PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIÃO Gabinete da Desembargadora Federal Margarida Cantarelli

Transcrição

1 R E L A T Ó R I O A EXMA. DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI (Relatora): Trata-se de apelação de sentença que julgou improcedente o pedido de concessão de pensão por morte. Aduz a demandante que dependia financeiramente do filho falecido, tendo requerido o benefício pensão por morte, o qual foi negado pelo INSS. O MM. juiz a quo entendeu que a autora não comprovou a dependência financeira do filho, motivo pelo qual julgou improcedente o pedido. A autora apela alegando, em síntese, que as testemunhas confirmam que o filho falecido, residente no estado de São Paulo, remetia mensalmente ajuda financeira à autora, comprovando sua dependência econômica. Subiram os autos, sendo-me conclusos por força de distribuição. Peço a inclusão do feito em pauta para julgamento. É o relatório. AC PB \13\ 1

2 V O T O A EXMA. DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI (Relatora): A questão versa sobre a concessão de pensão por morte. O MM. juiz a quo considerou que a autora não comprovou ser dependente economicamente do filho, requisito para a concessão do benefício. O pleito da autora se fundamenta na Lei 8.213/91, cujos artigos pertinentes passo a transcrever: Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto de dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data: I do óbito, quando requerida até 30 (trinta) dias depois deste; II do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso anterior; III da decisão judicial, no caso de morte presumida. Art. 16. São beneficiários do Regime Geral da Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: (...) II os pais; (...) 4º. A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada No caso presente resta comprovado nos autos que a autora é mãe do segurado falecido e que este era solteiro e não tinha filhos menores. A cópia da CTPS e da certidão de óbito do segurado comprovam que este matinha vínculo empregatício até a data de seu falecimento. As testemunhas ouvidas atestam que o segurado residia no estado de São Paulo e que remetia ajuda financeira para mãe. AC PB \13\ 2

3 Em declaração de fl. 07, a Sra. Avani Amâncio de Freitas afirma que o filho da autora remetia dinheiro à mãe, por intermédio de sua conta no Banco do Brasil, e junta alguns comprovantes de depósito. As testemunhas ouvidas em juízo confirmaram que o segurado prestava ajuda financeira à mãe, hoje com setenta anos de idade, e que tal verba servia para custear sua medicação. A primeira Turma desta Corte, recentemente decidiu que a dependência econômica da mãe em relação ao filho pode ser comprovada com prova testemunhal idônea. Passo a transcrever o julgado, que adoto como razões de decidir: PREVIDENCIÁRIO. CONCESSÃO DE BENEFÍCIO. PENSÃO POR MORTE. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA DA MÃE EM RELAÇÃO AO FILHO EX- SEGURADO. COMPROVAÇÃO ATRAVÉS DE PROVA TESTEMUNHAL IDÔNEA. POSSIBILIDADE. TAXA SELIC. NÃO INCIDÊNCIA. 1. A pensão por morte encontra amparo no ar. 201, V da Carta Magna, bem como nos arts. 74 e 16, I da Lei 8.213/91, e é devida aos dependentes do segurado, independentemente de estar o falecido em atividade ou aposentado, figurando dentro do rol de tais dependentes os pais. 2. O que se exige, como requisito para a concessão do benefício de pensão por morte, é a comprovação da qualidade de dependente da demandante e a prova da qualidade de segurado do instituidor da pensão, ao tempo do óbito. 3. A legislação previdenciária não exige início de prova material para comprovação da dependência econômica de mãe para com o filho segurado, sendo bastante a prova testemunhal lícita e idônea. Precedentes do STJ. 4. Quando a citação se der na vigência do Código Civil/02, o débito judicial deve ser atualizado nos termos da Lei 6.899/81, aplicando-se os juros de mora previsto no referido Código, com base na taxa de 1% ao mês, consoante o art. 161, parág. 1o. do CTN, afastando a incidência da taxa SELIC. Precedentes. 5. Apelação Cível do INSS improvida e Remessa Oficial parcialmente provida apenas para afastar a incidência da taxa SELIC. (AC , Rel. Desembargador Federal Napoleão Maia Filho, 2ª Turma, TRF 5ª Região, DJ 08/01/2007). No mesmo sentido foi a decisão do STJ: PROCESSUAL E PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. COMPROVAÇÃO. INÍCIO DE PROVA MATERIAL. INEXIGÊNCIA. A legislação previdenciária não exige início de prova material para comprovação da dependência econômica de mãe para com o filho segurado, sendo bastante a prova testemunhal lícita e idônea. Recurso não conhecido. (RESP296128, Rel. Ministro Gilson Dipp, 5ª Turma, STJ, DJ 04/02/2002, p. 475). Diante do exposto, dou provimento à apelação, para determinar a concessão do benefício pensão por morte, desde a data do requerimento administrativo. AC PB \13\ 3

4 Parcelas vencidas corrigidas monetariamente nos termos do Manual de Cálculo da Justiça Federal. Juros de mora de 1% ao mês. Fixo os honorários advocatícios em 10% sobre o valor da condenação. É como voto. AC PB \13\ 4

5 EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. MÃE DO SEGURADO. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. PROVAS TESTEMUNHAIS. POSSIBILIDADES. I. Apelação de sentença que julgou improcedente o pedido de concessão de pensão por morte, em razão da não comprovação da dependência econômica da mãe em relação ao filho segurado. II. III. A primeira Turma desta Corte, recentemente decidiu que a dependência econômica da mãe em relação ao filho pode ser comprovada com prova testemunhal idônea. Precedente: AC , Rel. Desembargador Federal Napoleão Maia Filho, 2ª Turma, TRF 5ª Região, DJ 08/01/2007. O benefício deve ser concedido desde a data do procedimento administrativo. IV. Parcelas vencidas corrigidas monetariamente, acrescidas de juros de 1% ao mês. Honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenção. V. Apelação provida. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL, em que são partes as acima mencionadas. ACORDAM os Desembargadores Federais da Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade, em dar provimento à apelação, nos termos do voto da Relatora e das notas taquigráficas que estão nos autos e que fazem parte deste julgado. Recife, 14 de agosto de Desembargadora Federal MARGARIDA CANTARELLI RELATORA AC PB \13\ 5