Conservação pós-colheita do milho verde com a utilização de atmosfera modificada Márcio Marques da Silva 1 ; Wagner Ferreira Mota ¹ ;Patrícia Aparecida Maia Soares 1 ; Luan Mateus Silva Donato¹; Igor Santos Alves¹. ¹Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES - Centro de Ciências Exatas e tecnológicas - Departamento de Ciências Agrárias; marciomarques2008@yahoo.com.br, wfmota@yahoo.com.br, patriciaaparecidamaiasoaresyahoo.com.br, luanjaiba@yahoo.com.br ;igorcj10@hotmail.com. RESUMO A cultura do milho verde sempre foi uma tradição no Brasil e se tornou uma alternativa de grande valor econômico para pequenos e médios agricultores em razão do bom preço de mercado e da demanda pelo produto in natura. No entanto algumas características são importantes na sua comercialização como seu aspecto físico, obrigando os produtores a aplicarem técnicas cada vez mais aprimoradas em suas culturas. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da atmosfera modificada na conservação pós-colheita do milho verde. O experimento foi realizado na Universidade Estadual de Montes Claros, campus Janaúba-MG. O experimento foi conduzido em delineamento em blocos casualizados dispostos em esquema de parcelas subdivididas no tempo, tendo nas parcelas 4 tratamentos (Controle, Fécula de mandioca (FM), Cloreto de Polivinil PVC e FM+PVC), e nas subparcelas as seis épocas de amostragem em intervalos de dois dias, com quatro repetições. A unidade experimental foi constituída por bandeja que possuía quatro espigas uniformemente selecionadas. As bandejas foram armazenadas em condições de temperatura e umidade relativa ambiente ( +- 25 c, -+ 75% UR) onde as características avaliadas foram perda de massa fresca, aparência e o Teor de sólidos solúveis. As menores perdas de massa fresca, foram detectadas no armazenamento com PVC e com FM +PVC. A aparência correlacionou com a perda de massa fresca, ou seja, os tratamentos FM e FM+PVC apresentaram melhor aparência. O controle apresentou se com maior murchamento. Ao avaliar o Teor de siolidos solúveis verifica se que, o tratamento que apresentou menor redução foi o de FM+PVC. Os tratamentos FM+PVC e PVC proporcionaram às espigas de milho verde uma maior conservação póscolheita, com menores perdas de massa fresca, melhor aparência e maior teor de S5037
sólidos solúveis, aumentando assim seu período de armazenamento. PALAVRAS-CHAVE: Zea mays L, atmosfera modificada, conservação. ABSTRACT Post-harvest storage of corn with the use of modified atmosphere The cultivation of corn has always been a tradition in Brazil and has become an alternative of great economic value to small and medium farmers due to the good market price and demand for raw product. However some characteristics are important in their marketing as their physical appearance, forcing farmers to apply more refined techniques in their cultures. The aim of this study was to evaluate the effect of modified atmosphere on postharvest conservation of green corn. The experiment was conducted at the State University of Montes Claros, MG-Janaúba campus. The experiment was conducted in a randomized block design arranged in split plot in time, taking in portions of 4 treatments (Control, cassava starch (FM), Polyvinyl Chloride PVC and PVC + FM), and subplots of six times sampling at intervals of two days, with four replications. The experimental unit was composed of four spikes tray that had uniformly selected. The trays were stored at room temperature and relative humidity (± 25 C ±75% RH) where the characteristics were weight loss, appearance and content of soluble solids. The lowest losses of weight, were found in storage with PVC and PVC + FM. The appearance was correlated with weight loss, ie, treatments FM and FM + PVC showed better appearance. The control is made more withering. In assessing the content of soluble Sioli notes that the treatment showed a smaller reduction was the FM + PVC. Treatments FM + PVC and PVC provided to the ear of corn a major post-harvest preservation, with smaller losses of weight, look better and higher soluble solids content, thereby increasing their storage period. Keywords: Zea mays L, modified atmosphere, storage. O milho (Zea mays L.) no seu estado in natura é destinado exclusivamente para consumo humano, através do processamento de conservas pelas indústrias de produtos vegetais, sendo este considerado por nutricionistas, como excelente fonte de energia possuindo cerca de 1.290 calorias por kg, 3,3% de proteínas, 27,8% de glicídios e S5038
somente 0,8% de gordura; além de vitaminas como as do complexo B, que são de extrema importância para o bom funcionamento do sistema nervoso. Devido a estas características nutricionais este pode ser consumido por todas as pessoas e em qualquer idade. A cultura do milho verde sempre foi uma tradição no Brasil e se tornou uma alternativa de grande valor econômico para pequenos e médios agricultores em razão do bom preço de mercado e da demanda pelo produto in natura (MORAES, 2009). A comercialização do milho verde in natura é cada vez mais comum no estado de Minas Gerais. O volume comercializado nesse estado cresceu 14% no período de 1999 a 2004 (AGRIDATA, 2005). Alguns produtores integram as atividades de pecuária e agricultura, aproveitando, na forma de silagem, as plantas do milho e o restante das espigas não comercializáveis que ficam na área. Atualmente, as principais características exigidas pelo mercado brasileiro para o milho verde são: grãos dentados amarelos, grãos uniformes, espigas longas e cilíndricas (espigas maiores que 15 cm de comprimento e 3 cm de diâmetro), sabugo fino e claro, boa granação, pericarpo delicado e bom empalhamento (espigas bem empalhadas de coloração verde intensa), boa produtividade, alta capacidade de produção de massa e baixa produção de bagaço, tolerância às principais pragas e doenças (ALBUQUERQUE, 2005). A demanda por produtos de qualidades superiores que atendam as necessidades do mercado cresce a cada dia, obrigando os produtores a aplicarem técnicas cada vez mais aprimoradas em suas culturas. Problemas como perda de peso, fermentação e deteriorações na textura e aparência, são fatores que afetam os produtores e que tem grande influência na determinação do valor comercial de um produto, sendo assim, os componentes de qualidade mais utilizados pelos consumidores. Por serem órgãos colhidos ainda imaturos, espigas de milho verde apresentam intensa atividade metabólica, o que pode acarretar elevadas perdas pós-colheita como perda de água pela transpiração e da perda de matéria seca devido à atividade respiratória. Portanto a intensidade da transpiração pós-colheita determina, em grande parte, a taxa de perda de peso total dos produtos. Outro fator externo que se destaca como influente na conservação pós-colheita é a umidade relativa do ar, a qual pode ser definida como a porcentagem de umidade existente no ar, sendo igual a 100% quando o ar está saturado de vapor d água. Ela afeta S5039
principalmente a transpiração do produto colhido. Ar seco, com percentagem de umidade abaixo daquela requerida pelo vegetal, significa perda rápida de umidade pelo produto e conseqüente murchando e enrugando o milho colhido, depreciando-o comercialmente. Ar muito úmido, próximo a saturação de 100%, mantém a turgidez e reduz a perda de água, mas favorece o desenvolvimento e disseminação de microrganismos (CHITARRA & CHITARRA., 2005) O conhecimento e a correta manipulação dos fatores internos e externos que influem na conservação pós-colheita podem levar a um melhor aproveitamento do produto, diminuindo assim as perdas em qualidade e quantidade do mesmo. Existem diversos métodos de conservação pós-colheita de frutas e hortaliças, dentre eles destaca-se o uso de atmosfera modificada. Neste método a atmosfera no interior da embalagem é alterada utilizando-se de filmes de polietileno, como o cloreto de polivinil (PVC). Este tipo de filme apresenta características de barreira ao vapor de água e permeabilidade a O 2 e CO 2. Permite, pelo processo respiratório, que a concentração de CO 2 aumente e, de O 2 diminua, à medida que é gasto durante a respiração dos frutos. (RESENDE et al., 2001). O uso de películas comestíveis é uma proposta que vem sendo mencionada para se conseguir a atmosfera modificada. A matéria-prima mais adequada na elaboração de biofilmes comestíveis é a fécula de mandioca, por formar películas resistentes e transparentes, sendo eficientes barreiras à perda de água. Além disso, torna as frutas e hortaliças comercialmente atrativas, por proporcionar bom aspecto e brilho intenso e a possibilidade de ser ingerida juntamente com o produto (VILA et al., 2007). Sissi et al (1999) avaliaram o comportamento do milho verde armazenado em condições ambiente e refrigerado, usando-se 2 tipos de filme plástico como embalagem. A associação de filme plástico especial (Poliolefinas, multicamadas, e alta permeabilidade a gás) e refrigeração implicaram em teores de amido significativamente inferiores aos obtidos com o uso de PVC esticável. A modificação da atmosfera com o uso de filme de PVC no envolvimento de pimentões reduz a perda de massa, e é efetivo na manutenção da qualidade da hortaliça armazenada em condições ambiente, ao contrario do biofilme de fécula de mandioca, que comprometeu a conservação do mesmo (HOJO et al., 2007). S5040
Este trabalho teve como objetivo elevar a conservação pós-colheita do milho verde, mantendo as características qualitativas e quantitativas por intermédio da utilização de Fécula de mandioca e PVC. MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi realizado no laboratório de pós-colheita da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), campus Janaúba-MG, durante o mês de março de 2010. As espigas foram coletadas na fazenda experimental da UNIMONTES situada no distrito de Janaúba, acondicionadas em caixas próprias para colheita e transportadas para o laboratório. Posteriormente as espigas foram despalhadas lavadas e colocadas para secar a sombra. O experimento foi conduzido em delineamento em blocos casualizados dispostos em esquema de parcelas subdivididas no tempo, tendo nas parcelas 4 tratamentos (Controle, Fécula de mandioca (FM), Cloreto de polivinil (PVC) e o FM+PVC) e nas subparcelas as seis épocas de amostragem em intervalos de dois dias, com quatro repetições. A unidade experimental foi constituída por bandeja que possuía quatro espigas uniformemente selecionadas. As bandejas foram armazenadas em condições de temperatura e umidade relativa ambiente ( ±25 C, ±75% UR) onde, as características avaliadas foram perda de massa fresca, aparência e o teor de sólidos solúveis. A perda de massa fresca foi determinada com auxílio de balança semi-analítica, considerando-se a seguinte equação: [(massa inicial massa a cada intervalo de tempo) / (massa inicial) x 100. Para avaliar aparência foi empregada uma escala de murchamento dos grãos (Tabela 1). Para avaliar o teor de sólidos solúveis foi utilizado o refratômetro. Ao retirar uma espiga de milho aleatoriamente de uma das bandejas, extraiu se 10 g de massa desta, colocou a amostra em um cadinho e acrescentou 10 ml de água destilada, esmagando com o pistilo, com uma pipeta gotejou se um pouco da solução no refratômetro, onde foi visualizado o grau Brix. Foram realizadas analises de variância e regressão para os fatores quantitativos. Os fatores qualitativos foram comparados utilizando o teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. S5041
RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve elevação da perda de massa fresca durante o armazenamento em todos os tratamentos (Figura 1). Queiroz et al (2010) também verificaram, no armazenamento de espirgas de milho verde perda de massa fresca crescente em temperatura ambiente. Chitarra & Chitarra (2005), relatam que o principal fator responsável pela perda de massa, durante o armazenamento de frutas e hortaliças, é a transpiração. Perda de matéria fresca acima de 3% são suficientes para depreciar o milho verde (CHITARRA & CHITARRA., 2005), neste trabalho este nível (3%) de perda de massa fresca foi observado nos tratamentos controle, com FM com PVC e FM+PVC, respectivamente, demonstrando que as menores perdas de massa fresca, que condicionam períodos mais prolongados para atingir 3% de perda, foram detectadas no armazenamento com PVC e com FM +PVC. Possivelmente, essa maior eficiência ocorreu pelo surgimento de ambiente saturado de umidade na embalagem, reduzindo o gradiente de pressão de vapor de água entre os frutos e a atmosfera da embalagem (Mota et al., 2003). A aparência correlacionou com a perda de massa fresca, ou seja, os tratamentos FM e FM+PVC apresentaram melhor aparência (Figura 2) com menores notas, que por sua vez evidenciaram menor murchamento. O controle apresentou se com maior murchamento como observado na elevação das notas (Tabela 1). O teor de sólidos solúveis diminuiu com o tempo de armazenamento (Figura 3). Verifica se que, o tratamento que apresentou menor redução foi o de FM+PVC. Este fato e explicado em função da combinarão de FM+PVC proporcionar menor atividade respiratória, tendo como conseqüência menores hidrólises dos carboidratos de reserva acumulados durante o crescimento da planta e produção de açúcares solúveis (Mota et al., 2003) mantendo esta característica qualitativa do flavor por maior período, colaborando para o tempo de comercialização. Os tratamentos FM+PVC e PVC proporcionaram às espigas de milho verde uma maior conservação pós-colheita, com menores perdas de massa fresca, melhor aparência e maior teor de sólidos solúveis, aumentando assim seu período de armazenamento. Contudo ainda são necessárias pesquisas para determinar outros modos de armazenamento, que aumente a vida útil desta espigas. S5042
REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, C. J.B. Desempenho de híbridos de milho verde na região sul de Minas Gerais. 2005. 56p. Dissertação Mestrado (Mestrado em Fitotecnia) Universidade Federal de Lavras, Lavras. AGRIDATA. Sistema de informações do agribusiness de Minas Gerais. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Agricultura Pecuária e Abastecimento, 2005. Disponível em: <http://agridata.mg.gov.br>. Acesso em: 31 de Março de 2011. CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-colheita de frutos e hortaliças: fisiologia e manuseio. 2. ed. rev. e ampl. Lavras: UFLA, 2005. 249 p. HOJO,E.T.D.;CARDOSO,A.D.;HOJO,R.H. et al. Uso de películas de mandioca e PVC na conservação pós-colheita do pimentão. Ciências Agrotécnicas. Lavras,v.31,n.1,p.184-190,2007. MORAES, A.R.de A. A Cultura do Milho Verde, 2009. Versão eletrônica disponível em: file:///f:/milhoverde.htm#_ftn1. Acesso em: 31 de Março de 2011. RESENDE, J.M.; BOAS, E.V.B.V.; CHITARRA, M.I.F. Uso de atmosfera modificada na conservação pós-colheita do maracujá amarelo. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.25, n.1, p.159-168, jan./fev., 2001. QUEIROZ,V.A.V; QUEIROZ, L.R; MATRANGOLO, W.J.R; TARDINI, F.D; FOLHO, I.A.P; CRUZ, J.C; Perda de Massa no Armazenamento de Espigas de Milho Verde Orgânico. IN ANAIS do XXVIII CONGRESSO DE MILHO E SORGO. Goiânia, GO.2010. SISSI,K.M.; SILVIO,L.H.;JOSÉ,T. Influência do resfriamento do ambiente de armazenamento e da embalagem sobre o comportamento pós-colheita do milho verde. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. Campina Grande. v.3, n.1,p.41-44,1999. VILA, M.T.R.; LIMA, L.C.O.; BOAS, E.V.B.V; HOJO, E.T.D.; RODRIGUES, L.J.; PAULA, N.R.F. Caracterização química e bioquímica de goiabas armazenadas sob refrigeração e atmosfera modificada. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.31, n.5, p.1435-1442, set./out. 2007. S5043
Aparência (%) Perda de massa fresca -% 70 60 50 40 CONTROLE FM PVC FM+PVC Y= 6,3582+4,7551X R2= 0,94 Y= 4,8645+4,4939X R2= 0,95 Y=-0,5493+1,5987X R2=0,95 Y=0,9124+1,3389X R2=0,98 30 20 10 0 0 2 4 6 8 10 12 Dias após colheita Figura 1. Perda de massa fresa de acordo com os dias após colheita. ( Weight loss according to the day after harvest). UNIMONTES, 2011. 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0-0,5 CONTROLE FM PVC FM+PVC Y=-0,03571+0,3392X R2=0,92 Y=0,1041+0,2812X R2=0,85 Y=-0,1904+0,2678X R2=0,97 Y=-0,05357+0,2589X R2=0,93 0 2 4 6 8 10 12 Época Figura 2. Aparência em % dos tratamentos em relação as épocas de avaliação (Appearance in% of treatments in relation to the evaluation times). UNIMONTES, 2011. S5044
Brix 12 10 8 Y=10,5149-0,9196X R2=0,83 Y=5,8849-0,3511X R2=0,96 Y=6,1607-0,3392X R2=0,89 Y=7,2748-0,43006X R2=0,89 CONTROLE FM PVC FM+PVC 6 4 2 0-2 0 2 4 6 8 10 12 Época Figura 3. Teor de Sólidos e Solúveis em função do tempo de armazenamento (And soluble solids as a function of storage time). UNIMONTES, 2011. Tabela 1. Avaliação para escala de murchamento. (Rating scale for the shrinkage). UNIMONTES, 2011. Notas Avaliação visual do milho verde Nota 0 Ausência de murcha (0%) Nota 1 Leve murcha (-50%) Nota 2 Murcha moderada (50%) Nota 3 Extremamente murcho (75%) Nota 4 Completamente murcho (100%) S5045