EDUCAÇÃO INFANTIL: UM RELATO DO TRABALHO COM AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS NO BERÇÁRIO



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Transcrição:

EDUCAÇÃO INFANTIL: UM RELATO DO TRABALHO COM AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS NO BERÇÁRIO Childhood education: A report of work with multiple languages in the nursery Nayara Carmem Batista, Kamilla Botelho de Oliveira, Natali Faria Silva e Juliana Aparecida Fialho Cardoso. Resumo Este trabalho caracteriza-se como um relato de experiência, fruto de um trabalho desenvolvido no ano de 2012 com crianças na faixa etária entre três meses a um ano que frequentam o Berçário do Laboratório de Desenvolvimento Infantil da Universidade Federal de Viçosa (MG). Em linhas gerais, pode se inferir que o trabalho desenvolvido vai ao encontro com a teoria do desenvolvimento humano de Piaget e com o recomendado pelo Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, pois além de uma rotina de atividades que visa o desenvolvimento integral da criança e as múltiplas linguagens, as crianças foram ativas na construção do seu conhecimento. Palavras-chave: Berçários, educação infantil, desenvolvimento infantil. Abstract This study is characterized as an experience report, the result of the work developed with children aged between three months and one year attending in the Nursery of the Federal University of Viçosa, Viçosa City, Minas Gerais State, Brazil. In general, it can be inferred that the work meets with the human development theory of Piaget and with recommended by the National Curriculum for Early Childhood Education, as well of routine of activities aimed at holistic development of children and multiple language, children were active in building their knowledge. Keywords: Nurseries, childhood education, child development. 1- INTRODUÇÃO Ao longo da nossa trajetória como estudantes, estagiárias e professoras, percebemos, que de acordo com o senso comum o trabalho com crianças na educação infantil e principalmente com crianças que frequentam a creche (atendimento à crianças de 0 a 3 anos) é essencialmente um trabalho de cuidar, voltado para as necessidades básicas de alimentação e higiene, sendo o professor considerado um cuidador. Portanto, o presente trabalho tem por objetivos: relatar a experiência do trabalho desenvolvido com crianças na faixa etária entre três meses a um ano que frequentam o RAI. RUM., VOL. 02 Nº 01, 62-155, RIO DE JANEIRO, JUN., 2014

Berçário do Laboratório de Desenvolvimento Infantil da Universidade Federal de Viçosa (MG) no ano de 2012; suscitar reflexões do trabalho com as múltiplas linguagens desenvolvido na educação infantil à luz da teoria Piagetiana. Procuramos por meio da prática diária com as crianças, demonstrar como é possível integrar o cuidar e o educar desde esta fase do desenvolvimento, fazendo uma relação com a teoria Piagetiana que aborda sobre o desenvolvimento humano e sobre o trabalho com as múltiplas linguagens. 2.1 O cuidar e o educar na Educação Infantil 2- REVISÃO DE LITERATURA Desde que a educação infantil se tornou um direito ela está em evidência nas discussões do quadro educacional. O governo passou a tratar o cuidado e a educação na primeira infância como assuntos prioritários, várias legislações, como por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), foi criado para respaldar os direitos das crianças. Além do estatuto, a Lei de Diretrizes e Bases (1996), trouxe uma rica contribuição sobre o cuidado e a educação na educação infantil. Os primeiros anos de vida são verdadeiramente importantes para a educação. Segundo autores como Piaget e Vigotsky que estudam sobre o desenvolvimento infantil, a construção do conhecimento e aquisição da aprendizagem, bem como a aquisição de habilidades, valores e atitudes são desenvolvidas nesta fase e permanece no individuo durante toda vida. Nessa mesma linha a LDB (1996) trás contribuições sobre o educar na educação infantil, um educar que não pode ser desvinculado do cuidar para que se atinja assim a qualidade no ensino. Para isso, devemos considerar as crianças nos seus contextos sociais, ambientais, culturais e, em especial, nas interações e práticas sociais que lhes fornecem elementos relacionados às diversas linguagens, além do contato com os mais variados conhecimentos, favorecendo assim, a construção da autonomia. 2.2 As múltiplas linguagens na Educação Infantil De acordo com OLIVEIRA (2006), as diferentes linguagens presentes nas atividades realizadas nas creches e pré-escolas possibilitam às crianças trocar observações, ideias e planos. Como sistemas de representação, essas linguagens estabelecem novos recursos de aprendizagem, pois se integram às funções psicológicas superiores e as integram. Com isso, ocorre uma reorganização radical nos interesses e exigências infantis, modificando a relação existente entre a ação e o pensamento infantil. Nas palavras de BARRETO (2006), trabalhar com múltiplas linguagens é considerar as formas próprias de cada sujeito, se utilizar destas linguagens de maneira articulada, e ainda, dar lugar às diferentes formas de entender, de explicar, de interpretar e de simbolizar no ambiente escolar. Assim, acredita-se que a criança poderá ter um encontro com si próprio, com o outro e com o mundo que o cerca, através de outra linguagem, que favorece múltiplas formas de ser, dizer e sentir, de expressar-se e de representar o mundo à sua forma. A seguir, será abordada uma breve apresentação sobre cada uma das linguagens a serem contempladas neste projeto. Embora as linguagens sejam relacionadas entre si, para fins didáticos, iremos apresentá-las separadamente de modo a facilitar o entendimento das mesmas. I. Ciências RAI. RUM., VOL. 02 Nº 01, 63-155, RIO DE JANEIRO, JUN., 2014

O ensino de ciências na educação infantil acontece preferencialmente integrado às demais áreas de conhecimento, proporcionando, através dos conhecimentos acumulados das teorias, das metodologias e dos instrumentos da área, uma riqueza de possibilidades de exploração do mundo realizada pelas crianças (CRAIDY e KAERCHER, 2001). As atividades de ciências são divididas em atividades de ciências sociais e ciências naturais. A primeira envolve conhecimentos de diferentes culturas, etnias, valores, a geografia e história. Ao organizar esse conteúdo é possível proporcionar à criança conhecimentos em relação a si mesma, à sua família, à sua escola, comunidade e sociedade em que vive. As ciências Naturais têm como objetivo proporcionar as crianças experiências e situações que possam ajudá-las a conhecer o mundo em que vivem. Envolve conhecimentos sobre os seres humanos, os animais, os vegetais, a terra, a água, o ar, etc. II. Linguagem Oral e escrita Deve-se começar desde a educação infantil a incentivar o desenvolvimento de comportamentos de leitores, antes mesmo de as crianças aprenderem formalmente a ler. Outro ponto em destaque é o trabalho para desenvolver a oralidade. Com as crianças menores é possível trabalhar esta questão utilizando mensagens curtas (pedidos, comandos, música, etc.), para que possam, gradualmente, substituir a comunicação não verbal (gestos, mímicas), pela comunicação verbal (palavras, frases). Além de trabalhar com as brincadeiras cantadas, com músicas e cantigas de rodas, trava-línguas e parlendas, em todas as faixas etárias, levando em consideração o estágio de desenvolvimento da criança. Portanto, as atividades de linguagem oral e escrita têm como objetivo oferecer às crianças experiências significativas e interessantes, possibilitando-as experimentar a riqueza e complexidade da nossa língua falada e escrita. III. Linguagem Matemática De acordo com o Referencial Curricular para a Educação Infantil (1998), fazer matemática é expor ideias próprias, escutar a dos outros, é buscar resolver problemas, antecipar resultados, aceitando os erros e criando seu próprio modo para chegar às conclusões. O trabalho com a Matemática pode contribuir para a formação de cidadãos autônomos, capazes de pensar por conta própria, sabendo resolver problemas. Piaget demonstrou cientificamente que cada criança constrói ou cria o conhecimento matemático interiormente, ou seja, de dentro para fora. A formação do conceito de número se dá em conexão com o desenvolvimento das operações infra lógicas de conservação de quantidade e das operações lógicas de classificação e seriação. IV. Linguagem Corporal A corporeidade contribui para a formação motora, social e estética das crianças. Ela gera habilidades corporais, levando as crianças a entenderem suas expressões espontâneas como uma forma de arte, além de colaborar no desenvolvimento dos indivíduos como seres sociais. V. Linguagem Musical A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música também é um excelente meio para o desenvolvimento da expressão, equilíbrio, autoestima e do autoconhecimento, além do poderoso meio de interação social. RAI. RUM., VOL. 02 Nº 01, 64-155, RIO DE JANEIRO, JUN., 2014

VI. Linguagem plástica e imagética A arte é inerente ao homem e, portanto, está presente em todas as manifestações culturais. Ao permitir que a criança crie livremente, seus desenhos, ela imprime sua marca no universo em que vive. Por meio da arte a criança poderá conhecer a leitura do mundo de outra pessoa e a história de vida, vivendo outras experiências, outros sentimentos, inserindo num outro tempo, num outro lugar, em outra época. A expressão plástica além do seu valor como linguagem expressiva é o canal para a expressão de conteúdos mentais, de caráter estético e emocional, também para a expressão de conteúdos intelectuais acerca de configurações visuais ou espaciais, tornando possível a materialização das ideias, junto com a formação e o desenvolvimento da motricidade, da afetividade e da cognição da criança (ARRIBAS, 2004). 2.5 Os estágios do desenvolvimento humano de acordo com Piaget Piaget explica muitos aspectos do pensamento e comportamento das crianças, considerando que estas passam por estágios de desenvolvimento. A classificação por estágios é um meio para compreender o processo de desenvolvimento do ser humano. São formas de interagir com o ambiente que tem características semelhantes. Os estágios traduzem diferentes formas de organização mental e diferentes estruturas cognitivas. Cada estrutura traduz uma forma particular de equilíbrio nos intercâmbios do ser humano com o mundo que o rodeia. Em linhas gerais, Piaget (1976) esquematizou o desenvolvimento intelectual nos seguintes estágios: Estágio Sensório-Motor (0 a 2 anos); Estágio Pré-Operatório (2 a 6 anos); Estágio de Operações concretas (7 a 11 anos) e Estágio de Operações Formais (12 anos em diante). É importante chamar atenção de que as idades cronológicas sugeridas são apenas norteadoras, referindo-se a idades mais prováveis em que a criança apresenta os comportamentos descritos em cada estágio. Esses estágios são contínuos e cada um deles é elaborado a partir do anterior. Piaget acredita que nenhuma criança possa omitir qualquer um dos estágios, pois cada nova experiência é agregável no material já acumulado, havendo sempre uma relação entre as habilidades e crianças atuais da criança de todo o seu passado. A criança do estágio sensório-motor constrói a partir do que já possui, que são os 5 sentidos mais a preensão e a sucção, os esquemas sensórios-motores, que servirão de ponto de partida para a inteligência sensório-motora. O comportamento da criança neste estágio é basicamente motor e muito do conhecimento construído durante este estágio é conhecimento físico, conhecimento sobre as características físicas dos objetos, adquirido através da manipulação, da criança sobre o meio. 3- METODOLOGIA O cenário foi Laboratório de Desenvolvimento Infantil - LDI, é parte do Departamento de Economia Doméstica da Universidade Federal de Viçosa - UFV, e tem como objetivo o atendimento à criança de 03 meses a 05 anos de idade e sua respectiva família. Seu atendimento é dividido em 6 salas (Berçário A, Berçário B, Sala1, Sala2, Sala3 e Sala 4 ). Este trabalho foi desenvolvido no ano de 2012, com as crianças que frequentam o Berçário A, ou seja, crianças na faixa etária entre três meses a um ano e suas respectivas famílias. Ele surgiu diante da necessidade de registrar o trabalho desenvolvido com as crianças para apresentar aos pais, de modo a demonstrar que desde o berçário é feito um trabalho que envolve o cuidar e o educar de forma integrada e que são trabalhadas múltiplas RAI. RUM., VOL. 02 Nº 01, 65-155, RIO DE JANEIRO, JUN., 2014

linguagens. Portanto, trata-se de um trabalho independente, desenvolvido por funcionárias do Laboratório de Desenvolvimento Infantil da Universidade Federal de Viçosa, não estando vinculado a nenhum órgão (Departamento, Pró-reitoria). Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica de modo a esclarecer conceitos como as múltiplas linguagens e o desenvolvimento infantil. Para as múltiplas linguagens tomou-se como base o Referencial Curricular nacional para Educação Infantil (1998), livros da biblioteca da Universidade Federal de Viçosa e artigos da Internet. Para esclarecer sobre o desenvolvimento humano tomou-se como base a teoria Piagetiana. Também foi feita uma leitura minuciosa do Projeto Político Pedagógico da instituição para juntamente com a pesquisa bibliográfica termos base para planejar as atividades. O planejamento das atividades a serem desenvolvidas com as crianças foi feito semanalmente. O momento do planejamento também foi utilizado para tirar dúvidas e discutir as atividades planejadas com as coordenadoras pedagógicas. Por fim, após a execução do trabalho foi feita uma reunião com os pais para apresentação das atividades. 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 A Rotina do Berçário A rotina do berçário é algo que já estava determinado, porém ela é flexível, e de fundamental importância, a criança se sente mais segura, pois começa a antecipar os fatos, os pais também se sentem seguros, pois sabem exatamente o que os filhos fazem, além de auxiliar os profissionais no desenvolvimento das atividades e no bom funcionamento da sala. A rotina do Berçário é dividida conforme a tabela 1. Tabela 1- Rotina do berçário A HORÁRIO e ATIVIDADES 07:30 8:30 Recepção 08:30 09:00 Lanche 09:00 9:40 Atividades no solário 09:40 10:50 Atividades na sala e banho 10:50 11:30 Almoço 11:30 13:00 Atividades livres 13:00 14:00 Lanche 14:15 15:00 Atividades na Sala 15:00 15:30 Hidratação- Suco 15:30 16:30 Atividades no solário 16:30 17:00 Jantar 17:00 18:00 Atividades na sala e saída das criança 4.2 Planejamento O planejamento do Berçário A é foi feito semanalmente com a ajuda das coordenadoras pedagógicas. Ele é flexível, podendo ser alterado de acordo com a necessidade. São planejadas atividades para todos os dias, levando em conta os ambientes e que se contemplem as diversas áreas do conhecimento, conforme ilustrado na tabela 2. Tabela 2- Planejamento diário ÁREAS DE CONHECIMENTO ATIVIDADES/ Ciências Ciências Linguagem oral Linguagem Corporal e/ou Plástica e AMBIENTE Naturais Sociais e escrita Matemática Musical Imagética Recepção Colchão Chão RAI. RUM., VOL. 02 Nº 01, 66-155, RIO DE JANEIRO, JUN., 2014

Barras Espelho Solário Banho Música História 4.3 As refeições, o repouso e as trocas As refeições no Berçário A são feitas no carrinho, sendo num total de cinco refeições diárias. Antes de cada refeição as crianças são convidadas para lavarem as mãos e as funcionárias conversam com elas a respeito do cardápio. A água é oferecida ao longo do dia em livre demanda. O repouso e as trocas também são livres e de acordo com a necessidade de cada criança. 4.4 A recepção Os pais ou responsáveis chegam com as crianças entre 07h30min e 08h30min da manhã, ambos são acolhidos por duas funcionárias e atividades são programadas especificamente para este horário. Cada criança é acolhida individualmente e são estimuladas a se despedirem dos pais e a brincarem com os brinquedos disponibilizados. As funcionárias também cantam músicas e buscam atrair o interesse da criança. 4.5 Banho O banho também é um momento que interage o cuidar e o educar. Sempre são desenvolvidas atividades neste momento. As crianças são estimuladas a sentirem os cheiros e a conhecerem as partes do corpo, além de serem propostas atividades que envolvem as múltiplas linguagens. 4.6 Atividades na sala Muitas foram as atividades e os projetos desenvolvidos com as crianças ao longo do ano de 2012, mas para fins ilustrativos serão abordadas apenas algumas. 4.6.1 Ciências Naturais A foto 1 ilustra uma atividade que estimulou o paladar, sendo apresentada uma fruta (o mamão) inteira para as crianças, depois a fruta partida, mostrando as partes (semente, polpa e casca) e no final a degustação. Esta atividade teve como objetivo estimular a percepção gustativa e olfativa, além de propiciar o conhecimento de mundo. RAI. RUM., VOL. 02 Nº 01, 67-155, RIO DE JANEIRO, JUN., 2014

Figura 1 - Crianças conhecendo o mamão (foto por Autora). 4.6.2 Ciências Sociais Na figura 2 são apresentadas figuras do projeto desenvolvido com as crianças e que teve como tema a família, foram expostas na sala fotos da família de cada criança a fim de proporcionar à ela conhecimentos em relação a si mesma, à sua família, e das famílias dos seus colegas de sala. Neste projeto as famílias foram convidadas a desenvolverem atividades na sala, muitos participaram, contando histórias, tocando instrumentos e levando brinquedos. Já a figura 3 demonstra uma atividade com TV gravura em que foram apresentadas imagens de animais domésticos para as crianças, ajudando-as a conhecer o mundo a sua volta. Figura 2 - Crianças explorando as fotos do projeto família (Foto por Autora). RAI. RUM., VOL. 02 Nº 01, 68-155, RIO DE JANEIRO, JUN., 2014

Figura 3- Atividade com TV gravura (Foto por Autora). 4.6.3 Atividades de linguagem oral e escrita A figura 5 mostra o local da sala denominado Bebeteca, local que foi feito no ano de 2012, para se disponibilizar livros para as crianças manusearem, estes livros são trocados semanalmente. Já a figura 6 retrata uma interferência no espelho com o intuito de apresentar objetos sonoros para as crianças explorarem, aprenderem o nome e observarem a escrita, além disso, estimulou na criança a construção da auto-imagem, pois a criança era levada até o espelho e dizíamos: Este é você e (falava o nome da criança), olha você no espelho! Figura 5- Criança manipulando livro (Foto por Autora). RAI. RUM., VOL. 02 Nº 01, 69-155, RIO DE JANEIRO, JUN., 2014

Figura 6 - Interferência no espelho (Foto por Autora). 4.6.4 Linguagem Matemática A figura 7 ilustra uma trilha feita no chão, com o intuito das crianças seguirem o percurso delimitado. Também foram colados na trilha peixes de diferentes tamanhos e cores. Figura 7- Crianças brincando na trilha (foto por Autora). 4.6.5 Linguagem corporal e musical Nas atividades voltadas para esta linguagem busca-se propiciar o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e do autoconhecimento, além do poderoso meio de interação social. Na figura 8 destaca-se uma atividade de apreciação musical em que as crianças estão ouvindo músicas tocadas no instrumento musical cítara. Na figura 9 buscou-se estimular nas crianças a produção musical. RAI. RUM., VOL. 02 Nº 01, 70-155, RIO DE JANEIRO, JUN., 2014

Figura 8- Crianças apreciando o som da cítara (Foto por Autora). Foto 9- Crianças manipulando o pandeiro (Foto por Autora) 4.6.5 Linguagem plástica e imagética Na atividade da foto 11 é apresentada uma pintura com tinta comestível (feita com beterraba, água e amido de mandioca) em que se estimulou a livre expressão. Foto 11- Criança fazendo pintura com tinta comestível (Foto por Autora). RAI. RUM., VOL. 02 Nº 01, 71-155, RIO DE JANEIRO, JUN., 2014

4.7 História Damos destaque para esta atividade, pois ela é desenvolvida diariamente e busca-se utilizar diferentes instrumentos de contação de história. Na figura 12 é apresentada uma história de livro. Figura 12- Crianças ouvindo história (Foto por Autora). 5- CONSIDERAÇÕES FINAIS Este relato buscou possibilitar reflexões a respeito do trabalho desenvolvido na educação infantil, mas especificamente com crianças de três meses a um ano que se encontram no estágio sensório motor de acordo com a teoria Piagetiana. Ajudando na superação do senso comum de que este seria um trabalho essencialmente voltado para os cuidados básicos de alimentação, troca e banho. Deste modo, percebe-se que desde os primeiros meses de vida deve-se estimular o desenvolvimento e aprendizagem das crianças, realizando um trabalho que envolve várias áreas do conhecimento e integrando o cuidar e o educar. Além disso, destacamos que o trabalho desenvolvido com as crianças surge por meio de projetos, que são propostos pelos professores ou a partir dos interesses das crianças, sempre buscando colocar a criança como sujeito ativo na construção do seu conhecimento. 5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRIBAS, Teresa Lleixá; ET AL. Educação Infantil: desenvolvimento, currículo e organização escolar. Trad. Fátima Murad. 5 ed, Porto Alegre: Artmed, 2004. 395p. BASSEDAS, Eulália, HUGUET, Teresa e SOLÉ, Isabel. Aprender e Ensinar na Educação Infantil. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. 357p BARRETO, Maria de Lourdes Mattos. As Múltiplas Linguagens na Educação Infantil. Apostila elaborada para disciplina ECD 381 Metodologia do Ensino das Múltiplas Linguagens, do curso de Licenciatura em Educação Infantil da Universidade Federal de Viçosa, 2006. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente ECA Lei 8.069 no dia 13 de julho de 1990. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB Lei nº 9394/96. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional de Ed. Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial RAI. RUM., VOL. 02 Nº 01, 72-155, RIO DE JANEIRO, JUN., 2014

curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.: il. Conhecimento de mundo. CRAIDY, C.; KAERCHER, G. E. Educação infantil: Pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001. OLIVEIRA, Romualdo Portela de. & ADRIÃO, Thereza, (orgs.). Organização do Ensino no Brasil: Níveis e Modalidades na Constituição Federal e LDB/ São Paulo: Xamã, 2002. PIAGET, J. A Equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. RAI. RUM., VOL. 02 Nº 01, 73-155, RIO DE JANEIRO, JUN., 2014