AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE NUTRIÇÃO E SUPLEMENTAÇÃO DE INSTRUTORES QUE ATUAM EM ACADEMIAS WILSON CÉSAR DE ABREU 1, ALESSANDRA BOUERI LAZARINI 2, CARLA MICHELLE FERREIRA DE ABREU 3 RESUMO: O presente estudo teve o objetivo de avaliar os conhecimentos sobre nutrição básica e suplementação esportiva de profissionais de Educação Física. Participaram do estudo 72 indivíduos de ambos os sexos que atuam como instrutores de alguma atividade física oferecida pelas academias de ginástica das cidades de Lavras e Nepomuceno. Para avaliar os conhecimentos sobre a nutrição básica e aplicada ao esporte dos instrutores, foi utilizado um questionário auto-aplicado com questões sobre conhecimentos de nutrição básica e aplicada ao exercício. A maioria dos participantes responderam corretamente quais são as boas fontes de macro e micronutrientes. A maioria dos participantes deste estudo (87,5%) relatou incentivar a ingestão de água durante o exercício físico. Apenas 51,4% dos entrevistados responderam que o acréscimo de carboidratos e eletrólitos as bebidas favorecem a hidratação, sendo a proporção de acertos significativamente maior entre as mulheres (p<0,05). A maioria (80,6%) indicou corretamente qual dever ser a composição da refeição pré-treino. Ao todo 47,2% dos participantes responderam que deve-se utilizar carboidratos e proteínas na refeição póstreino, sendo significativamente maior entre as mulheres (P<0,05). Apenas 37,5% dos participantes indicaram corretamente os alimentos com alto índice glicêmico. Parte significante do grupo (15,3%), acredita que qualquer suplemento pode ser utilizado sem preocupação, porque o excesso é simplesmente eliminado. Em geral o percentual de acertos foi maior entre as mulheres. Apesar dos participantes apresentarem um conhecimento razoável sobre nutrição, há ainda muitos conceitos equivocados que favorecem a pratica de orientações inadequadas para os alunos de academias. Palavras-chaves: Nutrição esportiva, academia, Esportista, suplementação. INTRODUÇÃO Nesta última década a busca pelo melhor condicionamento físico, qualidade de vida, treinamento para competições e o forte apelo da forma física têm levado pessoas de todas as idades à prática de várias modalidades de exercícios físicos em academias(hirschbruch e CARVALHO, 2002). Além das recomendações dietéticas gerais para uma alimentação saudável que evite deficiências, os indivíduos que praticam atividade física precisam de orientações específicas para satisfazer suas necessidades nutricionais de acordo com o tipo de atividade que praticam, sua intensidade, freqüência e duração (VIVIANE e GARCIA, 2003). A utilização de suplementos por praticantes de atividades físicas é cada vez mais comum. Aliada a divulgação da mídia, o mercado de alimentos e suplementos conta também com a influência dos professores de educação física sobre seus alunos. Cerca de 30 a 40% dos freqüentadores de academias consomem suplementos e boa parte dos usuários (31%) toma suplementação por indicação de instrutores, professores ou treinadores (PEREIRA et al., 2003). Entretanto, para orientar um indivíduo quanto à utilização de suplementos e/ou ingestão alimentar é necessário ter conhecimento adequado sobre o assunto. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar os conhecimentos sobre nutrição básica e aplicada de profissionais de Educação Física, que muitas vezes transmitem orientações sobre dietas e suplementos aos freqüentadores de academias. Desta forma, verificou-se a capacitação destes profissionais quanto à orientação dos alunos de academias. MATERIAL E MÉTODOS 1 UFLA, DCA, wilsonprofessor@oi.com.br 2 UNILAVRAS, NUTRIÇÃO, bouerinutri@yahoo.com.br 3 UNIFOR, ICS, carlanichellenutri@yahoo.com.br
Foi realizado um estudo transversal para avaliar o conhecimento sobre nutrição de 72 instrutores de ambos os sexos que trabalham com atividade física oferecida por academias de ginástica das cidades de Lavras e Nepomuceno - MG. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do UNILAVRAS em Agosto de 2007. Os instrutores responderam o questionário mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo informados sob a possibilidade de abandonar a pesquisa a qualquer momento, mesmo após ter assinado o termo de consentimento livre e esclarecido sem penalidade ou prejuízo algum a eles. A coleta de dados foi realizada nas academias, onde cada participante foi orientado a preencher o questionário logo após o recebimento e sem fazer qualquer tipo de consulta. Para avaliar os conhecimentos sobre a nutrição básica e aplicada ao esporte dos instrutores, foi utilizado um questionário auto-aplicado com questões sobre a formação acadêmica (cursos realizados na área de nutrição, realização de pós-graduação, etc.), conhecimentos sobre nutrição básica (fontes alimentares dos diversos nutrientes) e aplicada ao exercício (utilização e recomendações de nutrientes para o exercício físico, suplementação esportiva, etc.). As perguntas foram elaboradas a partir de conceitos básicos encontrados na literatura. Análise dos Dados Os dados foram digitalizados utilizando-se o Microsof Excel e analisados no pacote estatístico Epi-info 2002. Para analisar as variáveis categóricas foi aplicado o teste do Qui-quadrado (χ 2 ) ao nível de significância de 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Participaram deste estudo 72 indivíduos, sendo 61% do sexo masculino e 39% do sexo feminino. Destes 12,5% tinham menos do que 2 anos de formação, a maioria (76,4%) tinha mais de 2 anos de formação e 11,1% eram estagiários que ainda não haviam concluído a graduação. Entre os indivíduos formados 55,7% haviam realizado algum curso de pós-graduação. A área de pós-graduação mais cursada pelos entrevistados foi de Treinamento Esportivo, com 82%. Nenhum dos entrevistados fez pós-graduação na área da Nutrição esportiva. Por outro lado, 92% dos entrevistados relataram que cursaram disciplina de Nutrição durante o curso de graduação. Com relação a composição dos alimentos, a maioria dos participantes respondeu corretamente quais alimentos são ricos em fibras, macronutrietens (proteínas, carboidratos, lipídios), micronutrientes (cálcio, ferro e vitamina C) e valor energético dos alimentos não havendo diferença entre os sexos (Figura 1). % 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 84,7 94 96,3 97,2 0 Fibras Micronutrientes Macronutrientes Kcal Figura 1: Frequência percentual de acertos em questões referentes a fontes de nutrientes e energia.
Há consenso no meio esportivo que a capacidade de rendimento físico tem relação direta com a ingestão equilibrada de todos os nutrientes incluindo carboidratos, gorduras, proteínas, minerais, vitaminas, fibras e água (ARAÚJO e SOARES, 1999). Apesar de maioria dos entrevistados terem apontado as hortaliças e frutas como as principais fontes de fibras da dieta, 15,3% incluíram as carnes como alimentos ricos em fibras alimentares. As melhores fontes de fibras são as hortaliças, frutas, leguminosas, grãos integrais, hortaliças, aveia e farelos (RIQUE et al, 2002). Parte significante do entrevistados (15,3%), acredita que qualquer suplemento pode ser utilizado sem preocupação, porque o excesso é simplesmente eliminado. Estes resultados mostram que ainda existe uma idéia equivocada sobre o uso dos suplementos por parte de muitos instrutores. De modo geral, os profissionais da saúde apontam que suplementos vitamínicos não são necessários para indivíduos que tenham uma dieta bem equilibrada. Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva (2003), uma alimentação balanceada e de qualidade, a não ser em situações especiais, atende às necessidades nutricionais de um praticante de exercícios físicos, inclusive de atletas de nível competitivo, o que dispensaria o uso de suplementos alimentares. Apesar da grande preocupação dos freqüentadores de academias em buscar uma nutrição ideal e adequada ao tipo de treino, a falta de conhecimentos, os hábitos alimentares inadequados e a influência dos treinadores e da mídia, são os principais fatores que levam a utilizar suplementos nutricionais e adotar um comportamento alimentar nem sempre capaz de atingir os objetivos esperados (ADA, 2000). A maioria dos participantes deste estudo (87,5%) relatou incentivar a ingestão de água durante o exercício físico. Este fato é relevante, pois a desidratação aumenta o estresse provocado pelo exercício físico e prejudica a termorregulação corporal (SBME, 2003). Durante o exercício recomenda-se a ingestão de bebidas que contenham carboidratos e alguns eletrólitos como sódio e potássio (ADA, 2000). A associação entre água, carboidratos e eletrólitos, é muito melhor para aumentar o rendimento do atleta. O glicídio, mantém a glicemia sérica e retarda a fadiga muscular e a inclusão de sódio nas bebidas reidratantes promove maior absorção de água e carboidratos pelo intestino durante e após o exercício. Neste estudo, apenas 51,4% dos entrevistados responderam que o acréscimo de carboidratos e eletrólitos as bebidas favorecem a hidratação, sendo a proporção de acertos significativamente maior entre as mulheres (p<0,05). Por outro lado, 37,5% acreditam que a inclusão de proteínas ou aminoácidos também melhoram a hidratação. Segundo Lemon (1994), não devem ser consumidos alimentos ricos em proteínas próximo ao treino, já que demoram mais para serem digeridas e absorvidas, provocando assim um desconforto gastrintestinal durante a prática do exercício. As proteínas devem ser ingeridas durante todo o dia para repor as necessidades diárias. No período pré-treino devem ser realizadas refeições com baixo teor de fibras, gorduras dietéticas e proteínas (LEMON, 1994). Entre os participantes deste estudo a maioria (80,6%) indicou corretamente qual dever ser a composição da refeição pré-treino. Porém, 19,4% relataram que deve-se ingerir preferencialmente proteínas e fibras. A ingestão de dieta rica em carboidrato antes do exercício aumenta os níveis iniciais e parece ter um efeito poupador do glicogênio durante o exercício, maximizando os estoques de glicogênio e mantendo a glicemia (BUCCI, 1994). Ao todo 47,2% dos participantes responderam que deve-se utilizar carboidratos e proteínas na refeição pós-treino. O percentual de acertos foi significativamente maior entre as mulheres (P<0,05). Após os treinos deve-se utilizar uma bebida rica em carboidratos de alto índice glicêmico (IG) e proteína. Essa fórmula fará com que o organismo assimile melhor os aminoácidos presentes na bebida (reparando a massa muscular), e favorecendo a ressíntese do glicogênio depletado no treinamento. Essa fórmula é mais eficaz porque a combinação de carboidrato/proteína faz com que aumente a liberação do hormônio insulina. Esta facilita a passagem do aminoácido para o interior das células, prevenindo a degradação protéica e favorecendo a contração muscular (JENTJENS & JEUKENDRUP, 2003). De acordo com a Tabela 1, observou-se que 46,5% dos homens relatam que o melhor momento para utilizar suplemento de maltodextrina (mistura de carboidratos de alto IG), seria durante o treino, enquanto que 31,8% das mulheres consideram importantes antes do treino.
Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva (2003), o efeito ergogênico da ingestão de carboidratos durante o exercício já foi consistentemente demonstrado em vários experimentos, muitos dos quais efetuados durante etapas de muitas horas de duração. Foi demonstrado que o exercício prolongado reduz acentuadamente o nível de glicogênio muscular, exigindo constante preocupação com sua reposição, porém, apesar de tal constatação, tem sido observado um baixo consumo de carboidratos pelos atletas. Em relação aos suplementos protéicos, deveria ser usado somente no pós treino. Percentual significativamente maior de homens relatou indicar o uso de suplementos protéicos após o treino (p<0,05) (Tabela 1). Estudos recomendam que o uso dos suplementos protéicos, como a proteína do soro do leite ou a albumina da clara do ovo, deve estar de acordo com a ingestão protéica total. O consumo adicional destes suplementos protéicos acima das necessidades diárias (1,8g/kg/dia) não determina ganho de massa muscular adicional, nem promove aumento do desempenho. Entretanto a ingestão de proteínas logo após o treino acelera a recuperação muscular (SBME, 2003). Tabela 1: Recomendação de uso de maltodextrina e hipeproteicos segundo o sexo. Horário Matodextrina Hiperproteicos Homens Mulheres Homens Mulheres Antes do treino 21,4 31,8 17,9 25,0 Durante o treino 46,5* 22,7 7,1 6,8 Após o treino 7,1 15,9 53,6* 29,5 Todos os momentos 14,3 11,4 3,6 15,9 Não recomendaria 10,7 18,2 17,9 22,7 *teste do qui-quadrado - p<0,05. Segundo Kazapi e Tramonte (2003), as necessidades energéticas devem ficar distribuídas em seis refeições para que sejam evitados jejuns prolongados ou estômago muito cheio, situações que dificultam o treinamento. Sendo assim, para alcançar um bom desempenho físico recomenda-se aumentar o numero de refeições diárias e evitar longos períodos sem se alimentar. Em relação a quantas refeições deve-se fazer por dia, 73,6% dos participantes responderam que seriam 6 refeições ou mais. Quanto ao intervalo entre as refeições a maioria (65,3%) indicou que deve se alimentar a cada 3 horas e 30,6% recomenda que deve ser a cada 4 horas. Nenhum participante relatou indicar a pratica de atividade física em jejum. Sobre o controle de peso, 61,1% consideraram importante realizar 6 ou mais refeições por dia. Entretanto, 32% dos participantes recomendam a retirada dos carboidratos e 6,9% acreditam que o ideal para controlar o peso é se alimentar a cada cinco horas. Segundo Jentjens e Jeukendrup (2003), alimentos com alto IG como pão branco, cereais matinais, glicose, batatas cozidas, açúcar e geléias produzem maiores concentrações de glicogênio nas primeiras horas de recuperação quando comparados aos de moderado e baixo IG sendo indicados para o período pós-treino. Com relação aos alimentos com alto índice glicêmico, apenas 37,5% responderam corretamente. Um quinto dos entrevistados indicaram a maçã como um alimento de alto IG. Segundo Mujika e Padille (1997), a creatina se tornou um dos suplementos mais populares na última década. Muitos estudos científicos mostraram ser a creatina um agente ergogênico, que melhora o desempenho em alguns tipos de esporte, sua eficácia continua em discussão. Sobre a creatina, 73,6% entendem acertadamente que ela é utilizada para produção anaeróbica de energia. Em relação a L-carnitina, 38,9% dos participantes relataram que indicariam a suplementação para reduzir gordura corporal, sendo este percentual maior entre as mulheres (42,9%) em relação aos homens (27,3%) (p<0,05). Entretanto não há evidências de sua eficácia na desempenho de atletas. Sabe-se que nos esportes que envolvem força, como a musculação, o aumento da massa muscular confere ao atleta uma vantagem bem definida, devido a isso existe uma crença por parte dos treinadores ou instrutores, da necessidade de uma dieta hiperprotéica, para o aumento de massa muscular (LEMON, 1998; GUERRA, 2002). Observou-se que 55,6% dos participantes acreditam que
para aumentar a massa muscular deve-se aumentar apenas a ingestão de proteínas. Esta crença é maior entre os homens (63,6%) em relação as mulheres (42,9%) (p<0,05). CONCLUSÕES De acordo com os resultados encontrados, os participantes apresentaram um bom conhecimento sobre as fontes alimentares dos principais nutrientes da dieta. Entretanto, em relação à Nutrição aplicada aos exercícios (utilização e recomendações de nutrientes para o exercício físico, suplementação esportiva, etc) os participantes apresentaram posicionamentos conflitantes sobre o assunto. Em geral as mulheres apresentaram um percentual de acertos maior que os homens. REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION. Reports Position of the American Dietetic Association: Nutrition and athletic performance. Journal of American Dietetic Association, v.100, n.12, 1543-1556, 2000. ARAÚJO, A.C.M.; SOARES, N.G. Perfil da utilização de repositores protéicos nas academias de Belém, Pará. Revista de Nutrição, v.12, n.1, p. 81-90, 1999. BUCCI, L. Nutrients as ergogenic aids for sport and exercise. Medicine Science Sports Exercise, v.26, n.8, 1069-1074, 1994. GUERRA, I. Importância da Alimentação do Atleta Visando a Melhora da Performance. Revista Nutrição em Pauta. São Paulo, n.55, p.63-66, 2002. HIRSCHBRUCH, M.D.; CARVALHO, J.R. Nutrição esportiva: uma visão prática. 1.ed. São Paulo: Manole, 2002. 365p. KAZAPI, I.A.M.; TRAMONTE, L.C.G. Nutrição do atleta. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2003. 202 p. JENTJENS, R.; JEUKENDRUP, A.E. Determinants of post-exercise glycogen synthesis during shortterm recovery. Sports Medicine, v.33, n.2, p.117-144, 2003. LEMON, P.W. Protein requirements of soccer. Journal Sports Science, v.10, p.148-152, 1994. LEMON.P.W. Effects of exercise on dietary proteins requirements. International Journal Sports Nutrition, v.8, p. 426-447. 1998. MUJIKA, I.; PADILLA, S. Creatine supplementation as a ergogenic aid for sports performance in highly trained athletes: a critical review. International Journal Sports Medicine. v.4, n.2, p.79-83, 1997. PEREIRA R.F.; LAJOLO, F.M.; HIRSCHBRUCH, M.D. Consumo de suplementos por alunos de academias da cidade de São Paulo. Revista de Nutrição, v.16, n.3, p.265-272, 2003 RIQUE, A.B.R.; SOARES, E.A.; MEIRELLES, C.M. Nutrição e exercício na prevenção e controle das doenças cardiovasculares. Revista Brasileira de Médicina do Esporte, v.9, p.102-109, 2002. SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DO ESPORTE. Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potencias riscos para a saúde. Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Revista Brasileira de Medicina Esporte. V.9, n.2, mar./abr., 2003. VIVIANE, M. T.; GARCIA, J. R. Análise dos conhecimentos sobre nutrição básica e aplicada de profissionais de educação física e nutrição. Nutrição em Pauta, v11, n. 63, p.27-30, nov./ dez. 2003.