Esporte e Interdisciplinaridade: Proposta de Ação Desenvolvida no Projeto Guanabara



Documentos relacionados
O ENSINO DO HANDEBOL NA ESCOLA: UMA PROPOSTA DE SISTEMATIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS

METODOLOGIA: O FAZER NA EDUCAÇÃO INFANTIL (PLANO E PROCESSO DE PLANEJAMENTO)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CENTRO DE ENSINO E PESQUISA APLICADA À EDUCAÇÃO ÁREA DE COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

IMPLANTANDO O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS NA REDE ESTADUAL DE ENSINO

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

CASTILHO, Grazielle (Acadêmica); Curso de graduação da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (FEF/UFG).

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

REGULAMENTO ESTÁGIO SUPERVISIONADO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA FACULDADE DE APUCARANA FAP

CURSO: EDUCAR PARA TRANSFORMAR. Fundação Carmelitana Mário Palmério Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA EM EDUCAÇÃO FÍSICA A PARTIR DO PROJETO "BRINCANDO COM A COMUNIDADE".

INTEGRAÇÃO DE MÍDIAS E A RECONSTRUÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Pedagogia Estácio FAMAP

Projetos Interdisciplinares Por quê? Quando? Como?

O LÚDICO NA APRENDIZAGEM

PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO. Prof. Msc Milene Silva

USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA

A DANÇA E O DEFICIENTE INTELECTUAL (D.I): UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA À INCLUSÃO

O AMBIENTE MOTIVADOR E A UTILIZAÇÃO DE JOGOS COMO RECURSO PEDAGÓGICO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

Curso de Pedagogia Ementário da Matriz Curricular

Palavras-chave: Educação Física. Ensino Fundamental. Prática Pedagógica.

Política de Formação da SEDUC. A escola como lócus da formação

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES ALFABETIZADORES: O PNAIC EM FOCO

Utopias e educação libertadora: possíveis fazeres na prática escolar participativa

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR

EMENTAS DE DISCIPLINAS - BACHARELADO NÍVEL I

FACULDADES INTEGRADAS SIMONSEN INTERVENÇÃO EDUCATIVA INSTITUCIONAL PROJETO PSICOPEDAGÓGICO

DESAFIOS DE UMA PRÁTICA INOVADORA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: REFLEXÃO SOBRE O CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA COM ÊNFASE EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

TEXTO PRODUZIDO PELA GERÊNCIA DE ENSINO FUNDAMENTAL COMO CONTRIBUIÇÃO PARA O DEBATE

AVALIAÇÃO NA PRÉ-ESCOLA UM OLHAR SENSÍVEL E

A MATEMÁTICA ATRÁVES DE JOGOS E BRINCADEIRAS: UMA PROPOSTA PARA ALUNOS DE 5º SÉRIES

AS RELAÇÕES DO ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E SUAS IMPLICAÇÕES NO ENSINO REGULAR INCLUSIVO

PROCESSO EDUCATIVO, DA SALA DE AULA À EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

OBJETIVO GERAL OBJETIVOS ESPECÍFICOS

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO RESOLUÇÃO CNE/CP 1, DE 18 DE FEVEREIRO DE 2002 (*)

FACULDADES INTEGRADAS PADRE ALBINO. Catálogo 2015 do Curso de Educação Física - Licenciatura

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

ACoordenação da Pós-Graduação da Faculdade São Luís

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

EDUCAÇÃO INFANTIL E LEGISLAÇÃO: UM CONVITE AO DIÁLOGO

SER MONITOR: APRENDER ENSINANDO

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Colégio Estadual Vicente Tomazini - Ensino Fundamental, Médio e Normal Francisco Alves - Paraná

I SEMINÁRIO POLÍTICAS PÚBLICAS E AÇÕES AFIRMATIVAS Universidade Federal de Santa Maria Observatório de Ações Afirmativas 20 a 21 de outubro de 2015

CONSTITUINDO REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS: CONTRIBUIÇÕES DO PIBID PARA O TRABALHO COM ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS FACILITADORAS PARA O PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA

Princípios Políticos e Pedagógicos que subsidiaram as discussões das capacitações realizadas pelo DET/SEED até a presente data

CAPÍTULO I DAS DIRETRIZES DO CURSO

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NUMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE GUARAPUAVA: DA TEORIA À PRÁTICA

ANEXO 8 RESOLUÇÃO CNE/CP 1, DE 18 DE FEVEREIRO DE (*)

CONSELHO ESCOLAR: PARTICIPAÇÃO COMO ELEMENTO DE DEMOCRATIZAÇÃO

PIBID: DESCOBRINDO METODOLOGIAS DE ENSINO E RECURSOS DIDÁTICOS QUE PODEM FACILITAR O ENSINO DA MATEMÁTICA

CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

O PSICÓLOGO (A) E A INSTITUIÇÃO ESCOLAR ¹ RESUMO

Projeto Educativo de Creche e Jardim de Infância

Centro Acadêmico Paulo Freire - CAPed Maceió - Alagoas - Brasil ISSN:

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ENTENDENDO A PRÁTICA DE PESQUISA REALIZADA POR PROFESSORES DE CIÊNCIAS DA NATUREZA, NO SEMINÁRIO INTEGRADO DO ENSINO MÉDIO POLITÉCNICO EM IJUÍ 1

ESTATÍSTICA BÁSICA NO CURSO DE TÉCNICO INTEGRADO DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Práxis, Pré-vestibular Popular: Constante luta pela Educação Popular

ESCOLA ESPECIAL RENASCER- APAE PROFESSORA: JULIANA ULIANA DA SILVA

OFICINA DE JOGOS MATEMÁTICOS E MATERIAIS MANIPULÁVEIS

Profª. Maria Ivone Grilo

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE CAMPUS CAICÓ

PEDAGOGIA ENADE 2005 PADRÃO DE RESPOSTAS - QUESTÕES DISCURSIVAS COMPONENTE ESPECÍFICO

EMENTÁRIO DAS DISCIPLINAS DO CURSO DE PEDAGOGIA: DOCÊNCIA E GESTÃO EDUCACIONAL (Currículo iniciado em 2009)

O ESTUDO DE CIÊNCIAS NATURAIS ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA RESUMO

Carolina Romano de Andrade Mestre em Artes-UNICAMP Faculdade Integradas de Bauru-FIB Coordenadora de Pós Graduação

OS PROJETOS DE TRABALHO E SUA PRODUÇÃO ACADÊMICA NOS GT07 E GT12 DA ANPED ENTRE OS ANOS 2000/2013

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA PIBID ESPANHOL

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO GESTÃO ESCOLAR INTEGRADORA LATO SENSU MANUAL DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO

EMENTÁRIO DAS DISCIPLINAS DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO (Currículo de início em 2015)

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO FORMADOR: TRÊS ASPECTOS PARA CONSIDERAR

FACCAMP FACULDADE CAMPO LIMPO PAULISTA COORDENADORIA DE EXTENSÃO E PESQUISA

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

EXPRESSÃO CORPORAL: UMA REFLEXÃO PEDAGÓGICA

Projeto Pedagógico e de Animação Do Estremoz Férias 2015

ACESSIBILIDADE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: EXPERIÊNCIA COM UM ALUNO CEGO DO CURSO DE GEOGRAFIA, A DISTÂNCIA

APRESENTAÇÃO DE EXPERIÊNCIA

Plano de Ação da Orientação Educacional. 01- Introdução

EDUCAÇÃO AMBIENTAL & SAÚDE: ABORDANDO O TEMA RECICLAGEM NO CONTEXTO ESCOLAR

Prefeitura Municipal de Santos

PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO (PME)

Centro Universitário Newton Paiva Curso de Psicologia. Manual de Estágios Currículo

CONCEPÇÃO E PRÁTICA DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: UM OLHAR SOBRE O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO RAFAELA DA COSTA GOMES

REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO INTRODUÇÃO

TEXTO RETIRADO DO REGIMENTO INTERNO DA ESCOLA APAE DE PASSOS:

Síntese do Projeto Pedagógico do Curso de Sistemas de Informação PUC Minas/São Gabriel

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CONSELHO SUPERIOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

Palavras-chave: Políticas Curriculares; Formação de Professores; Qualidade da Educação; Plano Nacional de Educação

QUANTO VALE O MEU DINHEIRO? EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA O CONSUMO.

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PROGRAMADAS: APROXIMAÇÃO DO ACADÊMICO DE PEDAGOGIA COM O PROFISSIONAL DO ENSINO

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CONSELHO SUPERIOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO RESOLUÇÃO N , DE 27 DE FEVEREIRO DE 2013

Organização Curricular e o ensino do currículo: um processo consensuado

ISSN PROJETO LUDICIDADE NA ESCOLA DA INFÂNCIA

A PRÁTICA INVESTIGATIVA NO CURSO DE PEDAGOGIA: AVANÇOS E DESAFIOS A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO NO CONTEXTO ATUAL

Composição dos PCN 1ª a 4ª

Projeto em Capacitação ao Atendimento de Educação Especial

Transcrição:

Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária Belo Horizonte 12 a 15 de setembro de 2004 Esporte e Interdisciplinaridade: Proposta de Ação Desenvolvida no Projeto Guanabara Área Temática de Educação Resumo O Projeto Guanabara alia Educação e esporte na perspectiva educativa interdisciplinar, tendo o esporte como estruturador de todas as ações desenvolvidas no dia a dia. Segue o conceito de esporte sugerido pelo sistema CONFEF / CREF, mas amplia sua leitura na visão pluridimensional da ação esportiva, enxergando-o como manifestação em todas as formas humanas. O presente trabalho trata da aplicação do esporte no Projeto Guanabara, sua estrutura metodológica e sua ação interdisciplinar baseada na Pedagogia de Projetos. Apresenta ainda a linha metodológica específica do esporte que se baseia na construção do gesto motor de forma gradativa, criativa e inclusiva. As conclusões são direcionadas ao dia a dia das ações educativas / esportivas que têm como foco direcionador o desenvolvimento do sentido crítico, criativo, ético dos seus valores no indivíduo como um ser social, bem como os valores aliados ao esporte. Autores Profa. Dnda. Ana Cláudia Porfírio Couto - Coordenadora.EEFFTO Profa. Ms. Ivana Montandon Soares Aleixo Coordenadora.EEFFTO Prof. Mestrando Maurício Couto Coordenador CEFET- MG Prof. Humberto Rosa de Freitas Projeto Guanabara Instituição Universidade Federal de Minas Gerais UFMG e Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET-MG Palavras-chave: interdisciplinaridade; esporte; proposta de ação Introdução e objetivo Vivemos hoje numa sociedade contemporânea a qual se pauta por novos valores sociais, dentre os quais o corpo assumiu um papel de grande destaque, através de sua exploração pela mídia. Partindo desta constatação a valorização dos esportes está no auge, diante das suas várias manifestações, ou seja, de rendimento, de reabilitação, de lazer, de espetáculo e escolar. O esporte de rendimento baseia-se exclusivamente na obtenção de melhores resultados. O esporte de reabilitação direciona-se às pessoas deficientes ou com alguma seqüela de acidente. O esporte de lazer é dedicado à prática da atividade física, como promoção da saúde. O esporte de espetáculo traduz a beleza de agregação do esporte, levar milhares de pessoas aos campos, estádios ou ginásios. O esporte escolar está diretamente relacionado aos conteúdos da Educação Física, que hoje é tratada no ambiente escolar como as outras disciplinas fazendo parte da estrutura curricular do ensino. Como tratar o esporte na escola, diante de tantos desafios? A mídia, a diversidade cultural das crianças, as escolinhas de esporte e as manifestações esportivas.

O esporte deve ser um mecanismo de inclusão, por intermédio de jogos esportivos, cooperativos, brincadeiras, dentre outros, para que possam ser desenvolvidos os saberes pessoais, cognitivos e sociais das crianças e adolescentes, respeitando sua individualidade e particularidades do desenvolvimento motor e aprendizagem motora. A relação do esporte na sociedade,bem como a vivência do corpo no esporte, são frutos de discussão constante no Projeto Guanabara. O Projeto Guanabara é fruto de uma parceria com o Instituto Ayrton Senna e UFMG,desde 1996. Atua diretamente nas seguintes áreas acadêmicas : Esporte, Arte, Pedagogia, Saúde e Avaliação. O referido projeto tem como objetivo geral contribuir para a melhoria do desenvolvimento humano de crianças e adolescentes dos 07 aos 14 anos. Atuamos frente a perspectiva da Educação pelo Desenvolvimento Humano, à luz dos Pilares da Educação (UNESCO) e da Educação em Valores. Este estudo é resultado das ações diárias do Projeto Guanabara,o qual ao longo de sete anos de existência prioriza em suas atividades os projetos interdisciplinares, tendo o esporte como eixo estruturador. As discussões permanentes se pautam na melhoria da participação do acadêmico envolvido e das crianças e adolescentes que se tornaram mais críticos e autônomos. Por se tratar de um relato de experiência, não há neste estudo quantificação de dados, mas uma explanação do que vem sendo realizado, gerando assim uma possibilidade a outros projetos de adequarem sua metodologia à educação pelo esporte. Objetivamos, pois, traçar a referência de ação do Projeto Guanabara na perspectiva interdisciplinar do esporte e outras áreas acadêmicas. 2 Conceito de Esporte Diante de tantos questionamentos, a partir da regulamentação da profissão de Educação Física, datada de 1998, o CONFEF, através da resolução no 046/2002, dispôs sobre a intervenção do Profissional de Educação Física, documento, o qual trata também de algumas conceituações da terminologia utilizada atualmente pelos conselhos. Esporte / Desporto Atividade competitiva, institucionalizada, realizado conforme técnicas, habilidades e objetivos definidos pelas modalidades desportivas, determinado por regras preestabelecidas que lhe dá forma, significado e identidade, podendo também, ser praticado com liberdade e finalidade lúdica estabelecida por seus praticantes, realizado em ambiente diferenciado, inclusive na natureza (jogos: da natureza, radicais, orientação, aventura e outros). A atividade esportiva aplica-se, ainda, na promoção da saúde e em âmbito educacional de acordo com diagnóstico e/ou conhecimento especializado, em complementação a interesses voluntários e/ ou organização comunitária de indivíduos e grupos não especializados. Seguindo a linha conceitual de esporte citada, podemos nos basear no Ideário do PEE, que tem como concepção sustentadora a educação pelo esporte através da criação de possibilidades ao educando a prática desportiva, adequada às suas possibilidades maturacionais e atrelada ao seu desenvolvimento, sendo esta a função do professor de Educação Física. Entendendo, pois, que as relações esporte-educação se concretizam, entre nós, sob três modalidades básicas: esporte como conteúdo curricular da disciplina de educação física; esporte como instrumento pedagógico-social (componente de uma diversidade de programas educativo-sociais); esporte como eixo estruturador de programas de educação integral. 3 Esporte e Projeto Guanabara

O esporte no Projeto Guanabara é o eixo condutor e estruturador das ações diárias, bem como articulador com as atividades das outras áreas envolvidas. O objetivo básico é proporcionar aos alunos, jogos, atividades recreativas, esportivas e rítmicas, aliadas às aprendizagens fundamentais visando reflexo positivo em suas relações cotidianas e ampliar os conhecimentos sobre a cultura popular brasileira através da capoeira. A atuação valoriza os princípios de formação e desenvolvimento humano à luz dos pilares da educação e valores. Entendemos o esporte de uma maneira mais ampla, ou seja, temos como meta Identificar o desporto como ação inerente do ser humano, o qual o utiliza no dia a dia, sejam nas atividades informais como caminhar, correr, brincar e etc sejam nas atividades formais, intituladas aulas de Educação Física, o desporto é, pois toda a manifestação do ser humano em valorização do seu corpo, partindo desta concepção concordamos com Garcia (2002), quando diz que desporto é tudo aquilo que em cada momento se considera desporto. Desporto, por isto, é uma estrutura de sentido proporcionado pela cultura que atribui determinados significados aos diferentes movimentos humanos, numa clara interrelação entre os planos individual e social. Metodologia A base teórica que fundamenta as aulas de Educação Física é o IEU (Iniciação Esportiva Universal Greco e Benda, 1998), que preconiza as ações esportivas tendo como princípio o desenvolvimento da criança e suas capacidades em cada faixa etária. O processo citado é dividido em nove fases, que são baseadas em princípios pedagógicos, biológicos, metodológicos e gerenciais, a saber: Fase pré escolar 0 aos 06 anos (incompletos): Segundo KREBS (1992) acredita que, nesse período até o final do ensino fundamental, o professor deverá proporcionar uma vivência diversificada de movimentos, sem que haja exigência de um padrão ideal. Fase universal 06 aos 12 anos: Fase mais longa e mais rica. Conforme GALLAHUE (1989), citado por GRECO e BENDA, (1998), nesta fase a criança se encontra com as habilidades básicas de locomoção, manipulação e estabilização em refinamento progressivo, podendo assim participar de um número maior e mais complexo de atividades motoras. Nesta faixa etária deve-se procurar desenvolver todas as capacidades coordenativas das crianças, de uma maneira bastante ampla e variada, ressaltando o aspecto lúdico em todas as ações. Fase de orientação 11 aos 14 anos: Esta etapa apóia-se na experiência adquirida na fase anterior, nesta deve-se procurar o desenvolvimento e aperfeiçoamento das capacidades físicas (motoras e coordenativas), iniciando-se o trabalho de aprimoramento da técnica, no qual os objetivos da mesma devem ser vistos de forma global. A criança deve adquirir uma gama gestual básica da técnica, sem exigências de perfeição em alto grau. As fases subseqüentes não se aplicam às faixas etárias do Projeto Guanabara (Fase de direção 15 e 16 anos; Fase de Especialização - 17 e 18 anos; Fase de Aproximação/ Integração - 18 aos 21 anos; Fase de Alto Nível; Fase de Recuperação/Readaptação; Fase de Recreação e Saúde) É de fundamental importância o caminho metodológico a ser seguido, a cada fase diferenciada à criança deve ser apresentada as atividades seguindo uma cronologia de facilitação de execução, para que não haja especialização precoce e exclusão nas ações esportivas, ao contrário, os jogos, brincadeiras e outras atividades devem ser sempre participativos, cooperativos e de incentivo à socialização de todos. Isto leva a crer que a estratégia básica deve ser do conhecido para o desconhecido, do fácil para o difícil e do simples para o complexo, a fim de que as crianças sintam-se mais a vontade, integrem-se com mais facilidade e possam participar mais ativamente.

O aprimoramento das habilidades motoras e capacidades coordenativas, segundo GRECO e BENDA, (1998), deve seguir o seguinte roteiro, com bastante criatividade do professor e muito auxílio das crianças: Criança e um aparelho; Criança e dois aparelhos; Criança e três aparelhos; Duplas, trios e grupos. Concluindo, os processos de formação da criança, sua intelectualidade, sua formação motora e sua personalidade, referem-se a um ser humano que vive em um mundo social composto por diferentes elementos, como família, escola e comunidade, cada um destes é parte fundamental no sucesso do desenvolvimento das mesmas, cabendo a todos um olhar criterioso e cauteloso para cada ação a ser realizada, a fim de que os frutos a serem colhidos sejam sempre os mais saborosos. Aliado à Iniciação Esportiva Universal a Escola da Bola vem sendo implantada no Projeto Guanabara, as quais geram grandes possibilidades no ensino do esporte, visto que o aluno terá a possibilidade de vivenciá-lo, conhecê-lo e fundamentalmente praticá-lo. A Escola da Bola é uma proposta alemã que tem como objetivo possibilitar que as crianças provem, experimentem de forma rica e variada, diferentes alternativas de movimento. Sem pressões psicológicas e fundamentalmente sem ter que adotar modelos ou parâmetros de rendimento consagrados pelos e para os adultos. A Escola da Bola pode ser traduzida por sua estruturação em três pilares: Treinamento tático (capacidades táticas) Aprendizagem técnica (habilidades técnicas) Capacidades coordenativas O trabalho da escola da bola prevê 07 princípios direcionais para o desenvolvimento das capacidades táticas: Acertar o alvo Transportar a bola para o alvo Tirar vantagem Jogo coletivo Reconhecer os espaços Sair da marcação Apresentar-se para receber o passe Estes elementos são básicos, estão presentes em todos os esportes e podemos desenvolvê-los com qualquer tipo de bola, hierarquicamente. Com base na faixa etária vai-se aumentando ou diminuindo a dificuldade. As capacidades coordenativas são desenvolvidas com base nos analisadores (ótico, acústico, tátil, sinestésico, vestibular). E nas condicionantes (tempo, precisão, complexidade, organização, carga, variabilidade). Enfim as habilidades técnicas, que irão também apoiar o trabalho do esporte, a partir de 07 parâmetros que deverão ser desenvolvidos: Organização dos ângulos Controle da força Determinar o tempo de passe Determinar as linhas de corrida e o tempo da bola Antecipar a direção do passe Antecipação defensiva Observar os deslocamentos Resultados e discussão

A Relação Interdisciplinar no Projeto Guanabara A relação entre a teoria e prática se articula com uma relação de saberes em torno das disciplinas apresentadas tornando-se um caminho retilíneo em relação à aprendizagem voltada ao aluno. A aprendizagem em compartimentos traz a aprendizagem que ao longo dos anos se utiliza nos currículos como disciplinas isoladas em séries ou em matérias classificando assim os currículos escolares. A proposta da interdisciplinaridade atua estabelecendo um novo sentido de relacionar saberes e de como realizar a articulação da aprendizagem individual com conteúdos de diferentes disciplinas. Podemos caracterizar a interdisciplinaridade como um intercâmbio, uma troca de saberes com vista à complementaridade do conhecimento, para melhor explicar os fenômenos na sua totalidade. ASENSIO citado por HERNÁNDES (1987) o qual diz que a interdisciplinaridade se entende fundamentalmente como a tentativa voluntária de integração de diferentes ciências com objetivo de conhecimento comum, a integração pode produzir-se entre disciplinas próximas em seu método ou nos objetos que abordam, ou entre saberes distantes frente aos quais se faz necessário um considerável esforço entre seus modos de ver a realidade e entre seus conteúdos. As realidades abordadas são as mesmas, valendo o enfoque específico privilegiado por cada uma delas na sua perspectiva de análise. Autores como PEREIRA & SIQUEIRA (1995), FAZENDA (1994), e HERNÁNDEZ & VENTURA (1998), fazem uma leitura da interdisciplinaridade como o rompimento de barreiras que estruturam a educação numa perspectiva unidimensional. A interdisciplinaridade é uma tarefa desafiadora. Atuar sob a perspectiva interdisciplinar no processo educativo é visualizar a educação como pluridimensional, valorizando os diversos conteúdos comuns e unitários das várias disciplinas, numa simbiose de saberes. Conforme o DICIONÁRIO DE SOCIOLOGIA (2002), cada ciência mantém o seu foco, a sua especificidade ocorre a partir destas singularidades, a troca como contribuição na formação do ser humano, dentro dos princípios éticos da educação e pesquisa. Atuar numa postura interdisciplinar não significa apenas acoplar e ajustar conteúdos, mas sim uma mudança de visão profissional, um ajustamento e finalmente uma quebra de barreiras pessoais. A interdisciplinaridade então pressupõe uma relação íntima de diferentes áreas, com seus diferentes profissionais, que têm como objetivo a formação humana, utilizando-se dos seus saberes e do intercâmbio entre eles para atingir o fim maior, a educação. O eixo estruturador do Projeto Guanabara nas suas ações diárias está pautado à luz dos Projetos de Trabalho interdisciplinares. A proposta que inspira os projetos de trabalho está vinculada à perspectiva do conhecimento globalizado e relacional. Essa modalidade de articulação dos conhecimentos é uma forma de organizar a atividade de ensino aprendizagem - treinamento, que implica considerar que tais conhecimentos não se ordenam para sua compreensão de uma forma rígida, nem em função de algumas referências disciplinares pré-estabelecidas ou de uma homogeneização dos alunos. A função do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação ao tratamento da informação que trata de diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos construir seus conhecimentos.

Um projeto pode organizar-se seguindo um determinado eixo: a definição de um conceito, um problema geral ou particular, um conjunto de perguntas inter-relacionadas, uma temática que parta da necessidade dos educandos. Nesse sentido a finalidade do ensino passa a ser a de promover a compreensão dos problemas que são investigados. Compreender é ser capaz de ir além da informação dada, é poder reconhecer as diferentes versões de um fato, buscar explicações e propor hipóteses sobre as conseqüências dessa pluralidade de pontos de vista. Os projetos apontam para outra maneira de representar o conhecimento baseando-o na aprendizagem da interpretação da realidade, orientada para o estabelecimento de relações entre a vida dos educandos e educadores e o conhecimento que as disciplinas e outros saberes não disciplinares vão elaborando. Trabalhando-se por projetos, aprende-se participando, vivenciando sentimentos, somando-se atitudes, escolhendo procedimentos. Ensina-se principalmente, pelas experiências proporcionadas, pelos problemas criados, pela ação desencadeada. A atuação interdisciplinar por projetos nos leva a refletir todos os aspectos inerentes ao trabalho desenvolvido. Incentiva a investigação e amadurecem os conceitos da avaliação, a qual permeia e possibilita a efetivação dos planejamentos propostos. A avaliação, dentro dessa perspectiva, tem um papel importantíssimo em todo processo de elaboração, planejamento, execução e avaliação de um projeto. A avaliação deve ser um meio e não uma finalidade, constituindo-se num dos pontos vitais da prática educativa. O Projeto Guanabara busca a partir do referencial teórico do esporte a relação entre os diferentes saberes das áreas atuantes no mesmo. Os projetos de trabalho são então articulados à luz de um tema comum, relacionado ao esporte, com objetivos comuns, que se concretizarão na inter-relação dos diferentes conteúdos, respeitando a especificidade de cada área. Finalizando, a interdisciplinaridade vista como uma troca de saberes nos conduz a um caminho de reflexões e buscas incessantes na melhoria da qualidade da educação. Atividades Gerais Desenvolvidas nos Projetos Interdisciplinares Os conteúdos do esporte são divididos conforme o projeto em questão, os valores a serem aprofundados, a aprendizagem a ser desenvolvida e com base no planejamento realizado com as crianças. Trabalhamos, pois com todas as manifestações esportivas possíveis, com a exceção das lutas que ainda não foram implantadas. Atividades de coordenação motora (através das capacidades coordenativas) Atividades esportivas (modalidades esportivas, coletivas e individuais) Atividades folclóricas, Atividades recreativas, Atividades rítmicas, Dinâmicas de integração e socialização, Jogos cooperativos, Capoeira (Através dos elementos da cultura da capoeira Regional e Angola) Conclusões Assim, procuramos a cada conteúdo trabalhado, desenvolver o sentido crítico, criativo, ético e seus valores no indivíduo como um ser social, bem como os valores aliados ao esporte. As ações geralmente são baseadas numa combinação de atividade nas quais dentro do conteúdo esportivo aplicamos a contextualização social e sua importância na aplicação deste conteúdo.

As transformações sociais se consolidam através das ações do cotidiano nos projetos, são pequenos atos que se transformam em grandes gestos numa rede que pode gerar futuras modificações sociais. Com o propósito de integrar o indivíduo nessa sociedade que se forma, a educação pelo esporte deve direcionar suas ações ao crescimento dos mesmos aprofundando nas constantes transformações do mundo. Referências bibliográficas COLETÂNEA DE TEXTOS IAS, Projeto Guanabara, 2001. P.44 a 56. COSTA, A. C.G.Ideário do programa de educação pelo esporte. São Paulo: Instituto Ayrton Senna, 2000. COUTO, A.C.P. Nado Crawl: Análise do processo ensino-aprendizagem- treinamento Dissertação de mestrado. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 1998. COUTO, A.C.P. Referencial teórico do Projeto Guanabara: conteúdos da Educação Física a serem desenvolvidos nos projetos de educação pelo esporte. In Garcia, E. S. e LEMOS, K.L.M Temas Atuais VI Educação Física e Esportes. Editora Health, Belo Horizonte, 2001. COUTO, M.A. Metodologia da Avaliação no Projeto Guanabara. Belo Horizonte, 2000. (Texto para fins didáticos no Projeto Guanabara, não publicado) DICIONÁRIO DE SOCIOLOGIA. Porto Editora, Porto, 2002. FAZENDA, I. A.C. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Campinas, Papirus, 1994. Garcia, R.P.. Contributo para uma compreensão do desporto: uma perspectiva cultural. In Esporte e Atividade Física Interação entre rendimento e saúde. Editora Manole. São Paulo. 2002 (P. 321-337). Garcia, R.P.. Compreensão da Educação Física à luz das mutações axiológicas deste final de milênio. Revista Práxis de Educação Física e do desporto. UERJ. Rio de Janeiro. 2001 GOMES, P. e GRAÇA A.. Educação Física e Desporto na Escola Novos desafios diferentes soluções. FCDEF- Porto 2001. GRECO, P.J.; BENDA, R. Iniciação Esportiva Universal (Vol. 1 e 2). Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. HERNANDÉZ, F. e VENTURA, M.; (trad. Jussara Houbert). A organização do currículo por projetos de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. --------------------.Presença Pedagógica, vol. 4, no 20 e 21, mar/abr e mai/jun, 1998. KREBS, R. J. Da estimulação à especialização motora. (S.L.) KINESIS,1992. PEREIRA, M. A. & SIQUEIRA, H. S. G.. A interdisciplinaridade como superação da fragmentação. Caderno de Pesquisa, nº 68 UFSM, set/ 95. Resolução CONFEF no 046/2002 Conselho Federal de Educação Física Intervenção do Profissional de Educação Física. Rio de Janeiro, 2002 ROTH, K. & KROEBER, C. Escola da Bola: Um ABC para iniciantes nos jogos esportivos. São Paulo: Phorte Editora, 2002. (Trad. Pablo Juan Greco)