Desafios da pós-graduação e da pesquisa sobre formação de professores*



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Transcrição:

Desfios d pós-grdução e d pesquis sobre formção de professores* Mrli André** Resumo O texto present inicilmente um qudro gerl d pós-grdução no pís, destcndo três tems pr debte n áre de educção: reestruturção dos modelos formtivos, uso dos grupos de pesquis como espços de formção e fortlecimento dos intercâmbios inter-institucionis. Argument, em seguid, que com implntção dos cursos de pós-grdução n décd de 70 form crids s condições pr institucionlizção d pesquis em educção. Discute, n seqüênci, com bse em estudos integrtivos, questões referentes à qulidde d pesquis n áre de formção de professores, como frgmentção ds temátics, o modismo nos referenciis e frgilidde teóricometodológic. Conclui que prte dos problems pontdos ns pesquiss decorre ds condições de produção do conhecimento no Brsil, que se deteriorrm nos últimos nos. Sugere que o repensr d pós-grdução e lut por melhores condições de produção do conhecimento sej um tref coletiv. Plvrs-chve: pós-grdução; pesquis sobre formção de professores; condições de produção do conhecimento. * Um versão do texto foi presentd n sessão de encerrmento d 28ª Reunião Anul d ANPEd, 2005. ** É doutor e pós-doutor em Educção pel University of Illinois, USA, é professor do Progrm de Estudos Pós-Grdudos em Educção: Psicologi d Educção d PUC SP. Publicou com Meng Ludke, Abordgens Qulittivs de Pesquis em Educção, pel EPU, Etnogrfi d Prátic Escolr, pel editor Ppirus e Estudo de Cso em Pesquis e Avlição Educcionl, pel Liberlivros. Desenvolve tulmente pesquis sobre o trblho docente do professor formdor. E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007 43

Chllenges in grdute eduction nd in techer eduction reserch Abstrct First, the pper shows picture of grdute eduction nd points out three topics for further discussion: review of grdute courses curriculum, turning reserch groups into eductive spces, nd strengthening joint reserch cross universities nd groups. Next, the pper shows tht the growth of grdute courses in the seventies brought out the conditions for reserch to be institutionlized. Moreover, bsed on integrtive reserch results, the pper indictes some drwbcks in techer eduction reserch such s: frgmenttion of topics nd frgility of the studies frmework. Finlly, it reltes gret prt of these drwbcks to bd conditions for knowledge production in Brzil. It suggests tht rethinking grdute courses curriculum nd fighting for better knowledge production conditions is collective tsk. Keywords: grdute eduction; techer eductionl reserch; knowledge production conditions. Desfíos del pos grdo y de investigción sobre formción de profesores Resumen El texto present inicilmente un cudro generl del pos grdo en el pís, destcndo tres tems pr debte en el áre de educción: reestructurción de los modelos formtivos, uso de los grupos de pesquis como espcios de formción y fortlecimiento de los intercmbios interinstitucionles. Argument, enseguid, que con l implntción de los cursos de pos grdo en l décd de 70 fueron creds ls condiciones pr l institucionlizción de l pesquis en educción. Discute, enseguid, con bse en estudios de integrción, cuestiones referentes clidd de pesquis y el áre de formción de profesores, como l frgmentción de ls temátics, el modismo en los referenciles y l frgilidd teórico-metodológic. Concluye que, prte de los problems destcdos en ls pesquiss provienen de ls condiciones de producción del conocimiento en Brsil, que se deteriorron en los últimos ños. Sugiere que el repensr del 44 E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007

pos grdo y l luch por condiciones mejores de producción del conocimiento se un tre colectiv. Plbrs-clve: pos grdo; investigción sobre formción de profesores; condiciones de producción del conocimiento. Introdução A Fundção de Ampro Pesquis do Estdo de São Pulo (Fpesp) publicou recentemente 3ª edição dos Indicdores de Ciênci e Tecnologi e Inovção em São Pulo, referente o período 1998-2002. É interessnte exminr lguns ddos geris dess publicção pr inicir est discussão. A produção científic brsileir (mensurd pelo número de trblhos científicos publicdos em revists indexds) teve tx de crescimento nul de 54%, enqunto o crescimento d produção mundil ficou bixo de 9%. São Pulo teve um crescimento de 63% e foi responsável por 52% d produção ncionl. A prticipção brsileir no cenário mundil pssou de 1,1% em 98 pr 1,5% em 2002, o que é um slto enorme. O crescimento d produção científic brsileir nos últimos nos foi compnhdo por um grnde expnsão d pós-grdução. Os indicdores d Fpesp revelm que: tx de crescimento ds mtrículs no mestrdo foi de 35% e de doutordo de 62% tx de crescimento ds titulções foi de 92% no mestrdo e 113% no doutordo Estes ddos mostrm um evidente expnsão d pós-grdução, em especil no doutordo. Vle pen exminr como se deu expnsão d pós-grdução n áre de educção: Em 1992 hvi 29 progrms de pós-grdução em educção no pís: 19 em Intituições de Ensino Superior Federis; 4 em Instituições de Ensino Superior Estduis; 6 em Instituições de Ensino Superior Privds; E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007 45

Em 2002, já erm 64 ( um crescimento de 120%) os progrms de pós-grdução em educção no pís, dos quis: 29 em Instituições de Ensino Superior Federis; 11 em Instituições de Ensino Superior Estduis; 24 em Instituições de Ensino Superior Privds. Estes ddos nos permitem observr que foi grnde expnsão d pós-grdução nos últimos dez nos: o número de progrms cresceu 120%. Os ddos d Região Sudeste seguem mis ou menos tendênci gerl do pís. Pode-se pens ssinlr que houve um descentrlizção dos progrms o longo do tempo, pois o percentul de progrms no SE ciu de 48% pr 45% em dez nos. De modo gerl e tmbém no Sudeste fic evidente que o crescimento foi mior ns IES privds. O qudro bixo resume situção: Brsil Sudeste IES/no 1992 2002 1992 2002 Federl 19 29 6 8 Estdul 4 11 4 7 Privd 6 24 4 14 Totl 29 64 14 29 O que estão revelndo estes ddos? Um ds possíveis explicções é que tis ddos mostrm o resultdo de um pressão de demnd, decorrente ds exigêncis d Lei de Diretrizes e Bses d Educção Ncionl que define um percentul de mestres e doutores pr compor os qudros ds universiddes e centros universitários. Ess medid legl tem levdo s instituições contrtrem mestres e doutores e quem quiser permnecer ou ingressr como docente no ensino superior buscr pós-grdução. Outr hipótese é que estes ddos refletem situção do mercdo de trblho: por um ldo, flt de emprego, por outro ldo s exigêncis pr preenchimento de crgos de lto nível que estrim impulsionndo s pessos procurr um curso de pós-grdução, sej pr umentr qulificção, sej pr umentr chnce de entrd no mercdo. 46 E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007

Igulmente possíveis, são s hipóteses de que tis como o crescente umento de convênios ds secretris de educção com s universiddes pr formção de mestres e doutores, busc de cesso n crreir docente e expecttiv de quisição de novos conhecimentos pr melhorr prátic. Pode ser que um conjunto de ftores explique demnd. Ou tlvez hj outros. Um implicção relevnte desses ddos é que expnsão d pós-grdução e mplição do cesso precem ter introduzido lguns ddos novos nos progrms de pós-grdução. Por exemplo, o tipo de luno que procur um curso de pós e sus expecttivs são completmente diferentes do que ocorri há dez nos. Quem é o luno que busc tulmente um curso de mestrdo? Qul formção desse luno? O que ele busc? Em recente crcterizção dos lunos mtriculdos n pósgrdução em psicologi d educção d PUC/SP consttmos que formção de bse dos lunos é muito vrid: 64% se grdurm em Psicologi ou Pedgogi, ms 36% tiverm formção em Letrs, Educção Físic, Veterinári, Administrção, Químic, Hotelri, Direito, Biologi, Históri, Geogrfi, Mtemátic, entre outrs. A grnde miori dos pós-grdundos cursou grdução num instituição privd (70%). Outro ddo de interesse é que 80% dos pós-grdundos disserm exercer um tividde remunerd. Trblhm e estudm o mesmo tempo. A miori dos que trblhm são docentes n educção básic (23%) ou no ensino superior (19%); 10% são supervisores de ensino e 8% professores-coordendores. Indgdos sobre o que buscm n pós-grdução, os motivos mis indicdos form: tulizção profissionl (22%) e dquirir novos conhecimentos (21%), seguidos de ingressr ou mnter-se n docênci (17%) e prender fzer pesquis (14,4%). O que temos oferecer um luno que: tem formção em áres muito diversificds e pouco domínio dos conceitos básicos d áre de educção; completou grdução em instituições que deixm muits dúvids qunto qulidde d formção; precis mnter o seu trblho enqunto curs pós-grdução; E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007 47

tem objetivos muito vridos, como: mnter seu emprego no ensino superior, scender no mgistério, brir um nov frente profissionl, resolver problems d prátic? Ess nov relidde dos lunos precis ser serimente considerd. Os pós-grdundos que inicim tulmente o mestrdo trzem um repertório bstnte pobre, que é resultnte d precriedde de nosso sistem educcionl. Têm defsgens muito séris de formção n áre específic, dificulddes de escrit e compreensão de texto e não dominm os conceitos básicos d áre de educção. Qunto os doutorndos, tmbém observmos muits dificulddes, sej no domínio d litertur d áre de educção, sej no domínio ds hbiliddes básics de pesquis. O que fzer dinte desse qudro? Prece que temos lguns desfios pel frente. Um deles é (re)pensr função socil d pós-grdução hoje. Qul é e qul deveri ser o ppel d pósgrdução? Se n su origem os progrms de pós-grdução tinhm um preocupção básic com preprção de professores pr o ensino superior, se n su consolidção, têm ddo ênfse à pesquis, como deve cminhr su evolução tul? Deve-se buscr um equilíbrio entre preprção de docentes pr o ensino superior, de pesquisdores e de profissionis que lmejm profundmento teórico, culturl, científico e tecnológico? Como tingir esse equilíbrio? Defrontmo-nos, ssim, com outro desfio: como lidr com ess nov relidde. O que temos feito pr mnter qulidde em nossos progrms de pós-grdução? Temos, por exemplo umentdo o número de disciplins obrigtóris pr o mestrdo e crido seminários e estudos independentes pr o doutordo. Temos vlorizdo o exme de qulificção e temos sobrecrregdo os orientdores no momento de elborção d dissertção ou d tese. Ms, será que não hveri outros meios, outros recursos? Podemos e devemos orgnizr um put de discussão, que tenh como ponto centrl repensr os objetivos ou função socil d pós-grdução n áre, ms que não deixe de considerr lguns spectos estruturis como flexibilizção dos modelos 48 E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007

formtivos, o fortlecimento dos grupos de pesquis, e o intercâmbio de pesquisdores em âmbito institucionl ou interinstitucionl. Anlisemos mis detidmente cd um desses spectos. Flexibilizção dos esquems de formção Qundo flmos em flexibilizção dos modelos formtivos n pós-grdução, estmos nos referindo lterntivs que fujm à estrutur trdicionl dos cursos e disciplins semestris. Será que não podemos pensr em cursos trimestris, por exemplo? Mis compctos e focdos? Ou em progrms intensivos, que inclum tnto leitur dos clássicos d áre, qunto o desenvolvimento de disciplins instrumentis, como de leitur e compreensão de textos? Se nossos lunos de mestrdo chegm sem domínio básico d escrit ou dos conceitos d áre de educção, precismos pensr em estrtégis pr superr esss dificulddes. Não podemos repetir quel idéi corrente entre muitos professores d educção básic que esperm lunos sem dificulddes ou sem defsgens e que culpm os lunos ou seus professores nteriores por não terem prontidão necessári. Temos que superr tmbém tendênci de deixr solução pr inicitivs individuis dos docentes e buscr construir proposts do curso ou do progrm de pós-grdução. Como diz Bernrdete Gtti (2001, p.112): Temos de enfrentr o conformismo o modelo único, de finlidde únic, e buscr forms orgnizcionis que tornem o espço d pós-grdução espço no qul de fto se exercite explorção intelectul de problems e tems, em tempo dequdo vridos tipos de lunos, permitindo eles gestão desse tempo em limites rzoáveis, propicindo o cesso conhecimentos e à mplição culturl, grupos diferencidos e profissionis que trblhm. Será que simplesmente rejeitr lterntiv dos mestrdos profissionis é melhor solução? Não terímos que discutir melhor ess propost? E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007 49

Grupos de psquis: espços de formção Outr frente importnte pr se repensr pós-grdução em educção é trnsformr os grupos de pesquis em instâncis verddeirmente formdors. Se o CNPq teve o grnde mérito de induzir crição dos grupos de pesquis e su institucionlizção, não podemos deixr que se tornem mer formlidde, ou o cumprimento de um norm burocrátic. Precismos fzer com que se trnsformem em espços formtivos, colborndo pr consolidção ds linhs de pesquis e pr o melhori dos trblhos científicos. Os grupos de pesquis podem constituir um form muito interessnte de preservr o nível de qulidde ds dissertções, fce o encurtmento dos przos de mestrdo. Se os progrms de pós-grdução oferecerem o mestrndo oportunidde de inserção num projeto coletivo, em que sej possível (com)prtilhr de um referencil teórico comum e o mesmo tempo desenvolver, poido pelo grupo, um ângulo específico de um problemátic mis mpl, o trblho finl poderá vir tingir um nível de qulidde melhor do que se feito isoldmente. No doutordo, os grupos de pesquis tmbém podem ser um bo lterntiv tnto por proporcionr oportunidde os pós-grdundos de discussão coletiv e de troc com pesquisdores mis experientes (os docentes do progrm), qunto por oferecerem um lbortório de prendizgem de orientção de trblhos científicos. Afinl, os doutorndos são os orientdores de mnhã e possivelmente serão tmbém líderes de grupos de pesquis. Nos espços cridos pelos grupos de pesquis, esses futuros orientdores terão oportunidde de prender lidr com os embtes próprios o trblho coletivo, que envolvem tnto tensões intelectuis qunto emocionis e estrão, ssim, se preprndo pr enfrentr questões similres em seus contextos institucionis. Ms, lém de espços de formção de pesquisdores, os grupos de pesquis podem judr consolidr linhs de pesquis, profundr fundmentção teóric dos trblhos e reduzir s frgiliddes metodológics tão freqüentes nos estudos d áre. O trblho conjunto de pessos com formções diferencids, 50 E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007

perspectivs teórico-metodológics e experiêncis vrids pode contribuir pr o melhor delinemento do perfil do curso e pr o fortlecimento d pesquis em educção. Intercâmbios inter-institucionis Qunto o intercâmbio de grupos de pesquis, s inicitivs podem ocorrer tnto entre pesquisdores de diferentes áres do conhecimento de um mesm instituição, interessdos n investigção de problemátics comuns, qunto entre pesquisdores de diferentes instituições. Citndo novmente Bernrdete Gtti (2001, p. 112-113), temos que crir condições de promover conhecimentos interconectdos, fcilitndo o cesso de professores e estudntes outrs áres disciplinres, for de su especilidde específic; estbelecer intercomunicções entre áres; fcilitr cminhos pr que se desenvolvm em métodos de nálises interdisciplinres, promovendo seminários conjuntos, projetos de pesquis interdisciplinres, colóquios; crindo cmpos interdependentes de estudo ou outros mecnismos que lrguem s possibiliddes de insights em conhecimentos que são, o mesmo tempo, básicos em um especilidde ms que necessitm de portes de outros cmpos. Esse intercâmbio de idéis, tividdes e empreendimentos conjuntos pode ocorrer no interior ds universiddes ou entre progrms de diferentes regiões do pís, ou ind entre grupos de diferentes píses. Discutir s possibiliddes, no entnto, não signific que estmos nos esquecendo ds condições necessáris à produção de trblhos científicos n pós-grdução. Questões como o curto tempo de titulção do mestrdo, disponibilidde escss de bolss de estudo ou de outros poios finnceiros, de uxílios pr pesquis e pr prticipção em eventos científicos devem ser objeto de discussão por prte de tod comunidde e de lut junto os órgãos responsáveis pel vlição e pelo fomento. Questões como disponibilidde de recursos bibliográficos e midiáticos, de espços pr encontros e reuniões, oportuniddes pr produção e divulgção de trblhos científicos precism fzer prte dos projetos de pós-grdução. Enftizmos, té gor, fce um nov relidde e um E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007 51

novo tipo de luno, necessidde de repensr tnto os objetivos d pós-grdução, qunto su estrutur e funcionmento. Ms não bst pens repensr o ensino e s tividdes de formção há que se repensr muito serimente situção tul d pesquis em educção. Institucionlizção d pesquis educcionl A históri d pesquis educcionl no Brsil está muito ssocid à históri d pós-grdução. Foi no início dos nos 70 que começrm ser implntdos os cursos de pós-grdução stricto sensu: entre 71 e 72 form cridos dez cursos e em 75 já hvi 16. Esse crescimento bstnte rápido dos cursos triu os recursos humnos com mis lto nível de formção. Ao mesmo tempo, ssiste-se à expnsão dos qudros ns universiddes. Intensific-se formção de recursos humnos no exterior e no retorno desses professores pr integrr os progrms de pós-grdução, tem-se, como diz Gtti (1983, p.4) s condições institucionis ns quis prioritrimente pesquis em educção e formção de seus recursos humnos se frá prtir de então. Em 1971 é crido o Deprtmento de Pesquiss Educcionis d Fundção Crlos Chgs, em São Pulo, coordendo por Bernrdete Gtti, que reúne um grupo de pesquisdores de lto nível e dá um impulso substntivo à pesquis em educção. A pesquis té então se restringi inicitivs individuis e projetos induzidos pelo INEP (Instituto Ncionl de Estudos e Pesquiss Educcionis) pr subsidir s polítics educcionis. Com crição dos cursos de pós-grdução, há um deslocmento d produção científic pr s universiddes e, segundo Gtti (1983), podem ser notds mudnçs ns temátics e metodologis d pesquis educcionl. Por exemplo, há um distribuição mis eqüittiv dos estudos entre s problemátics estudds: currículos, vlição de progrms, crcterizção de redes e recursos eductivos, relções entre educção e trblho, crcterístics de lunos, fmílis e comunidde, nutrição e prendizgem, vlidção e crític de instrumentos de dignóstico e de vlição, estrtégis de ensino. Aprecem estudos sobre polític educcionl e nálises institucionis, tems té então 52 E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007

quse usentes. Gtti (1983, p. 4) tmbém pont mudnçs nos enfoques: uso de um referencil teórico mis crítico e de instrumentos quntittivos mis sofisticdos de nálise. No entnto, pesquisdor lert pr lgums questões importntes, como os modismos n importção de modelos de outrs culturs e precriedde teórico-metodológic de certos estudos. Ns dus décds posteriores, o número de estudos e pesquiss cresce muito, ms s crítics persistem. Em váris vlições de pesquiss, sej qundo fonte de ddos são os trblhos de mestrndos e doutorndos (WARDE, 1993), sej qundo são s pesquiss em gerl (GATTI, 2001b; ALVES MAZZOTTI, 2001), os utores expressm preocupções comuns: pobrez n bordgem teórico-metodológic e modismos n seleção dos referenciis de nálise. E s pesquiss sobre formção de professores? Não é noss intenção repetir nálises e crítics sobre pesquis educcionl em gerl, ms foclizr lguns ddos extrídos de estudos integrtivos bstnte recentes sobre pesquis, n áre de formção de professores. Esses estudos nos permitem um olhr crítico sobre os vnços, problems e perspectivs num áre específic, ms significtiv no cmpo d educção. Em su tese de doutordo, defendid n UFMG (Universidde Federl de Mins Geris), Silvn Ventorim (2005) nlisou 77 trblhos presentdos nos Endipes (Encontro Ncionl de Didátic e Prátic de Ensino) o longo do período de 1994 2000, que tinhm como objeto o professor pesquisdor. Como fonte de nálise é pouco explord e bstnte representtiv d produção científic ncionl, pois brnge textos de pesquisdores de tods s regiões do pís, julguei interessnte reproduzir sus conclusões geris. Ventorim (2005) consttou que grnde miori dos trblhos foi originári de pesquisdores vinculdos o ensino superior público (85%). As instituições de ensino superior estduis presentrm o mior número de trblhos (49%), seguids ds instituições federis (35%) e privds (16%). O mior número de trblhos sobre o professor pesquisdor concentr-se n Região Sudeste (61,76%), seguid d Região Sul (30,97%), d Região E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007 53

Nordeste e Centro Oeste (2,94%), e Região Norte (1,96%). Qunto os referenciis dos trblhos, Ventorim (2005, p. 186-187) verificou que no corpus dos 77 trblhos form feits 279 citções de utores, que possivelmente indicm direção teóric do estudo. Os utores mis citdos form: Zeichner (17 indicções), Nóvo (14), Schon (14), Perrenoud (10), Elliot (10), Kincheloe (5), Kemmis (5), Popkewitz (4), Giroux (4), Pérez Gómez (4), Stenhouse (3). Dos utores brsileiros, os mis citdos form: André (18), Lüdke (11), Demo (11), Gerldi (10), Freire (8), Mrin (7), Piment (7), Cndu (5), Gtti (5), Fzend (5), Dis d Silv (5), Cunh (5), Slles Oliveir (4), Giovnni (4), Mrtins (3) e Krmer (3). A utor discute s contribuições ds diferentes áres do conhecimento e conclui que: N configurção teóric, form percebids evidêncis do diálogo entre diferentes áres, como Históri, Biologi, Lingüístic, Filosofi e Sociologi. Além disso, pôde-se ver o investimento de muitos utores em trduzirem-se pr seus contextos específicos. No cso do diálogo com utores d educção e d formção do professor pesquisdor, percebeu-se um vinculção excessiv com os utores estrngeiros, o que demonstrou or um cert dependênci, ou mesmo um proprição crític, e or um cuiddo metodológico em contextulizr produção sobre o ssunto como tmbém um proprição mis consciente (p. 187-188). Qunto bordgem metodológic, Ventorim (2005, p. 177) verificou que 74% dos trblhos não indicrm bordgem metodológic, fto que, segundo el, merece tenção, pois precem que se desutorizm d condição de pesquis qundo não ssumem explicitmente opção metodológic seguid, especilmente por serem trblhos que trtm do tem pesquis. Ess observção nos prece grve porque revel um frgilidde inceitável em um trblho científico. Qunto o locus d colet de ddos, miori dos trblhos se volt pr prátic escolr do ensino básico, o que é bstnte positivo, pois s questões e problems nesse nível de ensino merecem tod tenção possível. Pr complementr esses ddos, buscou-se um fonte que 54 E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007

brnge exclusivmente produção discente: s dissertções e teses defendids nos progrms de pós-grdução em educção do pís. André (2000) e su equipe fizerm um blnço ds pesquiss sobre formção de professores, levndo em cont s dissertções e teses defendids no período de 1990 1998 nos progrms de pós-grdução em educção do pís. A nálise de 410 resumos desses trblhos evidenciou que 72% investigvm questões relcionds os cursos de formção inicil, 17,8% foclizvm proposts, progrms e cursos de formção continud e 10,2% o tem d identidde e profissionlizção docente. A nálise mis curd ds temátics revelou grnde pulverizção. A mior incidênci ds pesquiss tinh seu conteúdo voltdo pr um disciplin pedgógic ou específic (109 estudos), o que levou utor concluir que: Tornm-se conhecidos pens frgmentos dos cursos, perdendo-se ns prticulriddes visão brngente de cd um deles. Há muit redundânci de conteúdos, de form, de bordgem e pouc explorção de spectos e questões tuis, como s de rç e gênero, violênci, drogs, (in)disciplin, meios de comunicção, informátic e questões culturis de vários tipos (ANDRÉ, 2000, p. 89). Ao exminr bordgem metodológic utilizd nesses estudos, utor verificou que 1/4 (106) nlisv um cso, sej um curso, um disciplin, um turm, um grupo de docentes. Consistim em gerl, em estudos vlitivos, relizdos no próprio contexto de trblho do pesquisdor, visndo conhecer um porção bstnte restrit d relidde. Outro tipo de pesquis freqüente er nálise de depoimentos (53), vindo seguir o relto de experiênci (37), pesquis teóric (31), nálise d prátic pedgógic (31), pesquis históric (29), pesquis-ção (24), nálise de polítics e proposts (23), nálise documentl (15), o levntmento (13), pesquis etnográfic (10), nálise de discurso (8), nálise de livro didático (6), históri de vid (6), os estudos comprdos (4), vlidção de mteril (5), nálise de custo (1), o estudo longitudinl (1) e em qutro estudos bordgem não foi identificd. A continuidde desse blnço ds pesquiss, cobrindo o E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007 55

período de 1999 2005 está em ndmento, com o objetivo de verificr se os interesses dos pesquisdores se mntiverm o longo desses sete nos ou se houve mudnçs nos tems e ns bordgens metodológics. Ms, como ess é um tref enorme, que demnd muito tempo, foi relizdo um estudo intermediário por André (2005) e su equipe, comprndo ddos ds dissertções e teses defendids em 1992 e 2002, com o propósito de investigr quis s mudnçs ocorrids ness décd. Um conclusão gerl desse estudo comprtivo foi o grnde umento interesse dos pós-grdundos pel temátic d formção docente. N décd de 90 porcentgem de trblhos que investigv ess temátic ficou em torno de 6%, ms em 2002 encontr-se um percentul de 25%. É muito provável que esse crescente interesse estej ligdo às polítics governmentis que têm tribuído à formção docente um ppel fundmentl n melhori d qulidde d educção escolr, e à mídi e orgnismos externos de finncimento d educção, que têm enftizdo sobremneir o peso d formção de professores no sucesso ou frcsso escolr. Outro resultdo importnte do estudo foi mudnç nos conteúdos ds pesquiss sobre formção docente. Se em 1992 45,7% ds pesquiss investigv formção inicil, 25,7% formção continud e 20% o tem d identidde e profissionlizção docente, em 2002 esse qudro se lter substntivmente. Apens 24% ds pesquiss trtm dos cursos de formção inicil, enqunto 37,6% investigm o tem identidde e profissionlizção docente e 25% formção continud. A mudnç foi, sobretudo, de foco: os cursos de formção ficrm em segundo plno e quem gnhou destque foi o professor: sus opiniões, representções, sberes e prátics e su identidde profissionl. Qunto bordgem metodológic utilizd ns pesquiss dos pós-grdundos, observou-se tmbém um grnde mudnç dos nos 90 pr os nos 2000. Se em 1992, 28,6% dos trblhos nlisvm um cso, em 2002 esse percentul ci pr 11,5%. No entnto, nálise de depoimentos, que em 1992 compreendi 8,6% dos trblhos, em 2002 sobe pr 22,9%. Os percentuis dos outros tipos de pesquiss não se lterrm substntivmente, não ser s históris de vid que pssrm de 2,8% pr 5%. Pôde-se 56 E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007

observr que surgirm novos tipos de pesquis em 2002, como pesquis colbortiv e nálise de prátics discursivs. Outro fto importnte foi qued no percentul de trblhos que não mencionv bordgem metodológic: em 1992 erm 25,7%, já em 2002, pens 11% dos trblhos deixrm de fzê-lo. Outros ddos interessntes puderm ser observdos n nálise ds técnics de colet de ddos. Tnto em 1992 qunto em 2002, o documento foi um ds técnics mis utilizds (20%) ns pesquiss dos pós-grdundos. Já entrevist teve um crescimento muito grnde: em 1992 foi menciond por 5% dos pesquisdores, ms em 2002 integr 27,7% dos trblhos, o que é bstnte coerente com o crescimento ds pesquiss do tipo nálise de depoimento. Um fto muito sugestivo ind foi o reprecimento do questionário como técnic de colet. Em 1992, nenhum estudo indicou o uso dess técnic, já em 2002, 10,7% dos trblhos o fizerm. Prece que o preconceito pelos estudos quntittivos está diminuindo. Um fto bstnte positivo foi qued no número de trblhos que não mencionvm técnic de colet de ddos utilizd: em 1992, 46% omitim esse ddo, ms em 2002 pens 15,3% o fizerm, o que prece indicr que os pesquisdores estão mis tentos às questões metodológics. Interessnte tmbém foi verificr que em 2002 muitos pesquisdores pssrm combinr técnics de colet, como por exemplo entrevist e nálise documentl, entrevist e o questionário, entrevist, questionário e documento, o que revel um preocupção com nálise multidimensionl ds questões pesquisds. Nos nos 2000 surgem novs técnics de colet com o grupo focl, entrevist coletiv, o grupo de discussão e o diário reflexivo. Alguns problems identificdos ns pesquiss de 2002 form um cert frgilidde nos fundmentos teóricos há muit citção de utores, em gerl estrngeiros, sem um esforço pr contextulizr sus proposts; tmbém fic pouco evidente qul o eixo condutor do trblho ou o conhecimento produzido pel pesquis. Notou-se ind um frgilidde metodológic nos trblhos: flt de clrez qunto o objeto de estudo - formção de professores ; qunto os fundmentos d bordgem quli- E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007 57

ttiv e qunto s metodologis de pesquis, de modo gerl. Esss consttções nos cusm muit preocupção porque revelm quão precári tem sido orientção dos trblhos de mestrdo e doutordo. É urgente que discutmos o processo de orientção nos cursos de pós-grdução. Em que condições trblhm os orientdores? Est questão nos lev um outr mis mpl e mis rdicl: quis s condições de produção do conhecimento científico no Brsil? Se considerrmos situção dos progrms de pós-grdução, onde se produz mior prte ds pesquiss, verificmos que houve um deteriorção nos últimos nos. O número de lunos de pós-grdução cresceu muito, o przo pr titulção foi reduzido, ms os recursos humnos, mteriis e finnceiros não compnhrm esse crescimento e os modelos formtivos permnecerm inlterdos. Com s posentdoris de muitos docentes e reposição pens prcil desses qudros, houve sobrecrg dos que permnecerm, sej com uls, sej com comissões, trblho dministrtivo, sej com orientção, o que certmente tem fetdo qulidde dos trblhos. O poio finnceiro pr pesquis dos docentes diminuiu nesses últimos nos, ficndo prticmente restrito o CNPq e, em lguns estdos, às Fundções de Ampro à Pesquis. A competição umentou porque o número de doutores elegíveis pr cptr recursos tmbém cresceu muito, ms disponibilidde de recursos não cresceu n mesm proporção. Se considerrmos s condições dos pós-grdundos, observmos que o qudro tmbém não é nimdor. As bolss de estudo não são suficientes pr todos. Muitos lunos precism mnter seu trblho enqunto cursm pós-grdução, sej pr grntir seu emprego, sej pr própri mnutenção. Como desenvolver um bom trblho de pesquis com pouc disponibilidde de tempo e com um orientdor sobrecrregdo? Voltmos, ssim, o ponto inicil deste texto, qundo enftizmos necessidde de repensr o modelo tul d pósgrdução. E crescentmos gor necessidde de nos envolvermos num lut polític junto às nosss ssocições e os nossos representntes nos órgãos de fomento pr melhorr urgentemente s condições de produção do conhecimento cien- 58 E DUCAÇÃO & L INGUAGEM ANO 10 Nº 15 43-59, JAN.-JUN. 2007

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