CANTO: ARTE E CIÊNCIA UMA MAIOR INTERAÇÃO ENTRE PROFESSORES DE CANTO E FONOAUDIÓLOGOS



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Transcrição:

CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA CANTO: ARTE E CIÊNCIA UMA MAIOR INTERAÇÃO ENTRE PROFESSORES DE CANTO E FONOAUDIÓLOGOS Leilane Maria Farias Leite de Albuquerque São Paulo 1997 1

CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA CANTO: ARTE E CIÊNCIA uma maior interação entre professores de canto e fonoaudiólogos MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM VOZ. Orientadora: MIRIAM GOLDENBERG Leilane Maria Farias Leite de Albuquerque São Paulo 1997 2

RESUMO: Cantar, não é tão difícil como dizem. Para cantar bem, o organismo precisa estar em perfeitas condições de saúde e preparo, visto que a arte do canto exige vigor e resistência para que o potencial vocal seja plenamente alcançado. Qualquer atividade, por mais simples que seja, não se executa sem dispêndio de energia, e no caso do canto esta realidade permanece inalterada. Sua prática não pode ser realizada de qualquer maneira. É preciso a utilização de uma técnica. E ela é a responsável pela colocação sonora da voz no canto. Todavia, erro no emprego desta técnica, poderá ocasionar sérias pertubações. Contrariar o trabalho funcional dos órgãos, comprometemos a saúde e o bem estar vocal do cantor. Para que isso não aconteça é necessário que o fonoaudiólogo e o professor de canto façam um trabalho integrado. O fonoaudiólogo orienta o cantor para que a voz seja utilizada sem esforço desnecessário ou prejuízo do aparato vocal, e o professor de canto se responsabiliza pelas mudanças na estética da voz. Trabalhar a voz cantada sem danos ou prejuízos, essa é a meta! 3

O instrumento mais fascinante que existe, sem dúvida alguma, é o aparelho da voz humana, por ser tão flexível e produzir combinações infinitas de sons (MORANI, 1995). 4

Aos meus pais Francisco e Terezinha Albuquerque. 5

AGRADECIMENTOS À Dra. Marta Assumpção de Andrada e Silva, meu agradecimento pelas orientações e esclarecimentos; À minha professora de canto lírico, Angelina Colombo Ragazzi, o meu agradecimento por seus ensinamentos; À minha amiga e irmã Inez Beatriz Martins, o meu agradecimento pelo estímulo; À Deus, o meu agradecimento pela força de chegar até o fim. Aos meus pais, o meu agradecimento pelo constante apoio e auxílio. 6

SUMÁRIO: INTRODUÇÃO DISCUSSÃO TEÓRICA CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 7

A idéia deste trabalho surgiu de minha própria experiência. Exerço a arte de cantar há quatro anos. Neste período apareceu um micro-nódulo e uma fenda em meu aparelho fonador. Fui submetida a um tratamento fonoaudiólogico e, após um ano, o quadro normalizou. Além de mim, dois vocalistas apareceram com os mesmos problemas vocais. Diante dessa situação apareceram alguns questionamentos: A) Para se cantar é necessário utilizar alguma técnica? B) O que é essa técnica vocal que as pesoas tanto falam dentro do canto? C) O canto requer algum esforço muscular? Associado à minha vivência o projeto nasceu também do seguinte depoimento: Acho uma falha muito grande não ter uma fonoaudióloga dentro de um conservatório. Sinto uma grande dificuldade em perceber quando o aluno de canto chega com um problema de voz. Sou professora de canto lírico. Os professores de canto possuem uma sensibilidade acústica muito boa, mas só o nosso ouvido não basta. Escuto o problema, mas não tenho um conhecimento fisiológico da voz no canto. Não tenho condições de dizer o que pode estar acontecendo lá por dentro. A voz é como se fosse uma máquina. O fabricante conhece a máquina, o técnico atua na máquina. Preciso saber como funciona esta máquina e o que é preciso para que ela funcione sem estragos. (Angelina Colombo Ragazzi - professora de canto lírico há 10 anos no Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos de Tatuí, 1996). O cantor é um pintor. Sua voz é o pincel, a capacidade de modulação suas tintas, e o espaço sua tela. Sua voz é um instrumento de que ele se utiliza: a arma com a qual combate. Nenhum músico toca um intrumento quebrado, assim como ninguém participa de um duelo com espada enferrujada ou defeituosa. (SINNEK, 1955). A voz é para o cantor um instrumento que deve ser treinado e dominado com técnica. Instrumento este, com o qual deseja dar expressão a sentimentos e idéias. Mas para isso acontecer, é necessário que a voz cantada tenha modulação, sonoridade e suavidade. Tudo isso sem cansar e menos ainda, sem prejudicar o órgão vocal. 8

O cantor deve estar com toda a sua musculatura laríngea, condicionada e preparada para a atividade do canto. Como um atleta entra numa corrida sem antes fazer um condicionamento físico? Segundo SINNEK (1955) o que importa não é a quantidade de voz que o cantor possui, mas o modo artístico de empregá-la: a TÉCNICA. PINHO (1997) afirma que o canto sem preparo e técnica pode ser extremamente prejudicial ao aparato vocal, causando sérios distúrbios orgânicos secundários. Qualquer pessoa pode cantar desde que não haja patologia laríngea. Para cantar nesses casos, se faz necessário o acompanhamento em dupla, fonoaudiólogo e professor. Desaparecendo a limitação, o cantor pode ser acompanhado apenas pelo professor de canto (ANDRADA e SILVA, 1998). SUNDEBERG (1993) cita que a técnica é responsável pelos últimos ajustes da voz. Seu emprego é um meio facilitador para a arte do canto. Graças à ela, a emissão do canto terá mais qualidade e sua produção será conseguida com maior facilidade. ANDRADA e SILVA (1998) explica que o trabalho do fonoaudiólogo consiste em preparar a musculatura do trato vocal do cantor para a prática do canto. Vemos que o canto é um trabalho interdisciplinar. Este trabalho tem o objetivo principal de mostrar que a arte pode se unir à ciência trazendo benefícios ao cantor. Ou seja, fonoaudiólogos e professores de canto trabalhando em conjunto, cada um exercendo sua função específica, em prol de um bem maior: a saúde vocal dos cantores. Segundo MORANI (1995) com a união dessas forças, alcançaremos um tratamento mais adequado e seguro, e os resultados podem ser espantosos e de alto valor para ambas as partes. Diante desta realidade, este trabalho espera poder abrir um campo para a fonoaudiologia, um campo vasto e insondável pronto para ser explorado: o CANTO. 9

Para falar ou cantar bem, com boa voz, é preciso antes de mais nada, que o instrumento esteja em condições ideais de uso: afinado, aquecido e bem preparado (MATHIAS, 1986). A técnica vocal é praticada há séculos. Segundo KAHLE (1956), até o século XVI, a música era ligada à Igreja, predominando o canto litúrgico. No fim do século XVI, surge uma nova forma musical: a ópera. Com ela surgiram as escolas de canto, trazendo consigo a necessidade de cantores com grandes possibilidades vocais. As exigências vocais são maiores. Surge então, a técnica vocal. O autor define que a técnica vocal tem a finalidade de educar a sensibilidade do cantor, para o uso das verdadeiras caixas de ressonância e o completo equilíbrio entre os registros. Seu objetivo principal é manter o timbre da voz natural. SINNEK (1955) afirma que a técnica é responsável pela colocação e projeção vocal, de maneira que ela seja amplificada no ambiente em que está sendo produzida. Alerta para o canto sem técnica ou o erro quanto ao seu emprego, podendo vir a maltratar a voz. WYSUY (1980) acredita que um erro no emprego da técnica pode resultar em danos e prejuízos ao aparelho fonador. O resultado da técnica pode ser construtivo, destrutivo ou sem efeito; isso vai depender da forma como é realizado o exercício. MORANI (1995) relata que a correção do som e da postura é feita através da técnica vocal. Consequentemente a voz vai adquirir o brilho necessário, para uma boa emissão no canto. A clareza e a suavidade vocal será percebida. SEGRE, NAIDICH e JACKSON (1981) citam como proveniente de erros na técnica da voz cantada: tremor vocal, voz abafada, voz nasalizada, ataque vocal soproso e ataque vocal brusco. As alterações são provenientes de causas orgânicas e funcionais. Frequentemente são encontradas nos alunos de canto e nos cantores populares 10

profissionais sem treinamento vocal, além de indivíduos alérgicos, hipersensíveis e nervosos que realizam abusos vocais. DINVILLE (1993) considera um círculo vicioso essas pertubações. As lesões ou inflamações podem degenerar em problemas funcionais. Esses podem ocasionar problemas orgânicos. O sinal de uma técnica errônea e de esforço contínuo é o nódulo, podendo ser unilateral ou bilateral. As queixas mais frequentes do cantor são cansaço vocal, sensação de tensão interna excessiva, coceira, ardor ou secura na garganta. A vontade de pigarrear, dor unilateral, incômodo para deglutir e crispações de um lado. A técnica vocal tem como base fundamental: a respiração. Quem sabe respirar, sabe cantar (CARTOLANO, 1968). Segundo DINVILLE (1993) o cantor busca a economia do gasto de ar segundo a intensidade, a altura, o timbre, a extensão e a duração da frase musical. O trabalho respiratório tem por objetivo principal treinar a musculatura laríngea, a fim de adquirir a agilidade e a tonicidade necessária à voz cantada. A respiração adequada seria a do tipo inferior, costa diafragmática ou, como é denominada por PRATE & SWIFT (1984), abdominal - diafragmática. Esta é caracaterizada pela expansão da parte baixa da caixa toráxica e da musculatura da região abdominal durante a inspiração. O diafragma participa dos movimentos respiratórios e, fisiologicamente, este tipo de respiração permite boa ventilação, proporcionando o apoio necessário à função vocal (SANCHEZ, 1981). A adequação do tipo respiratório deve ser feita tanto para a voz falada como cantada; ou seja, o mecanismo adequado deve ser aprendido e automatizado através da técnica. O trabalho integrado do fonoaudiólogo e professor de canto é o estudo da estética vocal cantada em toda sua totalidade (MORANI, 1995). Sinnek (1955) afirma que o professor de canto é músico em primeiro lugar e visa, principalmente a educação musical de seus alunos. Não trata da fisiologia do aparelho fonador e ensina somente os exercícios e regras comuns e usuais do canto. 11

Através de seu gosto musical e bom ouvido, leva o aluno a conhecer a beleza da música e exprimi-la da melhor forma possível. TEIXEIRA (1970) já é mais exigente quanto ao papel do professor de canto: ele necessita saber ouvir, discernir, julgar e avaliar todos os timbres vocais. Além de ter que possuir noções suficientes de fisiologia acústica, fonética, pedagogia, metodologia e psicologia. Um trabalho conjunto entre médico, fonoaudiólogo e professor de canto, resulta em benefícios para o cantor ( MORANI, 1995). Esta interdisciplinariedade requer dos profissionais envolvidos, pelo menos conhecimentos básicos, das outras áreas em questão. O professor de canto é simplesmente um mero orientador, como define MORANI(1995). Não é o professor que faz ou descobre a voz do cantor e sim ele mesmo, através de pesquisas sonoras e treinamentos diários com a voz. ANDRADA e SILVA (1998) relata que o trabalho fonoaudiológico na área do canto é muito recente. Quando o cantor vem procurar o fonoaudiólogo, tem uma queixa na voz (falada ou cantada ou em ambas). Inicialmente busca apenas o aprimoramento vocal, mas durante o processo de avaliação verifica-se algum problema na voz ou então, o cantor apresenta um medo do trabalho do professor de canto, por experiências anteriores ruins. PICOLLOTTO (1995) realizou uma pesquisa de campo sobre fonoaudiólogos e professores de canto. Quem são? O que fazem? Na conclusão foram encontrados dados bastante significativos. Observou formas e valores diferentes de atuação. Do lado dos fonoaudiólogos encontrou a marca da ciência, do conhecimento anatômico e funcional, do processo terapêutico. Do lado dos professores de canto encontrou a presença da arte, da transmissão oral de conhecimento, da experiência dos mais velhos. MORANI (1995) considera que hoje a integração entre ambos os profissionais é real e possível. Existe uma conscientização bem maior por parte dos mesmos, e esta união deve ser cada vez mais consolidada. 12

Ao concluir o trabalho sobre canto, o primeiro aspecto que vale salientar é que a voz cantada exige uma atividade muscular permanente, constantemente adaptada a várias situações. Ou seja, lidamos com algo complexo e delicado: o aparelho fonador. Ele compreende um número incalculável de nervos, vasos sangüíneos, músculos e cartilagens. O canto requer do aparelho fonador sua total perfeição. O estado de normalidade é fundamental, antes de se iniciar a arte do canto. Assim como não se pode tocar violão com uma corda quebrada, não podemos submeter nosso órgão vocal a tal esforço sem antes verificar suas condições anatômicas e fisiológicas. Sem antes treiná-lo e prepará-lo. Cantar sem técnica é desastroso e prejudicial. O enfoque principal deste trabalho é a técnica utilizada no canto. Nem todas as pessoas consideram a técnica vocal indispensável à arte do canto. Alguns acreditam que para cantar só é preciso ter o dom e nada mais. Isto não é verdade. O esforço físico que fazemos para cantar é bem maior que o que fazemos para falar. O aparelho fonador durante o canto funciona como uma caixa acústica, que deve estar completamente ampliada para uma boa projeção vocal. Ou seja, as condições anatômicas e fisiológicas da laringe são importantes durante o desempenho da voz cantada. A tonicidade das pregas vocais, é outro aspecto que deve ser levado em conta. Não podemos exigir de uma laringe constitucionalmente débil, o mesmo que de uma laringe em perfeito estado. Uma laringe mais frágil não deve ser maltratada, nem sobrecarregada a fim de evitar as complicações orgânicas, que podem surgir lenta ou 13

bruscamente. A técnica trabalha a voz para entrar em cena através do canto. Seu objetivo essencial é o de desenvolver a voz natural do aluno. Qualquer erro em sua aplicação resulta em danos e prejuízos ao aparato vocal. O cantor sem o apoio de uma técnica apropriada, pode utilizar mecanismos compensatórios, o que gera uma fadiga passageira no órgão vocal. A técnica modifica o timbre de sua voz. Uma técnica inadequada causa alterações significativas em nível de timbre, podendo ser percebidas acusticamente. Nosso ouvido logo percebe algo estranho na emissão do canto. É como se a voz estivesse suja. O professor de canto é responsável pelo emprego da técnica vocal. O ensino do canto é algo delicado e difícil. Dentro dessa arte nada deve ser sistemático. Cada cantor é um caso particular. O professor deve adaptar e modificar os procedimentos da técnica utilizada, de acordo com as diferenças e limitações de cada cantor. Não estamos falando de um objeto, e sim de um ser humano que emite uma voz, através de um corpo. Se desconhecemos o mecanismo fisiológico e anatômico desse corpo, fica difícil detectar um distúrbio na voz apenas subjetivamente. Não podemos confiar só no nosso ouvido, as impressões podem ser subjetivas e falhas. Temos que ter dados mais objetivos e claros em nossas mãos. Por que a ARTE não se une à CIÊNCIA? A interação dessas áreas só trará um crescimento maior à arte do canto. Os diagnósticos serão detectados com maior facilidade e os sinais de distúrbios vocais serão percebidos mais claramente. Ambos possuem um interesse em comum: a voz. E isto pode ser o elo de união entre eles. 14

ANDRADA e SILVA, M.A. Estudo de um Grupo de Cantores da Noite Dissertação de mestrado apresentada ao programa de Distúrbios da Comunicação da Pontíficia Universidade Católica de São Paulo, 1995. ANDRADA e SILVA, M.A. Voz Cantada - Evolução, Avaliação e Terapia Fonoaudiólogica São Paulo, Editora Lovise LTDA, 1998. CARTOLANO, Ruy Botti. Regência: Coral, Orfeão, Percurssão São Paulo, Irmãos Vitale editores Brasil, 1968. DINVILLE, Claire. A Técnica da Voz Cantada Rio de Janeiro, Enelivros, 1993. FERREIRA, Léslie Piccolotto. Trabalhando a Voz São Paulo, Summus, 1988. FERREIRA, Léslie Piccolotto. Voz Profissional: o Profissional da Voz Carapicuíba, São Paulo, Pró-Fono Departamento Editorial, 1988. LOUZADA, Dr. Paulo da Silva. As Bases da Educação Vocal Rio de Janeiro, O Livro-Médico LTDA, 1982. MANSION, Madeleine. El Estudo del Canto. Técnica de la Voz Alada y Cantada Buenos Aires, Ricordi Americano AS, 1948. MATHIAS, Nelson. Coral, Um Canto Apaixonante Brasília, Musimed, 1986. MENALDI, Jackson. La Voz Normal Argentina, Editorial Médica Panamericana, 1992. 15

NAIDICH, Susana. Reeducacion de Disfonias, Professionales del actor, del Uamado Cantante Popular Buenos Aires, Panamericana, 1977. PASSOS, Lúcia de moura. Apostila sobre Técnica Vocal São Paulo 1980 PRATER, R.J. & SWIFT. R.W. Manual of Voice Therapy Boston, Little Brown and Company, 1984 p. 36-7. PINHO, Sílvia M. Rebelo. Manual de Higiêne Vocal para Profissionais da Voz Carapicuíba, São Paulo, Pró-Fono, 1997. PERELLÓ,J. Alteraciones de La Voz Barcelona, Editorial Científico Médica, 1973. PERELLÓ,J; CABALLÉ,M; GUITART,E. Canto y Diccion Barcelona, Científico- Médica, 1975. SÁNCHEZ, I. B. Reeducacion de Problemas de la Voz Madrid CEPE 1981. SEGRE,R; NAIDICH, S; JACKSON, C.A Princípios de Foniatria Buenos Aires, Panamericana, 1981. SINNEK, Hilde. ABC Para Cantores e Oradores São Paulo, Ricordi, 1955. SUNDERBERG, John. Comportamento Respiratório Durante o Canto, 3 Cambridge, J Nats, 1993. TEIXEIRA, Sylvio Bueno. A Arte de Cantar Campinas, Editora Ativa, 1976. VILLELA, Eliphas Chinellato. Fisiologia da Voz: Para Uso das Escolas de Canto e Conservatórios no Curso de Canto São Paulo, S.N., 1961. 16