Os Parceiros Sociais têm desempenhado uma verdadeira missão de serviço público, a qual, nem sempre, tem sido devidamente reconhecida pelos Governos.
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- Ana do Carmo Aragão Lobo
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1 High Level Conference - A New Start for Social Dialogue (5.março.2015, Bruxelas) Workshop B: Strengthening industrial relations and capacity building at national level Começo por felicitar a iniciativa da Comissão Europeia, na pessoa do seu Presidente Jean-Claude Juncker a quem cumprimento e que é reveladora do seu empenho em envolver os Parceiros Sociais no processo de decisão europeu de forma mais regular. De igual forma quero cumprimentar a Comissária Thyssen, os meus colegas de painel e todos os presentes nesta Conferência. 1. Como todos sabemos, Portugal e a Europa defrontaram-se com um contexto de instabilidade económica e financeira que levou mesmo ao pedido de auxílio financeiro por alguns Estados-Membros, entre os quais Portugal. Esta crise teve, naturalmente, impactos significativos não só para cidadãos - os elevados níveis de desemprego são um exemplo claro -, mas, também, para as empresas. Na perspetiva da CIP, a recuperação do emprego, em termos significativos e seguros, só deverá ocorrer quando a economia crescer a um ritmo robusto e de forma sustentada, o que implica conferir prioridade às políticas que promovam o crescimento económico. Torna-se, pois, absolutamente necessária uma aposta clara na competitividade - único caminho para colocar Portugal e a Europa na rota do crescimento económico, sendo certo que, sem este, não será possível gerar níveis de riqueza que sustentem e promovam, designadamente o Modelo Social Europeu. 1
2 Ora, a competitividade das empresas resulta também e muito da forma como estas podem conjugar os fatores de produção ao seu dispor e de condições que potenciem incrementos de produtividade. A CIP considera primordial resolver os graves problemas relacionados com a competitividade dos quais destacamos: O acesso ao financiamento - crédito bancário e obtenção de seguros de crédito; A morosidade da Justiça; A eficiência, simplificação, estabilidade e previsibilidade do ordenamento jurídico nos seus diferentes domínios; O combate à fraude e à economia paralela; A flexibilização no domínio da legislação sócio-laboral. Mas também se torna muito necessário, o empenho de governantes e Parceiros Sociais (empregadores e sindicatos) na criação de um quadro que alicerce o restabelecimento da confiança essencial para ultrapassar contextos como aquele que atravessamos. A CIP mantém a convicção de que a Concertação Social e o Diálogo Social é tem sido e dispõe de potencialidades para ser ainda mais um pólo de entendimento onde temas bem gerais e verdadeiramente enquadradores podem obter equação e alguma definição. Neste âmbito, é de destacar que, em Portugal, tem sido em sede de Concertação Social, num clima de compromisso mútuo e de confiança, que muitas das soluções propostas para crises, nomeadamente a que recentemente vivemos, foram concebidas e levadas à prática com sucesso. Aliás, a confiança, pressuposto na concretização do diálogo social, quer bipartido quer tripartido, não pode ser minimizada e, menos ainda, vista com indiferença, relativamente aos objetivos da criação de riqueza e de mais e melhores empregos. 2
3 A existência de Parceiros Sociais ativos e responsáveis, com objetivos nacionais ou supra-nacionais, é decisiva para a sobrevivência e desenvolvimento das empresas e, consequentemente, do emprego, bem como para a sustentabilidade e expansão da economia. Os Parceiros Sociais têm desempenhado uma verdadeira missão de serviço público, a qual, nem sempre, tem sido devidamente reconhecida pelos Governos. A Concertação Social e o Diálogo Social têm contribuído, de forma inequívoca, para a criação e a manutenção de um clima de pacificação social, não só ao nível nacional, mas também, ao nível europeu, aspeto que em momento algum pode ser minimizado ou desprezado. 3. Em Portugal, a crise impôs importantes e difíceis desafios, aos quais os Parceiros Sociais não são, nem foram, naturalmente, indiferentes ou insensíveis. Importa relevar que a generalidade dos Parceiros Sociais, ao nível nacional, deu uma resposta assinalável, sendo de destacar que, no período entre 2008 e 2014, foram celebrados 4 Acordos na Concertação Social. Estes Acordos representaram o consenso possível nas circunstâncias do momento. Inicialmente, visaram evitar o cenário de crise, e, num segundo momento, responder aos efeitos da crise e colocar Portugal no caminho do desenvolvimento económico e social. Tais Acordos, designadamente o "Compromisso para o Crescimento, Competitividade e Emprego, de 18 de janeiro de 2012, contemplaram um conjunto importante de linhas orientadoras de ação e de medidas, visando o reforço dos fatores de crescimento, competitividade e emprego. 3
4 As matérias aí vertidas ultrapassaram, em muito, temas como a regulação de institutos jurídico-laborais, para se estenderem a outros domínios, destacando-se as políticas de apoio à internacionalização e à captação de investimento, ao financiamento das empresas, à promoção do empreendedorismo e inovação, à promoção da capacidade nacional de produção e aprofundamento do mercado interno e à Justiça. Simultaneamente, também a Contratação Coletiva conheceu alargamento de competências e domínios de intervenção, tal como reconhecido, já em 2006, pelo Comissão Europeia, no Livro Verde - Modernizar o direito do trabalho para enfrentar os desafios do século XXI. 4. Minhas Senhoras e meus Senhores, No que ao futuro diz respeito e por forma a promover o diálogo social e os seus resultados, entende a CIP como necessário: Criar um clima de compromisso mútuo e de confiança entre as partes; Respeitar a autonomia dos Parceiros Sociais; Assegurar espaço alargado para a contratação coletiva; Centrar o diálogo na resolução dos principais desafios dos cidadãos e empresas, com apresentação de resultados bem concretos e práticos; Reforçar a capacitação institucional dos Parceiros Sociais, face aos cada vez mais complexos e transversais domínios em que são chamados a intervir; Melhorar os aspetos relacionados com a comunicação dos resultados do diálogo social; Reforçar e adequar os mecanismos de consulta, possibilitando aos Parceiros Sociais a necessária auscultação da estrutura neles integrada. Aos aspetos que acabei de referir, é necessário adicionar um outro que, na nossa perspetiva, assume caráter estruturante. 4
5 Estou a falar, em concreto, da alteração do mindset de alguns Governos e Parceiros Sociais. Na perspetiva da CIP, alguns Governos e Parceiros Sociais necessitam de reconhecer e interiorizar que a sociedade e, designadamente, os mercados de trabalho, estão em constante e rápida mutação, diferindo, em muito, do que se verificava nas últimas décadas. Mais ainda, necessitam de reconhecer que o futuro depende, quer do ponto de vista social quer do ponto de vista económico, da implementação de reformas onde as divergências ideológicas não se podem sobrepor ao interesse coletivo. De facto, não podemos continuar a assistir e a encarar o desenvolvimento das sociedades modernas com posturas manifestamente irrealistas e desadequadas. É que, sem as necessárias reformas, não poderemos assegurar o padrão de vida que todos os europeus anseiam. Impõe-se conceber e implementar medidas enquadradas numa agenda de compromissos globais que envolvam o Governo, as empresas e os trabalhadores na definição de estratégias e políticas concretas e exequíveis orientadas para o Imperativo do Crescimento. Em conclusão, a CIP considera necessário e urgente promover uma parceria para as reformas, que englobe Governo e Parceiros Sociais. É preciso aproveitar o momento atual para, com confiança, coragem, determinação e empenho encetar uma verdadeira transformação do paradigma. Portugal e a Europa não têm mais tempo a perder. Obrigado pela Vossa atenção. 5
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