Aula-passeio: como fomentar o trabalho docente em Artes Visuais
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- Maria Eduarda Lobo Leveck
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1 Aula-passeio: como fomentar o trabalho docente em Artes Visuais Introdução O objetivo deste trabalho é demonstrar como as artes visuais podem ser trabalhadas com visitas a museus e centros culturais. Apresenta uma proposta de aula-passeio como recurso imprescindível de sensibilização dos alunos para a leitura, apreciação e contextualização das artes visuais. A arte na educação ainda é vista por alguns professores como uma atividade recreativa nas datas comemorativas, nas capas de provas ou como decoração de trabalhos. Esta prática traduz a ideia de disciplina com pouca importância e nenhum sentido para pais e alunos diante dos demais conteúdos do currículo escolar. Na contramão desta didática as aulas-passeio aos centros culturais e museus podem se tornar exercícios de alfabetização visual, através da análise dos elementos que compõem e se relacionam nas obras de artes. Nesse sentido, é compartilhado este trabalho, o planejamento de um projeto de curta duração partindo da visita à exposição Anticorpos, dos irmãos Fernando e Humberto Campana, ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), RJ, com alunos do 5º ano do ensino fundamental, do Centro Educacional Souza Barros. A necessidade de mudar o paradigma do ensino de artes, rompendo com a forma tradicional e sem significado que, em geral, prevalece em sala de aula justifica não só o trabalho desenvolvido bem como o compartilhamento. É fato, também, que os professores, muitas vezes, adotam estratégias simples e repetitivas por não conhecerem os verdadeiros objetivos do ensino da arte. Diante disto, o compartilhamento de experiências é fundamental como mecanismo de sensibilização para uma mudança de paradigma. Algumas Considerações A arte na educação objetiva a formação de um indivíduo crítico e criativo na solução de problemas na vida cotidiana. Entende-se a criatividade como um atributo adquirido através das vivências, leituras e releituras diversificadas em vários
2 contextos. O sujeito crítico estaria ligado à visão de mundo construída nessa perspectiva. Desta forma, o ponto de partida é o processo de desenvolvimento de competências artísticas no aluno que estariam organizadas em quatro eixos, quais sejam: apropriação das linguagens elementares das artes; desenvolvimento da capacidade de comunicação e expressão; desenvolvimento da criatividade e compreensão das artes no contexto (MEC/DGIDC). Estes são trabalhados através de uma concepção contemporânea do ensino da arte que é a produção de arte, a leitura de obra de arte e a contextualização da arte. O desenvolvimento deste trabalho vai se relacionar à leitura de obra de arte. De acordo com os PCN/Arte (1997:36) a apreciação significativa das artes visuais é um dos parâmetros estabelecidos para que se desenvolva: Convivência com produções visuais (originais e reproduzidas) e suas concepções estéticas nas diferentes culturas (regional, nacional e internacional). Identificação dos significados expressivos e comunicativos das formas visuais. Contato sensível, reconhecimento e análise de formas visuais presentes na natureza e nas diversas culturas. Reconhecimento e experimentação de leitura dos elementos básicos da linguagem visual, em suas articulações nas imagens apresentadas pelas diferentes culturas (relações entre ponto, linha, plano, cor, textura, forma, volume, luz, ritmo, movimento, equilíbrio). Contato sensível, reconhecimento, observação e experimentação de leitura das formas visuais em diversos meios de comunicação da imagem: fotografia, cartaz, televisão, vídeo, histórias em quadrinhos, telas de computador, publicações, publicidade, desenho industrial, desenho animado. Identificação e reconhecimento de algumas técnicas e procedimentos artísticos presentes nas obras visuais.
3 Fala, escrita e outros registros (gráfico, audiográfico, pictórico, sonoro, dramático, videográfico) sobre as questões trabalhadas na apreciação de imagens. Assim, é necessário que sejam desenvolvidos princípios estéticos com os alunos e a possibilidade da crítica, para que estes, também sejam capazes de compreender as produções. Para tanto, um dos instrumentos a serem usados pelos professores é o contato direto entre os alunos e as produções artísticas, permitindo a análise dos elementos formais (ponto, linha, forma, direção, tom, cor, textura, escala, dimensão e movimento), percebendo suas funções específicas e suas relações dentro do contexto social. Considerando, ainda, que o ensino da arte deve partir de imagens que despertem interesses no grupo, a escolha de uma exposição considerou que, no mínimo, esta levaria os alunos a muitas curiosidades e perguntas pela proposta da mesma. Da Exposição Anticorpos Fernando e Humberto Campana Os irmãos Campana são paulistas e suas obras já percorreram as salas de artes mais famosas do mundo. Suas criações têm um conceito bem crítico sobre os objetos e seus destinos, como as varetas que refletem o caos artificial criado pelo homem. Não são apenas obras de reciclagem, mas um conceito de transformação de um desing de recolocação dos objetos em novos contextos. A mostra é dividida em núcleos, entre eles: Agrupamentos, cuja proposta é retirar do contexto original formas remanufaturadas (materiais produtos, como as poltronas de EVA - acetado de vinil etileno - ou de animais de pelúcia) e dar nova forma; Híbridos, que é a justaposição de materiais orgânicos e inorgânicos, naturais e industriais. Objetos de papel que são papelões de embalagens recicladas que compõe um sofá, por exemplo.
4 Plano do projeto Duração: 2 meses. Turma: 5º ano Objetivos do projeto: Interagir com materiais, instrumentos e procedimentos variados em artes visuais, experimentando-os e conhecendo-os de modo a utilizá-los nos trabalhos pessoais (PCN); Compreender e saber identificar a arte como fato contextualizado nas diversas culturas, conhecendo, respeitando e podendo observar as produções presentes no entorno, assim como as demais do patrimônio cultural e do universo natural (PCN); Compreender e saber identificar aspectos e resultados do trabalho do artista, reconhecendo, em sua própria experiência de aprendiz, aspectos do processo percorrido pelo artista (PCN); Edificar uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal e conhecimento estético, respeitando a própria produção e a dos colegas, no percurso de criação que abriga uma multiplicidade de procedimentos e soluções (PCN); Perceber que a arte está presente em outras áreas da formação escolar; Provocar a descoberta que a produção textual é atributo fundamental para a comunicação verbal e oral; Estimular o uso das ferramentas disponíveis na tecnologia da comunicação e educação; Estimular a educação colaborativa através de debates nas redes sociais e ambientes presenciais. Etapas das aulas: Na primeira aula anterior à visita, orientar os alunos a fazer uma pesquisa na sala de informática sobre a vida e os trabalhos dos irmãos Campana. Na mesma aula os alunos devem anotar as orientações da professora com relação à visitação, bem como o trabalho que deveriam realizar a partir da aula-passeio e as condições de entrega do mesmo.
5 Durante a aula-passeio os alunos devem anotar todas as informações que se relacionavam com os conteúdos de artes e suas impressões pessoais. Devem tirar fotos e/ou gravar nos gravadores de voz de seus celulares. A professora filmará o comportamento dos alunos enquanto observavam as obras. Na aula seguinte, terceira aula, os alunos trarão o trabalho e farão um debate crítico sobre suas impressões pessoais, que serão registrados em um único texto coletivo. Neste mesmo dia, na aula de língua portuguesa, será corrigido o texto com sistematização dos conceitos de um tipo textual opinativo. Serão observadas também as sequências gramaticais. Na quarta aula de artes a professora exporá as fotos que os alunos trarão e pedirá para que, individualmente, registrem em uma folha quais elementos da linguagem visual estão presentes nas obras visitadas. Depois todos compararão suas observações. Na quinta aula, a professora mostrará o vídeo que fez dos alunos, comentando sobre o comportamento de cada um dentro de um museu ou outro centro cultural; Na sexta aula de artes os alunos farão a releitura pessoal das obras visitadas, confeccionando seus próprios objetos de decoração, utilizando materiais que eles mesmos trarão. Na sétima e última aula acontecerá a culminância do projeto com a exposição das produções artísticas dos alunos, bem como fotos e textos explicativos sobre a visita ao centro cultural, que será aberta aos pais, responsáveis e alunos. Por último, na aula de informática educativa os alunos postarão as fotos da exposição no blog da escola. Conteúdos desenvolvidos: Observação e análise dos significados expressivos e comunicativos das formas visuais nas obras de artes dos Irmãos Campana, que são brasileiros com reconhecimento internacional; Leitura dos elementos básicos da linguagem visual (ponto, linha, plano, cor, textura, forma, volume, luz, ritmo, movimento e equilíbrio); Registros falados e escritos sobre as questões trabalhadas; Releitura das obras observadas; Produção textual do tipo opinativo; Tecnologias da comunicação e educação.
6 Recursos e ferramentas Texto opinativo; Máquina digital fotos e gravador de voz; Filmadora; Aparelho de DVD; Computador; Blog; Fotos; Exposição de imagens; Vídeo. Disciplinas envolvidas - interdisciplinaridade Língua Portuguesa; Artes Visuais; Informática Educativa. Temas transversais envolvidos Pluralidade cultural; Meio ambiente; Ética. Avaliação Através da criação das obras dos alunos, observar se demonstraram algum tipo de capacidade ou habilidade; Depois das obras de releitura prontas, observar se estabeleceram alguma relação com as produções dos Irmãos Campana; Observar se fizeram algum tipo de discriminação com as obras de outros colegas; A partir do texto opinativo, verificar se o aluno identificou elementos da linguagem visual durante a exposição dos Irmãos Campana.
7 Considerações finais Com esta proposta foi possível desenvolver um trabalho interdisciplinar entre as disciplinas artes visuais, língua portuguesa e informática educativa, mas ele poderia se relacionar com outras áreas do conhecimento como matemática, história, geografia e ciências, além de deixar grande espaço para a transversalidade de temas importantes para o desenvolvimento da cidadania e visão crítica da sociedade. Neste sentido a alfabetização visual trará ao aluno possibilidades de sucesso escolar na disciplina de matemática e língua portuguesa, através da estimulação dos sentidos visual e tátil, além da sensibilização para a leitura crítica da comunicação visual. Englobando os aspectos acima, a aula-passeio é um instrumento excelente para colocar os alunos em contato com as obras de artes, pois permite um olhar muito próximo das produções, bem como levá-los a respirarem um ar contaminado de pluralidade cultural. Levando-se em conta que as experiências concretas com os objetos de aprendizagem levam ao conhecimento significativo, a proposta de visita aos museus é a melhor maneira de dar sentido ao ensino das artes visuais. Se a arte é sensibilizadora do ser humano (Castanho & Amorim, 2007), então educar pela arte significa compreender seu valor como importante meio para estimular a sensibilidade capaz de facilitar aprendizagens (Rodrigues, 2008). Referências bibliográficas RODRIGUES, Fabiana de Alcântara. Arte e Educação/Universidade Castelo Branco Rio de Janeiro: UCB, p.: il. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Arte/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997 NORONHA, Maria Cecilia A. Arte na Educação. Videoconferência. Web seminários/iesde CAMPANA, Fernando & Humberto. Anticorpos CCBBRJ
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