Economia cresce (pouco) em 2012 graças ao consumo. Crescerá mais só quando o investimento despontar Resultado do PIB revela uma economia débil para expandir o que produz, mas com força para atiçar a demanda e evitar a recessão 3/3/2013-04:47 - Antonio Machado Numa grande síntese, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, conforme as contas nacionais divulgadas pelo IBGE, revela uma economia débil para expandir o que produz, mas com força para alçar o consumo e evitar a recessão. O PIB cresceu 0,9% em 2012, vindo de +2,7% em 2011 e +7,5% em 2010, salvando-se por pouco de repetir o desastre de 2009, quando a economia andou para trás, recuando 0,3%. Em qualquer caso, não se pode atribuir à crise global as razões do mau resultado da economia no ano passado, como, justamente, alegou-se em 2009, quando o PIB do mundo recuou 0,6%. Desde então, apesar da recuperação titubeante dos EUA, do menor crescimento da China e dos descaminhos da Europa e do Japão, o PIB global tem se expandido graças ao dinamismo dos países emergentes. Mas não do Brasil. Em 2012, segundo o FMI, o PIB global avançou 3,2% - 3,5 vezes mais que a economia brasileira. Este ano, correndo tudo bem, a economia acelera um pouco mais no mundo e avança, nos cenários do FMI, 3,5%, o que empata com a melhor aposta, hoje, para a retomada da economia nacional. É algo factível, já que, na média de três anos do governo Dilma Rousseff, significaria apenas 2,4% - abaixo da taxa histórica de crescimento potencial. Ainda assim, há trabalho duro a fazer. É o que se constata ao se detalhar o resultado da economia em 2012 e no último trimestre. Em termos anuais, o crescimento já pífio de 0,9% do PIB sobre 2011 teria sido menor, se o consumo das famílias (com alta anual de 3,1%) e do governo (+3,2%) tivesse fraquejado. E isso porque o volume de investimentos, o terceiro componente da demanda interna final (ao lado do gasto das pessoas e do governo), caiu 4% em relação ao investido em 2011. E a contribuição externa, definida pelo saldo entre exportações e importações, foi zero.
Para esse nível de consumo crescente (embora o mais fraco no caso dos gastos das famílias desde 2003, quando encolheu 0,8%, e abaixo até do resultado de 2009, quando subiu 4,4%, apesar da recessão), o setor de serviços foi o único a apresentar desempenho positivo, com aumento de 1,7% em relação ao seu resultado em 2011. Os outros dois componentes do PIB pelo lado da oferta regrediram: a indústria, que recuou 0,8% no ano, e a agricultura, cuja produção tombou 2,3%. Trajetória questionada O que salvou a economia de um resultado pior em 2012, e assim tem sido há mais de dez anos, foi o desempenho de serviços, que inclui um enorme leque de atividades - do comércio a operações de crédito e seguros, passando pela internet, transportes, as áreas de saúde e de ensino, a administração pública e o negócio das imobiliárias. É uma vasta marquise, que aloja atividades responsáveis por 68,5% do PIB, contra 26,3% da indústria e 5,2% da agropecuária. Não é um rateio estranho ao nosso processo econômico, já que tal formato vem desde 1988, o ano da Constituição. É semelhante ao do PIB dos EUA. Mas é incomum aos países emergentes, hoje os de maior expansão da riqueza no mundo. Todos repetem os estágios de desenvolvimento das velhas potências, focando a formação de riqueza antes de começar a distribuí-la. Nosso modelo é diferente e vinha funcionando. A série de taxas de crescimento miúdo põe em causa essa trajetória. O gigante retardatário O desafio do modelo de crescimento com distribuição de seus frutos é que a máquina não pode parar. O que a aciona é a taxa de expansão da capacidade produtiva, vulgo investimento, dividido, por sua vez, em duas fatias: a da construção, com peso de 44%, e a de máquinas e equipamentos (ou bens de capital), com 50%. O resto corresponde a investimentos em plantações, criação de matrizes para abate etc. Nas contas nacionais, investimento equivale ao aumento da riqueza para atender ao consumo doméstico e externo, assegurando, assim, as divisas para bancar importações
ou por falta de similar nacional ou para suplementar a oferta. É o fator crítico para uma economia em formação. O problema é que o investimento, além de menor do que se investe no mundo emergente (uns 28% do PIB, em média, e 18,1% aqui, em 2012), recuou 4% no ano passado. E a queda foi maior (-9,1%) com bens de capital, que afetam o crescimento futuro com estabilidade. Para deixar de empacar Felizmente, o governo acordou para a necessidade do investimento. Mas continua lento e dá pouca atenção à área de bens de consumo, a mais demandada pela mobilidade social. Em compensação, o gasto com investimento cresceu 0,5% no último trimestre em relação ao período anterior, primeira taxa positiva depois de quatro quedas seguidas. A seguir nesta toda, mantido o nível de consumo e com a indústria e a agricultura de volta ao bom caminho, o PIB será menos feio que o de 2012, crescendo 3% a 3,5% este ano. Mais só com reformas ainda sem consenso e a maturação do ciclo de concessões. Fazendo muito com pouco O cenário de crescimento em 2012 já embute o investimento esperado das concessões de logística e pré-sal bancado pelo setor privado. São obras portentosas e com resultado lento. Pequenas reformas, de execução simples, podem ser mais ágeis. Coisas como cadastro único nacional de imóveis, similar ao CNPJ e ao CPF, dispensando o custo de transações e cartórios. Alvarás municipais poderiam ter a mesma agilidade. Abrir empresas, ao menos as pequenas, pode ter um regime fast-track. A informática permite tais coisas e melhora o controle. Na área de inovação, o governo cogita um programa de R$ 30 bilhões de aporte subsidiado para pesquisas vultosas, como na extração de petróleo. Com 2% disso, poderia viabilizar milhares de startups de tecnologia da informação. Elas inovam mais que grandes empresas e criam empregos de qualidade. Nos EUA, estão do lado mais promissor da economia. Grandes resultados nem sempre exigem grandes despesas.