Projeto - por que não se arriscar com um trabalho diferente?



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Transcrição:

Projeto - por que não se arriscar com um trabalho diferente? Gisele Bischoff Scherer 1 Resumo O texto a seguir defende um trabalho diferenciado em sala de aula a partir de um planejamento conjunto entre professores e alunos, em que a organização e as metas decididas por todos norteará as ações decorrentes. Fala-se de trabalhar com projetos em sala de aula, desde a sua construção até seu desfecho, ou seja, a sua concretização. Por fim, traz-se a narrativa de dois projetos desenvolvidos ao longo dos anos de 2003 e 2004, com a mesma turma de Ensino Médio, no Colégio Concórdia de Porto Alegre. Palavras-chaves: ousadia, parceria, projeto, musical, revista O que fazer para envolver os alunos apáticos e indiferentes aos conteúdos transmitidos pelos professores? O desafio da escola é alterar esse quadro sem desprezar o conhecimento formal, testemunho da evolução do homem. Um caminho para isso pode ser estabelecer uma parceria de cumplicidade entre alunos e professores arriscando-se a trabalhar junto, construindo algo desconhecido para os dois lados, aproveitando os talentos individuais de todos: trabalhar com projetos!. Não quer dizer que isso possa ser feito com todas as turmas, nem quer dizer que seja feito todos os anos, mas é necessário estar atento quando as condições forem favoráveis para isso. O que vem a ser trabalhar com projeto? O que é um projeto? De acordo com Nilbo Nogueira, o projeto é antecedido de uma necessidade, de um interesse em projetar, uma vontade de conhecer mais sobre um determinado tema/assunto. Esse impulso, essa vontade pode instigar tanto professores quanto alunos a buscar um outro caminho para propiciar a aprendizagem. Dessa forma, 1 Professora de Português da Rede Pública Municipal e de Ensino Privado. Atua nas EMEF Grande Oriente do RS, EMEM Emílio Meyer e Colégio Concórdia de Porto Alegre. É licenciada em português/inglês e respectivas literaturas, pósgraduada em Lingüística Aplicada ao Ensino de Português.

mestre e alunos transformam-se em buscadores, em experimentadores, os papéis não são invertidos, são reinventados. O professor não é apenas o transmissor de conhecimentos num mundo que está tão desigual do que nos habituamos, num mundo em que tudo acontece de uma forma vertiginosa, que o novo daqui a pouco será velho, em que não sabemos com muita certeza como é. O professor traz a sua experiência de vida para também descortinar possibilidades, cavoucar talentos e incentivar o surgimento das iniciativas dos seus alunos. Talvez essa seja uma maneira nova de trabalhar o antigo, pelo menos de uma forma mais atraente e que consiga seduzir a nossa clientela cada vez mais exigente pois o nosso aluno é produto desse novo mundo, adequado a sua velocidade e voraz por tudo que não seja o mesmo de sempre. O projeto pode ampliar a idéia do conteúdo didático, uma vez que traz uma nova lógica e uma finalidade prática para aquilo que se está trabalhando. Através do trabalho com um planejamento sistemático, construído por todos, sendo assim assumido, o nosso jovem desempenhará o papel de protagonista, será agente do seu processo e não um coadjuvante. Como ele passa a ser um realizador, a sua preocupação não é apenas em relação à nota ou ao conceito, em ser aprovado ou reprovado, em ir bem no teste ou não. Ele passa a correr atrás de um sonho. Um projeto passa por muitas etapas e facilmente pode-se desenvolver um que integre diferentes áreas do saber. Ele parte de um planejamento coletivo. Ainda tomando como base Nilbo Nogueira, no planejamento, devemos buscar respostas para as seguintes questões: O que trabalhar neste projeto? Por que trabalhar este tema? Como fazer? Quando realizar o trabalho? Quem fará? (responsabilidades individuais ou coletivas de ações) Que recursos precisam? ( materiais e/ou humanos)

Segundo ato da peça Música para todos ou ouvidos Terceiro ato da peça Música para todos os ouvidos Em seguida, coloca-se em execução, estabelecendo os prazos e as metas de forma clara e objetiva, obedecendo a uma estrutura de projeto: introdução, justificativa, objetivos, desenvolvimento (passo a passo) aliado a um cronograma. É interessante também trazer para a finalização dos projetos o item Expectativas, porque abre a porta para o sonho, o imprevisível e o inesperado. 2. Relato de experiência Ao longo de 2003, o 2º ano do Ensino Médio do Colégio Concórdia de Porto Alegre construiu e desenvolveu um projeto que foi motivo de imensas alegrias, orgulho e muito trabalho. Era uma turma grande, 44 alunos inquietos, questionadores e capazes. Muitos deles tocavam instrumentos musicais e alguns faziam parte do coral da escola. Gostavam de debater os textos que eram apresentados durante as aulas de português e adoravam falar sobre música. Pensamos então em fazer um projeto sobre um musical. Primeiro aprenderam a fazer projetos, decidiram o tema história da música - pesquisaram na internet e construíram paródias, contando a história do homem e da música através dos tempos, pois concluíram que uma estava ligada à outra. Assim surgiu a peça Música para todos os ouvidos organizada em três atos, com a duração média de

1 hora. Os alunos viraram cantores, músicos, diretores, técnicos de luz, som e imagem, coreógrafos, figurinistas, (...) e entenderam que trabalhar com projeto significa acréscimo de tarefas, pois os demais conteúdos da disciplina não podem ser desprezados. Todo o processo foi filmado e um site construído (www.musicaptdo.cjb.net). Torna-se desnecessário dizer que foi um sucesso, com muitas lágrimas, sorrisos e adrenalina que trouxe a certeza de que os valores individuais devem ser melhor aproveitados pela escola. E mais - descobrimos que gostamos de nos arriscar: no ano de 2004, a mesma turma construiu um novo Capa da Revista

Cena da peça Música para todos os Ouvidos Cena da peça Música para todos os Ouvidos projeto. Agora, aqueles alunos, no 3º ano, preparando-se para o vestibular, desenvolveram um projeto de uma revista. Primeiro, escolheram o nome: NÃO TEM KO ( gíria, significa sem mentira ), depois decidiram os assuntos em função do público-alvo que pretendiam atingir, jovens como eles, pesquisaram e escreveram as matérias de acordo com o interesse de cada um e dentro da tipologia textual que optaram individualmente o professor atuou como consultor. Depois de corrigidos e reconstruídos os textos, os alunos formaram, através do voto, um Conselho Editorial, o qual decidiu que matérias entrariam para a revista. Terminada essa etapa, os alunos passaram a discutir a diagramação. Tentaram fazer até a última etapa sozinhos, mas tiveram que buscar ajuda com profissionais de uma gráfica para a finalização. O lançamento da revista foi num show com o Rapper Nitro Di, que foi entrevistado, gostou do projeto e resolveu contribuir sem cobrar nada. A revista Não tem KO apontou possibilidades profissionais àqueles jovens. Muitos deles hoje fazem Jornalismo, Artes Gráficas e Designer. Conheceram, em função do projeto desenvolvido, músicos, comerciantes e gráficos. No vestibular, todos tiveram um desempenho muito bom na prova de português e na de redação. São hoje cidadãos conscientes, críticos, capazes e determinados. Como falar do brilho do olhar de um jovem que vê um sonho se realizar? O combustível para tudo isso foi a vontade de realizar algo, mesmo sem saber. Isso

só acontece quando professores e alunos constroem pontes e resolvem sonhar juntos. Para finalizar, trazemos duas citações de Lúcia Bicalho de Lima Santos destinadas à reflexão sobre o que é desacomodamento... Trabalhar com projetos é ter certeza de que nada será como antes, de que a cada dia somos mudados pelas novas experiências e pelo giro do caleidoscópio que é o conhecimento. A escola continua a ser a instituição que pode possibilitar à maior parte dos cidadãos melhores condições de vida e de ampliação do universo cultural Referências NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos Projetos Uma jornada interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas inteligências. S.P; Érica. SANTOS, Lúcia Bicalho de Lima Santos. Revista do Professor. Porto Alegre, p.44-45, 2003.