. Compulsando os autos, verifica-se que a seguradora justifica a recusa tão somente pela alegação de que a segurada teria agido de má-fé porque portadora de doença preexistente, não declarada quando da contratação do seguro. Todavia, o entendimento majoritário neste E. Tribunal de Justiça e no STJ se consolidou no sentido de que a seguradora não poder eximir-se do dever de indenizar, alegando omissão de informações por parte do segurado, se dele não exigiu exames clínicos prévios, havendo que ser observada a boa-fé do contratante no momento da realização do contrato de seguro, aferindo-se se ele tinha ou não o conhecimento do mal que o acometia e se este foi a sua causa mortis. Assim, a perda do direito à indenização securitária pressupõe a cabal demonstração da má-fé do segurado, ao omitir informação relevante, de forma proposital e deliberada, visando ao recebimento de vantagem indevida em detrimento da seguradora. Incumbia à seguradora, portanto, produzir prova inequívoca da alegada má-fé da segurada, entretanto nenhuma prova de tal alegação foi trazida aos autos, limitando-se a ré a alegar que a contratante tinha prévia 8

ciência da enfermidade (câncer no colo do útero) com base na informação constante da certidão de óbito. Ora, dúvida não há que tal documento é absolutamente insatisfatório para comprovar que a segurada, de fato, no momento da contratação ocorrida em 24/07/01, aproximadamente um ano antes do seu falecimento (20/08/02) tivesse ciência da doença. Na verdade, a certidão de óbito, por si só, de forma alguma é capaz de comprovar o momento em que foi atestada a enfermidade ou a evolução do quadro clínico da segurada, de modo a estabelecer, de forma inequívoca, que tal quadro já estivesse manifesto no momento da contratação. Ao contrário, em se tratando de processo cancerígeno em órgão interno (colo do útero), é perfeitamente razoável admitir que a contratante não tenha vindo a conhecer o mal que a acometia senão em data posterior à contratação ou até mesmo na fase final (e fatal) de desenvolvimento da doença, circunstância mais que comum em casos idênticos. Incumbia à ré apresentar documentos e laudos médicos hábeis a comprovar sua alegação, sendo certo que tal prova não se mostra impossível ou de difícil obtenção, uma vez que as seguradoras detêm em seus arquivos todas as informações pertinentes aos contratos por elas gerenciadas. Não o fazendo, a ré não se desincumbiu do ônus que lhe é imposto pelo artigo 333, inciso II, do CPC. Nesse sentido: Processual civil. Recurso especial. Ação de conhecimento sob o rito ordinário. Cobrança de indenização securitária. Ente estipulante e também beneficiário do seguro de vida em grupo firmado em favor de seus mutuários, na condição de segurados. Prescrição vintenária. - A ação proposta pelo beneficiário de seguro de vida em grupo pela qual visa à cobrança de indenização securitária, ainda que seja ele o próprio estipulante do contrato de seguro em favor de seus mutuários, considerados como segurados, sujeita-se ao prazo prescricional vintenário previsto no art. 177 do CC16. - Celebrado o contrato de seguro 9

de vida em grupo sem nenhuma exigência quanto ao conhecimento do real estado de saúde do segurado, não pode o segurador, depois do recebimento do prêmio, recusar-se ao pagamento da indenização securitária na hipótese de ocorrência do sinistro, pois, agindo dessa forma, terminou por assumir o risco do contrato. Recurso especial não conhecido. (REsp n 508916 Rel. Min. Nancy Andrighi Julgamento: 14/02/06 3ª Turma) grifos nossos AGRAVO REGIMENTAL. PLANO DE SAÚDE. COBERTURA. DOENÇA PREEXISTENTE. BOA FÉ E AUSÊNCIA DE EXAME PRÉVIO. RECUSA. ILÍCITA. DECISÃO UNIPESSOAL. ART. 557, CPC. É lícito ao relator negar seguimento a recurso que esteja em descompasso com a jurisprudência do STJ. É ilícita a recusa da cobertura securitária, sob a alegação de doença preexistente à contratação do seguro-saúde, se a Seguradora não submeteu a segurada a prévio exame de saúde e não comprovou má-fé. Precedentes. (AgRg no Ag 973265 / SP; Relator Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS; Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA; Data do Julgamento 12/02/2008; Data da Publicação/Fonte DJ 17.03.2008 p. 1) grifos nossos Assim sendo, o não pagamento da referida indenização securitária representaria enriquecimento ilícito por parte da Ré, o que é majoritariamente rechaçado por nossos Tribunais. Desta forma, diante da ausência de comprovação, por parte da ré de que a segurada agiu com má-fé na contratação, tem a seguradora ré obrigação de lhe pagar a indenização contratada. Já no que tange à indenização por danos morais, razão não assiste à autora. Isso porque, a recusa da seguradora em efetuar o pagamento não comporta tal indenização, tendo em vista que a jurisprudência se revela pacificada no sentido de que o mero inadimplemento contratual não dá ensejo a tal modalidade de dano. 10

Esta Corte de Justiça já se posicionou sobre tal tema: Apelação cível. Seguro habitacional obrigatório no âmbito do SFH. Prescrição. Inocorrência. Danos progressivos e de natureza evolutiva, conforme atestado pelo laudo pericial. Contrato de seguro que se rege pela apólice e seus anexos. Embora na apólice haja cláusula limitativa, no sentido de responder a seguradora apenas em caso de danos por causas externas, o anexo 12 é expresso em prever a responsabilidade por danos oriundos da construção, excluído apenas quando a obra for realizada pelo próprio mutuário. Além disso, cuida-se de contrato de adesão, cujas cláusulas limitativas de direitos devem ser redigidas em destaque e com interpretação que se dá à luz do princípio da boa-fé objetiva, na forma dos arts. 421 e 423 do Código Civil e 47 do Código de Defesa do Consumidor, que impõem a interpretação mais favorável ao aderente-consumidor, diante de sua vulnerabilidade, respeitado os deveres anexos de transparência e informação. Dano moral. Inexistência. Aplicação da súmula 75 TJRJ. Reforma parcial da sentença para julgar procedente em parte os pedidos relativos a todos constantes do pólo ativo da demanda, para condenar a seguradora ao pagamento dos valores da indenização apurados pela perícia, acrescidos de juros e correção monetária, além da multa decendial, limitada ao valor da obrigação principal. Réu que deve arcar com custas e despesas processuais e honorários advocatícios. Precedentes do STJ. Recurso parcialmente provido. (Apelação Cível nº 0001063-08.2009.8.19.0045 Desª. Inês da Trindade - Vigésima Câmara Cível - Julgamento: 19/09/2012) Apelação cível. Seguro habitacional. Recusa de pagamento da indenização securitária por invalidez. Alegação de má-fé do segurado em razão de doença preexistente. Seguradora que não exigiu exames clínicos por ocasião da contratação do seguro. Danos morais não configurados. A recusa injustificada da seguradora importa em mero inadimplemento contratual. Incidência da súmula 75 do TJRJ. Sucumbência recíproca que se impõe ante a procedência parcial do pedido. Recurso de apelação a 11

que se dá parcial provimento, nos termos do art. 557, 1º - A, do CPC. (Apelação Cível nº 0005692-07.2007.8.19.0203 Desª Márcia Alvarenga - Décima Sétima Câmara Cível - Julgamento: 20/08/2012) Assim, uníssona a jurisprudência a respeito da matéria, concluindo-se, sem maiores esforços que deve ser julgada procedente a ação rescisória e, subsequentemente, o pleito de cobrança. À conta desses fundamentos, em sede de iudicium rescindens, julga-se procedente a ação rescisória para rescindir a sentença de primeiro grau, na forma do artigo 485, inciso V, do C.P.C. Subsequentemente, julgo parcialmente procedente o pedido formulado na ação de cobrança, condenando a seguradora ré a pagar à beneficiária o valor da indenização contratada, respeitando-se os termos e limites da apólice, com correção monetária a contar da data do evento sinistro e acrescidos de juros de mora, a contar da citação. Pelos mesmos fundamentos, julgo improcedente o pedido de indenização por danos morais. recíproca. Custas e honorários pro rata, tendo em vista a sucumbência Rio de Janeiro, 10 de setembro de 2013. CLAUDIA TELLES DESEMBARGADOR RELATORA 12