POR QUE FAZER ENGENHARIA FÍSICA NO BRASIL? QUEM ESTÁ CURSANDO ENGENHARIA FÍSICA NA UFSCAR?
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- Esther Lage Cesário
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1 POR QUE FAZER ENGENHARIA FÍSICA NO BRASIL? QUEM ESTÁ CURSANDO ENGENHARIA FÍSICA NA UFSCAR? Póvoa, J. M, Ducinei Garcia Departamento de Física - Universidade Federal de São Carlos Via Washington Luiz, Km São Carlos SP povoa@df.ufscar.br, ducinei@df.ufscar.br Resumo: Tem acontecido nos últimos anos no Brasil uma discussão bastante interessante e importante sobre o ensino de Engenharia. Parece que essa discussão ultrapassou os "muros das Universidades" atingindo os alunos que pretendem ingressar em algum curso superior. Ouvindo os alunos desde seu ingresso na Universidade, percebe-se que eles estão procurando por uma formação mais apropriada às exigências profissionais atuais, mesmo que para isso tenham que se esforçar um pouco mais. Esses jovens têm consciência de que novas idéias e novos desafios são a chave para a busca de conhecimentos sólidos e que, sem isso, sua formação será inócua no mundo atual. Apresentaremos nesse trabalho algumas questões e discussões que estão sendo feitas a nossos alunos do curso de Engenharia Física da UFSCar, tais como: o que esperam do curso? Por que optaram por um curso ainda novo no Brasil mesmo sem conhecerem ou entenderem bem onde poderão atuar profissionalmente? etc. Essas discussões nos levam a concluir que os alunos ingressantes na universidade, em particular no curso de Engenharia Física, esperam poder trabalhar na interface do que a ciência oferece e do que a sociedade precisa e almeja. Palavras chaves: Engenharia Física, Conhecendo os alunos, UFSCar APP - 130
2 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos a sociedade tem passado por grandes transformações que têm refletido intensamente nas pessoas, nas organizações e instituições em geral. As instituições de ensino necessitam acompanhar essas transformações, sob o risco de formar indivíduos inadequados para atuarem nesse mundo atual e futuro. Em particular no Brasil existe uma preocupação com a formação do Engenheiro ultimamente, principalmente após o projeto REENGE. Tem existido quase que um consenso de que o profissional do futuro deve ter habilidades tais como: ser um profissional estudante, ser multiespecialista, aprender a aprender e saber fazer, ser capaz de avançar no desconhecido, evitar a compartimentalização do saber além de uma sólida formação básica. (Pirro e Longo [1] ) No mundo atual está difícil definir um profissional diretamente vinculado a uma profissão. Em poucos anos muitas novas profissões deverão surgir e não é mais possível formar um indivíduo na universidade para exercer determinada função. Deve-se sim, formar um indivíduo para exercer funções novas. Para isso ele deve estar preparado para aprender. Uma formação básica solida e atualizada, adquirida na universidade, servirá de base ao profissional para que ele aprenda a aprender. Para atender essa nova demanda de profissionais que a sociedade/mundo está exigindo, que o ensino sofra modificações profundas nos conceitos do que é ensinar e/ou aprender. Os alunos e os professores devem formar uma equipe para atuarem nesse novo processo de aprendizado. Os professores devem entender que o modelo em que bastava o educador ficar na frente da sala de aula passando informações ou experiências vividas, não pode continuar. Também os alunos, que antes atuantes passivos deverão atuar de uma forma mais ativa querendo aprender. Foi nesse período de transformações que teve inicio o curso de Engenharia Física (EF) na UFSCar (Araújo Moreira F.M, Póvoa. J.M, [2]). Esse curso foi criado visando formar um profissional mais capacitado a acompanhar as mudanças que estão ocorrendo na sociedade. Acreditamos que muito há por ser feito, e esperamos contribuir com uma pequena parcela na formação adequada de profissionais para o mercado atual e futuro. Para que alunos e professores possam atuar como equipe/parceiros, necessitamos minimamente conhecê-los. Em parte, estamos fazendo isso desde o seu primeiro dia na universidade, através de um contato bastante intenso, em particular nas disciplinas oferecidas pelo Departamento de Física (Póvoa, J.M, Araújo Moreira, F.M [3]). Este é um privilégio desse curso pois o aluno já inicia cursando disciplinas no departamento responsável pelo curso. Acreditamos que esse contato com os alunos nos permitirá diagnosticar possíveis problemas desde os primeiros semestres do curso, os quais procuraremos em conjunto, resolvê-los da melhor forma possível. Procurando conhecer um pouco mais nossos estudantes iniciamos neste ano (2 o ano de existência do curso) um processo de busca de mais informações sobre eles. Para isso estamos acompanhando a pontuação e classificação no exame seletivo para ingresso no curso, assim como também fazendo uma série de perguntas que, acreditamos, poderá nos auxiliar no bom desenvolvimento do curso. 2. ALGUNS DADOS DO EXAME SELETIVO. Analisando a pontuação geral e a classificação dos alunos que estão cursando EF percebemos pela dispersão da classificação que os primeiros classificados conseguiram aprovação em outras Universidades/cursos. Oferecemos 30 vagas e como pode ser visto na figura 1 e 2 a maioria dos alunos que estão cursando EF obtiveram classificação entre 20 o e 80 o tanto no ano 2000 (figura 1) quanto 2001 (figura 2). Esses dados nos levam a concluir que os alunos classificados nos primeiros lugares optaram, por diferentes motivos, por outras Universidades/cursos. No último exame seletivo dos 27 cursos da UFSCar os únicos a fazerem uma segunda chamada foram os cursos de Engenharia Física e Engenharia de Computação, todos os outros 25 cursos preencheram suas vagas na primeira chamada. A grande maioria dos alunos classificados que optaram por outros cursos estão cursando-os na USP/Poli, ITA, UNICAMP, etc. Comparando os gráficos mostrados nas figuras 1 e 2 percebe-se um aumento na nota de corte. No ano de 2000 a pontuação do último colocado chamado para o curso foi de 164,5 pontos e em 2001 foi de 189,5 pontos. Esse aumento pode ter sido, pelo menos em parte, devido ao aumento da procura pelo curso. Em 2000 essa demanda foi de 16,3 candidatos por vaga e em 2001 foi de 21,2 candidatos por vaga, número esse que fez com que o curso de Engenharia Física ficasse em segundo lugar dentre as Engenharias da UFSCar, ficando atrás somente da Engenharia de Computação. Analisando esse breve apanhado pode-se ter uma idéia do aluno que procura e está cursando Engenharia Física na UFSCar. APP - 131
3 240.0 Pontuação dos Alunos Ingressantes em 2000 Pontuação Classificação Fig. 1 Pontuação e classificação dos alunos que ingressaram em Engenharia Física em 2000 Alunos Ingressantes em 2001 Pontuação Classificação Fig. 2 Pontuação e classificação dos alunos que ingressaram em Engenharia Física em APP - 132
4 3. CONHECENDO UM POUCO MAIS NOSSOS ALUNOS Nessa parte do trabalho, baseamo-nos na experiência do curso de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (Bazzo W. A, Pereira L.T. [4]). Fizemos uma série de perguntas aos alunos que ingressaram no curso afim de conhece-los um pouco mais. Das duas turmas existentes observamos que as respostas às questões são bastante semelhantes. Dessa forma apresentaremos os resultados de uma forma geral, não especificando se o ano de ingresso foi 2000 ou Muitas das perguntas que fizemos aos alunos já nos têm sido feitas por alunos do ensino médio através de e/ou em palestras realizadas sobre o curso nas escolas ou feiras de vestibulares da região. Do questionário apresentado, selecionamos algumas questões mais relevantes. A primeira pergunta que fizemos foi: Por que você escolheu fazer Engenharia Física? Em torno de 40% dos alunos disseram que é por gostar de física mas, por não quererem fazer (ou os pais não quererem que façam) o curso de física, e o curso de Engenharia Física foi a opção de se fazer engenharia e estudar a física que gostariam. 57% acharam que é pelo desafio de fazer um curso novo no Brasil; 86% acharam que é por ser um curso com um enfoque um pouco diferente; e 87% acharam que é por acreditar que o curso poderá propiciar uma formação mais condizente com a realidade que o mercado está exigindo. Esses dados mostram como os jovens estão em busca de cursos diferentes na esperança de que essa diferença possa contribuir para seu futuro. A grande maioria (mais de 80%) não tiveram influência dos pais e/ou professores na escolha do curso. Isso pode caracterizar uma certa independência do jovem atual na escolha do curso que será a base para sua vida profissional. Perguntamos; quais as expectativas deles sobre o curso?. 74% acham que estão fazendo um curso bom e só 10% já pensaram em mudar de curso. 97% acreditam que o curso está ou vai oferecer uma boa bagagem de conhecimentos para sua vida profissional. 60% estão achando o curso muito difícil e 62% acham que não conseguirão concluir o curso em 5 anos. Essa é uma das características do curso de Engenharia Física não só na UFSCar, mas em todo o mundo. Geralmente os cursos de EF são mais difíceis do que a maioria dos cursos de Engenharia. Para sabermos sobre a divulgação do curso perguntamos; Onde você se informou sobre o curso? Para a nossa surpresa a maioria (76%) se informou sobre o curso através do manual do candidato e só 17% obtiveram informações de outros cursos de Engenharia Física no exterior. Esse dado nos preocupa, pois, poucos alunos procuraram informações sobre o curso fora do Brasil. Na realidade, no mundo existem variações nos cursos de Engenharia Física. Por exemplo, em particular em Portugal, a maioria dos cursos de Engenharia Física é bastante semelhante aos nossos cursos de Engenharia de Materiais. Algumas perguntas que fizemos visavam uma auto avaliação dos alunos sobre sua vida antes de ingressar na Universidade Perguntamos da base com que tinham ao ingressar curso 5% acham que era excelente, 41% acham que era suficiente, 36% acham que era boa, 16% acham que era regular e 0% que era fraca. A grande maioria (72%) classificou-se como um aluno acima da média e só 18% dentro da média. A grande maioria (82%) tem pai ou mãe e (48%) irmão ou irmã que fizeram um curso superior. Esses dados nos levam a crer que nossos alunos tiveram uma boa formação durante a vida e sua escolha pelo curso não aconteceu simplesmente por desinformação. Para conhecer um pouco mais nossos alunos, perguntamos sobre o porquê optou por fazer o curso e/ou o que está achando do curso. E as respostas foram das mais diversas, como por exemplo:... me formei como técnico bioquímico e estou cursando EF para absorver o conteúdo de exatas necessários para atuar em biotecnologia......acho que o mercado atual exige profissionais multiespecialistas (hoje em dia não se pode ser um cara que só sabe resolver um tipo de problema) o nosso tempo está sempre limitado e é difícil arranjar tempo para fazer outras atividades, pois se não tiver alguma prova muito difícil na outra semana, com certeza tem algum relatório trabalhoso para entregar... mesmo assim pretendo terminar o curso porque sei que quando terminar terei aprendido muitas coisas... eu só não contava que podia ser tão difícil... mas todos nós estamos nos esforçando para superar mais esse desafio... APP - 133
5 ...ao ler jornais e revistas, percebi que o mercado necessita de uma profissional que seja multiespecialista, ou seja, que possui muito conhecimento em diversas áreas outro ponto fundamental para minha escolha foi a grade curricular que é muito interessante e bastante extensa... Além desse busca de informações procuramos manter um contato bastante intenso com nossos alunos e com os professores que têm ministrado aulas para o curso. Em função desse dialogo pequenas mudanças no que se refere à grade curricular e/ou ementa de algumas disciplinas já foram sugeridas e algumas adequações já estão em curso. 4. CONCLUSÃO Esse contato mais intenso com os alunos permitirá diagnosticar com antecedência, possíveis problemas que poderiam prejudicar o andamento do curso ou o melhor aproveitamento pelos alunos do conteúdo programado para o curso. Acreditamos que esse nosso procedimento pode contribuir também para a diminuição da evasão escolar, uma vez que nesses momentos de dialogados, pode ser esclarecido duvidas e questionamentos tão comuns principalmente na fase inicial do curso. Com esse procedimento notamos também, maior conscientização dos jovens em relação a sua formação e perspectivas para o futuro. 5. BIBLIOGRAFIA [1] Pirro e Longo, Wladimir. A nova Engenharia e o Ensino de Engenharia no Brasil- Teleconferência Engenheiro Fundação Vanzolini [2] Araújo Moreira, F.M, Póvoa, J.M., O primeiro curso de Engenharia Física do Brasil Um projeto já concretizado. Anais do Cobenge 2000., Ouro Preto - MG [3] Póvoa, J.M., Araújo Moreira, F.M, O primeiro semestre do primeiro curso de Engenharia Física do Brasil, Anais do Cobenge Ouro Preto - MG [4] Bazzo, Walter. Antônio, PEREIRA, Luiz Teixeira do Vale, Conhecendo os alunos de um curso de Engenharia, Anais do Cobenge Natal - RN APP - 134
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