Os seguros em Portugal O impacto das novas regras na venda de seguros pela banca Solvência II aumenta custos do sector



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Transcrição:

Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n. o 2941, de 18 de Fevereiro de 2015, e não pode ser vendido separadamente. Os seguros em Portugal O impacto das novas regras na venda de seguros pela banca Solvência II aumenta custos do sector Projectos editoriais realizados em parceria. Todos os conteúdos são de jornalistas do Negócios caso nada se diga em contrário. Gabriel Bernardino, presidente da EIOPA Não há supervisão e regulação perfeitas José Almaça, presidente da ASF A responsabilidade é dos gestores Instanta Publicidade

II QUINTA-FEIRA 19 FEV 2015 NEGÓCIOS INICIATIVAS Seguros em Portugal DISTRIBUIÇÃO Nova directiva muda venda de seguros na banca Os mediadores querem que a banca cumpra a próxima directiva da distribuição. O supervisor concorda e salienta que a banca tem de fazer formação para vender seguros do ramo Não Vida. FILIPE S. FERNANDES Apróxima transposição da directiva da distribuição está a servir para a associação dos mediadores exigir que nadistribuiçãodesegurostodososparticipantestenhamarmasidênticasesejam supervisionados da mesma forma, quenãoaconteciaatéagora referiu LuísCervantes, presidentedaassociaçãoportuguesadamediaçãoprofissional de Seguros (Aprose) nasegunda conferência Os Seguros em Portugal, realizada no passado dia 13 de Fevereiro no Hotel Sheraton em Lisboa. Se a banca quiser vender produtos Não Vida que tenha formaçãoeestejapreparadaparaexplicaros produtos acrescentou. OpresidentedaAutoridadede Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), José Almaça, referiu nasuaalocução que este canal de vendas deve reforçarasuaespecialização e exclusividade atendendo sobretudo ao relevo em matérias como aanálise de risco e assistência pós-venda. Acrescentou aindaqueéprementequeosoperadores bancários invistam na área da formação e especialização nos ramos Não Vida. Por sua vez, António Pedro Silva, director da Rede de Lojas dos CTT referiu que tal como a empresa cumpre a actual lei da mediação, assim fará com a directiva da distribuição. O principalalvo de Luís Cervanteséabancaquecriticaportertomado,oqueconsidera,posiçõesabusivas de mercado como porexemplo o uso de informação dos clientes. Quandoumdeterminadoconsumidoradquire o seu seguro num canal de distribuição de um seguro faz o seu pagamento por domiciliação bancária.élegítimoqueobancoque estáafazeressepagamentouseessa informaçãoprivilegiadaparaimediatamente fazer uma campanha de outbound paravenderumseguroa umpreçomaisbarato? interroga-se Luís Cervantes. AAprose vai apresentar uma petição à Comissão Nacional de Protecção de Dados para quesepronunciesobreestasituação. PedroSeixasValeconsideraestaposiçãoabusiva. AmaralTomás, administradordobancodeportugal,afirmou que se a CNPD disser que aquelainformaçãonãopodeserusadaobdpeasrestantesinstituições acatarão essadecisão. A guerra entre banca eseguros Luís Cervantes questionou também a legitimidade da banca para fazer o que denominou vendaforçada. Consideranormal que obanco,quandofazumcrédito, Élegítimo que o banco que está a fazer esse pagamento [de um seguro num canal de distribuição] use essa informação privilegiada para imediatamente fazer uma campanha de outbound para vender um seguro a um preço mais barato? LUÍS CERVANTES Presidente da Aprose Para as seguradoras a venda através do canal bancário tem sido a mais rentável nos últimos anos. PEDRO SEIXAS VALE Presidente da Associação Portuguesa de Seguradores aproveite o momento de venda parafazero cross-selling de produtos de seguros. Mas questionase élegítimoqueoclientetenhade ficarpreso aesse contrato avidainteira sob pena de sofrer penalizações sobre o custo do crédito. PedroSeixasValetemumaperspectiva mais ampla sobre a relação entre o sectordos seguros e dabanca. Adistribuiçãodosseguroséhoje de umagrande capilaridade emque aos bancos, mediadores e seguradoressejuntamosctteavendaonline,tendocercade35mila40mil pontosdevenda.noentanto,em termos de volume de prémios 60% são obtidos pela banca e 40% pelos mediadores, emtermosderemuneraçõesarelaçãoéde40%-60equantos aos resultados do sector 80% vemdabancae20%dosmediadores justificapedro Seixas Vale. Os bancosretiramdavendadeseguros umrendimentoelevado. Paraasseguradoras a venda através do canal bancário tem sido a mais rentável nos últimos anos concluiu. ParaLuís Cervantes o facto de a directiva da distribuição combater oconflitodeinteresseseseorientar pela defesa do consumidor pode criarmenosapetiteemenoscondições para produtos que são derivados de depósitos a prazo. Do seu ponto de vista, o peso da banca na distribuiçãodesegurosdeve-semuito aos seguros de capitalização: o seupesonototaldeprémioscolocadospelabancaémuitogrande,pois são quase 6 mlmilhões de euros em seguros de capitalização, o que consomequaseaquotade60%,enão sãomaisdoqueprodutosderivados de produtos de aforro com vantagens fiscais. Mas não é aquele produto tradicionalde aforro das seguradoras de longo prazo e são muitas vezesoptimizaçõesdedentrodos departamentosfinanceirosdosbancos. Mas para Pedro Seixas Vale, para gestores de poupanças como sãoossegurosaredededistribuição dosbancosémuitointeressante. Apesardissonãodeixoudesalientar que, por causa dos seus problemas mastambémporcausadesolvência II, que vai trazer vai trazer grandes mudançasnasdefiniçõesdecapital, nos modelos de governação e nos modelos de informação, as relações entreabancaeossegurosestãoatomar outras formas, com as seguradoras a ganharem autonomia e diminuírem o número de grupos financeiros de bancaassurance.

QUINTA-FEIRA 19 FEV 2015 SUPLEMENTO III Sara Matos Os próximos desafios dos seguros João Amaral Tomaz, do Banco de Portugal, Pedro Seixas Vale, da APS, Luís Cervantes, da Aprose e António Pedro Silva, dos CTT, debateram a distribuição. Pedro Seixas Vale, presidente da APSprocuroureflectirsobreospróximos desafios do sectorsegurador, que são sobretudo o Solvência II e oambientemacroeconómico. Este não está favorável pois as taxas de juromuitobaixasestãoacausargravíssimos problemas na gestão das poupançasedosprodutosqueasseguradoras venderam. Focou também aspectos que têm a ver a eficiência do ramo Não vida. Na área de Não Vida as seguradoras têm de fazer um esforço de reduçãodecustoseaumentarasua eficiência. Os custos de gestão do sectorseguradorsão30%, oscustos deumaredededistribuiçãoandam àvoltade20%eoscustosdegestão interno em torno de 10%. É de pensar se se deve manter esta situação. Háseguradorasquesãoeficientíssimasnestaárea.Alertouaindapara o facto de haver algumas situações específicasquetemosderesolverde uma forma melhor e que têm a ver sobretudocomarentabilidadedealgumas áreas relativas à Não Vida, comoosacidentesdetrabalho,eque só se resolve no tempo. FILIPE.S.FERNANDES SUPERVISÃO Queixas e reclamações na área financeira O mercado de retalho de produtos financeiros funciona com a supervisãoeregulaçãodobancode Portugal, CMVM e ASF, que tem as suas competências específicas. Porissoéimportantequehaja uma definição clara da actuação de cada uma destas instituições RENTABILIDADE A vantagem da fidelização dos clientes PedroSeixasValerealçou queháum factor essencial para a rentabilidade das seguradoras, independente do modelo de distribuição. É afidelizaçãodosclientes. Opresidenteda APS citou um estudo feito por uma seguradorafrancesa. Refere-se que nospaísesmaismaduros,afidelização dos clientes é fundamental na rentabilidade dos portefólios. É um elemento mensurável. Um aumento de 1% na fidelização de clientes referiu Amaral Tomás, administrador do Banco de Portugal. Frisou que na supervisão comportamental existe uma coordenação e articulação entre as três instituições. Fazem chegar a quem compete as diferentes reclamações e queixas dos consumidores e dá-se conhecimento ao reclamante de quem tem competência regulatória e controle daquela situação. Com esta regulação tripartida há sempre o risco de haver zonas cinzentas e risco de haver algum conflito. Essas situações são dirimidas aoníveldoconselhonacionalde Supervisores Financeiros em que os assuntos comuns são debatidos etenta-sechegaraumasolução. Amaral Tomás revelou que existe um grupo de trabalho no âmbito do ministério da Economia para fazer a desmaterialização do livro de reclamações. aumentao resultado dessacarteira em 1,5 a 1,85%. Pela sua natureza a fidelização é maior quando o cliente tem mais do que um seguro na mesma companhia e é sobretudo muito elevada a partir de uma carteirade três seguros. O valoracrescentadodeumacarteiradefidelizaçãoelevada, quesemantenhaentre um a cinco anos para a seguradora e parao mediador, variaentre 1 a3, istoépodeaumentaraté200%. Taxas de juro muito baixas estão a causar gravíssimos problemas na gestão das poupanças e dos produtos que as seguradoras venderam. PEDRO SEIXAS VALE Presidente da Associação Portuguesa de Seguradores

IV QUINTA-FEIRA 19 FEV 2015 NEGÓCIOS INICIATIVAS Seguros em Portugal GESTÃO Solvência II aumenta custo de estar no mercado segurador Este novo regime exige mais qualificações e requisitos à gestão e à organização. Impõe também maiores fluxos de informação porque as escolhas implicam riscos e estes capital. O Solvência II implica uma gestão apurada dosriscoseestanãoé possívelsemumnovosistemadegovernação consideravítorreis,directorfinanceirodamapfreportugal, evice-presidentedamapfre-seguros de Vida. Em termos de governaçãoesteregimetorna-semaisexigenteparaasadministraçõesquepassam atermaioresresponsabilidadesetêm defazerumagestãotendoemconta osriscosobrigandoanãoestarmossó focalizadosnarentabilidadequepretendemosatingir,mastambémosriscos que estão subjacente às escolhas quetemosdefazerparachegaraesses objectivos como referiu Jorge Lima,manager dodepartamentode Internal Control, RiskManagement & CompliancedaGenerali. Poroutrolado,asalteraçõeseos requisitos em termos de estrutura implicamaexistênciadequatrofunções-chave (autoria interna, actuarial, gestãoderiscoecompliance ). Alémdisso,osprincípiosdeprudência, quejásãoassumidospelosector segurador desde a sua génese, com SolvênciaIIvãoestartangíveis, escritos, definidos. As pessoas vão ter que saber qual é a sua função, fica constância escrita das decisões que tomam. RitaCosta, partner daey, assinalaque entraem jogo o papel Sara Matos Helena Garrido, do Jornal de Negócios, moderou o painel com Jorge Lima, da Generali, Marta Alarcão Troni, da Liberty, Vítor Reis, da Mapfre e Rita Costa, da Ernst&Young. FILIPE S. FERNANDES Solvência II implica uma gestão apurada dosriscoseestanãoé possível sem um novo sistema de governação. VÍTOR REIS Director financeiro da Mapfre Portugal do know-how e das competências que a governance tem de ter, acrescentandoqueseasequipasactuarial,gestãoderiscoeauditoriainterna confrontarem a administraçãocomumadecisãoeseestanãotiver knowhow paraadesafiar,adecisão pode sererrada. Mais fluxos de informação Como resume Marta Alarcão Troni, administradorafinanceirada Liberty Seguros, existem muitos riscos na nossa actividade que têm de serquantificados e que os conselhos de administração têm de saber aimplicação que podem terem termos de capital. Estagestorachama ainda a atenção para a necessidade dosfluxosdeinformaçãopercorreremaorganização e de asualinguagem ser compreendida por todos: nasfunçõeschavetêmdeestarcom pessoas muito preparadas mas que a informação tem de fluir pela empresa. Estainformaçãonãopodeter só aformade relatórios que quantificamdeterminadosriscosequedepoisninguémentendaoquesedeve fazerem relação aisso. Para Jorge Lima com o Solvência II o custo de estar no mercado seguradoraumentou.tudoistogera umencargoparaasseguradorasque derivadeumconjuntodeexigências regulamentares,oqueécompletamentediferentedoquejátínhamos visto. VítorReis concorda: o estabelecimentodefunçõesquenão existiam de forma tão formal como afunçãoactuarialouafunçãodegestãoderisco, temimpactonoscustos daseguradoraemtermosdeorganização. Mas temos de ver o que vai aportare que benefícios vaitrazera médioelongoprazonaprópriarentabilidade da seguradora e do sector.

QUINTA-FEIRA 19 FEV 2015 SUPLEMENTO V CONFERÊNCIA O sector segurador em debate A conferência Os Seguros em Portugal reuniu, no dia 13 de Fevereiro no Sheraton Lisboa Hotel, alguns dos principais intervenientes no sector. Em debate estiveram as implicações do novo quadro regulatório. A importância de se chamar ORSA Esta estrutura organizacional está também sob um olhar mais atento dos supervisores e dos reguladores,oqueresultadosregimesde idoneidadeedepreparação(fitand proper ) equeobrigamasempresas aterde demonstrarque as pessoas que lideramas seguradoras ao nível da gestão de topo e nas chamadas funções-chave têm de facto aquilo queénecessárioemtermosdecompetênciaedeidoneidadeparadesempenhar esses papéis explica Jorge Lima. O Solvência II tem por base os riscos e asuaquantificação em termosdecapital.porissoasiglahoje mais relevante no mundo segurador é do ORSA (Own Risk and SolvencyAssessment) que foitraduzida para português como avaliação dosprópriosriscosesolvência.muitos consideram o ORSA o coração de Solvência II e que surge como umaferramentademitigaçãoderiscosedeprevençãocontratempos mais complexos e que auxilia uma seguradoraaavaliar, regularmente, osseusprópriosriscoseníveisde solvência. Este instrumento é vital paraamudançaqueseregistounos seguros. Como explica Marta AlarcãoTroni,OregimedesolvênciaII surgiuporque o anteriorestavaobsoleto. Por exemplo, o requisito de capital baseava-se numa fórmula matemáticaenãotinhaemcontaos riscos. Até agoratemos funcionado comumavisão estáticae paratrás e o que queremos são companhias de seguros que estejam preparadas paraenfrentaro futuro, sejam sólidas e possam honrar os seus compromissos. Paratal têm de ter uma filosofiaemtodaasuaformadeactuar em riscos e para sua quantificação. Actuários precisam-se Como o regime de Solvência II há também uma mudança no perfil das qualificações nas esferas técnicas das seguradoras. As denominadas quatro funções chave que são a auditoria interna, a gestão de risco, o actuariado e a compliance vão ter de dotar-se conhecimentos mais técnicos. Nesta alteração quem parece sair a ganhar são os actuários, que ainda não abundam porque, como resume lapidarmente Jorge Lima da Generali, Portugal é um país parco em conhecimentos de matemática. Rita Costa da EY reforça que não há muito actuários no mercado mas que todas as outras funções chave, como a gestão de risco, a auditoria interna, por exemplo, vão ter de se deixar embeber nos saberes próprios do actuariado. Exercícios práticos de gestão Para Rita Costa, partner da EY, as seguradoras deviam utilizar os mecanismos e as ferramentas para exercícios regulamentares de apoio à tomada de decisão. Por exemplo, a banca utilizou os testes de stress sempre como mero exercício e não como apoio à tomada de decisão, o que foi um erro segundo Rita Costa. Por isso considera que é importante que as seguradoras utilizem essas ferramentas (os exercícios que a EIOPA define como regulamentares) e que utilizem os resultados no apoio à decisão e à concepção de novos produtos. Existem muitos o riscos que têm de ser quantificados e que os conselhos de administração têm de saber a implicação. MARTA ALARCÃO TRONI CFO da Liberty Seguros Conversa custo de estar no mercado segurador aumentou [por causa das exigências regulamentares]. JORGE LIMA Manager do departamento de gestão de risco da Generali animada no intervalo da conferência anual sobre o sector segurador em Portugal. António Pedro Silva, director da rede de lojas dos CTT, aproveitou a pausaparalerojornalde Negócios.

VI QUINTA-FEIRA 19 FEV 2015 NEGÓCIOS INICIATIVAS Seguros em Portugal GABRIEL BERNARDINO, PRESIDENTE DA EIOPA Não há supervisão e regulação perfeitas Para o presidente da EIOPA, regulador europeu de seguros e fundos de pensão, o novo regime implica conhecimento dos riscos, transparência e boas práticas de gestão. Tudo em nome dos consumidores. A supervisão e a regulação enfrentam três grandes desafios. Em primeiro lugar a implementação do SolvênciaII,oimpactodoprolongado ambiente de baixas taxas de juro e aadaptação aum novo paradigma no tratamento dos consumidores resumiu Gabriel Bernardino, 51 anos, que desde 2011 é o presidente daeuropeaninsuranceandoccupationalpensionsauthority(eiopa). Defende a supervisão e a regulação baseadasnosriscoscomoéosolvênciaii, que começou aserimaginado em 1999. Esse regime tem por base princípiosquepermitemumalinhamento entre os riscos e o capital necessário parao gerir, incentivaboas práticas de governação e de gestão e fomentaumatransparênciaacrescidaeumasupervisãomaiseficazpara protecção acrescida para os consumidores. Mas o regime de Solvência II não é perfeito, porque não háregimedesupervisãoearegulaçãoperfeitos concluiugabrielbernardino. Oúltimotestedestresseuropeu, realizado no final do ano passado, mostravaumsectoreuropeuaparentemente capitalizado, mas existiam 14%dasempresasdessaamostraque tinham um rácio de requisito de capitalinferiora100%.aeioparecomendouaos supervisores nacionais querealizassemumrigorosoexame sobre o nível de preparação das empresas para aplicar o Solvência II, com particular ênfase nas situações em que as empresas tenham necessidade de efectuar aumentos de capitaloumudançasnasestratégiasde negócio oude investimentos. Em Portugal a ASF realizou recentemente um estudo de impacto alargadoatodoomercado,queidentificou as situações mais prementes paraprepararatempadamenteapassagemparaosolvênciaii.detectou, segundogabrielbernardino, que a carga de capital para o risco de concentração dos investimentos, o que mostraanecessidade de umamaior diversificação das carteiras de activos porparte de vários operadores. O novo sistemade governação é considerada por Gabriel Bernardinocomomaisestratégico poiso SolvênciaIIémaisdoqueumasignificativaalteraçãonaformadecalcular requisitos de capital. Um bom sistema de governação é um imperativo de boa gestão e passa a ser também um requisito regulamentar, oquerepresentaumaresponsabilização acrescida das administrações das empresas de seguros garante Gabriel Bernardino. O órgão deadministraçãodaempresadesegurosdeveasseguraraexistênciade processoseprocedimentoseficazes para evitar conflitos de interesse, identificareventuais fontes de conflito e definir a forma como os processos de decisão daempresalidam com esses conflitos. Juros baixos Oimpactodoambientedebaixas taxasdejuronosseguroséinevitável particularmente no que se refere aossegurosdevidacomgarantiasde taxa de juro de longo prazo como sublinhougabrielbernardino.nestescasos,aeiopadefiniuqueasautoridades de supervisão peçam planosderecuperaçãoàsempresascom negóciosquenãosejamsustentáveis. Existe uma clara percepção de que a abundante liquidez nos mercados financeiros tem conduzido a uma subavaliação do risco em diferentes classes de activos. GABRIEL BERNARDINO Presidente da EIOPA Gabriel Bernardino, presidente da European Insurance and Occupational Pensions Authority (EIOPA), fez o encerramento da conferência. Umadasregrasdeboagestãoem SolvênciaIIéqueogestordeseguros deve investir somente em activos e instrumentoscujosriscospossaidentificar,mensurar,gerirecontrolar adequadamente.gabrielbernardino alertou ainda para o facto de que existeumaclarapercepçãodeque a abundanteliquideznosmercadosfinanceiros tem conduzido aumasubavaliação do risco em diferentes classes de activos e se existiraemergênciadeumasúbitaegeralreavaliaçãodopreçodorisco,combinadacom esteambientedetaxasdejuromuito baixas, é umavulnerabilidade significativaparaosectorsegurador. Sara Matos

QUINTA-FEIRA 19 FEV 2015 SUPLEMENTO VII Aplicação uniforme em todos os países JOSÉ ALMAÇA, PRESIDENTE DA ASF A responsabilidade é dos gestores As lições da crise com o caso Tranquilidade Paraqueexistaummercado europeu de seguros regulado e harmonizado é preciso queosolvênciaiisejaaplicado de forma consistente emtodososmercadoseuropeus referegabrielbernardino. Istorequerumasupervisãoefectivaeconvergente em todos os estados membros no sentido de prevenir arbitragens regulatórias e garantir o chamado level playing field. Neste sentido, paragabrielbernardino, o papel da EIOPAé garantir e melhorar a qualidade e aconsistênciadasupervisão nos diferentes estados membrosereforçarasupervisãodosgrupostrans-fronteiras. Para esse efeito a EIOPAemitestandardstécnicos e orientações de supervisão para limitar as interpretações divergentes por parte das supervisões nacionais e fornece indicadores às seguradoras quanto às expectativas dos seus supervisores. Emite, ainda, opiniões em matéria de supervisão emborasemcaracter vinculativo. A EIOPA já começou os contactos bilateraiscomasautoridadesde supervisão nacionais sobre os principais riscos, aforma como são supervisionados e o Solvência II está a ser implementado. Analisaas práticasdesupervisãoefornece um feedback independente contribuindo para umaculturaeuropeiadesupervisão. O papel da EIOPA é garantir e melhorar a qualidade e a consistência da supervisão. GABRIEL BERNARDINO Presidente da EIOPA Com o regime de Solvência II é a gestão que assume as responsabilidades pelos riscos e estratégia das seguradoras diz o presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF). Sara Matos Osistema de governação em Solvência II éumconjunto de mecanismos que asseguram uma gestão eficaz, sã e prudente das actividades. Helena Garrido, directora do Jornal de Negócios, e José Almaça, presidente da ASF. O ano de 2015 será marcado por duas palavras, recuperação e adaptação, que têm de entrar no vocabulário dos gestores das empresas de seguros e fundos de pensões referiujoséalmaça,presidentedaautoridadedesupervisãodesegurose Subcontratar tarefas O regime de Solvência vai ainda ter impacto em questões organizacionais das seguradoras como a subcontratação. A ideia subjacente a SolvênciaIIéquesepodemcontratar tarefas mas não responsabilidades, por isso independentementedograudeexternalização que se adopte a responsabilidade última caberá, em última instância, à empresa que subcontrata. O presidente acrescentou ainda que tem de existir, em todos os casos de subcontratação de funções ou actividades fundamentais e importantes, um acordo escrito mesmo quando a subcontratação ocorra dentro do grupo ou se recorra à subcontratação intragrupo. Além disso, antes de fazera subcontratação, esta terá de ser comunicada à ASF. Fundos de Pensões (ASF), na aberturadasegundaediçãodeossegurosemportugal,queserealizouno hotelsheratonno passado dia13 de Fevereiro. Recuperação será a chaveparaocrescimentodosector, afidelizaçãodosclientes, amelhoriado serviçoprestado, oreequilíbriotécnico, nomeadamente dos acidentes de trabalho pois o princípio básico daactividade seguradoraé o equilíbriotécnico. Porsuavezacapacidadedeadaptaçãoserárequeridapara gerirnumambiente de baixas taxas de juro e para fazer a absorção de SolvênciaII. JoséAlmaçasublinhouqueafuturadirectivadadistribuiçãoéaplicávelatodososdistribuidoresenão apenas a mediadores. Tem como principais objectivos o reforço da protecção dos consumidores, a garantia de condições equitativas de concorrêncianadistribuiçãoeoaumentodograudeintegraçãodos mercados. JOSÉ ALMAÇA Presidente da AFS O princípio dos quatro olhos Aentradaem vigor a1 de janeirode2016doregimedesolvência II mereceu a especial atenção do presidente da ASF, que salientou quetemimpactoemquatrofunções-chave: gestão de risco, verificação do cumprimento ou compliance, auditoriainternae actuarial. Acrescentouqueo sistemade governação em Solvência II é um conjunto de mecanismos que asseguram uma gestão eficaz, sã e prudente das actividades e assenta numa estrutura organizacional adequadaetransparenteenumsistema eficaz de transmissão de informação e compreende entre outros aspectos umsistemade gestão de riscos incluindo aauto-avaliação do risco e da solvência ORSA que tem sido considerado um dos aspectos mais desafiantes do regime de sistema de controlo interno. Aindacom os fumos dos recentes episódios financeiros, aimplosãodobeseosefeitoscolaterais na Tranquilidade, destacou que um dos princípios basilares do regime de SolvênciaII é aatribuição explícita ao órgão de administração da responsabilidade máxima pelo cumprimento pela empresa das disposições aplicáveis. A que se deve aduzir ainda um outro princípio, o dos quatro olhos, de acordocomoqualpelomenos duas pessoas dirigemefectivamente a empresa e nenhuma decisão importante é implementada sem pelo menos a intervenção dessas duas pessoas. O que aprendemos desta crise do sistema financeiro estáaseracomodado napreparação da transposição da directivade solvênciaii diz José Almaça. Com a transposiçãodanovadirectivaas companhias de seguros não podem prestar as garantias epenhoressemqueaasfse pronuncie. Passam a ter o regime davendade umaparticipação qualificada. No caso da Tranquilidade o penhorfoidadoaoagoradenominado Novo Banco, mas poderia ter sido a uma entidade aquemaasf não reconhecesse os requisitos mínimos paradeterumaseguradora. E esta oposição do regulador criaria uma situação de impasse referiujosé Almaça. A companhia é dos accionistas, mas devido à especificidade do negócio segurador que tem o ciclo invertido pois primeiro recebe-se e depois é que se prestaum serviço é também dos seus clientes. As companhiasdesegurostêmumpatrimónio, mas grande parte dele está comprometido, está a representar as provisões técnicas, as responsabilidades futuras portanto, em primeiro lugar, têm de responderaessas responsabilidades e só se houveruma remanescenteéquepode servir para outras coisas. No regime anterior permitia-se que nas empresas em que houvesse uma relação de domínio ou de grupo houvesse administradores comuns. A partir de agora, se for administrador do banco, não pode ser administrador da seguradora e vice-versa. O regime de incompatibilidades vai ser mais duro e o critério de idoneidade também vai ser mais aprofundado, revelou José Almaça. FILIPE S. FERNANDES

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