JUIZADO ESPECIAL (PROCESSO ELETRÔNICO) Nº200970530026113/PR RELATOR : Juiz Federal José Antonio Savaris RECORRENTES : ANTONIO COSTA CONSTANTINO e INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL RECORRIDOS : OS MESMOS 200870550012073 [REA /REA] 1/5 VOTO Trata-se de recurso interposto por ambas as partes contra sentença que julgou parcialmente procedente o pedido de concessão de aposentadoria por tempo de contribuição mediante a conversão de tempo especial em comum e do reconhecimento de períodos de atividade especial, para o efeito de condenar o INSS a conceder a aposentadoria proporcional por tempo de contribuição desde a data de entrada do requerimento administrativo DER 28.07.2008. A decisão recorrida acolheu parcialmente a pretensão orientada na inicial reconhecendo o exercício de atividade rural no período de 12.06.1965 a 30.04.1972. Ademais, a sentença reconheceu a natureza especial das atividades desenvolvidas nos períodos de 12/01/1976 a 30/06/1977, 01/08/1977 a 12/07/1978, 02/07/1984 a 08/01/1985, 10/01/1985 a 18/06/1986, 12/09/1986 a 04/01/1988, 05/01/2000 a 31/07/2002 e 02/01/2006 a 31/01/2008. A parte autora sustenta, em síntese que a sentença merece reforma para que seja reconhecida a especialidade das atividades desenvolvidas nos períodos de 26/02/73 a 12/01/76; 01/09/78 a 22/02/80; 01/04/80 a 19/02/82; 01/08/82 a 06/02/84; 01/02/99 a 20/09/99; e, de 01/02/2003 a 03/06/2005, em razão da sujeição do autor a agentes noviços biológicos, físicos e químicos. O INSS insurge-se contra o reconhecimento da atividade rural no período dos 12 aos 14 anos. Alega, ainda, que os documentos apresentados pelo autor não são suficiente para comprovação do período rural em todo o período reconhecido pela sentença. Quanto ao reconhecimento da natureza especial da atividade desenvolvida pelo autor, alega que nos períodos de 12/01/1976 a 30/06/1977, 01/08/1977 a 12/07/1978, 02/07/1984 a 08/01/1985, 10/01/1985 a 18/06/1986, 12/09/1986 a 04/01/1988 a exposição a hidrocarbonetos era ocasional e não há laudo técnico para comprovar a exposição a ruído. Quanto aos períodos de 05/01/2000 a 31/07/2002 e 02/01/2006 a 31/01/2008, aduz não ser devido o reconhecimento da especialidade tendo em vista que o ruído era variável. Razão assiste apenas à parte autora. - Período rural (objeto do recurso do INSS):
Mantenho a sentença por seus próprios fundamentos (Lei 9.099/95, art. 46 c/c Lei 10.259/01, art. 1º). Quanto aos pontos levantados no recurso, ressalto que nos termos da súmula nº 5 da TNU, a prestação de serviço rural por menor de 12 a 14 anos, até o advento da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, devidamente comprovada, pode ser reconhecida para fins previdenciários. Ademais, é entendimento consolidado de que Para a concessão de aposentadoria rural por idade, não se exige que o início de prova material, corresponda a todo o período equivalente à carência do benefício. (súmula 14 da TNU). - Períodos especiais: objeto do recurso do INSS. O INSS se insurge contra o reconhecimento da natureza especial das atividades desenvolvidas pelo autor nos períodos de 12/01/1976 a 30/06/1977, 01/08/1977 a 12/07/1978, 02/07/1984 a 08/01/1985, 10/01/1985 a 18/06/1986, 12/09/1986 a 04/01/1988, 05/01/2000 a 31/07/2002 e 02/01/2006 a 31/01/2008. Nos períodos de 12/01/1976 a 30/06/1977 e de 01/08/1977 a 12/07/1978 (retificador de sede - Retífica de Motores Yamamoto Ltda); 02/07/1984 a 31/01/1985 e de 12/09/1986 a 04/01/1988 (operador de máquina - Retimol Retífica de Motores) e de 10/01/1985 a 18/06/1986 (operador de máquina Retífica de Motores 19 de Dezembro) o informa que havia a exposição, de forma habitual e permanente, a hidrocarbonetos e outros óleos compostos de carbono, elencados no Código 1.2.11, do Anexo III, do Decreto nº 53.831/64, e do Código 1.2.11, do Anexo I, do Decreto nº 83.080/79, conforme comprova o formulário apresentado no evento 31 (FORM4, 6, 7 e 9). Por esta razão, mantenho a sentença por seus próprios fundamentos (Lei 9.099/95, art. 46 c/c Lei 10.259/01, art. 1º). Já no período de 05/01/2000 a 31/07/2002 em que o autor trabalhou como retificador de viraquerim para a Feres Cury Retífica, o laudo técnico apresentado no evento 1 (doc 44 a 46) demonstra que o autor estava exposto a ruído proveniente de parafusadeira (97 db), ar comprimido (101 db), policorte (87 db), retífica de biela (83 db), marreta (86 a 94 db). Por sua vez, no período de 02.01.2006 a 31.01.2008, trabalhado como retificador para a empresa Motor Forte, o laudo técnico (doc 60 a 62, evento 1) informa que o autor esteve exposto a ruído proveniente da retífica de virabraquim (86 db), cilindro de bloco (85 db), martelo (86 a 94 db), parafusadeira pneumática (97 db) e policorte (96 db). 200870550012073 [REA /REA] 2/5
Nos termos da Súmula 32 da TNU, o tempo de trabalho laborado com exposição a ruído é considerado especial, para fins de conversão em comum, nos seguintes níveis: superior a 80 decibéis, na vigência do Decreto n. 53.831/64 (1.1.6); superior a 90 decibéis, a partir de 5 de março de 1997, na vigência do Decreto n. 2.172/97; superior a 85 decibéis, a partir da edição do Decreto n. 4.882, de 18 de novembro de 2003. Em que pese o nível de ruído variasse entre 83 a 101 db no período de 05/01/2000 a 31/07/2002, ocasião em que o limite de tolerância era de 90 db, verifico que o laudo atesta que o tempo de exposição era sempre de oito horas diárias. Sendo assim, considerando que havia exposição a ruídos de 97 e 101 db, por exemplo, para os quais o limite de exposição era de 1h30 e de 50 minutos por dia, respectivamente, deve ser mantida a sentença já que demonstrada a prejudicialidade da exposição ao referido agentes nocivo. Com maior razão ainda é a manutenção da sentença no período de 02.01.2006 a 31.01.2008, tendo em vista que apesar de variável, o menor nível de ruído a que estava submetido o autor já era superior ao limite de tolerância de 85 db. - Períodos especiais: objeto do recurso do autor. O autor pretende a reforma da sentença para que seja reconhecida a natureza especial das atividades desenvolvidas nos períodos descritos abaixo. Período de atividade 26/02/73 a 12/01/76 01/09/78 a 22/02/80 01/04/80 a 19/02/1982 e de 01/08/82 a Profissão Agente nocivo Empresa Documento auxiliar mecânico retificador de sede de hidrocarbonetos Retífica Nova aromáticos (exposição Ingá Ltda baixa) e a óleos e graxas minerais (exposição moderada), ruído variável de 73 a 94 Motopar db, bem como a exposição Retífica de a óleo lubrificante, óleo Motores diesel, graxa, gasolina LTDA (compostos derivados de petróleo, óleo mineral, hidrocarboneto, aditivos e espessante). Remopar Retífica de Motores Mecânico ruído variável de 85 a 101 db, bem como a exposição a óleo lubrificante, óleo (form2 e 3). anexado ao evento 31 (FORM5) 200870550012073 [REA /REA] 3/5
06/02/84 diesel, graxa, gasolina (compostos derivados de petróleo, óleo mineral, hidrocarboneto, aditivos e espessante). 01/02/1999 a 20/09/1999 Retificador de Virabrequim Ruído variável de 85 a 101 db, além de óleo lubrificante, óleo diesel, graxa, gasolina (compostos derivados de petróleo, óleo mineral, hidrocarboneto, aditivos e espessante) Paranavaí Evento 31 FORM6 e 7 Retificadora Nordiesel Ltda Evento 31 FORM10 A sentença não reconheceu a especialidade dos períodos constantes no quadro acima ao entendimento de que a exposição aos agentes nocivos não ocorreu de maneira habitual e permanente. Sem embargo do respeitável entendimento do juízo monocrático, entendo que os Perfis s s são suficientes para demonstrar a exposição habitual e permanente aos óleos e graxas, previstos no item 1.2.11 do Anexo do Decreto 53.831/64, até porque tal exposição é inerente às funções de auxiliar de mecânico, mecânico, retificador De sede exercidas pelo autor. Mesmo que se considere que a exposição aos agentes tenha ocorrido de maneira intermitente, a TNU firmou o posicionamento de que apenas a partir da Lei nº 9.032, de 28 de abril de 1995, que alterou a redação do 3º do art. 57 da Lei nº 8.213/91, passou a ser exigida, para fins de configuração da atividade em condições especiais, a comprovação do seu exercício em caráter permanente. (P.U 200671950214055, Juiz Federal Derivaldo de Figueiredo Bezerra Filho, TNU - Turma Nacional de Uniformização, 22/04/2009). É de se notar, ainda, que nos períodos de 01/09/78 a 22/02/80 e de 01/04/80 a 19/02/82 e de 01/08/82 a 06/02/84, trabalhados como mecânico de retífica, e de 01/02/1999 a 20/09/1999, trabalhado como retificador de virabrequim, os agentes nocivos apontados no (FORM10, evento 31) são os mesmos avaliados nas demais empresas (Feres Cury Retífica e Motor Forte Ltda), sendo o ruído, inclusive, nas mesmas intensidades. Desta maneira, é possível adotar, como prova emprestada para a comprovação do ruído mencionado no, os laudos técnicos fornecidos pelas referidas empresas, os quais comprovam a exposição a ruído em intensidade superior à permitida, conforme já fundamentado acima. 200870550012073 [REA /REA] 4/5
Finalmente, quanto ao último período objeto do recurso do autor, (01/02/2003 a 03/06/2005), mantenho a sentença por seus próprios fundamentos (Lei 9.099/95, art. 46 c/c Lei 10.259/01, art. 1º). O laudo técnico 1 demonstra que no referido período, em que o autor trabalhou como retificador para a Retiel Retífica de Motores Ltda, a exposição ao ruído era intermitente. Não havendo notícia de que a dose de exposição ao ruído tenha sido maior do que 1, e havendo presunção em contrário, já que a exposição aos ruídos de 93 db e 96 db ocorriam em apenas 10 e 15 minutos diários, respectivamente, não há como ser reconhecida a especialidade do referido período. Da mesma forma, a indicação genérica ao agente nocivo óleo não é suficiente para comprovar a especialidade pretendida. Ante o exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO DO RÉU e DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DO AUTOR, para que seja acrescido à condenação o reconhecimento da especialidade dos períodos de 26/02/73 a 12/01/76; 01/09/78 a 22/02/80; 01/04/80 a 19/02/82; 01/08/82 a 06/02/84; 01/02/99 a 20/09/99, os quais devem ser convertidos em tempo comum com base no fator 1,4. Condeno o recorrente vencido (RÉU) ao pagamento de honorários advocatícios, que fixo 10% do valor da condenação, observada a súmula 111 do STJ. Curitiba, (data do ato). Assinado digitalmente, nos termos do art. 9º do Provimento nº 1/2004, do Exmo. Juiz Coordenador dos Juizados Especiais Federais da 4ª Região. José Antonio Savaris Juiz Federal Relator 1 LAU51 a 54, evento 1 e FORM 12 e 13, evento 31. 200870550012073 [REA /REA] 5/5