UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Daniele Cristiane da Rosa Souza ESTUDO DE CASO



Documentos relacionados
Profa. Ma. Adriana Rosa

LUDICIDADE: INTRODUÇÃO, CONCEITO E HISTÓRIA

TIPOS DE RELACIONAMENTOS

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador BA, 7 a 9 de Julho de 2010

Atividades lúdicas na educação o Caminho de tijolos amarelos do aprendizado.

Mão na roda. Projetos temáticos

CURIOSOS E PESQUISADORES: POSSIBILIDADES NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Índice. 1. Metodologia de Alfabetização Aprendizagem da Escrita Aprendizagem da Leitura...6

SEDUC SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO ESCOLA ESTADUAL DOMINGOS BRIANTE ANA GREICY GIL ALFEN A LUDICIDADE EM SALA DE AULA

Jéssica Victória Viana Alves, Rospyerre Ailton Lima Oliveira, Berenilde Valéria de Oliveira Sousa, Maria de Fatima de Matos Maia

AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA A PARTIR DO DESENHO INFANTIL. Otília Damaris Psicopedagoga

Educação Sexual no desenvolvimento infantil. Profª.Teresa Cristina Barbo Siqueira

A LUDICIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

A educadora avalia a formação de nossos professores para o ensino da Matemática e os caminhos para trabalhar a disciplina na Educação Infantil.


Educação Patrimonial Centro de Memória

PROJETO MEDIAR Matemática, uma Experiência Divertida com ARte

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NOS ANOS INICIAIS: UMA PERSPECTIVA INTERGERACIONAL

A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO CIENTISTA SOCIAL: SABERES E COMPETÊNCIAS NECESSÁRIOS

A IMPORTÂNCIA DE SE TRABALHAR OS VALORES NA EDUCAÇÃO

20 Anos de Tradição Carinho, Amor e Educação.

20 perguntas para descobrir como APRENDER MELHOR

II MOSTRA CULTURAL E CIENTÍFICA LÉO KOHLER 50 ANOS CONSTRUINDO HISTÓRIA

RELATÓRIO MESA REVOLVER DESIGN (PESQUISA)

O TRABALHO COM BEBÊS

ESCOLA ESPECIAL RENASCER- APAE PROFESSORA: JULIANA ULIANA DA SILVA

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

Meu nome é Rosângela Gera. Sou médica e mãe de uma garotinha de sete anos que é cega.

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

Unidade II TEORIAS PSICOLÓGICAS. Profa. Dra. Mônica Cintrão França Ribeiro

As crianças adotadas e os atos anti-sociais: uma possibilidade de voltar a confiar na vida em família 1

Prof. Kildo Adevair dos Santos (Orientador), Prof.ª Rosângela Moura Cortez UNILAVRAS.

EDUCAÇÃO INFANTIL OBJETIVOS GERAIS. Linguagem Oral e Escrita. Matemática OBJETIVOS E CONTEÚDOS

A escola para todos: uma reflexão necessária

PRÁTICAS LÚDICAS NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESCRITA DO INFANTIL IV E V DA ESCOLA SIMÃO BARBOSA DE MERUOCA-CE

Presença das artes visuais na educação infantil: idéias e práticas correntes

VYGOTSKY E O PAPEL DA BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

LUDICIDADE NA SALA DE AULA UNIDADE 4 ANO 1. Abril de 2013

PROBLEMA É IMPLEMENTAR LEGISLAÇÃO

Jogo ProvocAção. ProvocAção 5.-

USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA

REPRESENTAÇÕES DE AFETIVIDADE DOS PROFESSORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Deise Vera Ritter 1 ; Sônia Fernandes 2

DICAS DE BURACO ONLINE

AVALIAÇÃO NA PRÉ-ESCOLA UM OLHAR SENSÍVEL E

ENTREVISTA Alfabetização na inclusão

PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

Ensino Religioso História Geografia Auteridade (O Eu, Eu sou, Eu com os outros, Eu e os outros somos Nós)

Dicas que ajudam pais na escolha da escola dos seus filhos

Atividades Pedagógicas. Abril2014

Papo com a Especialista

A.C. Ilustrações jordana germano

A ENERGIA DO BRINCAR: UMA ABORDAGEM BIOENERGÉTICA

11. Com base na Teoria Piagetiana, relacione os conceitos da primeira coluna de acordo com as definições apresentadas na segunda coluna:

CENCAL ALCOBAÇA UFCD 3245 FORMADORA FÁTIMA GOMES

O LÚDICO NA APRENDIZAGEM

O BRINCAR E SUAS IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL DENTRO DO PROCESSO GRUPAL (2012) 1

CONSTRUÇÃO DE QUADRINHOS ATRELADOS A EPISÓDIOS HISTÓRICOS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA RESUMO

Palavras-chave: Ensino/Aprendizagem; Variações Linguísticas; Relação Professor/Aluno.

EXPRESSÃO CORPORAL: UMA REFLEXÃO PEDAGÓGICA

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

ÁLBUM DE FOTOGRAFIA: A PRÁTICA DO LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 59. Elaine Leal Fernandes elfleal@ig.com.br. Apresentação

O PLANEJAMENTO E A AVALIAÇÃO INICIAL/DIAGNÓTICA. Profa. Me. Michele Costa

A importância da audição e da linguagem

A ENERGIA MENTAL E O PROCESSO SAÚDE/DOENÇA.

Creche Municipal Pequeno Príncipe

Desafio para a família

Atividade Pedagógica Teatro de fantoches. Junho 2013

JANGADA IESC ATENA CURSOS

APRENDENDO NOS MUSEUS. Exposição no Bloco do estudante: O brinquedo e a rua: diálogos

20 perguntas para descobrir como APRENDER MELHOR

AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DA ESCRITA COMO INSTRUMENTO NORTEADOR PARA O ALFABETIZAR LETRANDO NAS AÇÕES DO PIBID DE PEDAGOGIA DA UFC

O Princípio da Complementaridade e o papel do observador na Mecânica Quântica

1 O que é terapia sexual

PALAVRAS-CHAVE economia solidária, ensino fundamental, jogos cooperativos, clube de troca. Introdução

Copos e trava-línguas: materiais sonoros para a composição na aula de música

O uso de jogos no ensino da Matemática

O QUE OS ALUNOS DIZEM SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: VOZES E VISÕES

Piaget diz que os seres humanos passam por uma série de mudanças previsíveis e ordenadas; Ou seja, geralmente todos os indivíduos vivenciam todos os

CURIOSIDADE É UMA COCEIRA QUE DÁ NAS IDÉIAS

Densímetro de posto de gasolina

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Relatório referente ao encontro realizado no Departamento de educação física (03/06/2015)

Cotagem de dimensões básicas

Afonso levantou-se de um salto, correu para a casa de banho, abriu a tampa da sanita e vomitou mais uma vez. Posso ajudar? perguntou a Maria,

Construindo uma aula significativa passo-a-passo.

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

ADMINISTRAÇÃO GERAL MOTIVAÇÃO

PRAZER NA LEITURA: UMA QUESTÃO DE APRESENTAÇÃO / DESPERTANDO O PRAZER NA LEITURA EM JOVENS DO ENSINO MÉDIO

Elaboração de Projetos

QUANTO VALE O MEU DINHEIRO? EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA O CONSUMO.

BROCANELLI, Cláudio Roberto. Matthew Lipman: educação para o pensar filosófico na infância. Petrópolis: Vozes, RESENHA

O processo de aquisição da linguagem escrita: estudos de A. R. Lúria e L. S. Vygotsky

LEITURA E ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA DE APRENDIZAGEM COM LUDICIDADE

EDUCAÇÃO INFANTIL. PRÉ I Professoras Caroline e Ana Lucia Habilidades vivenciadas no 2º bimestre 2011

Redação do Site Inovação Tecnológica - 28/08/2009. Humanos aprimorados versus humanos comuns

Jogo recurso de motivação, interpretação, concentração e aprendizagem

A ORALIZAÇÃO COMO MANIFESTAÇÃO LITERÁRIA EM SALA DE AULA

Planejamento de Aula - Ferramenta Mar aberto

Transcrição:

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Daniele Cristiane da Rosa Souza ESTUDO DE CASO Curitiba 2010

Daniele Cristiane da Rosa Souza ESTUDO DE CASO Estudo de caso apresentado para obtenção do Grau de Especialização em Gestão Pedagógica com Ênfase em Educação Infantil e Séries Iniciais da Universidade Tuiuti do Paraná. Orientadora:Profª. Ana Maria Macedo Lopes Curitiba 2010

SUMÁRIO 1 Introdução...3 2 Discussões metodológicas...3 2.1 Objetivos do estudo...4 2.1.1 Objetivo geral...4 2.1.2 Objetivo Específico...4 2.2 Caracterização do estudo...4 2.2.1 Estudo da criança...4 3 Fundamentação Teórica...6 3.1 1ª infância...6 3.2 Importância da afetividade dos pais na vida escolar dos filhos...11 3.3 Pais e Escola, Lado a Lado...12 3.4 Os Professores...13 3.5 Família e escola...14 3.6 Leitura...14 3.7 Escrita...16 Considerações finais...17 Referências Bibliográficas...18

3 1 Introdução O presente trabalho visa o estudo de um caso concreto. Apresenta um menino chamado João (nome fictício), que desde pequeno surpreendia as professoras e pessoas da sua família com sua inteligência. Este estudo pretende investigar, a importância da família na participação escolar dos filhos, pois ao contar com esta participação, a criança apresenta um bom desempenho escolar. A criança estudada foi muito estimulada por seus pais desde pequena, brincava com jogos pedagógicos e contava com a participação destes em sua vida. João entrou cedo na escola, o que também influenciou na sua aprendizagem, já que possui interesse em aprender. Por ser um menino falante, tem muita curiosidade em aprender, o que o levou a começar a escrever palavras soletradas pela família e pela professora, ingressando logo no mundo da leitura. 2 Discussões metodológicas Este estudo foi realizado com um menino chamado João, aluno do 1º ano do ensino fundamental. Foi realizada na escola Bambinata, localizada no bairro Santa Felicidade, em Curitiba. O estudo do caso foi dividido em algumas etapas. A primeira trata da primeira infância, relatando o desenvolvimento da criança desde seu nascimento; o menino João, personagem central do estudo e a importância da afetividade dos pais na vida escolar dos filhos.

4 Num segundo momento, pais e escola lado a lado; os professores, que são os grandes responsáveis pela aprendizagem dos alunos e, finalmente, a aprendizagem da leitura e da escrita. 2.1 Objetivos do estudo 2.1.1 Objetivo geral O objetivo geral deste estudo é validar as teorias sobre a importância da participação dos pais na vida escolar dos filhos. 2.1.2 Objetivo Específico Relatar a trajetória da criança João (nome fictício), associando-a as teorias de Héléne, Winnicott e Vygotsky na questão da aprendizagem infantil. 2.2 Caracterização do estudo A família é a principal responsável pela educação dos filhos. Desde que nasce, a criança já está condicionada a esta educação, relacionada ao seu meio cultural. Ao longo da vida, ela vai desenvolvendo seus aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais. A partir do acompanhamento da trajetória do menino João, pretendo demonstrar a importância da família no desenvolvimento e aprendizado da criança, encontrando argumentos nas teorias já estudadas. 2.2.1 Estudo da criança A criança escolhida para observação e estudo, é aluno do 1º ano do ensino fundamental. Eu o chamarei de João, ele tem seis anos. Esta criança

5 me chamou atenção pelo seu desenvolvimento nas atividades na sala de aula, ele ia além das expectativas da professora. João começou a falar suas primeiras palavras com um ano de idade e com um ano e meio formava frases como O barco passou, comunicando à família, que morava em frente ao mar, todas às vezes em que o transporte passava. Entrou na escola com um ano e meio, sua primeira professora declarou que ele sabia o nome de todos os colegas e ajudava fazer a chamada da sala; segundo ela, João era um menino muito comunicativo e sempre soube expressar bem suas idéias. Com dois anos e meio já conhecia o alfabeto, por gostar muito de futebol fazia associação das letras com os nomes dos jogadores, como por exemplo: R- de Ronaldo. Seus pais compravam brinquedos pedagógicos e educativos. João gostava de montar quebra-cabeça e aos três anos montava quebra-cabeça com 60 peças. João, segundo seus pais desde pequeno sempre foi muito curioso e desinibido, perguntava tudo, tanto em casa quanto na escola e tinha desenvoltura na comunicação com estranhos. Também adorava inventar nomes para as coisas. Um menino querido, muito carinhoso com todos. A sua grande paixão até hoje é seu avô, que era o personagem principal das histórias inventadas por ele. Aos quatro anos, o menino começou a escrever nomes dos times em cadernos presenteados pelos pais. Como conhecia o alfabeto, pedia que soletrassem para ele as letras, e com quatro anos e meio, começou a ler suas primeiras palavras, em um processo rápido de alfabetização ele ajudava a

6 professora com as outras crianças, método encontrado por ela para mantê-lo incentivado na escola após um período em que ele se mostrou decepcionado: Vê só, tudo criança de 4 anos e não sabe ler ainda, reclamava à sua avó. Agora, aos seis anos, lê qualquer tipo de letra. Segundo seus pais, João adora ler gibis e os lê repetidamente. Sua professora comentou seu desenvolvimento nas atividades, em que era para escrever palavras simples e ele escreveu nomes de países com o acróstico Reciclagem. Outro relato da professora foi sobre seu ótimo raciocínio matemático, faz contas rapidamente e possui uma ótima memória. 3 Fundamentação Teórica 3.1 1ª infância De acordo com estudos de Héléne(1992), desde muito cedo as crianças possuem potencialidades relativas à aprendizagem. Algumas horas após o nascimento, elas enxergam, ouvem e diferenciam sons, orientam a cabeça no espaço, aprendem e estabelecem relações entre percepções diferentes, independente do meio do qual provêm. Para Vygotsky (1999, p.56) desde o nascimento da criança, o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento e é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas ; isso indica que desde muito cedo o aprendizado e o desenvolvimento da criança estão relacionados ao seu meio cultural.

7 No início a comunicação do bebê é entendida somente pelos pais. O primeiro ano de vida é essencial no desenvolvimento da criança e determinante nos resultados posteriores. Desde a gestação o bebê está imerso em um mundo sonoro e talvez essa experiência seja a base para o aprendizado da língua. Além disso, já existe uma comunicação precoce entre o bebê e sua mãe (ou quem cuida dele). É comum, por exemplo, que a mãe interprete o choro da criança, identificando-o como signo de cólica, fome ou fralda molhada. Por outro lado, um bebê de poucos meses também reage à linguagem oral, mesmo sem distinguir ainda o significado de cada palavra. Nessa fase ele percebe apenas a entonação expressiva contida na voz. Uma das funções mais importantes é o brincar, isso ajuda o bebê a lidar com todas as complexas emoções de sua vida: amor, ódio, agressão, ansiedade. Até os três meses, O bebê brinca com o seu próprio corpo. Rapidamente orienta o seu interesse para o corpo da mãe ao qual está ainda ligado por laços de estreita participação. Por volta dos três meses começa a ser capaz de pegar em um objeto. É nessa fase que começa a manifestar o interesse por objetos exteriores ao seu próprio corpo. A partir daí, há o aparecimento de movimentos cada vez mais voluntários. O bebê começa a manifestar interesse pelas cores no sexto mês; no oitavo mês, ele já é capaz de agarrar vários objetos de uma só vez. Nesse mesmo período, a brincadeira torna-se significativa. Os bebês manifestam a possibilidade mental de imaginar o brinquedo ainda ausente do seu campo visual, o que significa um primeiro passo para uma atividade intelectual de representação. Assim, pode-se dizer que antes de falar, o bebê já tem conceitos

8 Neste verdadeiro diálogo, que também se estrutura pelo corpo, através do toque e da mímica, o bebê desempenha um papel ativo, expressando necessidades e satisfações que serão interpretadas pela mãe. Mais tarde começa o balbucio, em que o bebê brinca com sua voz, produzindo seqüências sonoras sem significado, como papapa, guegue; o adulto, no entanto, já começa a dar significado a esses sons, repetindo-os e interpretando-os. Com isso, há incremento das produções sonoras. Surgem então, as primeiras palavras, quando uma forma sonora se associa a um significado e a criança demonstra uma intenção comunicativa. Exemplos dessas palavras iniciais são mama para mamãe, papa para papai, nenê para si mesma e outras crianças. O momento de surgimento dessas primeiras palavras é bastante variável para crianças dentro do desenvolvimento normal, ocorrendo normalmente dos 10 aos 18 meses. Como podemos ver, a criança não repete palavras mecanicamente, mas constrói a linguagem em uma interação social com o adulto (Vygostky 1991). As primeiras palavras de uma criança não são repetições desprovidas de sentido, elas já expressam intenções e desejos. O pequeno falante, ao comunicar-se com os outros, está impulsionando seu desenvolvimento contínuo. Aos poucos, a criança vai adquirindo novos vocábulos e aprende a combiná-lo em frases. As primeiras são, em geral, combinações, gramaticais primárias,, por exemplo bó caiu (a bola caiu) As crianças falam eu fazi, eu sabo. Bem, se nenhum adulto fala assim, isto significa que não se trata de imitação, mas da generalização de uma regra de flexão verbal por analogia. O que poderia ser encarado como erro, indica, na verdade que a criança levanta

9 hipóteses próprias e coerentes sobre a língua, o que é um sinal de inteligência PIAGET(1979). Já uma criança de dois anos diz pelo menos 10 palavras, além de papai e mamãe e compreende um número muito maior; com o passar dos anos as crianças vão ampliando seu vocabulário a partir de seus conhecimentos. A história do desenvolvimento da linguagem se desenvolve desde cedo na sua vida. Ele é levado, a partir de pressões internas inconscientes, a dar sentido ao que lhe ocorre. Podemos observar isso nas brincadeiras de colocar coisas umas dentro das outras e retirá-las, assim como colocar os objetos dentro e fora da boca. De uma certa maneira, a criança está tentando compreender o que ocorre com o seio que entra e sai de sua boca, com o leite que entra, mas não sai. Lágrimas saem de seus olhos e sons da sua boca. Por volta dos seis meses, as experiências físicas mais primitivas, que eram bastante indistintas das mentais, começam a se separar. Ele começa a pensar sobre semelhanças e diferenças. Para uma criança, o mundo é um lugar fascinante, com uma variedade infinita de segredos a serem descobertos. Muitas crianças desenvolvem um interesse por recipientes e lugares fechados e por coisas a eles associados, como tampas, portas e maçanetas. Muitas passam um longo tempo, colocando coisas dentro de outras e, o que ainda é freqüentemente mais importante, tirando-as de dentro de novo. Um jogo de encaixe com os respectivos módulos pode ser, logo de início, usado desse modo, antes mesmo de que a criança se interesse pela idéia de colocar os módulos nos lugares certos. Uma extensão disso é o interesse dela por armários abre-os e tira tudo para fora. Brincar de derrubar as coisas ou de

10 espalhá-las dá a criança a oportunidade de expressar os sentimentos destrutivos de uma maneira segura e controlada. Aos poucos, o bebê vai se mostrar mais interessado em colocar os módulos nos buracos certos, ou em montar um quebra-cabeça simples. Empilhando e encaixando peças, ela adquire noções espaciais e faz as primeiras tentativas de organização do mundo. Quando produz sons batendo objetos, desenvolve conexões mentais e corporais que vão ajudá-las a falar e a andar. Repetindo brincadeiras à exaustão, digere as emoções, confirma e consolida um aprendizado. Nesse estágio, ele precisa, principalmente, que os pais dediquem certo tempo para brincar, de preferência seguindo as indicações e vontade dele, facilitando a brincadeira e não tentando dirigi-la. Às vezes, os pais ficam impacientes observando o filho fazer alguma coisa sem muito jeito. Surge uma grande tentação ou de fazer para ele, ou de mostrar-lhe o melhor e mais rápido modo de chegar ao sucesso de seu empreendimento. No entanto, agir assim constantemente vai minar a autoconfiança da criança e impedi-la de adquirir experiência de perseverar e de tolerar a frustração. Segundo o pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott,(1971) existe sempre um elemento de ansiedade na brincadeira das crianças Com o passar do segundo ano de vida, as brincadeiras tornam-se mais imaginativas, explorando, por exemplo, a possibilidade de fazer o que vê a mãe ou o pai fazerem. A criança inventa brincadeiras de faz-de-conta, nas quais representa papéis diferentes e cria regras. Tanto os meninos como as meninas dessa idade brincam de dar de comer ou de mudar as fraldinhas das bonecas. A criança de dois anos começa a brincar desde o momento em que acorda. Essa atividade a faz trabalhar sua concentração e WINNICOTT-apud Andrade.disponível em www.tcjoinville.com.br/artigo_a_importancia_do_brincar.htm.acesso em 28-03-10

11 absorção do mundo, é a possibilidade de lidar com emoções fortes que sente transferindo-as para a boneca ou o ursinho. E a criança, a partir dos três anos de idade, através dos jogos e das brincadeiras, pode organizar suas fantasias e seus desejos livremente e, com isso, encontra muito prazer. É mediante essas atividades que a função simbólica, o conhecimento de si mesmo, dos outros e do mundo que as rodeiam, se desenvolvem. Os jogos fazem a ponte entre realidade interna e externa. A partir desta idade, a criança vai construindo seu pensamento conforme sua vivência. 3.2 Importância da afetividade dos pais na vida escolar dos filhos Segundo Wallon (1995, p.27) no início da vida, a afetividade e inteligência coexistem, mas estão sincreticamente misturadas, predominando a afetividade. A afetividade neste contexto é a ação que constitui a cognição, e a alternância entre elas conceitua momentos predominantemente afetivos e predominantemente cognitivos, de forma integrada, sendo que a evolução da afetividade depende de conquistas no plano da inteligência, e esta da afetividade. Diz ainda o autor, que a afetividade volta a dominar o desenvolvimento dos sujeitos, fazendo com que a criança desperte para as pessoas, saindo de seu egocentrismo natural, tomando consciência de si e dos outros. A função simbólica e a linguagem darão origem ao pensamento discursivo, numa relação de construção recíproca, manifestando-se sincreticamente, as coisas são simultaneamente assimiladas e opostas. Após a progressão marcada pelo

12 sincretismo (entre o ciúme e a simpatia), a criança começa a reconhecer-se independente das situações em que esteja envolvida, obtendo assim a consciência do eu. As crianças têm necessidade de reconhecer-se e fazer-se reconhecer. A interação social nesta fase tem importância fundamental, pois a criança vive um profundo trabalho afetivo e moral e busca conquistar sua autonomia. Para tanto, destaca-se a importância do ensino escolar. O panorama familiar atual da criança é, na grande maioria das vezes, de ausência dos pais, tendo a mãe que sair para trabalhar, juntamente com o pai, ficando cada vez mais restrito o contato diário de todos os membros da família. A afetividade entre pais e filhos se distancia, entra em cena a atividade escolar que se inicia cada vez mais precocemente. A ausência dos pais, muitas vezes, é inconscientemente compensada pela permissividade, pela falta de repreensão, fazendo com que o jovem de hoje, criança de ontem, não tenha nenhum limite de suas ações. Os anos passam e o fato, é que não se cria limites de um dia para o outro, mas faz parte do crescimento educacional de cada ser humano. Os limites darão margem para que cada um aprenda a respeitar o outro, seja digno em suas ações diante de si e da vida, e esta competência tem que ser construída na infância por intermédio dos pais 3.3 Pais e Escola, Lado a Lado É a primeira escola, seu filho ainda é tão pequeno, muitas vezes ainda é um bebê e as necessidades do dia-a-dia fazem com que, cada vez mais cedo, essa seja a escolha da família. A família precisa ser acolhedora, recebêlo de braços abertos e estar atenta e disponível sempre que for preciso. Assim começa a ser construída uma relação de confiança. Todos conhecem seu filho,

13 sabem seu jeito, o quanto está se desenvolvendo e percebem toda e qualquer mudança, positiva ou negativa. É importante, desde já, a conversa, a troca de informações e idéias com professores e orientadores. Esse é um hábito saudável a ser desenvolvido, desde cedo, para prevenir futuros problemas e garantir um crescimento tranqüilo. Ao entrar na escola, novo recomeço, seja no mesmo espaço ou numa escola nova. É aqui que começa uma nova fase de construção de conhecimento e confiança, tão importante quanto a primeira. As classes são mais numerosas, há mais pessoas trabalhando com as crianças e sua independência já é maior. Isso gera certa insegurança, que exige uma atenção especial, por isso, a escola, por sua vez, percebe a formação desses grupos, mas não se aproxima tentando se comunicar e ajudar. Procurar a escola, falar de suas ansiedades, expectativas e preocupações com seus filhos, aliviarão as tensões refletidas e será um bom começo para construir a relação de confiança. Acompanhar não significa fazer por eles, nem com eles, apenas mostrar que está ciente de seus deveres e disponível no caso de dúvidas. Lembrando sempre, todos têm um objetivo comum, o desenvolvimento integral de seu filho. 3.4 Os Professores Segundo Héléne(1992) os professores acabam privilegiando na maioria das vezes as atividades de expressão e criação na suas aulas. E com os desenhos livres, com a expressão corporal e as atividades não impostas

14 ajudam o aluno a resolver conflitos internos, construindo uma personalidade harmoniosa e autenticamente livre. 3.5 Família e escola A educação recebida dos pais influencia no desenvolvimento da criança pequena e até as diferenças do meio socioeconômico, pois as crianças dos meios menos favorecidos possuem dificuldades para aprender a ler e escrever, pois não tem estímulos e não se interessam. A educação recebida dos pais continua sendo a base do sucesso 3.6 Leitura Segundo psicólogos dos anos 60 dos países anglo-saxões afirmam o exercício e o treino aceleram a maturação, sendo assim não existe uma idade idêntica para todos aprenderem a ler com mais facilidade. A idade para se começar pode variar de acordo com cada criança. A criança está pronta para aprender a ler quando: já é capaz de fazer distinções perceptivas finas; orienta-se sem dificuldades no espaço, o que supõe o domínio da lateralidade e do esquema corporal; estrutura o tempo, sendo capaz de reproduzir ritmos e organizar o tempo vivido; quando também saber falar corretamente; interessar-se pelos signos escritos e manipulá-los Sua produção linguística deriva da língua falada em seu meio. O desenvolvimento mental de uma criança de quatro anos é de 50% e este pode ser aumentado por estímulos favoráveis.

15 Os psicológos afirmam que a criança ainda bem pequena está em comunicação simbólica com seu meio humano e a leitura é uma das facetas desta comunicação simbólica. O professor G. Doman(1990) afirma o processo de aprendizagem da leitura é idêntico ao da aprendizagem da língua oral. Segundo ele não é mais difícil aprender a ler do que aprender falar contanto que se usem letras grandes, atmosfera lúdica e alegre. Aprender a falar já é aprender a ler e aprender a ler é procurar colocar a linguagem em funcionamento. Ler é decodificar uma mensagem codificada por um interlocutor fisicamente ausente. A criança que aprende a ler aprende em primeiro lugar a decifrar, identificando primeiro as letras em sílabas e estas sílabas em palavras. Diz-se que a criança possui os mecanismos básicos para a leitura quando sabe estabelecer correspondências entre o código oral e o código escrito. A criança aprende de uma maneira lógica, indo do simples letra, ao complexo a palavra. A aprendizagem é facilitada, uma vez que as frases propostas, ligadas ás necessidades e aos interesses da criança, são portadoras de sentido para ela. Freinet assegura que mesmo antes de dominar o código, a criança já sabe ler, pois adivinha o sentido dos textos. Sendo assim, propor atividades de leitura a crianças pequenas é confiar em suas potencialidades intelectuais e desejar melhorá-las e ampliá-las. Teóricos dizem que a aprendizagem da leitura começa desde a escola

16 maternal. E novos teóricos dizem que ler é em primeiro lugar produzir sentido, de acordo com Freinet(1998) privilegiando a vivência da criança. 3.7 Escrita Segundo Vygotsky(1999) a escrita inicia-se muito antes da entrada da criança na escola e se estende por muitos anos. A escrita é uma função culturalmente mediada, como a criança que se desenvolve numa cultura letrada está exposta aos diferentes usos da linguagem escrita e ao seu formato, tendo diferentes concepções a respeito desse objeto cultural ao longo de seu desenvolvimento. A principal condição necessária para que uma criança seja capaz de compreender adequadamente o funcionamento da língua escrita é um sistema de signos que não tem significado em si. Ao ensinar a escrita de modo natural à criança se aproxima dela como a uma etapa natural em seu desenvolvimento, e não como a um treinamento imposto de fora.

17 Considerações finais O objetivo deste estudo foi analisar a importância dos pais na vida escolar dos filhos. Este estudo conta sobre um relato, da trajetória de um menino chamado João (nome fictício) que possui um bom desempenho escolar, devido à participação e colaboração de sua família. Este também levou a compreender como é essencial uma estrutura familiar e a atenção e dedicação dada pelos pais desde pequenos, já que a família é a principal responsável pela educação de seus filhos. Neste estudo de caso, pude observar que a influência e o apoio que os pais dão aos seus filhos em suas atividades, fazem a diferença em sala, juntamente com o auxílio da professora. Conforme os autores citados no estudo é importante a afetividade entre pais e filhos, porque a busca de uma relação positiva entre família e escola deve fazer parte de qualquer trabalho educativo que têm como foco a criança, o bem mais precioso, seu filho. Assim, a escola também exerce uma função educativa junto aos pais, discutindo, informando, aconselhando, para que família e escola em colaboração mútua possam promover juntas uma educação integral da criança.

18 Referências Bibliográficas COHEN, R; GILABERT.H; Descoberta e aprendizagem da linguagem escrita antes dos 6 anos. São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1992. OLIVEIRA, K. M; Vygotsky Aprendizado e desenvolvimento Um processo sócio-histórico. São Paulo: 4º edição Scipione, 1999. BAQUERO, B; Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: 1998. WINICOTT, D. W; O brincar e a realidade. São Paulo: Imago, 1971. Encontrado em www.tcjoinville.com.br/artigo_a_importancia_do_brincar.htm. DOMAN, Glenn; Como Ensinar Seu Bebê a Ler. 6ª ed. Porto Alegre: Artes e Ofícios,1990. FRENEIT, Célestin; Criança e poesia na pedagogia. São Paulo: Paulinas, 1998 PIAGET, Jean; Aprendizagem e Conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1979.