EFEITO DO PRODUTO DIFLY S3 NO CONTROLE DO CARRAPATO BOOPHILUS MICROPLUS EM BOVINOS DA RAÇA GIR, MESTIÇA E HOLANDESA Cláudia Santos Silva (1), Américo Iorio Ciociola Júnor (2), José Mauro Valente Paes (2), João Gilberto Ripposati (3) (1) Bolsista BIC FAPEMIG/EPAMIG; (2) Pesquisadores EPAMIG - Uberaba, ciociolajr@epamig.br, jpaes@epamiguberaba.com.br; (3) Técnico Laboratório, EPAMIG - Uberaba Introdução O carrapato, Boophilus microplus (Acari: Ixodidae), e a mosca-dos-chifres, Haematobia irritans, representam grandes problemas para a pecuária nacional. No Brasil, o carrapato Boophilus microplus ocorre em todo o território, sendo que nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentam maior incidência. O clima frio da região Sul nos meses de maio a agosto; o excesso de chuvas e umidade do solo e a baixa densidade animal na Região Norte, a baixa precipitação na região do agreste da Região Nordeste, no norte de Minas e noroeste de Goiás, apresentam condições adversas à reprodução e à sobrevivência do carrapato. Os estados de Sergipe e os da Região Norte são os menos atingidos pelos carrapatos (HORN, 1984). Conforme Furlong (2001), o carrapato comum dos bovinos, Boophilus microplus, completa seu ciclo de vida passando por duas fases: parasitária e não parasitária. A fase não parasitária inicia-se quando, após o acasalamento, a fêmea ingurgitada desprende-se do animal e, no solo, procura um lugar protegido do sol, onde eclodem as larvas, que, após o endurecimento da cutícula, sobem no primeiro talo de planta que encontram, a espera do hospedeiro. Uma vez no gado, inicia-se a fase parasitária, onde durante, aproximadamente, 20 dias ocorre o acasalamento. Magalhães e Lima (1991) relatam que a região Central do Brasil apresenta condições de temperatura e umidade que permitem o desenvolvimento e a sobrevivência dos carrapatos durante todo o ano. Porém, devido ao uso
2 contínuo de carrapaticidas, com o mesmo ingrediente ativo, tem ocorrido problemas de resistência e o controle de carrapatos não tem sido satisfatório. A troca de produtos ou de ingredientes ativos deve ser feita, quando, em um determinado momento, perceber-se que uma parcela significativa dos carrapatos tratados foi capaz de sobreviver ao tratamento e fazer a postura de ovos férteis (FURLONG, 2001). Material e Métodos O experimento foi realizado na Fazenda Experimental Getúlio Vargas (FEGT), da EPAMIG, em Uberaba, MG; Fazenda Experimental de Santa Rita (FESR), em Prudente de Morais, MG, e na Fazenda Agropecuária Boa Fé, no município de Conquista, MG. Na EPAMIG-FEGT, utilizou-se o gado de raça Gir; na EPAMIG-FESR o gado da raça mestiça e na Fazenda Agropecuária Boa Fé o gado da raça holandesa. Em cada fazenda foram separadas 20 cabeças de gado, divididas em 5 cabeças/piquete. Os tratamentos realizados foram: T1= Difly (150g/25 kg de sal); T2= Difly (300g/25 kg de sal); T3= Difly (450g/25 kg de sal); T4= Testemunha (somente sal). O produto Difly S3 foi oferecido para o gado no cocho junto com o sal mineral constantemente. Ajustes na dosagem de sal e do produto testado foram feitos sempre que o gado era pesado. Foram feitas contagens do número de carrapatos em todo o gado (selecionado para o experimento), antes de iniciar o trabalho. O delineamento estatístico foi o inteiramente casualizado, sendo que os dados das fazendas da EPAMIG, em Uberaba, MG e Prudente de Morais, MG, foram transformados em (x +1/2) 0,5 e comparados pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Para evitar influência de um piquete que pudesse estar mais infestado com carrapatos do que outro, o gado foi rotacionado em quatro diferentes piquetes a cada sete dias. Todas as cabeças foram marcadas com barbante colorido (EPAMIG), para diferenciar os tratamentos e na Agropecuária Boa Fé, identificaram-se as cabeças de gado do experimento através de brinco. A contagem de carrapatos foi feita mensalmente conforme a metodologia proposta por Wilkinson (1955), onde foi feita uma contagem de todas as fêmeas de carrapatos com 4,5 mm ou mais de comprimento na pele de um dos
3 lados do animal e o resultado multiplicado por dois. As contagens foram feitas durante cinco meses consecutivos, de dezembro de 2006 a abril de 2007. Resultados e Discussão De acordo com os resultados na Tabela 1, pode-se observar que o número de carrapatos diminuiu substancialmente em todos os tratamentos, na Fazenda Agropecuária Boa Fé em Conquista, MG. O número de carrapatos variou de 4 (tratamento 3) a 18 carrapatos (tratamento 1), mostrando a eficiência no produto, quando comparado com a testemunha (30 carrapatos). Já na EPAMIG-FEGT, em Uberaba, MG, os resultados mostraram uma baixa contagem de carrapatos. Não houve diferença entre os tratamentos, o que pode ser explicado, pois sabe-se que a raça Gir tem uma resistência maior a carrapatos do que as outras raças utilizadas neste experimento. Os dados da contagem estão presentes na Tabela 2. No experimento realizado na EPAMIG-FESR, em Prudente de Morais, MG (Tabela 3), pode-se observar que o tratamento 3 (450g/25 kg de sal), foi o que apresentou o melhor resultado, diferenciando-se da testemunha e assemelhando-se aos tratamentos 1 e 2. Conclusões De acordo com o presente trabalho e nas condições em que o experimento foi realizado, pode-se concluir que o produto Difly S3 foi altamente eficiente no controle de carrapatos na Fazenda Agropecuária Boa Fé e na EPAMIG-FESR, em Prudente de Morais, MG.
4 Referências FURLONG, J. Controle estratégico do carrapato dos bovinos de leite. Informe Agropecuário. Gado de leite, Belo Horizonte, v.22, n.211, p.77-81 jul./ago. 2001. HORN, S. C. O couro e seus problemas. Brasília: Secretaria de Defesa Sanitária Animal, 1984. 40p. MAGALHÃES, F. E. P. de; LIMA, J. D. Controle estratégico do Boophilus microplus (Canestrini, 1887) (Acarina: Ixodidae) em bovinos da região de Pedro Leopoldo, Minas Gerais, Brasil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v.43, n.5, p.423-431, 1991. WILKINSON, P.R. Observations on infestations of undipped cattle of British wreeds with cattle tick, Boophilus microplus (Canestrini). Australian Journal Agricultural Research, v.6, p.655-665, 1955.
5 Tabela 1 - Número médio de carrapatos em gado da raça Holandesa, contados durante cinco meses, Fazenda Agropecuária Boa Fé, Conquista, MG Tratamento Carrapatos (nº) 4 30 a 1 18 b 2 9 c 3 4 d CV (%) 19,68 NOTA: Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. CV Coeficiente de variação. Tabela 2 - Número médio de carrapatos em gado da raça Gir, contados durante cinco meses, Fazenda Experimental Getúlio Vargas (FEGT) da EPAMIG, Uberaba, MG Tratamento Carrapatos (nº) 1 3,9 a 4 2,8 a 3 2,0 a 2 1,2 a CV (%) 43,4 NOTA: Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. CV - Coeficiente de variação.
6 Tabela 3 - Número médio de carrapatos em gado da raça Mestiça, contatos durante cinco meses, Fazenda Experimental de Santa Rita (FESR), Prudente de Morais, MG Tratamento Carrapatos (nº) 4 16,8 a 2 8,7 a b 1 5,9 a b 3 2,4 b CV(%) 42,7 NOTA: Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. CV - Coeficiente de variação.