HORTALIÇAS NÃO-CONVENCIONAIS: RESGATE A CULTURA TRADICIONAL Áleson Gleyson Carvalho Oliveira 1 RESUMO Este trabalho foi realizado na Escola Família Agrícola Irmã Rita Lore Wickein- EFAIRLW da rede pública, da zona rural do povoado Monte Cristo, Codó- MA. Teve como aspiração a realização de um projeto de intervenção, que consistiu na implantação de hortaliças não convencionais. Objetivou-se nesse trabalho resgatar conhecimentos sobre o cultivo e utilização de variedades de hortaliças não- convencionais na escola família agrícola. A importância das Hortaliças Tradicionais reside principalmente no potencial alimentar e nutricional que detém. Entretanto, não se deve deixar de considerar também algumas características importantes no que se referem ao cultivo destas plantas, tais como rusticidade, fácil dispersão e propagação. O cultivo das hortaliças foi desenvolvido pelos alunos da 5ª a 8ª série do ensino fundamental, com a contribuição dos professores, coordenadores e bolsistas do PIBID. Neste sentido, o trabalho com as hortaliças não- convencionais, obedecera as seguintes etapas como metodologia: Terreno plano ou levemente inclinado, enxuto e fértil; Exposto à luz solar durante o dia inteiro; Sem pedras, cascalhos ou entulhos; Perto de fonte d água. Os canteiros seguiram as medidas do manual de horta orgânica, feito pelos próprios alunos, seguindo todas as medidas necessárias para realização da atividade. As mudas foram preparadas em sementeira confeccionadas com copos descartáveis, as hortaliças cultivadas foram João Gomes, vinagreira, maxixe, junça, cará e chicória-do-pará. Após atingirem altura e três folhas definidas foram transplantadas aos canteiros definitivos, usando adubos orgânicos. O resgate e a valorização dessas hortaliças na alimentação representaram ganhos importantes do ponto de vista cultural, econômico, social e nutricional considerando a tradição no cultivo, por várias comunidades, e sua contribuição em termos de nutrição. Com efeito, as atividades desenvolvidas com os sujeitos vinculados ao projeto, evidenciaram que as hortaliças podem servir como fonte de alimentação e atividades rentáveis, oferecendo grandes vantagens às comunidades, como a obtenção de alimentos de qualidade a baixo custo. PALAVRAS-CHAVE: Hortaliças tradicionais, populações tradicionais e potencial alimentar. VEGETABLE NON-CONVENTIONAL: RESCUE A TRADITIONAL CULTURE ABSTRACT This study was conducted at Agricultural School Family Sister Rita Lore Wickein- EFAIRLW the public network, the rural town Monte Cristo, Codó- MA. Had the aspiration to conduct an intervention project, which consisted of the deployment of unconventional vegetables. The objective of this work rescuing knowledge about the cultivation and use of unconventional varieties of vegetables in school agricultural family. The importance of Traditional Vegetables lies mainly in the food and nutritional potential it holds. However, one should not fail to also consider some of the important characteristics that relate to the cultivation of these plants, such as hardiness, easy propagation and dispersion. The cultivation of vegetables was developed by students from 5th to 8th grade of elementary school, with input from teachers, coordinators and 1
fellows PIBID. In this sense, working with unconventional vegetables, obeyed the following steps as a methodology: Ground plane or slightly inclined, lean and fertile; Exposed to sunlight during the entire day; No stones, gravel or rubble; Near water source. The beds followed the steps of the organic garden manual, done by the students themselves, following all necessary measures for carrying out the activity. The seedlings were prepared for sowing made with disposable cups, vegetables grown were John Gomes, vinegar, gherkin, sedge, yams and chicory-nut. After reaching height and defined three leaves were transplanted to full beds, using organic fertilizers. The rescue and recovery of these vegetables in the diet were important gains in terms of cultural, economic, social and nutritional standpoint considering the tradition of growing, for many communities, and their contribution in terms of nutrition. Indeed, the activities with the subjects linked to the project, showed that vegetables can serve as power supply and profitable activities, offering great benefits to communities, as getting quality food at low cost. KEY-WORDS: Traditional vegetables, traditional populations and food potential. 2
HORTALIÇAS NÃO-CONVENCIONAIS: RESGATE A CULTURA TRADICIONAL INTRODUÇÃO As rápidas mudanças sociais e os processos de aculturação econômica e cultural afetam fortemente o conhecimento local sobre o uso dos recursos naturais e os problemas decorrentes dessa perda cultural podem ser irreversíveis se ações efetivas não forem implementadas para restringir esse processo. Um exemplo é a baixa utilização de alguns vegetais nativos na alimentação humana, mas que possuem grande potencial do ponto de vista nutricional, quando comparados as espécies vegetais exploradas comercialmente. As hortaliças são plantas de suma importância para o fornecimento principalmente de vitaminas, sais minerais e fibras, algumas delas também servindo como fonte de carboidratos e proteínas. O cultivo e o consumo de hortaliças frescas têm diminuído em diversas regiões do país, em áreas rurais e urbanas e entre todas as classes sociais, resultado da globalização e do crescente uso de alimentos industrializados, verificando-se mudanças significativas no padrão alimentar dos brasileiros e perdas de características culturais e identidade com o consumo de alimentos locais e regionais. O cultivo das hortaliças não- convencionais no Brasil é feito predominantemente por agricultores familiares, muitos deles caracterizados como populações tradicionais. O conhecimento do cultivo e consumo destas plantas foi passado de geração a geração. A maioria dos cultivos está estabelecida nos quintais para o consumo da própria família, sem nenhum apelo comercial. As hortaliças não- convencionais são aquelas com distribuição limitada, restrita a determinadas localidades ou regiões, exercendo grande influência na alimentação e na cultura de populações tradicionais. Além disso, são espécies que não estão organizadas enquanto cadeia produtiva propriamente dita, diferentemente das hortaliças convencionais (batata, tomate, repolho, alface, etc...), não despertando o interesse comercial por parte de empresas de sementes, fertilizantes ou agroquímicos. Na literatura e no meio técnico, há diversos termos para denominação este grupo de hortaliças. Por vezes, são identificadas por Hortaliças Negligenciadas ou Hortaliças Subutilizadas, havendo ainda uma vertente de técnicos que as denomina como Hortaliças Tradicionais. Este termo faz referencia a sua baixa ou subutilização pela população, concentrada apenas em pequenas áreas, por agricultores familiares. Chamá-las de Hortaliças Tradicionais, em referência ao seu cultivo associado a populações tradicionais, é também uma forma de valorar a questão cultural agregada a estas espécies; entretanto pode causar confusão por alusão às hortaliças mais corriqueiramente consumidas como batata e tomate, por exemplo. O valor nutricional das hortaliças não-convencionais, conforme a espécie, está relacionado a teores significativos de sais minerais, vitaminas, fibras, carboidratos e proteínas, além do reconhecido efeito funcional. 3
São vegetais nativos pouco empregados na alimentação humana, mas que possuem grande potencial do ponto de vista nutricional, quando comparados as espécies vegetais exploradas comercialmente. O João Gomes constitui um representante deste grupo, podendo substituir alimentos oriundos de outros estados, atrelando valor a produção local, considerando que é uma planta rústica, pouco exigente a tratos culturais. Assim, os conhecimentos tradicionais associados ao conhecimento científico podem oferecer modelos de uso sustentável dos recursos vegetais, por conseguinte, torna-se importante realizar estudos sobre o conhecimento tradicional e uso que as populações locais fazem dos recursos naturais contribuindo para a obtenção de mais conhecimento sobre espécies nativas. Devido a existência de poucos trabalhos no âmbito local voltados para a utilização de plantas pelas comunidades, há a necessidade de novas pesquisas sobre este grupo de vegetais. O resgate e a valorização dessas hortaliças na alimentação representam ganhos importantes do ponto de vista cultural, econômico, social e nutricional considerando a tradição no cultivo, por várias comunidades, e sua contribuição em termos de nutrição. Trata-se de uma questão de segurança e de soberania alimentar estimular a produção e o consumo das hortaliças nãoconvencionais, em vista de suas características nutracêuticas e da sua rusticidade de cultivo. Diante desta perspectiva, este trabalho tem como objetivo contribuir para o resgate de conhecimentos sobre o cultivo e utilização de variedades de hortaliças não- convencionais na escola família agrícola irmã Rita Lore Wickein- EFAIRLW. Materiais e Métodos O João Gomes, vinagreira, maxixe e chicória-do-pará constituem um excelente representante do grupo dos vegetais folhosos não- convencionais, possui princípios medicinais e utilizado em alguns lugares na alimentação humana. Neste sentido, o trabalho com as hortaliças não- convencionais, obedecerá as seguintes etapas como metodologia: O presente trabalho foi realizado na Escola Família Agrícola Irmã Rita Lore Wickein, atende uma população alvo constituída principalmente por alunos de 5ª, 6ª, 7ª e 8ª série do Ensino Fundamental, Município de Codó- MA, localizado na região nordeste do Estado do Maranhão, situando-se na Mesorregião Leste Maranhense e na Microrregião, conforme interpretação de MARANHÃO (1984, p.2-4), a geologia do município de Codó apresenta estruturas rochosas características das formações. O clima do Município é do tipo Aw, conforme interpretação feita por GALVÃO (1955, p.251). Quanto à cobertura vegetal, o Município de Codó é dominado pela Floresta Estacional Perenifólia Aberta, com Babaçu e manchas de Cerrado. A agricultura do município é praticada de forma tradicional com predomínio do emprego de técnicas rudimentares que.consistem na derrubada e queima da vegetação, preparo do solo, plantio por até dois anos, após o que a terra é colocada em pousio. Para implantação foi levado em consideração as seguintes características: Terreno plano ou levemente inclinado, enxuto e fértil; Exposto à luz solar durante o dia inteiro; Protegido contra ventos fortes e frios; Sem pedras, cascalhos ou entulhos; Perto de fonte d água, poços artesianos, minas ou córregos; Afastado de sanitários, esgotos e chiqueiros; Local cercado, em caso de risco 4
de invasão por animais; Terreno suficiente para produção que atenda à demanda. Os canteiros seguiram as medidas do manual de horta orgânica, feito pelos próprios alunos, seguindo todas as medidas necessárias para realização da atividade. As mudas foram preparadas em sementeira confeccionadas com copos descartáveis, dentre as hortaliças cultivadas destacou- se o João Gomes, vinagreira, maxixe e chicória-do-pará, junca, etc. Após atingirem altura e três folhas definidas foram transplantadas aos canteiros definitivos, usando adubos orgânicos. Após a implantação, as mudas receberam irrigação diariamente. Paralelamente às outras etapas do estudo do sistema, foi feito entrevista através de questionários com o corpo presente da escola (alunos, professores, administradores e outros funcionários), para analise documental, analisando os dados de aceitação da horta escolar. Resultados Ao analisar os questionários que foram aplicados antes do desenvolvimento do projeto de trabalho, verificou-se que 100% dos alunos consideraram de grande importância à implantação de canteiros de hortaliças na escola, como mostra algumas falas abaixo: Primeira vez que estou fazendo cultivo de hortaliça não convencional Que bom, nossa escola vai ter uma horta Nossa horta esta muito bonita, bem melhor que antes Com a implantação das hortaliças no âmbito escolar foi possível desenvolver inúmeras atividades promovendo dessa forma um projeto de trabalho que contemplou teoria e prática, envolvendo os alunos de forma dinâmica e prazerosa. IMAGEM 1: Escolha da área. IMAGEM 2: Canteiro no Chão 5
IMAGEM 3. Escavação do Canteiro. IMAGEM 4: Nivelamento do Canteiro. IMAGEM 5: Semeadura no Canteiro. IMAGEM 6: Preparo das covas. IMAGEM 7: Adubação nas covas. 6
IMAGEM 8: Transplantio das mudas. IMAGEM 9: colheita Discussão O cultivo de hortaliças no ambiente escolar pode contribuir de forma significativa para a formação absoluta do aluno, sendo que o tema conglomera diferentes áreas de conhecimento e pode ser desenvolvido durante todo o processo de ensino aprendizagem, através de amplas aplicações pedagógicas com situações reais, envolvendo educação ambiental e alimentar. Com a implantação da horta com hortaliças não convencionais, pouco conhecidas para grande parte da comunidade escolar, pode- se trabalhar os diversos temas, usando a interdisciplinaridade, unindo a teoria e a pratica, levando em consideração os conhecimentos adquiridos fora da sala de aula, pois grande parte dos alunos é de famílias de produtores rurais, deste ponto de vista podem inserir os métodos que aprenderam na escola na sua comunidade. Pelo fato da escola adotar a pedagogia da alternância, os alunos passam um período de quinze dias com atividades na escola e posteriormente quinze dias estes aplicam o que aprenderam em suas casas e comunidades vizinhas, o que facilitou a realização do trabalho, pois o mesmo visava o resgate cultural acumulado pela geração mais adulta, que até no momento vem sendo perdido e desvalorizado, devido o grande avanço da modernização. Com este trabalho podemos estabelecer vínculos, participando da realidade daqueles alunos da zona rural. 7
Nesta perspectiva a hortaliças não convencionais cultivadas no âmbito escolar, pode resgatar conhecimentos de algumas plantas que veem sendo desvalorizadas, pouco consumidas pelas populações. Adotando métodos específicos para cada cultura escolhida, de acordo com a área, ensinando aos alunos maneiras de plantio, tratos culturais, colheita e processamento destas matérias primas. E o mais importante, utilizar estas verduras na alimentação escolar. Enriquecendo a alimentação, contribuindo para hábitos alimentares saudáveis. É importante ressaltar o valor de requerer ações que transcendam o ambiente escolar, atingindo os pais e a comunidade na qual a escola está inserida, pois este é o caminho para potencializar os conhecimentos e atividades alistadas à educação ambiental. Conclusão Com este projeto percebemos que na relação teoria com a prática, o aprendizado é maior. A produção desta horta proporcionou aos alunos um melhor relacionamento com a escola, favorecendo um melhor ensino aprendizagem. Eles adquiriram conhecimentos que serão levados para a vida inteira. Pois, os conhecimentos adquiridos foram surpreendentes para a escola, onde os mesmos alunos que participaram do projeto produziram pequenas hortas em casa no próprio quintal. Portanto os objetivos propostos neste trabalho foram alcançados uma vez que os alunos desenvolveram hábitos de uma alimentação saudável através do oferecimento de um cardápio diversificado utilizando produtos cultivados dentro da escola, pelos próprios alunos e professores tornando o aprendizado mais significativo e prazeroso. REFERÊNCIAS Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Manual de hortaliças nãoconvencionais / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. Brasília : Mapa/ACS, 2010. IRALA, C. H; Fernandes, P. M. Manual para escolas Hortas. p. 21 Universidade de Brasília - Departamento de Nutrição. Brasília, 2001. MENDES, GRISA; V. S, I. M. Horta pedagógica: aprendizagem de forma livre e espontânea. Rev. Técnico Científica (IFSC), v. 3, n. 1 (2012) RUSCHEINSKY, A. Educação ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002. SÃO PAULO. Projeto horta: Manual prático de implantação. São Paulo, 2005. 8
Apoio: (CAPES/ IFMA/ PIBID) 9