RESPONSABILIDADE CIVIL NA LESÃO CORPORAL



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Transcrição:

RESPONSABILIDADE CIVIL NA LESÃO CORPORAL Filipe Rezende Semião, est.. Sumário: I - Pressupostos da Responsabilidade Civil II - Dispositivos legais III - Dano ao corpo IV - Indenização na lesão corporal V - Referências Bibliográficas I - Pressupostos da Responsabilidade Civil De inicio importante salientar os pressupostos da responsabilidade civil, que pode surgir em decorrência de ato ilícito ou, excepcionalmente, de fato lícito. Diante disso, podemos classificá-la em dois grupos, qual seja a responsabilidade subjetiva e a objetiva. A responsabilidade subjetiva, estribada na culpa, tem como pressuposto o ato ilícito, cujos elementos são: i - conduta antijurídica e culposa, ii - dano e iii - nexo causal. Já a responsabilidade objetiva prescinde do elemento culpa e, em regra, pressupõe a ocorrência de ato ou situação ilícita, dano e nexo causal.

Para elucidar esta questão da culpa, trago a baila o Dr. Rénan Kfuri Lopes 1, que esclarece que tem a culpa naturezas diversas quanto à sua aplicação: culpa in commitendo (quando se pratica uma ação); in omittendo (quando há omissão); in eligendo (quando se elege representante ou preposto); in vigilando (quando transfere a outrem o dever de vigilância) e in custodiendo (quando tem dever de guarda e cuidado com animais). Dentre o gênero da culpa está a espécie dolo, que se afigura quando o agente tem consciência tanto da conduta quanto do resultado ilícito e lesivo que seu comportamento produzirá para a outra parte. No dolo direto, o agente tem plena consciência do seu ato e persegue o resultado; no dolo eventual, o agente é consciente do seu ato, prevê o resultado como possível, porém não o quer, conquanto o aceite indiferentemente; e o dolo alternativo, o agente prognostica dois resultados danosos, conformando-se com um ou outro. O nexo causal é essencial tanto no caso de responsabilidade subjetiva, quanto no de objetiva e sua caracterização é de extrema relevância na definição da responsabilidade, já que sua ausência tem o condão de afastá-la. O código civil, nos artigos 186 e 929, prescreve que todo aquele que violar direito ou causar prejuízo a outrem por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, deve reparar o dano, admitindo-se assim a reparação civil do dano ao corpo, por constituir um ato ilícito. 1 Rénan Kfuri Lopes, Panorama da responsabilidade civil, www.rkladvocacia.com

II - Dispositivos legais O artigo 949 do Código Civil de 2002 cuida da indenização nas hipóteses de lesão corporal: No caso de lesão ou ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até o fim da convalescença, além de algum prejuízo que prove haver sofrido. No mesmo sentido posiciona-se o art. 950 no novo diploma: Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas de tratamento e lucros cessantes até o fim da convalescença, incluirá pensão correspondente do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.

Com a acuidade que o caracteriza, Theotonio Negrão 2 preleciona: Para o dimensionamento da pensão, o que vale para a fixação do percentual, em princípio, é a incapacidade para o trabalho que exercia no momento do ato lesivo, pouco relevando que haja incapacidade apenas parcial para outras atividades, salvo a comprovação de que o ofendido efetivamente exerce outro emprego remunerado. A mera possibilidade de fazê-lo está fora da presunção legal (STJ-RT 837/160: 3ª T.). No caso, tendo o laudo atestado incapacidade total para a atividade anteriormente exercida e estando a pessoa desempregada, o STJ fixou a pensão em valor equivalente a cem por cento do que ela recebia em seu trabalho, pouco importando a constatação pelo perito de incapacidade simplesmente parcial para o desenvolvimento de atividades laborativas em geral. 2 NEGRÃO, Theotonio e F. GOUVEA, José Roberto. Código Civil e legislação civil em vigor. 25º ed. Saraiva: São Paulo, 2006. p. 210.

III - Dano ao corpo A lesão à integridade física de alguém constitui ilícito previsto no Código Civil, art. 949, e objetiva-se pelo dano anatômico, como a escoriação, ferida, luxação, cicatriz, aleijão, mutilação entre outras, que poderá acarretar ou não perturbação funcional, como a alteração na sensibilidade, na respiração, circulação, na atividade sexual, na capacidade laboral dentre tantas outras. A lesão ao corpo, em regra, repara-se pela cura, de forma que o modo de ressarcir previsto no art. 949 do Código Civil é indireto, por estabelecer dever de indenizar a vítima das despesas com o tratamento e de recompor o seu patrimônio pelo pagamento de lucros cessantes até o final da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido. IV - Indenização na lesão corporal Ficando demonstrado cabalmente conduta ilícita, dano e nexo de causalidade, exsurge provado o fato constitutivo da pretensão de indenizar, em harmonia com o artigo 333, I, do CPC, daí advindo o dever de reparar. Desta forma, o juiz ao fixar o quantum indenizatório, deve levar em consideração, frente ao caso concreto, os seguintes aspectos: 1. Quanto ao dano moral a angústia e o sofrimento da vítima, de tal sorte a lhe propiciar uma indenização que possa lhe

compensar os sofrimentos advindos da injusta agressão. Além disso a de ser analisado a potencialidade do ofensor, para que não lhe impinja uma condenação tão elevada que signifique sua ruína, gerando por via de conseqüência a impossibilidade de cumprimento da medida, e nem tão pequena que avilte a dor da vítima. 2. O dano material, refere-se à indenização mencionada no art. 950 do Código Civil referente às despesas de tratamento, que abrangem as feitas com assistência médica, enfermagem, remédios, aparelhos ortopédicos, radiografias entre outros tipos de tratamento médico, mas será preciso que não se possibilite à vítima converter essa verba em enriquecimento indevido. Vem a calhar, aqui, o percuciente ponto de vista de Maria Helena Diniz 3 : Essa parcela deverá ser razoável para obter, na medida do possível, a recuperação do lesado. Assim, se o ofendido desejar tratamento dispendioso feito por médico renomado, se isto não for indispensável à sua cura, ele deverá arcar sozinho com o excesso do preço do serviço médico. E além disso, se preferir, o lesado poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez (CC, art. 950, parágrafo único). 3 HELENA DINIZ, Maria. Curso de direito civil: Responsabilidade Civil, 7º Volume. 16º ed. Saraiva: São Paulo, 2002. p. 69.

3. O lucro cessante, geralmente é apurado de acordo com a seqüela que porventura a vítima tenha sofrido, impossibilitando-o assim de realizar atividade que praticava antes do sinistro, como exemplo o comprometimento da capacidade laboral da vítima. V - Referências Bibliográficas 1. Rénan Kfuri Lopes, Panorama da responsabilidade civil, www.rkladvocacia.com 2. NEGRÃO, Theotonio e F. GOUVEA, José Roberto. Código Civil e legislação civil em vigor. 25º ed. Saraiva: São Paulo, 2006. p. 210. 3. HELENA DINIZ, Maria. Curso de direito civil: Responsabilidade Civil, 7º Volume. 16º ed. Saraiva: São Paulo, 2002. p. 69. 4. JAIRO GOMES, José. Responsabilidade Civil e Eticidade, Del Rey: Belo Horizonte, 2005. p. 264 5. VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil, Volume 4. 3ª Edição. Atlas: São Paulo, 2003. p. 223 Sub censura. Filipe Rezende Semião, est.