Ética no exercício da Profissão

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1 Titulo: Ética no exercício da Profissão Caros Colegas, minhas Senhoras e meus Senhores, Dr. António Marques Dias ROC nº 562 A nossa Ordem tem como lema: Integridade. Independência. Competência. Embora neste lema não esteja incluída a palavra Ética, é por demais evidente, que a ética, está subjacente a estas três características. No âmbito do tema desta sessão, Ética e a Responsabilidade na Profissão, escolho a Ética para tema desta minha apresentação. Ter Ética é fazer a coisa certa com base no motivo certo. Ter Ética é ter um comportamento que os outros julgam como correcto. A noção de Ética é, portanto, muito ampla, e no caso da nossa actuação, enquanto Revisores, inclui vários princípios básicos e transversais que são: O da Integridade Devemos agir com base em princípios e valores e não em função do que é mais fácil ou do que nos trás mais benefícios. O da Confiança/Credibilidade Devemos agir com coerência e consistência, quer na acção, quer na comunicação. O da Responsabilidade Devemos assumir a responsabilidade pelos nossos actos, o que implica, cumprir com todos os nossos deveres profissionais. 1

2 4. O de Justiça As nossas decisões devem ser suportadas, transparentes e objectivas, tratando da mesma forma, aquilo que é igual ou semelhante. 5. O da Lealdade Devemos agir com o mesmo espírito de lealdade profissional e de transparência, que esperamos dos outros. 6. O da Competência Devemos apenas aceitar as funções para as quais tenhamos os conhecimentos e a experiencia que o exercício dessas funções requer. 7. O da Independência Devemos assegurar, no exercício de funções de interesse público, que as nossas opiniões, não são influenciadas, por factores alheios a esse interesse público. Independência e Ética são, muitas vezes, consideradas como sendo a mesma coisa. Contudo, a noção de independência, é menos ampla, e pode desdobrar-se em duas, a independência de facto e a independência aparente. Na independência de facto, o Revisor emite a sua opinião, baseado em evidências e julgamentos profissionais, que de acordo com a sua consciência e a sua boa ética, não está afectada por qualquer influência alheia a essa sua opinião. Na independência por aparência o Revisor emite a sua opinião, também baseada em evidências e julgamentos profissionais e de acordo com as regras de independência instituídas. Uma terceira pessoa julgará, que tendo sido seguidas as regras de independência, a sua opinião não está afectada por qualquer influência alheia à mesma. 2

3 A independência tem, assim, uma afinidade muito grande com a ética, podendo dizer-se, que depende desta. Contudo, a maior importância, dada aos assuntos da independência, está associada à existência de regras públicas, estabelecidas, para salvaguardar o interesse público. Como sabemos, por imperativo das normas de auditoria geralmente aceites, hoje, os Revisores, têm o dever, de documentar nos papéis de trabalho que suportam a sua opinião, sempre que aplicável, as ameaças à independência e as medidas de salvaguarda respectivas. Como conviver diariamente com a Ética? Como revisores expomo-nos, diariamente, com preconceitos, declarações e opiniões que, sabemos, podem legitimar, acções ou opções erradas. Refiro-me, de seguida, a alguns dos Desafios Éticos com que nos defrontamos diariamente: 1. Se não é proibido/ilegal, pode ser feito É óbvio que, existem escolhas, que embora, não estando especificamente referidas, na lei ou nas normas, como proibidas, não devem ser tomadas. Em cada escolha ou opção o Revisor deve usar o seu julgamento profissional. Na formulação deste juízo, deve, eticamente falando, seguir-se o princípio da substância sobre o da forma. 2. Todos os outros fazem isso Ao longo da história da humanidade, o homem esforçou-se sempre, para legitimar o seu comportamento, mesmo quando, utiliza técnicas eticamente reprováveis. 3

4 No passado recente, o exercício da actividade, como sócio de sociedade de revisores oficiais de contas, tinha uma majoração do limite máximo de pontuação. Muitos foram os Revisores que, vendo os outros a fazer, decidiram constituir sociedades, para beneficiarem individualmente, daquela majoração na pontuação. A constituição de sociedades de revisores e o seu fortalecimento deve ser encarado, pela Profissão, como um dos meios de assegurar, a sua Sustentação no futuro. Contudo, devemos reconhecer que, no mínimo por motivos éticos, não devem manter-se sociedades, artificialmente constituídas para este tipo de finalidades e/ou que não estejam a funcionar como verdadeiras Sociedades de Revisores. A existência de sociedades de revisores, apenas de aparência, prejudica a elevação, da Reputação, da profissão dos Revisores. 3. Nunca ninguém irá descobrir - Pode existir a tentação, motivada pela escassez de tempo, ou por outro motivo, de o Revisor entrar num qualquer facilitismo. O revisor exerce funções de interesse público, tem por isso, um poder acrescido, ao qual, corresponde também uma responsabilidade acrescida. Esta responsabilidade, não é apenas para com a contraparte, esta responsabilidade é para com o público em geral. 4

5 A falta de cumprimento, total ou parcial, com as normas e procedimentos de auditoria, aplicáveis, para a emissão do parecer, constitui uma violação grosseira, dos princípios éticos, a que o Revisor está obrigado, pois, o público acredita, que o documento emitido, por um revisor, seja ele uma certificação ou um parecer, está devidamente suportado, pelo trabalho de auditoria realizado, por esse Revisor. Ou seja, o público acredita, que o conteúdo dessa certificação ou desse parecer, seria o mesmo, caso tivesse sido emitido por outro Revisor. 4. Receio de discordar De acordo com as normas de auditoria, as opiniões do revisor devem estar devidamente suportadas através do trabalho realizado. Referimos também, anteriormente, que o revisor deve aplicar no seu julgamento profissional, os princípios da integridade e da independência, e ainda a sua competência profissional. Reunidas estas condições, os Revisores, não devem recear, discordar daquilo, que o seu julgamento profissional indique estar em desconformidade com o referencial usado na certificação. A ausência de desacordo, naquelas circunstâncias, para além de uma atitude menos ética, constitui um factor, de descredibilização, da profissão como um todo. De igual modo, discordar por discordar, (sem suporte), não credibiliza quem discorda. É por isso que, o discordar aqui referido, deve ser contextualizado, com o referencial, utilizado na preparação, da informação sobre a qual o revisor opina. 5

6 Não devendo confundir, este discordar, com o que possa surgir de conversas, por exemplo, com jornalistas. Aliás, estes, ao falar com revisores, estão mais interessados em obter declarações de peritos, que confirmem o julgamento feito pelo jornalista, em vez de, procurar descobrir a verdade, numa lógica, totalmente diversa, da que o Revisor deve utilizar no seu trabalho (conhecimento suportado). 5. Concorrência, centrada no preço, em serviços de Certificação Legal Uma certificação ou um parecer, de um Revisor, são documentos com fé pública, ou seja, os seus utilizadores devem acreditar neles. A conferência de tais poderes, aos revisores baseou-se certamente, na convicção, de que os revisores iriam cumprir, com todas as normas de auditoria e de ética, aplicáveis, a cada um dos documentos com fé pública. Mais, é entendimento geralmente aceite, que os revisores, no exercício das funções de interesse público, documentam, de modo organizado, todo o trabalho realizado, para suportar as suas certificações, opiniões ou pareceres, e que dispõem, de sistemas internos apropriados, de controlo de qualidade. É um facto, que nesta actividade, considerada de interesse público, existe concorrência entre os seus agentes, os revisores, mas também é um facto, que as normas de auditoria, as normas de conduta ética e as regras de supervisão pública, da profissão, são cada vez, mais exigentes e complexas. 6

7 A afirmação da profissão, e a sua sustentação, passa pelo aperfeiçoamento, das estruturas internas dos seus agentes, os revisores, pela mais eficiente utilização, das normas de auditoria, e pelas melhorias a introduzir, nos sistemas internos de controlo de qualidade. Nestas condições, temos de admitir, tem pouca racionalidade, para não dizer, pouco sentido ético, o facto de os revisores, no âmbito das suas funções de interesse público, não raras vezes, exercerem concorrência, com base no preço, um factor, geralmente usado, na negociação de produtos indiferenciados. 6. Relação entre revisores no âmbito da ISA 600 A nova norma de auditoria ISA 600 introduziu novas orientações no processo de Revisão/auditoria dos grupos, e a nossa legislação, contempla já, o princípio, de que o ROC das contas consolidadas, assume responsabilidade total pela opinião sobre as mesmas, isto é, deixa de ser possível partilhar essa responsabilidade. Existem grupos que têm, e vão continuar a ter, revisores em subsidiárias, distintos do revisor da Empresa-mãe. Todos os revisores envolvidos nesse grupo, são agora obrigados por lei a colaborar. Os clientes devem, assim, ser preparados pelos revisores para compreender as alterações ocorridas nas normas de auditoria e as necessidades de colaboração entre os revisores do grupo e entender que existe a necessidade de alargamento do âmbito do seu trabalho e, eventualmente, do seu custo. 7

8 Os revisores, numa atitude pedagógica e ética, devem transmitir aos seus clientes estas suas preocupações, e obter dos clientes o compromisso de colaboração na resolução de eventuais divergências entre subsidiárias, com a casa-mãe e/ou entre revisores. Estamos perante um novo desafio. Por isso, os revisores devem antecipar as soluções de eventuais conflitos e abordar também, antecipadamente, com os clientes, a necessidade de alargar o âmbito do seu trabalho e as consequentes repercussões nos seus honorários. O alargamento do âmbito dos trabalhos do revisor deve ser olhado como uma oportunidade e não como mais uma burocracia, que deve ser compensada com a redução de qualidade do trabalho que já realiza. É evidente que a conduta ética de cada revisor vai ser objecto de observação, pelos outros revisores e pelas empresas do grupo. É, assim, mais um desafio à sustentação da profissão e que deve ser bem resolvido pelos revisores, de modo a não prejudicar a reputação da profissão. 8

9 CONCLUSÕES Como referi no princípio desta intervenção, ser ético significa fazer a coisa certa com base nos motivos certos. Contudo, sabemos que a conduta dos revisores é objecto de avaliação permanente por terceiros, por isso, agir com ética, significa ter um comportamento que os outros julgam como correcto. Desta forma, o revisor, além do dever de agir de acordo com a sua consciência profissional, deve cumprir com as regras e normas profissionais aprovadas pelos reguladores da sua actividade. As expectativas dos clientes devem ser mantidas ao nível apropriado, assegurando que os documentos de certificação emitidos no âmbito das funções de interesse público, cumprem, em substância e não apenas na forma, com os requisitos legais e normativos aplicáveis e, por isso, dão resposta às expectativas do público em geral. A importância de uma conduta ética irrepreensível não pode, assim, ser menosprezada pelo revisor, em particular no exercício das funções de interesse público. O exercício das funções de interesse público pelos revisores, é sustentável na medida em que os seus clientes constatem não existirem condutas éticas inadequadas e que o público em geral continue a ter confiança e sinta utilidade nas certificações emitidas por todos nós. A sustentabilidade da profissão, também depende da sua capacidade para atrair os novos melhores profissionais e, convenhamos, isso só será possível se os revisores de hoje conseguirem, através da sua conduta profissional, elevar o nível e o prestígio já alcançado pela profissão. 9