PROCESSO PGT/CCR/ICP/Nº. 5767/2013 ORIGEM: PTM DE PETROLINA (PRT 6ª. REGIÃO) ÓRGÀO OFICIANTE: DR. ULISSES DIAS DE CARVALHO INTERESSADO 1: MPT INTERESSADO 2: MUNICÍPIO DE PETROLINA ASSUNTO: Meio Ambiente de Trabalho (01.01.09. e 01.02.) DILIGÊNCIA. DENÚNCIA. MUNICÍPIO. MEIO AMBIENTE DE TRABALHO. AGENTES MUNICIPAIS DE SAÚDE. UTILIZAÇÃO DE AGENTE TÓXICO PARA COMBATE Á DENGUE. A investigação procedida no presente demonstrou que o Município denunciado utiliza, no combate à dengue, agente químico que causa dano aos agentes de saúde envolvidos na atividade, assim como à coletividade. Embora o denunciado tenha informado o cumprimento da Nota Técnica expedida pelo Ministério da Saúde com relação aos procedimentos de proteção específicos, nada comprovou a respeito, assim como não esclareceu as razões da não substituição do agente químico em questão pelos agentes biológicos recomendados. À vista da necessidade desses esclarecimentos, converte-se o julgamento em diligência, com retorno dos autos à origem. 1
I - RELATÓRIO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Trata-se de procedimento instaurado para averiguação das condições de trabalho dos agentes de saúde envolvidos no combate à dengue no Município de Petrolina, haja vista denúncia de que estariam expostos à agente tóxico no exercício de sua atividade. Após investigação, com manifestação do Município e juntada de documentos, o Órgão oficiante procedeu ao arquivamento do inquérito civil, com fulcro no Precedente nº 12 do CSMPT, por entender que a despeito da utilização do diflubenzuron que aliás não tem sua prejudicialidade confirmada a conduta da Prefeitura Municipal de Petrolina não se apresenta em desconformidade com o sistema legal vigente, e nem apresenta inequívoco perigo de lesão aos trabalhadores em contato com a substância (fl. 127). É, em síntese, o relatório. II VOTO Trata-se de procedimento instaurado em razão do encaminhamento pela Procuradora do Trabalho Vanessa Patriota da Fonseca, lotada na Sede da Regional, de informações relativas à investigação sob seu comando sobre os procedimentos de combate à dengue adotados em Recife e municípios adjacentes, em que tece considerações a respeito, referindo a estudo realizado pelo Centro de pesquisas Aggeu Magalhães/Fundação Oswaldo Cruz de Pernambuco. 2
Da análise dos autos, observa-se, inicialmente, que o relatório da Fundação Oswaldo Cruz sobre a avaliação de risco para a saúde do trabalhador frente à exposição química ao diflubenzuron, de fls. 05/33, conclui pela toxidade desse agente químico, com danos à saúde humana e ao meio ambiente. Propõe que se retorne ao modelo anterior de controle vetorial, baseado em métodos mecânicos e biológicos, e que, mantida a utilização do produto, devem ser adotadas medidas de proteção (fl. 12). A respeito da utilização desse agente químico, o Município inquirido informa que o utiliza no combate à dengue em alternância com o Novaluron. Esclarece ainda que realiza capacitação e treinamento para todos os agentes de endemias e supervisores, onde são abordados temas como: a fórmula do produto, modo de ação, uso adequado, toxicidade, bem como a importância do uso de equipamentos de proteção individual para os servidores que preparam a solução bem como para os agentes que utilizam a solução nas visitas domiciliares feitas a cada ciclo (fls. 114/115). Afirma também que fornece equipamentos de proteção individual, seguindo orientação do Ministério da Saúde (NT 010/2011, CGPNCD/DEVEP/SVS/MS fls. 116/123), bem como oferece a todos os agentes de endemias que trabalham com os larvicidas os exames de rotina. A Nota Técnica referida trata da indicação do uso de equipamentos de proteção individual para manuseio do larvicida diflubenzuron, observando em sua introdução que a Organização Mundial de Saúde (OMS) somente liberou o uso do diflubenzuron, para uso em água potável, após ter sido aprovados todos os protocolos de segurança do Programa Internacional de Segurança Química IPCS para uso em água dessa categoria (fl. 116). 3
A leitura da Nota Técnica demonstra que as considerações nela contidas apresentam-se coerentes com o conteúdo do laudo técnico da Fundação Oswaldo Cruz. Isto, considerando todos os cuidados recomendados para a utilização do produto, corroborando, assim, a toxicidade do agente químico em questão. Por outro lado, há de se ter coerência na atuação ministerial, uma vez que a mesma situação está sendo objeto de averiguação na sede da Regional. Nesse sentido, importante registrar a observação feita pela Procuradora Vanessa Patriota da Fonseca em seu documento de encaminhamento da questão à PTM, verbis: Ouvida em audiência, a Dra. Aline Gurgel, biomédica sanitarista da Fiocruz, disse que o Ministério da Saúde recomendou a substituição do Diflubenzuron pelo Novaluron, mas o mecanismo de ação deste é o mesmo, impedindo o oxigênio de se ligar à hemoglobina, o que ocasiona morte tecidual por hipóxia. Esclareceu que a maioria dos municípios fez a substituição dos produtos e que, posteriormente, o Ministério da Saúde recomendou o uso ou do Novaluron ou do Temefós, dependendo da resistência do inseto, sendo esses os dois produtos atualmente fornecidos pelo Ministério da Saúde aos municípios. Afirmou que tanto o BTI quanto o BS são larvicidas biológicos, indicados por recomendação da Fiocruz, que não demandam o uso de EPI, e que os municípios do Recife de Jaboatão substituíram o Difluenzuron pelo BTI, mas estão tendo que pagar pelos produtos. Afirmou, ainda, que no caso de não substituição por larvicidas biológicos, o que não é recomendável, deve ser verificado o uso dos EPIs, a existência de rodízio de tarefas, etc. Nessas condições, em que pese o convencimento do Órgão oficiante quanto à regularidade dos procedimentos utilizados pelo Município na condução da questão, penso importante que este comprove que, efetivamente, 4
vem adotando os cuidados recomendados na Nota Técnica do Ministério da Saúde, uma vez estar ainda utilizando o agente químico diflubenzuron no combate à dengue, bem como explicite o porquê de não ter feito a substituição recomendada para o agente biológico, de forma a preservar a saúde dos agentes de saúde envolvidos na tarefa, bem como da coletividade a ele sujeita. Feitas essas colocações, converto o presente julgamento em diligência para que o Município denunciado preste as informações solicitadas. III CONCLUSÃO Em conclusão, converto o julgamento em diligência para que o Município denunciados preste as informações solicitadas. Brasília, 02 de agosto de 2013. Eliane Araque dos Santos Relatora 5