UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA PAULA CAROLINE PEREIRA DOS ANJOS

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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA PAULA CAROLINE PEREIRA DOS ANJOS TECENDO SIGNIFICADOS: A IMPORTÂNCIA DAS ILUSTRAÇÕES DO LIVRO DE LITERATURA INFANTIL A MOÇA TECELÃ. Abril, Salvador-Ba 2009.

PAULA CAROLINE PEREIRA DOS ANJOS TECENDO SIGNIFICADOS: A IMPORTÂNCIA DAS ILUSTRAÇÕES DO LIVRO DE LITERATURA INFANTIL A MOÇA TECELÃ. Monografia apresentada como requisito parcial de obtenção da graduação em Pedagogia, habilitação em Anos Iniciais, do Departamento de Educação, da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Profª.Tânia Dantas. Abril, Salvador-Bahia 2009.

"Frente ao livro ilustrado a criança (...) vence a parede ilusória da superfície e, esgueirando-se entre tapetes e bastidores coloridos, penetra em um palco onde o conto de fadas vive". (BENJAMIN, 1984)

RESUMO Esta pesquisa foi realizada com intuito de descobrir como as ilustrações de um livro de literatura infantil, em especial as do livro A Moça Tecelã de autoria de Marina Colasanti, podem contribuir para o acesso e interesse da criança pela leitura. Através do estudo do contexto histórico no qual surgiram os livros de literatura infantil e do seu desenvolvimento ao longo do tempo, foi possível perceber que o livro de literatura infantil é um instrumento de grande ajuda ao docente, no sentido de auxiliar, como suporte, na elaboração de atividades significativas capazes de promover aprendizagens importantes, além de ajudar a criança no processo de aquisição da linguagem tanto oral quanto escrita. É portador de inúmeros recursos, dos quais a ilustração caracteriza-se como um dos principais, ao passo que está mais relacionada ao lúdico e o universo infantil. Na pesquisa de campo, que foi realizada na Escola Municipal Maria Conceição Santiago Imbassahy, foi feita atividade com os alunos do Ciclo 1, com base nas ilustrações do livro de literatura infantil A Moça Tecelã, de autoria de Marina Colasanti, sendo possível constatar que o trabalho com base nas ilustrações de livros de literatura infantil é extremamente importante e compensador, no sentido de aprimorar os conhecimentos dos alunos, despertar capacidades e interesses, antes adormecidos, contribuindo significativamente ao processo de desenvolvimento do qual as crianças estão vivenciando. Diante deste estudo, fica inevitável pensar na ilustração como uma ferramenta capaz de promover aprendizagens muito significativas, ao passo que possibilita ao aluno o acesso à leitura antes mesmo deste dominar a linguagem do código escrito. Palavras Chave: Ilustração. Livro de literatura infantil. Leitura.

ABSTRACT This research was made in order to discover how the illustrations for a book of children's literature, particularly the book. The authors of the Orb Weaver Young Woman Marina Colasanti, can access and contribute to the interest of the child for reading. By studying the historical context in which emerged the books children's books and their development over time, could see that the book of children's literature is an instrument of great help to teachers, to help and support in development of significant activities able to promote significant learning, help the child in the process of language acquisition both oral as written. It is the bearer of many resources, of which the illustration is characterized as a major, while is more related to the universe and playful child. In field research, which was held at the Municipal School Conceição Maria Santiago Imbassahy, was active with the students of Cycle 1, based on the book illustrations of children's books The Young Woman Orb Weaver, by Marina Colasanti, and can see that the work based on the illustrations of books of children's literature is extremely important and rewarding, to improve students' knowledge, awakening skills and interests, before sleeping, contributes significantly to the development process of which children are experiencing. In this study, it is thought inevitable in the illustration as a tool to promote learning very significant, while allowing the student access to reading this before they master the language of the written code. Key - words: Illustration. Book of the Child Literature. Reading.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 7 1. CONTRIBUIÇÕES DAS ILUSTRAÇÕES DOS LIVROS DE LITERATURA INFANTIL... 9 1.1. O LIVRO INFANTIL: BREVE RETROSPECTIVA HISTÓRICA...10 1.2. O LIVRO DE LITERATURA INFANTIL ILUSTRADO...14 1.3. UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE A ILUSTRAÇÃO...16 1.3.1. PARTICULARIDADES DA ILUSTRAÇÃO: CONHECENDO SUAS FUNÇÕES... 22 1.4. RELAÇÕES ENTRE A ILUSTRAÇÃO E O LEITOR... 23 2. O LÓCUS E OS ENVOLVIDOS NA PESQUISA DE CAMPO...26 2.1. A ESCOLA...27 3. ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DAS ILUSTRAÇÕES DO LIVRO A MOÇA TECELÃ... 29 3.1. O LIVRO: A MOÇA TECELÃ MARINA COLASANTI... 32 3.2. CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DAS PERCEPÇÕES, DOS ALUNOS DA CLASSE PESQUISADA, PRESENTES NA ESCOLHA DO LIVRO...34 CONSIDERAÇÕES FINAIS...37 REFERÊNCIAS...40

Introdução O presente trabalho aborda a importância das ilustrações dos livros de literatura infantil (em especial as do livro A Moça Tecelã de autoria de Marina Colasanti), como estimuladora do gosto pela leitura, a fim de descobrir como estas contribuem para despertar esse interesse na criança (problemática). Tem como objetivo central a identificação e a avaliação dessas contribuições determinantes para este estímulo. Já os objetivos específicos se pautam no levantamento de informações bibliográficas sobre a importância da ilustração e sistematização de suas relações com o texto escrito do livro de literatura infantil, realizando coleta de informações sobre a contribuição das ilustrações como facilitadora no ensino-aprendizagem da leitura. Após fazer o levantamento bibliográfico dos aspectos que auxiliam a construção do conceito de ilustração no livro de literatura infantil, comecei a minha pesquisa de campo, na qual observei e registrei como os alunos do 1º Ciclo, do turno vespertino, da Escola Municipal Maria Conceição Santiago Imbassahy lêem as ilustrações do livro de literatura infantil A Moça Tecelã, de autoria de Marina Colasanti, que foi selecionado por apresentar riqueza da linguagem visual e por oferecer subsídios necessários à minha pesquisa no que tange aos aspectos relacionados às ilustrações dos livros contemporâneos de literatura infantil. Depois de ter coletado os dados necessários à pesquisa, analisei-os à luz dos teóricos estudados e citados no decorrer do trabalho. Contudo, é possível perceber (mesmo no começo da pesquisa bibliográfica) que, atualmente, algumas mídias estão prendendo, cada vez mais, a atenção e o interesse de adultos, jovens e crianças, principalmente do público infantil, que está em permanente contato com diferentes tipos de mídias visuais como, televisão, vídeo-game, computadores e Internet.

Dessa forma, as crianças têm se afastado da leitura de livros de literatura infantil, agentes importantes na formação de leitores ativos e na obtenção da escrita. Nesse sentido, o resgate de livros de literatura infantil pelas crianças é algo de grande necessidade e importância, já que, é nessa fase que se constrói a necessidade pela leitura, se forma a personalidade e se desenvolve atitudes de um futuro adulto leitor.

1. Contribuições das ilustrações dos livros de literatura infantil Segundo Faria (2004, p. 52), a leitura freqüente na infância, contribui de forma direta para o sucesso no processo de aquisição da escrita. Dentro dessa perspectiva, as ilustrações de um livro de literatura infantil são de grande importância para ajudar a atrair a atenção da criança para o livro e, possivelmente, sua leitura, auxiliando na formação de leitores e contribuindo no processo de aquisição da leitura e escrita por parte das crianças. Percebendo o interesse despertado pelas imagens, as editoras têm investido, cada vez mais, em livros modernos de literatura infantil, com ilustrações ricas em conteúdos que, em alguns casos, chegam a dispensar a linguagem escrita (texto). Atualmente, alguns livros são elaborados tendo como suporte apenas exposição de imagens. Assim, o ato de ler se inicia pelo contato visual e físico em que o sujeito olha e é atraído ou não pelo que vê e, na seqüência, toca na capa e passa a manusear o livro. Nos processos de apreensão do livro, as significações são atribuídas pelo leitor, a partir da interação entre visualidade da ilustração e o texto. As linguagens presentes no livro, esse objeto cultural, se oferecem como portas de acesso ao sentido ali constituído e cuja escolha inicial do leitor recai na ilustração sedutora, mas complexa em suas articulações ao dialogar com a palavra. Por isso, é imprescindível retirar a ilustração de uma condição secundária ou de invisibilidade e compreendê-la como linguagem impregnada na manifestação do sentido textual (RAMOS, 2004). Segundo Jesualdo (1993), é importante que se tenha preocupação em fazer uma obra voltada para os infantes, pois: Uma literatura para crianças com pretensões a alcançar completamente as finalidades a que se propôs não pode descurar sua feição material. E isto não apenas para que a leitura se faça mais agradável devido ao formato do livro, á graça e riqueza dos tipos utilizados na impressão, devendo, no caso do livro infantil, predominar os tipos redondos e graúdos, que são atrativos e agradáveis à vista; mas também pela proporção do volume e até pela encadernação, que o torna mais facilmente manuseável, como pelo material nele empregado papel,

tinta, cartão, etc. e muito especialmente por suas ilustrações. (Jesualdo, 1993, p.201). Conforme Jesualdo (1993) a criança compreende as belas estampas melhor do que qualquer outra linguagem, e estas coloridas, sem necessidade sequer da presença da palavra, devem ser o seu primeiro livro de leitura. Nada há que se marque tão profundamente na alma da criança como as imagens gráficas. Diante do exposto, é possível afirmar que para as crianças muito pequenas, o desenho das letras é um sinal incompreensível, não significa nada. A imagem (desenho, fotografia, recorte, gravura) é um sinal que elas traduzem facilmente, é um ícone. Este sinal (ou signo ) mantém relações muito próximas, na aparência, com o objeto representado, que é imediatamente entendido pelo recebedor. Como ressalta Cunha (1991), quando se quer despertar o interesse pelas histórias nas crianças, em geral lidas para elas, é importante a gravura: deve nesse caso, prevalecer a ilustração. O texto deve ser pequeno para conduzir a atenção na observação das figuras. Para os alunos que começam a ler, ainda deve predominar a ilustração e o texto, também pequeno, deve apresentar-se em letras grandes e redondas. Como percebemos, os livros de literatura infantil atuais, cheios de ilustrações, recursos gráficos dos mais variados, materiais diversos e estilos diversificados, portadores de histórias tradicionais ou contos modernos, são capazes de prender a atenção do pequeno leitor e abrir portas para o universo mágico e misterioso da leitura, resultando em inúmeras e importantes aprendizagens; ao passo que os livros de literatura infantil ajudam também a despertar o gosto pelo ato de ler e conseqüentemente auxiliam no processo não só de alfabetização, mas também no letramento do indivíduo. 1.1. O LIVRO INFANTIL: BREVE RETROSPECTIVA HISTÓRICA Conforme as pesquisas de Lajolo e Zilberman (2006), as primeiras publicações de livros apareceram no século XV, porém, é somente no século XVIII que surgem os livros

especificamente voltados para a criança. Até então, obras como as Fábulas de La Fontaine (1668 e 1694) e os Contos da Mamãe Gansa de Charles Perrault 1 (1697), atualmente associados ao gênero infantil, haviam sido publicados, visando o público em geral. É após o sucesso das obras de Perrault (1697) que a literatura infantil adquire espaço, caracterizada principalmente pelos contos de fada. Apesar das publicações francesas de La Fontaine e Perrault, é na Inglaterra que a literatura infantil, como produto de consumo, ganha importância, fortalecida pelo grande comércio deste país, abundância de matériaprima e, principalmente, pelo seu desenvolvimento no período da Revolução Industrial. Entre as instituições sociais que garantiram o seu fortalecimento está a família. Cada membro assumia um papel específico na sociedade, até mesmo a criança, motivando o aparecimento de objetos industrializados (o brinquedo) e culturais (o livro) ou novos ramos da ciência (a psicologia infantil, a pedagogia ou a pediatria) (LAJOLO E ZILBERMAN, 2006, p.17). Considerando a expansão da industrialização e do comércio nesse período histórico, o livro infantil surgiu com características de produto, com base no consumo. Para tanto, era necessário a alfabetização de grandes massas populares constituindo-se um público leitor. Daí decorreu a relação dos livros com a escola, fazendo com que muitas publicações adotassem uma postura bastante pedagógica. (LAJOLO E ZILBERMAN, 2006, p.18). Destacam-se, nesse século, as publicações adaptadas de clássicos da literatura ao gênero infantil, como Robinson Crusoé (1717) de Daniel Defoe e Viagens de Gulliver (1726) de Jonathan Swiff. No início do século XIX, surgem na Alemanha, as obras dos Irmãos Grimm 2 (1812), feitas a partir de adaptações de histórias folclóricas populares. 1 Charles Perrault é considerado o pai da literatura infantil por ter publicado Contos da Mamãe Gansa, uma coletânea de contos populares, em 1697. 2 Jacob Grimm e Wilhelm Grimm publicaram contos populares alemães no início do século XIX.

Entre alguns dos seus contos estão: A Bela Adormecida, Os Sete anões e a Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Joãozinho e Maria (1825). São também do mesmo século as publicações de Hans Andersen (1835,1842), na Dinamarca, com os contos O Patinho Feio, A Roupa Nova do Imperador, dentre muitos outros. Figura 1 - O Patinho Feio - Hans Andersen (1835). Como apresentado por Lajolo e Zilberman (2006), o livro no Brasil assim como nos outros países, também surgiu numa relação com a industrialização, o comércio, a urbanização e a propagação da escola como instituição. Alguns exemplos de obras brasileiras são: Contos Pátrios de Júlia Lopes de Almeida e Adelino Lopes Vieira (1886) e Contos Pátrios de Olavo Bilac e Coelho Neto (1904). Nessa época, prevalecem nos livros, valores como patriotismo, o civismo, a brasilidade, o moralismo, a obediência, a exaltação à natureza, além de tantos outros temas relacionados ao folclore brasileiro. Em 1912, Monteiro Lobato publica Narizinho Arrebitado 3 e, a partir de então, passa a se dedicar a esse gênero literário marcando para sempre a história da literatura no país. 3 Monteiro Lobato publicou uma versão escolar acrescida de aventuras inéditas, com 181 páginas e com o título de Narizinho Arrebitado. Depois de aprovado pelo governo de São Paulo, foi adotado como "Segundo Livro de Leitura" das escolas públicas.

Figura 2 - Narizinho Arrebitado Monteiro Lobato (1912). Posteriormente, surgem e se fortalecem outros nomes como José Lins do Rego, Érico Veríssimo e Graciliano Ramos, falando de temas até então inusitados na literatura infantil. Nas décadas de 30 e 40, período marcado pelo Estado Novo e pela ditadura, ocorreram diversas reformas na área da educação e prevaleceu a preocupação na formação da criança como cidadã. Os livros que remetem à fantasia passaram a ser considerados inadequados à infância (RADINO, 2003). Os anos 50 são marcados pelos avanços tecnológicos e o advento dos meios de comunicação audiovisuais. Acontece a massificação da imagem, levando ao que Radino (2003, p.107) considera uma crise na leitura. Já, a década de 70, é caracterizada por um grande salto de qualidade e criatividade, com inovações no gênero infantil, assumindo finalmente uma postura crítica. Valoriza-se neste momento, o espírito questionador, lúdico, irreverente e bem-humorado (ibid, p.108). São alguns títulos dessa nova fase: Bisa Bia Bisa Bel e História do Contrário de Ana Maria Machado; A Fada que tinha idéias, de Fernanda Lopes de Almeida e A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga Nunes. Os temas abordados nos livros infantis também se ampliam, aparecendo as histórias policiais e as ficções científicas, ambas associadas ao cenário urbano contemporâneo: mistérios a serem resolvidos e a manipulação de engenhos e fórmulas são atributos do

homem urbano, mesmo quando reduzido à faixa etária de uma criança. [...], se originam grandes inventos e superpoderes (LAJOLO e ZILBERMAN, 2006, p.161). Já nos últimos anos, o imaginário passa a ser bastante explorado, através de histórias baseadas em temas tanto universais como regionais, como elementos de nosso folclore, ocupando espaço de destaque dentro da literatura. [...] após ter conquistado a duras penas o direito de falar com realismo e sem retoques da realidade histórica, e ao mesmo tempo em que redescobre as fontes do fantástico e imaginário, a literatura infantil contempla-se a si mesma em seus textos (ibid, p.161). 1.2. O LIVRO DE LITERATURA INFANTIL ILUSTRADO Os livros religiosos, as cartilhas escolares, principalmente as gramáticas e enciclopédias com imagens são considerados, por muitos, os precursores do livro infantil ilustrado. Nesse período, são raros os ilustradores que assinavam os seus trabalhos, permanecendo, na maioria das vezes, no anonimato. Além disso, a participação de diferentes gravadores (profissionais responsáveis pela reprodução dos originais nas matrizes de impressão) em uma mesma obra dificulta ainda mais a identificação da autoria. Um exemplo dos quais se tem conhecimento é o Orbis Sensualium Pictus (o livro visível em imagens) de John Amos Comenius (1658) (BURLINGHAM, 2007). No final do século XVII (1697), são publicados os contos de fadas de Perrault, ilustrados por Gustave Doré, com imagens em preto e branco caracterizadas, principalmente, pela grande riqueza de detalhes. Em contrapartida às fábulas, aparecem publicações de caráter moralista e religioso como Songs of Innocence do Illuminated Book (1789), de Willian Blake, que inovou no gênero ao trabalhar imagem e texto de forma integrada (QUENTIN BLAKE, 2003).

Já no século XIX, na Inglaterra, destacam-se as traduções dos Irmãos Grimm, German Popular Stories ilustradas por George Cruikshank 4 (1823), com ilustrações carregadas de humor e ritmo (QUENTIN BLAKE, 2003). Outra importante publicação deste mesmo século é Alice no País das Maravilhas, publicada em 1865, escrita por Lewis Carrol e ilustrada por John Tenniel. Até hoje, suas ilustrações da obra são as mais memoráveis, apesar do grande número de reedições feitas por diferentes ilustradores. In Fairyland, livro ilustrado por Richard Doyle e escrito por Willian Allingham, em 1870, também obteve grande sucesso entre o público infantil por suas imagens povoadas por duendes e fadas. É também deste século um grande número de publicações elaboradas com efeitos de popup (ilustrações tridimensionais), cortes especiais, peças para serem recortadas, livros que se tornavam cenários, bonecas de papel e os chamados harlequinade (ilustrações em abas móveis com imagens escondidas). Com a Iª Guerra Mundial esse tipo de livro deixou de ser publicado em função de seu alto custo e das dificuldades de importação. (BURLINGHAM, 2007). No início do século XX, destacam-se as obras de Beatrix Potter, que inovou ao associar comportamentos humanos a animais como em The Peter Rabbit (1900), além de demonstrar grande preocupação com as características físicas do livro, de forma a ser facilmente manuseável pelas crianças. Outro nome importante nesse período é E. H. Shepard, criador do até hoje famoso ursinho Pooh (1969). Este personagem chama a atenção por ser, não apenas um urso, mas também, um bicho de pelúcia que, em alguns momentos, deixa de ser um brinquedo e ganha vida. (QUENTIN BLAKE, 2003). 4 George Cruikshank (1792-1878) artista e caricaturista inglês.

O final do século é marcado pela grande variedade de estilos de ilustrações, estimulada pelo desenvolvimento tecnológico na área editorial. No Brasil, é apenas nesse período que a ilustração começa a receber atenção dentro do livro infantil e nomes de ilustradores passam finalmente a serem conhecidos, como Eva Furnari, Roger Mello, Graça Lima, Nelson Cruz, entre outros. Cada vez mais ilustradores passam a escrever seus próprios livros, como Ziraldo, com a célebre publicação de O Menino Maluquinho (1980), entre muitos outros, além do aparecimento dos livros de imagens, ou seja, livros sem texto, como o Cântico dos Cânticos (1992) de Ângela Lago, mostrando que é possível construir uma história usando apenas ilustrações. Figura 3- O Menino maluquinho, Ziraldo (1980). No Brasil, nomes como o de Mariana Massarani, Elizabeth Teixeira e André Neves, têm conquistado o público infantil por explorarem o imaginário da criança através do inusitado. (BENJAMIM, 1984, p. 54). 2. UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE A ILUSTRAÇÃO Tanto crianças, como jovens e até mesmo adultos de todas as faixas etárias apreciam uma boa narrativa apresentada por um contador que sabe dar vida a um conflito. A palavra oral adapta o conflito ao ouvinte e a história ouvida é o primeiro livro de diversos leitores. São livros ouvidos e vividos, literalmente.

Mediante nossas experiências enquanto infantes, há histórias ouvidas que se transformam dentro do leitor e com ele vão crescendo e o transformam. Porém, elas só acompanham determinado sujeito porque alguém lhe propiciou o contato inicial, normalmente a própria família e até mesmo a escola podem exercer esse papel. Cecília Meireles (1979) afirma que a literatura tradicional, entendida como a popular, é a primeira a instalar-se na memória da criança, ela representa o primeiro livro, antes mesmo da alfabetização, e para grupos sociais iletrados, pode até ser o único, ou seja, o texto escutado. Ainda, de acordo com a autora, enquanto a figura do narrador vai desaparecendo ou pelo menos vai sendo reduzida, surge o livro, enquanto objeto, com uma aura de significados. Trata-se de um bem cultural com o qual a criança precisa aprender a interagir, pois possui possibilidades de apropriação de sistemas de linguagem diversos, como verbal, visual, gestual e expressiva, principalmente. Conforme estudos realizados nas obras de autores como Camargo (1995), Mokarzel (1998) e Floch (1991), com o surgimento da escrita e da transposição da oralidade para a escritura ocorre um distanciamento entre texto e o leitor, que antes era ouvinte, pois não há mais o contato direto entre contador e ouvinte. De acordo com Coelho (2000, p.188) o texto imagético passa pela instância de mediação do olhar e essa mediação propiciada pelo contador é substituída por aspectos visuais como o planejamento gráfico e, mais especificamente, pela ilustração. Portanto, a ilustração na literatura para as crianças aparece como uma linguagem de acesso mais imediato, auxiliando o leitor mirim a interagir com a palavra. As duas linguagens (visual e verbal) compartilham o mesmo suporte e na ilustração, geralmente, predomina o figurativo, referindo modelos da natureza ou figuras fantásticas oriundas do imaginário (COELHO, 2000, p.189).

A natureza figurativa é de reconhecimento rápido e permite ao leitor estabelecer conexões com o mundo e elaborar redes interpretativas. Frente ao livro ilustrado a criança [...] vence a parede ilusória da superfície e, esgueirando-se entre tapetes e bastidores coloridos, penetra em um palco onde o conto de fadas vive (BENJAMIN, 1984, p.55). Confirmando o que foi exposto anteriormente, Ramos ressalta que: A presença de ilustrações/imagens acompanhando os textos, desde os primórdios de seu aparecimento, tinha a finalidade de enfeitar ou esclarecer, ilustrar/informar para educar ou criar e propiciar prazer estético. Essa noção ainda é explicitada nos dicionários contemporâneos, entretanto, várias outras funções podem surgir, reunindo-se a estas, predominando ou mesmo anulando-as. (RAMOS, 2002, p.84). Assim, esse caráter de apoio destinado à ilustração vai sendo alterado. A ilustração produzida para a literatura infantil ganha também reconhecimento no mundo artístico pelo aprimoramento de suas qualidades estéticas e como manifestação atual de cultura. Além disso, solidifica sua posição como parte integrante das diferentes manifestações da linguagem visual, possui características próprias e instala-se no texto, entendido como um todo de sentido. A ilustração convive e faz parte do contexto da história da arte. Ela é um objeto de reprodução e está inserida em uma indústria cultural. Interrelaciona-se com outras linguagens, transita em um espaço multifacetado. Dialoga com o verbal, mas pode utilizar recursos adivinhos do cinema, da pintura, dos quadrinhos. Pertence a um período em que diferentes manifestações artísticas interagem, se interpenetram. Não há, ou não deveria ter mais a divisão preconceituosa em arte maior e menor, nem a divisão rígida de categorias artísticas. Picasso, Matisse ou Miro pintam, produzem cartazes, criam cenários. (MOKARZEL, 1998, p.65). Para compreender-se a relação entre os livros infantis ilustrados e a criança, considera-se indispensável, segundo Benjamin (1984, p.51), o estudo do histórico da ilustração e do livro, visando destacar o momento em que ambos se encontram e passam a ser

desenvolvidos especificamente para o leitor infantil, com características específicas e objetivos diversos que vão se modificando dentro de cada período histórico. O estudo dessas modificações, relacionado, principalmente, aos acontecimentos sociais, econômicos e tecnológicos, pelos quais a sociedade tem passado nos permitem melhor entender o valor atribuído ao livro na infância, tanto no passado, quanto no presente. No livro Alice no País das Maravilhas 5 (Carrol, 2001) a personagem principal tenta acompanhar a leitura de um livro com sua irmã, mas se sente entediada, pois o livro não tinha figuras nem diálogos; para que serve um livro, pensou Alice, sem figuras ou diálogos? (Carrol, 2001, p.37). Essas figuras, das quais Alice fala, são as ilustrações do livro, que, principalmente na infância, instigam a curiosidade e convidam à leitura. Para a Associação dos Designers Gráficos (2000, p. 59) uma imagem é considerada ilustração quando seu objetivo for corroborar ou exemplificar o conteúdo de um texto de livro, jornal, revista ou qualquer outro tipo de publicação. Completando esta definição, a ilustração pode ser também uma imagem que substitui um texto, que o amplia, que adiciona a ele informações, ou que o questiona. Segundo pesquisas realizadas por Dalley (1982 - apud Lajolo e Zilberman, 2006), não se tem exatidão de quando datam as primeiras ilustrações, principalmente devido às diferentes definições que o termo apresenta. Para alguns autores, como o próprio Dalley, tanto a ilustração, como a escrita, possuem suas origens na pré-história, a partir das inscrições rupestres 6. 5 Tradução de Neli Freitas (2001). 6 A arte rupestre (ou parietal) consiste em pinturas e gravuras efetuadas sobre a rocha (ao ar livre ou, mais frequentemente nas paredes e tetos de grutas) pelo homem do Paleolítico Superior. Na maior parte das vezes são representados animais em liberdade e cenas de caça. A arte rupestre constitui a primeira forma de manifestação artística do homem.

Figura 4 -Pintura Rupestre As ilustrações que tinham como objetivo registrar acontecimentos da época, como por exemplo, a construção dos monumentos, aparecem no Antigo Egito. É também desse período os primeiros pergaminhos ilustrados (DALLEY, 1982, apud LAJOLO E ZILBERMAN, 2006). Já na Idade Média, conforme Manguel (1997), a ilustração aparece a serviço da religião levando os ideais da igreja à grande parte da população analfabeta. Um exemplo desse período é a Bíblia Pauperum 7, reproduzida através da xilogravura, que é uma técnica de gravura na qual se utiliza madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte adequado. Figura 5- Bíblia Pauperum Conforme ressalta Freitas (2005, p.85), com o retorno à cultura greco-romana e conseqüentemente, ao predomínio da razão e da ciência, durante o Renascimento, as ilustrações aparecem fortemente voltadas ao desenho técnico. Leonardo da Vinci é considerado o mais importante ilustrador técnico dessa época. 7 Bíblia pauperum ou Bíblia dos pobres: um dos primeiros livros xilografados e, certamente, também um dos mais conhecidos. Consistia de 40 quadros, ilustrando conhecimentos da vida de Cristo e cenas do Antigo Testamento; desta forma, foram feitas perto de onze edições.

A medida que novas técnicas de impressão surgem, a ilustração ganha maior espaço dentro das editoras (área editorial). Outro importante invento, segundo Freitas (2005, p. 85), do século XIX é a fotografia (1839) 8 que, por seu realismo, fez com que ilustradores se voltassem mais ao estímulo à imaginação do que ao realismo. Ainda segundo Freitas (2005, p.85), no início do século XX surge no ocidente a serigrafia, são feitos avanços consideráveis na área de produção de tintas, além do desenvolvimento da impressão em meio tom, aumentando substancialmente, ao ilustrador, as possibilidades técnicas de reprodução. A ilustração passa então a ser reconhecida como arte comercial. Nos últimos anos, entre as mais recentes e importantes inovações na área estão a introdução e o aperfeiçoamento da computação gráfica, além do surgimento das mídias digitais, como jornais, livros, revistas eletrônicas e websites, abrindo novos campos de atuação para ilustradores. No caso da obra destinada à infância ou mesmo ao jovem, considera se ilustração não apenas os desenhos que acompanham a palavra, mas todo e qualquer recurso de produção de imagem, seja uma vinheta (pequena imagem de até um quarto do tamanho da página), a capitular (letra que inicia um capítulo, geralmente em tamanho maior do que as outras e em fonte diferente), figuras ou manchas (CAMARGO, 1995, p.16) 9. Complementando o que Camargo (1995) enfatiza nos parágrafos anteriores, Ramos informa que: A ilustração não é privilégio do texto destinado à criança. Ela aparece em diferentes mídias, como na publicidade, visando dar um caráter de verdade, auxiliar na recepção da peça ou mesmo na constituição da vaguidade semântica, 8 Ano de surgimento da fotografia. 9 Luis Camargo afirma que, no livro, o projeto gráfico consiste no formato, número de páginas, tipo de papel, tamanho das letras, mancha, diagramação, encadernação, tipo de impressão, número de cores da impressão, etc.