TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL Agravo de Instrumento nº 0010478-77.2014.8.19.0000 Agravante: Othelo Fernando Schaefer Agravado: Levinda Fernandes de Souza Pinto Relator: Des. Elton M. C. Leme AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DESPEJO. LOCAÇÃO POR TEMPORADA. PRORROGAÇÃO DO CONTRATO POR PRAZO INDETERMINADO. LIMINAR PARA DESOCUPAÇÃO DO IMÓVEL. APLICAÇÃO DO DISPOSTO NO ART. 59, 1º, IX, DA LEI Nº 8.245/91. CABIMENTO. DECISÃO MANTIDA. RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. 1. Interposição de recurso contra decisão singular que deferiu o pedido liminar de desocupação do imóvel residencial nos autos da ação de despejo proposta, com fundamento no art. 59, 1º, da Lei nº 8.245/1991. 2. Prorrogação do contrato de locação por temporada por prazo indeterminado, haja vista que ao seu término o locador não retomou o imóvel. 3. Nessa modalidade de locação, estando o contrato desprovido de qualquer garantia, é cabível a concessão da liminar de desocupação do imóvel, em quinze dias, fundado na falta de pagamento de aluguel e acessórios, independentemente da audiência da parte contrária, mediante caução no valor equivalente a três meses de aluguel, desde que comprovado minimamente tal descumprimento, nos termos do art. 59, 1º, I, da Lei 8.245/91. 4. Decisão que não se mostra teratológica, contrária à lei ou à evidente prova dos autos. Aplicação da
Súmula 59 do TJRJ. 5. Recurso a que se nega seguimento, nos termos do art. 557, caput, do CPC. D E C I S Ã O Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão proferida pelo Juízo da 19ª Vara Cível da Comarca da Capital que, em ação de despejo, deferiu a liminar de desocupação do imóvel em 15 dias, com a expedição de mandado de intimação, nos termos do art. 59, III, da Lei de Locações, por se tratar de locação para temporada sem qualquer garantia no qual os pagamentos não foram realizados conforme o contratado. Em suas razões, sustenta o agravante, em síntese, que está no imóvel objeto do contrato de locação por temporada desde 05/11/2012, o qual foi prorrogado por prazo indeterminado, o que tornaria impossível a liminar na forma como foi concedida pelo juiz de primeiro grau. Alega que quando do ajuizamento da ação de despejo, os meses devidos seriam dezembro e janeiro, que venceriam nos meses subsequentes, sendo que a ação não veio instruída com o cálculo discriminativo, na forma do art. 62, I, da Lei de Locações para fins de purga da mora. Afirma que foi apresentado apenas o valor de R$ 8.338,05, acompanhado da informação de que a planilha de débito estava no corpo da petição, sem, no entanto, constar a discriminação do debito como determina a Lei. Dessa forma, requer a reforma da decisão no sentido de cassar a liminar deferida, com a consequente extinção do processo, sem exame do mérito, em face da inépcia da inicial e condenação da ré por litigância de má-fé.
É o relatório. Passo a decidir. Trata-se na origem da ação de despejo do imóvel localizado na Rua Belford Roxo, nº 58, apartamento 1.305, Copacabana, Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, proposta por Levinda Fernandes de Souza Pinto, locadora, em face do ora agravante, Othelo Fernando Schaefer, locatário, com fundamento no art. 59, 1º, da Lei nº 8.245/91. Na presente hipótese, as partes celebraram contrato de locação por temporada em 05/11/2012, por sessenta dias, com término em 04/01/2013 (anexo 25). Na sequência, foram celebrados outros 7 (sete) contratos de locação por temporada, o último iniciado em 05/08/2013, cujo término ocorreu em 04/09/2013 (anexo 31). No caso, de acordo com as peças que formam este instrumento, de fato houve a prorrogação do contrato de locação por temporada por prazo indeterminado, haja vista que o locador não retomou o imóvel ao término do último contrato. 8.245/1991: Isso porque, a teor do disposto no art. 50 da Lei nº Art. 50. Findo o prazo ajustado, se o locatário permanecer no imóvel sem oposição do locador por mais de trinta dias, presumir-se-á prorrogada a locação por
tempo indeterminado, não mais sendo exigível o pagamento antecipado do aluguel e dos encargos. Parágrafo único. Ocorrendo a prorrogação, o locador somente poderá denunciar o contrato após trinta meses de seu início ou nas hipóteses do art. 47. Com efeito, nessa modalidade de locação é possível a concessão de liminar de desocupação do imóvel, na hipótese de falta de pagamento do aluguel em que não foi prestada qualquer garantia, consoante o disposto no art. 59, IX, da Lei nº 8.245/1991: Art. 59. Com as modificações constantes deste capítulo, as ações de despejo terão o rito ordinário. 1º Conceder - se - á liminar para desocupação em quinze dias, independentemente da audiência da parte contrária e desde que prestada a caução no valor equivalente a três meses de aluguel, nas ações que tiverem por fundamento exclusivo: (...) IX a falta de pagamento de aluguel e acessórios da locação no vencimento, estando o contrato desprovido de qualquer das garantias previstas no art. 37, por não ter sido contratada ou em caso de extinção ou pedido de exoneração dela, independentemente de motivo. (...) 3 o No caso do inciso IX do 1 o deste artigo, poderá o locatário evitar a rescisão da locação e elidir a liminar de
desocupação se, dentro dos 15 (quinze) dias concedidos para a desocupação do imóvel e independentemente de cálculo, efetuar depósito judicial que contemple a totalidade dos valores devidos, na forma prevista no inciso II do art. 62. Sob essa perspectiva, considerando que o contrato celebrado entre as partes não trazia a previsão de qualquer garantia, como caução, fiança, seguro de fiança locatícia ou cessão fiduciária de quotas de fundo de investimento e diante da ausência de comprovação dos pagamentos impugnados pelo locador, correta a decisão de primeiro grau que concedeu a liminar de desocupação do imóvel. Aliás, denota-se que o depósito prestado no valor de R$ 1.000,00, constante do parágrafo terceiro do contrato (anexo 31), referese tão somente à abrangência por eventuais danos ao imóvel ou ao mobiliário nele contido e não à parcela mensal referente à locação. Por fim, destaca-se que mesmo nesta sede recursal o agravante não comprovou o pagamento das parcelas vencidas nos últimos meses do contrato. Portanto, não merece reforma a decisão recorrida. Além disso, consoante o disposto na Súmula 59 deste Tribunal de Justiça, somente se reforma a decisão concessiva ou não da
antecipação de tutela, se teratológica, contrária à Lei ou à evidente prova dos autos. Dispõe, de forma cogente, o artigo 557, caput, do CPC, que o relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou do Tribunal Superior. Por todo exposto, nego seguimento ao recurso, nos termos do art. 557, caput, do Código de Processo Civil. Rio de Janeiro, 26 de março de 2014. Des. Elton M. C. Leme Relator