Escolha Social e Proteção Ambiental. Kolstad - Capítulo 3

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Transcrição:

Escolha Social e Proteção Ambiental Kolstad - Capítulo 3

Questões gerais Qual é o balanço correto a ser feito entre proteção ambiental e o uso econômico/social do meio ambiente? Como é possível induzir agentes econômicos a utilizar o meio ambiente de forma socialmente ótima?

Questões específicas Quanto de terras devemos deixar intocado para proteger espécies de plantas e animais? Devemos destruir as cataratas do Iguaçú para construir uma hidroelétrica? Quem deve pagar os custos da proteção ambiental? Devemos investir na despoluição do ar em cidades? Quanto despoluir?

Ostro et al. (1995), World Bank WPS 1453

Poluição do Ar em São Paulo Poluição do ar, mortalidade e morbidade. Poluição e transporte. Política de despoluição custos e benefícios Despoluir?

Poluição do Ar em São Paulo Despoluir? Votação: possivelmente todos ganham com despoluição; aumenta custo de transporte; composição da poluição por classe de renda e possível voto contra (maior peso de transporte para famílias de baixa renda).

Poluição do Ar em São Paulo Despoluir? Compensação: Ganhadores (líquidos) com política compensam os perdedores (líquidos); Possível que ricos tenham benefício grande suficiente para compensar pobres.

Poluição do Ar em São Paulo Despoluir? Critérios diferentes de tomada de decisão no processo de escolha social podem acarretar decisões/escolhas diferentes.

Preferências Individuais e Meio Ambiente Diversas preferências para diversos indivíduos em uma sociedade. Todas serão consideradas em princípio.

Preferências Individuais e Meio Ambiente

Escolha Social Duas cestas de bens (e,c) e (e,c ) Cada indivíduo na sociedade é capaz de ranquear estas cestas N indivíduos i = 1, 2, 3,, N com utilidade u i Ideia: construir preferências sociais a partir de preferências individuais Possível? Propriedades?

Critério de Pareto (unanimidade) Duas cestas de bens (e,c) e (e,c ) N indivíduos i = 1, 2, 3,, N com utilidade u i (e,c) é Pareto preferido a (e,c ) se u i (e,c) u i (e,c ) para todo indivíduo i e u j (e,c) > u j (e,c ) para pelo menos um indivíduo j da sociedade

Critério de Pareto (unanimidade)

Melhoria Potencial de Pareto Duas cestas (e,c) e (e,c ) N indivíduos i = 1, 2, N Distribuição de recursos transferíveis y = (y 1, y 2,, y N ) Pagamentos z = (z 1, z 2,, z N ), Σz i = 0 (e,c) é potencialmente Pareto preferido a (e,c ) se existe z tal que (e,c,y-z) é Pareto preferido a (e,c,y)

Melhoria Potencial de Pareto A melhoria potencial de Pareto existe se ganhadores com uma nova cesta puderem compensar os perdedores.

Melhoria Potencial de Pareto

Princípio da Compensação (Kaldor- Hicks) Pode ser impossível/indesejável fazer pagamentos compensatórios Princípio da compensação: Se transferências puderem ser feitas para fazer uma escolha unanimemente desejável, então esta escolha é socialmente desejável, mesmo que transferências não sejam feitas de fato. Ideia: separar equidade de eficiência

Votação Maioria Simples A é preferível a B se a maioria votar em A (outros mecanismos de votação também existem) Problemas: Não considera intensidade de preferências Intransitividade

Função de Bem Estar Social W(u 1, u 2,, u N ) é uma função de bem estar social se e somente se W(u 1 (a),u 2 (a),,u N (a)) > W(u 1 (b),u 2 (b),,u N (b)) é equivalente a a ser socialmente preferível a b, onde a e b são cestas de consumo.

Função de Bem Estar Social Se uma função de bem estar social existir, podemos desenhar curvas de indiferença.

Função de Bem Estar Social Exemplos: Bentham (Θ i > 0)

Função de Bem Estar Social Exemplos: Igualitária (λ: penalidade associada a desigualdade) N N W u 1,, u N = u i λ u i min u i i=1 i=1

Função de Bem Estar Social Exemplos: Rawlsiana

Teorema de Arrow da (Im)possibilidade Iniciando com preferências individuais, é possível agregá-las para formarmos preferências sociais que sejam razoáveis. Razoável para Arrow significa satisfazer 6 axiomas.

Teorema de Arrow da (Im)possibilidade - Axiomas A1: Completude É possível comparar todas as alternativas do ponto de vista social.

Teorema de Arrow da (Im)possibilidade - Axiomas A2: Unanimidade Se cada indivíduo prefere a a b, então a é socialmente preferido a b.

Teorema de Arrow da (Im)possibilidade - Axiomas A3: Não-ditadura Nenhum indivíduo pode determinar o que é socialmente desejável.

Teorema de Arrow da (Im)possibilidade - Axiomas A4: Transitividade Se a é socialmente preferível a b e b é socialmente peferível a c, então a é preferível a c.

Teorema de Arrow da (Im)possibilidade - Axiomas A5: Universalidade Qualquer peferência individual possível é aceitável (desde que ela seja completa e transitiva.

Teorema de Arrow da (Im)possibilidade - Axiomas A6: Independência de alternativas irrelevantes Escolha social entre a e b depende apenas de como indivíduos ranqueiam a e b. A introdução de outras alternativas não pode afetar como a sociedade escolhe entre a e b.

Teorema de Arrow da (Im)possibilidade - Axiomas A6: Independência de alternativas irrelevantes Contra exemplo: M candidatos Para cada indivíduo, o candidato que vem em primeiro lugar ganha M pontos, o segundo ganha M-1 e assim sucessivamente. O candidato com o maior número de pontos é o escolhido pela sociedade.

Independência de Alternativas Irrelevantes Candidatos: Aécio, Dilma e Marina Nenê Lineu Bebel Tuco Agostinho Sociedade 3 Aécio Dilma Aécio Dilma Dilma Dilma: 11 2 Marina Marina Marina Marina Aécio Aécio: 10 1 Dilma Aécio Dilma Aécio Marina Marina: 9

Independência de Alternativas Irrelevantes Candidatos: Aécio, Dilma e Marina Nenê Lineu Bebel Tuco Agostinho Sociedade 3 Aécio Dilma Aécio Dilma Dilma Dilma: 11 2 Marina Marina Marina Marina Aécio Aécio: 10 1 Dilma Aécio Dilma Aécio Marina Marina: 9 Dilma é escolhida presidente.

Independência de Alternativas Irrelevantes Candidatos: Aécio, Dilma, Marina e Luciana Genro Nenê Lineu Bebel Tuco Agostinho Sociedade 4 Aécio Dilma Aécio Dilma Dilma Aécio: 15 3 Luciana Marina Marina Marina Aécio Dilma: 14 2 Marina Aécio Luciana Aécio Marina Marina: 13 1 Dilma Luciana Dilma Luciana Luciana Luciana: 8 Aécio é escolhido presidente.

Teorema de Arrow da (Im)possibilidade - Axiomas A1: Completude É possível comparar todas as alternativas do ponto de vista social. A2: Unanimidade Se cada indivíduo prefere a a b, então a é socialmente preferido a b. A3: Não-ditadura Nenhum indivíduo pode determinar o que é socialmente desejável. A4: Transitividade Se a é socialmente preferível a b e b é socialmente preferível a c, então a é preferível a c. A5: Universalidade Qualquer peferência individual possível é aceitável (desde que ela seja completa e transitiva. A6: Independência de alternativas irrelevantes.

Teorema de Arrow Não é possível converter preferências individuais em preferências sociais de forma que os axiomas A1, A2, A3, A4, A5 e A6 sejam simultaneamente satisfeitos.

Teorema de Arrow Não é possível converter preferências individuais em preferências sociais de forma que os axiomas A1, A2, A3, A4, A5 e A6 sejam simultaneamente satisfeitos. Alternativamente: Se os axiomas A1, A2, A4, A5 e A6 são satisfeitos a nível social, então necessariamente temos que ter um ditador (A3 não é satisfeita).

Teorema de Arrow Teorema de Arrow não diz que não devemos fazer escolhas sociais. Na verdade, fazemos isso todos os dias. A mensagem do teorema é que necessariamente temos que abrir mão de algumas das suposições que ele chamou de razoável quando pensamos em critérios de decisão social.

Teorema de Arrow Na prática e em trabalhos acadêmicos, tendemos a usar o critério de Pareto e o critério da compensação (Kaldor-Hicks) nas escolhas sociais.