CARTA ABERTA PELO DIREITO A CIDADE E A GESTÃO DEMOCRÁTICA
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- Angélica Bacelar Cabral
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1 CARTA ABERTA PELO DIREITO A CIDADE E A GESTÃO DEMOCRÁTICA Apesar de nos últimos anos ter-se dado visibilidade apenas ao discurso único capitaneado pelo IPPUC, vários movimentos populares, associações de bairros, outras entidades representativas da sociedade civil, da academia, de profissionais técnicos e cidadãos comuns com atuação no campo do desenvolvimento urbano e do direito à cidade tem desenvolvido produção científica, discutido e apresentado propostas em espaços próprios, em debates e em manifestações públicas relativas à cidade. Compreender, respeitar e ouvir estes protagonistas/atores sociais é fundamental para que o gestor público realmente governe uma cidade para todos e todas, que seja inclusiva, justa, sustentável e cidadã. O que se propõe não são novas ideias, mas sim o resultado de reflexões e da prática coletiva que entendemos oportuno explicitar para a construção da cidade que queremos. Buscamos através das propostas a seguir apresentadas, resgatar a função social da cidade, a cidade que inclui a todos, e não a que exclui muitos, e a cidade que esteja amparada pelos princípios norteadores do Estatuto da Cidade. As propostas levantadas neste documento foram orientadas pelos princípios fundadores de uma cidade que inclua a todos e todas tais como: Respeito e proteção dos direitos da população sem nenhuma forma de discriminação e preconceito. Resgate da ética, promoção da cidadania e da solidariedade, contra o envolvimento dos governantes e dos parlamentares com a corrupção. Reforma Urbana e Reforma Agrária que promovam a eqüidade social e territorial. Meio ambiente saudável e sustentável.
2 Participação popular na gestão democrática da cidade. Universalidade, eqüidade e integralidade das políticas públicas e dos serviços públicos. PROPOSTAS PARA A CIDADE: Gestão Democrática e Participativa da Cidade Fortalecimento dos conselhos de políticas sociais existentes (Assistência Social, Saúde, Idoso, Criança e Adolescente), seguindo os princípios da independência financeira, administrativa, autonomia, caráter deliberativo e composição paritária entre sociedade civil e governo. Necessidade de alteração no procedimento eleitoral dos Conselhos, para que seja respeitada a legitimidade dos movimentos sociais, sem a exigência de CNPJ na homologação das inscrições no processo de eleição. Transparência financeira e administrativa do orçamento municipal e da execução dos programas sociais e controle direto da sociedade civil. Regulamentaçãoda forma de eleição dos Conselheiros do Conselho Municipal de Cidade de Curitiba (CONCITIBA), estabelecendo que esta seja sempre realizada durante a Conferência Municipal da Cidade (COMCURITIBA), em respeito às deliberações da 4ª Conferência Municipal da Cidade de Curitiba, para que o processo eleitoral seja democrático e participativo, de acordo o sistema nacional. Capacitação, pelos municípios, de integrantes de associações de bairro e movimentos populares localizados nos bolsões de pobreza, qualificando a intervenção no processo de participação direta na gestão das cidades. Apresentação de projetos de lei ao legislativo municipal, com a previsão de audiências públicas para a regulamentação dos instrumentos jurídicourbanísticos previstos no Estatuto da Cidade e no Plano Diretor de Curitiba (IPTU Progressivo no Tempo, Estudo de Impacto de Vizinhança), com vistas à transformação de Curitiba numa cidade justa, sustentável e inclusiva.
3 Realização de processos democráticos de discussão do orçamento municipal, através de audiências deliberativas em todas as regionais e com participação dos membros do CONCITIBA e dos demais membros dos conselhos de políticas públicas, de forma a implementar o Orçamento Participativo. Moradia adequada: oferta da moradia e serviços, questão fundiária e financiamento para habitação e infra-estrutura Combate aos vazios urbanos por meio de criação de políticas públicas de estoque fundiário, com a identificação e divulgação pública dos imóveis abandonados e sem uso no município de Curitiba, por meio de um cadastro municipal que sirva de base para a aplicação dos instrumentos de indução do uso do solo previstos no Estatuto da Cidade, no Plano Diretor de Curitiba e no Código Civil, como o IPTU progressivo e uso compulsório da desapropriação, abandono de imóveis, entre outros. Reformulação da Política Municipal de Habitação, com a vinculação do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social (FMHIS) e ao Conselho Gestor Habitação de Interesse Social ao CONCITIBA, para que haja efetivo controle sobre o uso dos recursos (seguindo o padrão nacional), com instituição de um processo democrático de eleição dos membros de seu Conselho Gestor, que permita a efetiva participação dos movimentos. Criação da Secretaria Municipal de Habitação para que as questões relacionadas à moradia sejam tratadas na perspectiva do direito à cidade. Uma secretaria autônoma com orçamento adequado e equipe técnica própria para atuar em conjunto com o CONCITIBA e CGFHIS. Inclusão, na legislação municipal, do percentual de 2% do orçamento para execução de habitações populares. Elaboração de projetos habitacionais que contemplem áreas de lazer e equipamentos sociais, bem como atividades comerciais. Rediscussão da incidência de impostos e encargos sociais na produção de moradias construídas por meio da autogestão ou de cooperativas habitacionais. Elaboração de políticas de moradia para populações com características específicas de vulnerabilidade, que possuem relações de trabalho e de
4 pertencimento peculiares, como catadores de material reciclável e população em situação de rua. Reavaliação do Plano Municipal de Regularização Fundiária, com estabelecimento de metas, prazos e recursos para cumprimento de seus objetivos, de forma a possibilitar a realocação para locais adequados, somente da população que vive em áreas de risco e ambientalmente frágeis. Políticas públicas de garantia de habitação em situações transitórias, no caso de realocação e reassentamento até a moradia definitiva. Saúde, Saneamento e Meio Ambiente Garantia de ações governamentais intersetoriais que visem o saneamento básico e assegurem que a cobrança de tarifas e taxas sobre os serviços seja subsidiada para os segmentos mais pobres. Alteração da Lei do Conselho Municipal de Meio Ambiente e garantiada composição paritária. Implantação e gerenciamento integrado de resíduos sólidos, com cobertura total da área municipal de coleta seletiva, ação que deverá ser desenvolvida em parceria com os catadores de materiais recicláveis, organizados em associações e cooperativas, com participação popular e controle social. Adotar e reconhecer outras alternativas de auto-gestão dos catadores de materiais recicláveis para além do programa Ecocidadão. Cumprimento das Leis Orgânicas de Saúde (Leis nº 8080/90 e 8142/90), que dispõem sobre a organização e funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS). Formulação de políticas de assistência farmacêutica nos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba e garantia de recursos financeiros para a atenção integral à saúde. Produção e Serviços, Trabalho e Renda para a Inclusão Social (e Municipal) na Dinâmica Econômica Implementação de políticas que criem alternativas de geração de emprego, estimulando a utilização de recursos e potencialidades econômicas do próprio
5 município, com investimento em ações afirmativas de inclusão social de grupos vulneráveis. Promoção de políticas de distribuição da renda urbana, por meio da implementação de instrumentos que recuperem para o poder público a valorização imobiliária, tais como IPTU progressivo, solo criado e contribuição de melhoria. Capacitação e incentivoaos trabalhadores para sua auto-organização econômica, por meio de qualificação técnica e apoio com intermédio da constituição de fundos de fomento, estudos de viabilidade econômica e de impacto sobre o meio ambiente. Fomento à compra de produtos da agricultura familiar e agroecológica de produtores da região metropolitana e regiões próximas para oferecer alimentação escolar com produtos agroecológicos nas escolas. Transporte, Mobilidade e Equipamentos Públicos Revisão do Plano Municipal de Mobilidade por meio de um processo democrático e de ampla participação popular seguindo os termos da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Regulamentação, por meio da Câmara Municipal, a diretriz II do Estatuto das Cidades (Lei Federal nº ), para participação da comunidade, através de conselhos, da formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento da mobilidade urbana e regional. Priorização, no espaço viário, do transporte coletivo sobre o transporte individual, otimizando sua mobilidade, através de mecanismo de engenharia, legislação e hierarquização da malha viária. Estabelecimento efetivo do passe livre aos estudantes. Promoção de condições adequadas, seguras e autônomas de acessibilidade às pessoas deficientes e portadoras de necessidades especiais, com dificuldade de locomoção e idosos, aos meios de transporte urbano. Desenvolvimento e implantação de política tarifária que contemple a redução de preço para compra antecipada e com período de validade, bem como para viagens entre picos.
6 Integração das políticas com incidência no temário urbano Realização de articulação intersetorial efetiva das políticas urbanas, como moradia, saneamento, mobilidade e acessibilidade, regularização fundiária, resíduos sólidos, meio ambiente. Inclui a necessidade da mesma articulação todos os conselhos setoriais que tenham incidência no temário urbano. Formulação e implementação de uma política metropolitana, que estabeleça critérios para definição de prioridades, fundamentadas em informações técnicas, análises de riscos e previsão de impactos, quanto a investimentos, obras e ações na Região Metropolitana de Curitiba. Espaço metropolitano Criação de um espaço de gestão metropolitana, que canalize as demandas dos municípios e da sociedade e garanta a participação dos cidadãos, especialmente por meio das suas entidades e movimentos organizados da sociedade civil. Criação de mecanismos de interlocução e articulação entre o município de Curitiba e os demais municípios das RMC que respeitem as assimetrias e diversidades existentes entre os municípios que integram esta região. Encaminhamentos: As entidades abaixo subscritas propõe a realização de mesas de diálogo, entre sociedade civil e Poder Público, no inicio do próximo mandato, com o objetivo de ampliar e aprofundar as discussões sobre diversas temáticas relacionadas às políticas públicas de desenvolvimento urbano no município de Curitiba, a partir das propostas apresentadas nesta Carta Aberta.
7 Observatório de Políticas Públicas Paraná Composto por Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM); União Nacional por Moradia Popular (UNMP); Ambiens - Sociedade Cooperativa; Terra de Direitos Entidade Civil pelos Direitos Humanos; Conselho Regional de Serviço Social (CRESS-PR); Movimento Nacional da População em Situação de Rua; Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Estado do Paraná (SINDARQ); Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (SISMUC); Sindicato dos Trabalhadores em Urbanização do Estado do Paraná (SINDIURBANO); Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (SENGE); Central Única dos Trabalhadores (CUT); Núcleo de Prática Jurídica UFPR (NPJ/UFPR); Coletivo do Mandato da Professora Josete (PT Curitiba-PR); Economia Política do Poder em Estudos Organizacionais (EPPEO-UFPR). Observatório de Políticas Públicas Paraná
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