Prefeitura de Santo André O SUCESSO DE UMA CIDADE DE PORTE MÉDIO SANTO ANDRÉ GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS Cheila Aparecida Gomes Bailão Arquiteta e Urbanista; Especialista em Planejamento Urbano pela UnB; Mestre em Ciências da Construção e Arquitetura para países tropicais pelo ISPJAE Havana, Cuba e Diretora do Departamento de Resíduos Sólidos do Semasa - Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André - SP. Endereço: Rua Oswaldo Cruz nº 99 Bairro Paraíso Santo André São Paulo CEP 09185-440 Brasil Tel: +55 (11) 4433-9867 e-mail: cheilagb@semasa.sp.gov.br - home page: www.semasa.sp.g 1 ov.br RESUMO Desde o ano de 1997, o Município de Santo André implementa a Política Integrada de Gestão de Resíduos Sólidos, que envolve a redução, reaproveitamento e reciclagem de resíduos sólidos, bem como o tratamento e a disposição final de resíduos de forma qualificada, minimizando os impactos no ambiente aumentando as perspectivas de inclusão social e desenvolvimento econômico no mercado de resíduos sólidos. Este trabalho tem por finalidade explicitar as atividades desenvolvidas pela Administração Municipal de modo a envolver a população em um programa onde o munícipe responsável pela geração de resíduos sólidos, participa de forma co-responsável junto ao poder público no encaminhamento das soluções. A participação do cidadão nesse processo de co-gestão viabiliza a separação dos resíduos na fonte e a geração de renda a trabalhadores que se encontravam fora do mercado formal de trabalho, além de outros benefícios para a população e a cidade. PALAVRAS-CHAVE: Coleta Seletiva, Geração de Renda, Cidade Agradável, Gestão Pública e Cidadania, Educação Ambiental, Conservação do Ambiente. INTRODUÇÃO: SANTO ANDRÉ RECICLA: uma nova gestão para os resíduos sólidos Aceitando o desafio de melhoria da qualidade ambiental a partir da gestão integrada dos resíduos sólidos, a Prefeitura de Santo André, inicialmente por meio da Secretaria de Serviços Municipais e posteriormente pelo Serviço Municipal de Saneamento Ambiental SEMASA implantou o Programa de Coleta Seletiva e Reciclagem, chamado Reciprocidade Agradável, que, além de estabelecer uma proposta de adesão voluntária da população e o apoio de diversos atores sociais, atinge a totalidade do município com um serviço de coleta porta a porta. O programa tem forte apelo à promoção da qualidade ambiental e à conservação do ambiente e qualidade de vida. Propõe, também, a ampliação da geração de renda para inúmeros desempregados a partir do apoio na formação de cooperativas de triagem, organização de trabalhadores autônomos, envolvimento de adolescentes em aprendizado. A partir da coleta de resíduos sólidos, com estímulo à maior eficiência e produtividade econômica e a inclusão social estabelece-se o compromisso social entre diferentes atores. SANTO ANDRÉ, O MUNICÍPIO Localizado na Região Metropolitana de São Paulo, Santo André é um dos Municípios que compõe a Região ABC, ou ainda, a Sub-Região Sudeste da Região Metropolitana. Sua área territorial se estende por 174 km 2, sendo que 111 1
mais de 50% desta área (108 km 2 ) se encontra em área ambientalmente protegida, parte integrante da Área de Proteção aos Mananciais na Bacia Hidrográfica da Represa Billings (96 km 2 ) e da vertente da Serra do Mar (12 km 2 ), área envoltória do tombamento do Parque Estadual da Serra do Mar. Os demais 66 km 2 pertencem à Bacia Hidrográfica do Rio Tamanduateí, área onde se concentram as principais atividades urbanas e industriais do município. (fig.01) A ocupação urbana do Município também se apresenta em duas caracterizações distintas: de um lado, na Bacia Hidrográfica do Rio Tamanduateí, a área apresenta uma ocupação urbana densa, com raros lotes vazios e totalmente conurbado com os municípios vizinhos São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, São Paulo e Mauá. Fig.01 Região Metropolitana de São Paulo em destaque cidade de Santo André De outro lado, a ocupação da área de mananciais apresenta loteamentos descontínuos e distantes uns dos outros, com grandes manchas vazias dificultando a prestação de serviços públicos às populações que ali residem em virtude das longas distâncias a percorrer: a vila de Paranapiacaba, por exemplo, no extremo sul do Município, encontra-se a 35 km da sede dificultando a acessibilidade. Parte da área de mananciais não tem continuidade territorial com a sede do município, uma vez que é secionada por um dos braços da Represa Billings. O Município conta com uma população de 648.443 mil habitantes (IBGE 2000), dos quais, 2,6% (cerca de 16 mil habitantes) residem na área de proteção aos mananciais. O número de moradias no município totaliza cerca de 163 mil, sendo 159 mil em área urbana, dos quais, cerca de 20 mil habitações em núcleos de assentamento informal (favelas), a grande maioria deles, áreas de difícil acesso para a coleta regular de resíduos sólidos. Outra característica marcante de Santo André está na ocupação do vale do rio Tamanduateí: desde o início do século a área é ocupada por indústrias de grande porte, muitas delas multinacionais, como Rhodia, Pirelli, Firestone, Alcan, Alcoa, Gerdau, Pólo Petroquímico de Capuava, uma indústria diversificada, voltada para as indústrias têxtil, química, automobilística, pneus, plásticos, metais, muitas delas receptoras de matéria prima para reciclagem. A partir da década de 80, os vazios industriais ou mesmo antigas fábricas que deixaram a cidade tiveram seu uso transformado para terciário avançado com grandes equipamentos para o comércio e prestação de serviços: shoppings, hipermercados, oficinas e revendas de veículos vêm ocupando a área tradicionalmente destinada à indústria. Também os centros comerciais se expandiram e ganharam força na diversidade de produtos e serviços oferecidos, caracterizando-se como uma cidade policêntrica e marcando, deste final de século, mais fortemente, a vocação de centro regional de comércio e serviços de Santo André em relação a toda a Região ABC e Zona Leste da cidade de São Paulo, a região é considerada o 3º maior pólo consumidor do país. No que se refere à gestão dos resíduos sólidos, o Município já há muito tempo contava com um sistema regular de coleta domiciliar, com coleta três vezes por semana nas áreas residenciais e coleta diária nas áreas de concentração comercial e de serviços, e com um aterro sanitário (fig.02) classificado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) como um dos melhores do país, sendo que a partir de 2000 passou a ser o melhor da Região Metropolitana de São Paulo com ISO 9002. 2
Fig.02 Aterro Sanitário Municipal de Santo André, 2001. ORIGEM DO PROGRAMA RECIproCIDADE AGRADÁVEL A questão da coleta seletiva para a cidade foi apontada como um dos compromissos do Plano de Governo 1997/2000, priorizando: A busca de parcerias para a solução do problema de destinação final dos resíduos sólidos; Estímulo à redução voluntária do volume de resíduos gerados, através de programas educativos, da implantação da coleta; Desenvolvimento do programa de coleta seletiva em três linhas: educativa, lixo domiciliar e lixo industrial; Implantação, de forma progressiva, da coleta seletiva domiciliar; Estímulo da ampliação do mercado de reciclagem, através de um enfoque regional e extra-regional do problema. Somam-se a estes, as questões diretamente relacionadas com a construção de uma cidade agradável com a adoção de práticas de redução, reaproveitamento e reciclagem dos resíduos, a necessidade de dar tratamento e destinação final apropriados aos resíduos domiciliares, industriais e da construção civil, dentro de um enfoque que envolva toda a Região do ABC. O eixo condutor de nossas ações contempla a dupla tarefa de mudar os hábitos, comportamentos e cultura na sociedade com relação aos resíduos gerados e, ao mesmo tempo, entender o mercado de produtos recicláveis, procurando estabelecer parcerias e incentivos para a criação de uma rede integrada de reutilização de produtos recicláveis. Neste sentido, Santo André cada vez mais se insere na problemática das grandes cidades diante da perspectiva da realização de medidas para redução de resíduos, num trabalho junto à população buscando a conscientização diante das questões de redução, reciclagem e reaproveitamento, e para o aprimoramento das formas de tratamento e destinação final numa perspectiva de melhoria ambiental. ( Klinger Luiz de Oliveira Sousa- Secretário de Serviços Municipais PMSA) IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA RECIproCIDADE AGRADÁVEL A fase inicial de implantação do programa se deu com o resgate de projetos anteriores da Administração Municipal, o Salva Papel, implantado em parceria com as demais prefeituras componentes do Consórcio Intermunicipal do 3
ABC no período de 1989 à 1992; a implantação das estações de entulho no mesmo período, agora denominadas Estações de Coleta Seletiva e Reciclagem. As Estações têm a finalidade de receber resíduos secos e limpos, utensílios domésticos, inservíveis, podas de jardim e quintais e entulho da construção civil e são operadas por trabalhadores autônomos e grupos organizados da população. Sistematicamente, o Poder Público Municipal realiza a limpeza destas áreas, recolhendo os resíduos que não são comercializados os inservíveis. Trinta e uma estações de coleta seletiva e reciclagem foram implantadas na cidade no período de 1997 a 2000, atendendo atualmente a uma demanda reprimida de setenta estações. A implantação das Estações de Coleta Seletiva e Reciclagem já demonstrou o potencial de geração de renda que há na separação dos resíduos sólidos: cerca de 20 pessoas, trabalhadores autônomos ou cooperativados, passaram a cuidar de algumas estações e passaram a tirar seus rendimentos da venda de material reaproveitável, desde móveis ou materiais de construção, até os tradicionais papel, alumínio, vidro e plástico, alem de equipamentos eletrônicos, eletrodomésticos e outros. Além da geração de renda, as Estações de Coleta Seletiva e Reciclagem estão intimamente ligadas à construção de uma cidade agradável a partir da qualificação de espaços urbanos até então não tratados pelo Poder Público e que eram objetos do descarte clandestino de pneus, entulhos, podas de árvores e outros materiais de maneira inadequada, com difícil manutenção da limpeza urbana. (fig.03) (antes) (depois) Fig.03 Estação de Coleta Seletiva situação anterior e após a implantação do serviço. Nos órgãos da administração municipal deu-se início à coleta seletiva de papel dentro da premissa que permitiu o funcionamento a Usina de Triagem e Reciclagem de Papel (fig.04), que reúne adolescentes em situação de vulnerabilidade social, agora, aprendizes na arte de reutilizar e reciclar o papel descartado por diversos tipos de geradores. A participação de oficinas com arte-educadores na Usina de Reciclagem de Papel (fig.05) absorve parte 4
do Programa Andrezinho Cidadão que busca a inserção social de meninos e meninas, a partir do aprendizado de um ofício, de práticas artísticas e ecológicas e do trabalho em grupo. A produção da Usina de Triagem de Papel é vendida para lojas, designers e empresas, gerando renda para os que trabalham com o papel, seja como aprendizes, seja como educadores. O apoio de empresas do setor privado e o trabalho voluntário de arte-recicladores e artistas plásticos da região consolidam e ampliam a perspectiva do programa. Fig.04 Usina de Triagem e Reciclagem de Papel, 1999. Fig.05 Cenas do trabalho do arte-reciclador Roberto Gyarf, 2000. A inserção das práticas de separação de resíduos no cotidiano da população teve início com a implantação do Programa de Coleta Seletiva nas escolas a partir do envolvimento da comunidade das escolas municipais na separação de resíduos e reaproveitamento para brinquedos, por meio do Projeto Brincarte (fig.06). Cada Escola Municipal de Educação Infantil e Fundamental recebeu contêineres para a deposição de resíduos secos e limpos e passou a ser um ponto receptor de recicláveis no bairro, estimulando ainda mais a participação cidadã. Fig.06 Atividades do Projeto Brincarte, 1999. Junto ao trabalho educativo nas escolas municipais (fig.07), foi possível iniciar alguns pilotos de coleta seletiva em condomínios residenciais, restaurantes, hospitais e nos órgãos públicos municipais e estaduais, adesões espontâneas que se incorporaram ao processo e serviram de exemplo para outras iniciativas. 5
Fig.07 Coleta Seletiva Escola Municipal de Educação Infantil, 2000. A educação ambiental se apresenta como uma das ferramentas fundamentais para sensibilizar o cidadão e criar uma nova prática da população no que se refere à redução, reaproveitamento, separação, reciclagem dos resíduos sólidos e, principalmente, inserir no cotidiano e no comportamento do cidadão o conceito destinar seus resíduos sólidos de forma ambientalmente correta, responsável e participativa. Livro: Gestão e Educação Ambiental Volume I Livro: Gestão e Educação Ambiental volume II 1999 2001 A partir da adesão de outros parceiros e dos excedentes das estações de reciclagem e das escolas, iniciou-se um processo de organização social dos trabalhadores autônomos para triagem, reaproveitamento e comercialização dos materiais recicláveis. A reunião destes trabalhadores que passaram a realizar a separação e venda dos resíduos é parte integrante de um programa de geração de renda da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Geração de Renda a Incubadora de Cooperativas, apoiado posteriormente pelo Banco do Povo, um programa da 6
mesma secretaria. Este grupo inicial de trabalhadores autônomos deu origem à Cooperativa de Reciclagem de Santo André COOPCICLA. (fig.08) Fig.08 Assembléia de fundação da CoopCicla - 1999 A COLETA SELETIVA ATINGE OS BAIRROS Em maio de 1998, foi dado início ao programa de coleta seletiva porta a porta no bairro Vila Pires. Projeto piloto que permitiu aferir a adesão da população perante a proposta de separar os resíduos gerados. A sensibilização dos moradores foi feita de casa em casa por equipes de monitores, trabalho este que resultou na participação da população do bairro considerada até hoje a melhor dentre os diversos bairros da cidade. Pouco a pouco, outros bairros foram sendo incorporados ao programa, atingindo cerca de 7% dos domicílios da cidade até junho de 1999. A sistemática de coleta de resíduos domiciliares nestes bairros se deu a partir da substituição de um dia da coleta regular, que ocorria três vezes por semana, por um dia de coleta de resíduos seletivos. Desta forma a área passou a ter dois dias de coleta de resíduos úmidos e um dia de coleta de resíduos secos. As duas coletas foram realizadas com caminhões compactadores, comumente utilizados nos sistemas de coleta tradicionais. Assim, inovou-se na implantação da coleta seletiva na cidade ao integrá-la à coleta regular dando suporte aos pontos de entrega voluntária as estações de coleta seletiva. Este sistema foi apoiado por uma coleta especial feita por um caminhão baú em locais da cidade, não atendidos pelo projeto piloto, onde o cidadão já encontrava-se sensibilizado para a adesão ao programa. Escolas municipais, condomínios, órgãos públicos, restaurantes e outros estabelecimentos potencializaram a consolidação da proposta. Os resultados positivos destes pilotos permitiram a ampliação do programa de coleta seletiva porta a porta para toda a cidade, desta vez, com um aumento da freqüência de coleta, com coleta diária de resíduos úmidos e coleta de materiais secos duas vezes por semana em horário diverso da coleta de resíduos úmidos criando a coleta diferenciada. A expansão da coleta foi proposta, então, para ser implementada em duas etapas: a primeira, atingindo cerca de 100 mil domicílios da cidade, ou seja, 60% do total dos domicílios, teve início no dia 6 de outubro de 1999. Fundamental para o sucesso do programa foi a campanha de divulgação e conscientização, realizada em grande escala, em veículos da mídia. A operação da coleta diferenciada trouxe como novidade a coleta noturna de resíduos úmidos para toda a área atendida pelo programa. A coleta de resíduos úmidos passou a ser realizada de segunda a sábado a partir das 18 horas e a coleta de resíduos secos vidros, plásticos, alumínio, papel e outros duas vezes por semana durante o dia nos bairros. Na área central, área que tradicionalmente concentra o comércio diversificado da cidade e que atende toda a Região ABC e parte da Zona Leste de São Paulo, a coleta diferenciada passou a ser realizada em dois horários, diariamente no período noturno. Para atingir este universo foi necessário criar uma estrutura para divulgação, desta vez, uma campanha de massa, que não pôde contar com o tratamento porta-a-porta de campanhas educativas tradicionais. Para tanto, diversos os 7
meios de divulgação foram adotados: de faixa de rua a telemarketing, de distribuição de folhetos à propaganda em horário nobre na televisão. Todos os recursos usados visaram atingir o maior número possível de pessoas. Duas informações precisaram ser transmitidas: a orientação da separação dos resíduos e os novos horários da coleta. E para atingir cerca de 100 mil domicílios (cerca de 350 mil moradores) lançou-se mão de todos os meios de divulgação disponíveis e, após uma entrevista coletiva na imprensa, cerca de 200 mil folhetos foram distribuídos nos bairros. Trinta mil residências receberam ligação de telemarketing com a mensagem da campanha veiculada com locução da atriz andreense Lucélia Santos. Alem disso out-doors e faixas foram distribuídos nos principais pontos da cidade. Na semana da implantação, propagandas em rádios e TVs foram levadas ao ar, chamando a atenção de todos para a novidade. Entrevistas, matérias sobre coleta seletiva e reciclagem e propagandas em jornais e revistas locais foram veiculadas durante todo o mês de outubro de 1999. Ao mesmo tempo, foi colocada à disposição da população para esclarecimento de dúvidas a Central de Informações do SEMASA, através do telefone gratuito 195, que recebeu cerca de 6.000 solicitações de informação sobre coleta de resíduos nos últimos três meses de 1999. Os atendentes da Central de Informações do SEMASA foram preparados para orientar os munícipes sobre procedimentos, dias e horários da coleta de resíduos na cidade. Em abril de 2000, a totalidade dos domicílios foram atingidos pelo programa de coleta seletiva porta a porta, ampliando a abrangência do serviço e possibilitando o acesso de toda a população ao programa. (fig.09) Considerando a necessidade de aperfeiçoar e qualificar os serviços de coleta diferenciada de resíduos sólidos, a partir de junho de 2001 a coleta passou a ser realizada em dias alternados, sendo três vezes por semana coleta de resíduos úmidos e duas vezes a coleta de resíduos secos, sendo realizada diariamente sempre no mesmo horário. Ex.: Na segunda, quarta, sexta e sábado (coleta de resíduos úmidos) e na terça e quinta (coleta de resíduos secos) Fig.09 Coleta diferenciada porta a porta (secos e úmidos) com caminhão compactador. O PROGRAMA DE COLETA COMUNITÁRIA A coleta diferenciada porta a porta atingiu também os assentamentos habitacionais informais, áreas tradicionalmente de difícil acesso para a coleta regular tendo em vista as ruas estreitas e por vezes íngremes destes núcleos. Para tanto, foi implantado o programa de coleta comunitária, onde moradores dos núcleos, desempregados, foram selecionados para o serviço de coleta porta a porta e triagem do material reciclável para a venda, dando origem à Cooperativa de Coleta e Limpeza Urbana a COOPLIMPA. 8
Um grande desafio para a Administração Municipal é a coleta de resíduos em núcleos habitacionais de difícil acesso (fig.10), particularmente favelas e loteamentos irregulares, onde ruas estreitas e sem saída dificultam o acesso do caminhão de coleta. Em geral, inúmeros pontos e acúmulo de resíduos são encontrados nestes núcleos habitacionais atraindo insetos, ratos e, conseqüentemente, doenças. Fig.10 Núcleo habitacional de difícil acesso. Realizar a coleta de resíduos domiciliares durante a noite gera sem dúvida, um complicador para a realização da coleta nos moldes tradicionais: as vielas estreitas e escuras impossibilitam o livre acesso do caminhão pois os carros dos moradores dos núcleos estão estacionados nas vias durante a noite. O programa de coleta comunitária veio com o objetivo de facilitar a coleta nestes núcleos, aproveitando o trabalho do morador do núcleo, na coleta diferenciada de resíduos secos(recicláveis) e úmidos. Estes resíduos são levados para caçambas colocadas no exterior do núcleo e coletados por um sistema especial com caminhões compactadores munidos de guindaste para basculamento das mesmas. Criou-se assim mais uma oportunidade de geração de renda para parcela da população sem acesso ao mercado de trabalho. (fig.12) Desde os primeiros contatos para a inscrição e seleção dos coletores comunitários nos núcleos, se discutiu o papel do coletor como um agente multiplicador do programa de coleta seletiva dentro de seu núcleo. Sua atuação segue os princípios do trabalho cooperativado, uma vez que os coletores passaram a ser membros de uma nova cooperativa, a COOP CIDADE LIMPA. (fig.11) Fig.11 Curso de formação de cooperados, 1999. Preliminarmente vinte e oito coletores comunitários foram selecionados para a atuação no programa em sua primeira fase, atingindo 8 núcleos habitacionais totalizando cerca de 6.300 moradias. Junto com a ampliação do programa de coleta seletiva, o programa de coleta comunitária atingiu outros 16 núcleos, com 8500 domicílios, a partir do envolvimento de 74 coletores comunitários, atendendo, assim, cerca de 70% dos núcleos habitacionais que apresentam problemas com a coleta regular de resíduos. A coleta no interior do núcleo ocorre sistematicamente e os resíduos depositados em caçambas diferenciadas para resíduos úmidos e para os secos, promove no interior dos núcleos a melhoria da qualidade ambiental. A 9
COOPLIMPA ao apropriar-se do material reciclável coletado nos núcleos, possibilita uma maior renda para os trabalhadores da cooperativa, uma vez que o serviço de coleta é remunerado pela empresa contratada e responsável pela prestação do serviço. Atualmente, a COOPLIMPA reúne 80 cooperados trabalhando na coleta de resíduos sólidos nos núcleos e 25 na triagem e venda de resíduos recicláveis em um galpão cedido pelo SEMASA junto ao Aterro Sanitário de Santo André. Fig.12 Coleta Comunitária no Núcleo São Jorge Santo André, 2000 SANTO ANDRÉ RECICLA é uma das perspectivas para a construção do nosso projeto SANTO ANDRÉ CIDADE FUTURO - Agenda 21 Local. Reciclar conhecimentos, IDÉIAS, hábitos, comportamentos e valorizar nossa CULTURA amplia a perspectiva de reciclar MATÉRIAS PRIMAS e evitar desperdícios. É mais um instrumento na luta pelos direitos e deveres da CIDADANIA, nosso objetivo maior na construção de uma CIDADE AGRADÁVEL. Nosso compromisso com a EDUCAÇÃO, com a solidariedade, com o desenvolvimento econômico, a preservação e conservação do ambiente natural e construído, e com o PRESENTE, nos traz a certeza de alicerçarmos com segurança a construção da SANTO ANDRÉ do futuro para as novas gerações. RESULTADOS DO PROGRAMA Reintegração social de menores em situação de vulnerabilidade social, de trabalhadores autônomos em estações de coleta seletiva e 200 trabalhadores autônomos organizados em duas cooperativas; Adesão voluntária da população que mensalmente realiza a separação na fonte de cerca de 900 toneladas de resíduos recicláveis por mês encaminhados para as cooperativas em fase de incubação; Geração de renda para desempregados, tanto no trabalho das cooperativas como no trabalho informal junto as estações e nas ruas; 10
Aumento da vida útil do Aterro Sanitário Municipal em 20% (em volume) a partir da remoção de 6% (em peso) de materiais recicláveis que eram destinados ao mesmo; Redução de pontos de acúmulo de descarte voluntário de resíduos sólidos inservíveis, que em geral ocorriam em terrenos abandonados e margens de córregos, a partir da implantação das estações de coleta seletiva e do programa de coleta comunitária, garantindo uma melhoria da qualidade ambiental em toda a cidade e redução dos fatores que contribuem para a ocorrência de problemas com as enchentes. Melhoria sócio-ambiental em núcleos de favelas com a implantação do programa de coleta comunitária. RECONHECIMENTO PÚBLICO DO PROGRAMA A PARTIR DE PREMIAÇÕES POR VÁRIAS INSTITUIÇÕES NACIONAIS E INTERNACIONAIS, TAIS COMO: Classificado entre as 100 Melhores Práticas do mundo pela ONU/Habitat, em 1998; Menção Honrosa no Prêmio Mercocidades na área de Ciência e Tecnologia, em 1998; Classificado entre as 20 melhores iniciativas brasileiras pelo Programa Gestão Pública e Cidadania, promovido pela Fundação Getúlio Vargas e Fundação Ford, no ano de 2000. Prêmio Desempenho Empresarial 2000 Revista Livre Mercado - ABC REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BAILÃO, Cheila Aparecida Gomes. Gestão e Educação Ambiental Reflexões sobre a questão ambiental e sugestões de atividades pedagógicas. Santo André: Ed. Bartira, 1998. 2. CEMPRE, Compromisso Empresarial para a Reciclagem. Cadernos de Reciclagem: 1995,1996,1997. 3. FGV, Fundação Getúlio Vargas. Histórias de um Brasil que funciona Governos locais agudando a construir um país mais justo. São Paulo: Ed. Imagix, 2000. 4. PT, Partido dos Trabalhadores. Diretório Municipal de Santo André. Santo André Programa de Governo 1997/2000, 1996. 5. SOUSA, Klinger Luiz de Oliveira Secretário de Serviços Municipais da PMSA. Pronunciamento na abertura do Seminário Santo André Recicla com as Empresas. 1998 6. www.santoandre.sp.gov.br/serviços/dados 7. www.semasa.sp.gov.br 11