Câmbio, Competitividade e Investimento Lucas Teixeira (BNDES) Laura Carvalho (EESP)
Introdução Questão: a desvalorização cambial resolverá o problema de perda de competitividade e de compressão de margens da indústria brasileira, estimulando ao mesmo tempo as exportações líquidas e o investimento? Objetivo específico: analisar o impacto de variações cambiais sobre as margens de lucro, a competitividade e o investimento dos setores econômicos pela ótica dos custos de produção. Metodologia: modelo de preços de Leontieff, a partir de dados da MIP (2009).
Aspectos teóricos Em modelos com competição imperfeita, preços são formados por mark-up sobre custos unitários nominais de produção (trabalho, insumos nacionais e importados): P = (1+τ ) wb + p a a + ep m m ( ) Em setores de bens não comercializáveis, aumentos de custos podem ser repassados para preços, mantendo o mark-up. Já em setores de bens comercializáveis, que sofrem concorrência estrangeira, aumentos de custos (em geral) reduzem a margem de lucro.
Aspectos teórico Efeito de desvalorizações da taxa de câmbio sobre as margens de lucro (Blecker, 2008): Alivia a concorrência estrangeira, permitindo algum aumento do mark-up e dos preços, o que reduz o salário real. Eleva o custo dos insumos importados, o que pode diminuir esse aumento de margem.
Aspectos teóricos Investimento é função da parcela da demanda total (doméstica e exportações) atendida pela produção doméstica. Efeito não linear das margens de lucros: taxa mínima de lucro é necessária para a realização do investimento. Câmbio pode ter efeito positivo se elevar as exportações e as margens de lucro (para acima do mínimo), e não reduzir muito o consumo.
Competitividade no Brasil Indústria de Transformação 23,0 21,0 19,0 17,0 15,0 13,0 11,0 9,0 7,0 5,0 1996 T4 1999 T4 2002 T4 2005 T4 2007 T2 2008 T1 2008 T4 2009 T3 2010 T2 2011 T1 2011 T4 2012 T3 2013 T2 Coef. de Exportações Penetração das Importações Fonte: IPEADATA - CNI
Competitividade no Brasil 22% EOB (% do VBP) 20% 18% 16% 14% 12% 10% 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Indústria (ex. commodities) Commodities Fonte: IBGE (Tabelas de Recursos e Usos)
Metodologia Modelo de preços de Leontief O preço de oferta de qualquer setor: Determinado pelo custo unitário de produção (invariável) Não é influenciado pelo nível de produção Mostra a determinação dos preços, levando em consideração o processo de transmissão inter-setorial de mudanças preços Introduzimos mark-up nominal exógeno
Metodologia Margens estão comprimidas e preço está acima do que seria competitivo internacionalmente: não há espaço para elevação de margem. Duas possibilidades, a partir do aumento do custo de importados: Eleva preços e mantém margem; Mantém preços e reduz margem.
Margens constantes Setor Máquinas para escritório e equipamentos de informática Produtos químicos Material eletrônico e equipamentos de comunicações Outros equipamentos de transporte Defensivos agrícolas Produtos e preparados químicos diversos Tintas, vernizes, esmaltes e lacas Fabricação de resina e elastômeros Var. Preço (%) 4,68 3,65 3,47 3,12 2,94 2,94 2,90 2,88
Evolução da Margem Máquinas para escritório e equipamentos de informática 25,0% Produtos químicos 12,0% 10,0% 8,0% 20,0% 15,0% 6,0% 4,0% 10,0% 2,0% 5,0% 0,0% -2,0% 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 0,0% Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Trade-off Setores não aproveitam muito a desvalorização para ganhar competitividade, mas mantém margem. Setores ganham competitividade, mas reduzem margem. Efeito ambíguo no investimento: efeito de demanda vs margem.
Setores com maior trade-off 7 6 5 4 3 2 1 0 Automóveis, camionetas e Caminhões e ônibus Máquinas para escritório e Material eletrônico e Fabricação de resina e Defensivos agrícolas Outros equipamentos de Produtos químicos Máquinas e equipamentos, Artefatos de couro e calçados Produtos e preparados Peças e acessórios para Eletrodomésticos Metalurgia de metais não- Máquinas, aparelhos e Artigos do vestuário e Artigos de borracha e plástico Tintas, vernizes, esmaltes e Celulose e produtos de papel Alimentos e bebidas Refino de petróleo e coque Têxteis Fabricação de aço e Perfumaria, higiene e limpeza Cimento Outros produtos de minerais Produtos de metal - exclusive Aparelhos/instrumentos Móveis e produtos das Produtos farmacêuticos Produtos do fumo Jornais, revistas, discos Produtos de madeira - Álcool
Setores com maior trade-off Setor Automóveis, camionetas e utilitários Caminhões e ônibus Máquinas para escritório e equipamentos de informática Material eletrônico e equipamentos de comunicações Fabricação de resina e elastômeros Defensivos agrícolas Outros equipamentos de transporte Produtos químicos Var. Preço (%)/EOB 6,11 1,39 1,18 0,90 0,80 0,58 0,49 0,37
Preço relativo do Investimento Desvalorização cambial encarece o investimento Aumento de preço da oferta nacional: 0,84% Aumento de preço do Investimento: 2,01%
Resultados Setores mais dinâmicos (eletrônicos e química) apresentam maior peso de importados nos seus custos. Indústria automobilística aparenta pouca capacidade de acomodar choques cambiais. Dada a baixa competitividade, os setores podem estar numa etapa de recomposição de margens. No curto prazo, o efeito do câmbio na taxa de investimento pode não ser muito expressivo.
Outras vias Salários: gera desestímulo ao consumo e assim também afeta a indução a investir. Desonerações: alivia o conflito entre salários e lucros, mas tem custo fiscal. Aumento da produtividade do trabalho: infra-estrutura, inovação, mudança estrutural.
Etapas futuras Investigar a diferença entre o preço doméstico e o preço internacional nos setores comercializáveis. Endogeneizar reajustes salariais na matriz de preços. Simular desonerações fiscais.