Gestão da empresa pecuária

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Transcrição:

Gado de Corte Gestão da empresa pecuária Princípios para uma exploração lucrativa Daniel Suzigan Mano

C A P Í T U L O 1 1. Diagnóstico geral 1.1 Introdução Na história recente, fazendas sem definição no processo de gestão cresciam e geravam lucro. Esse fato traduzia a alta lucratividade do negócio. Destaca-se que até o início da década de 80 o valor de cada boi gordo comprava 5 bezerros, o dobro ou mais do realizado atualmente. Vale lembrar que em tempos de inflação, alguns meses de altos juros eram suficientes para anular o efeito negativo de eventual erro na compra de insumos, falhas no processo de produção etc. Afinal, o que valia neste momento era o processo financeiro e não o produtivo. Após 1994, com estabilidade da moeda, o quadro especulativo vem sofrendo mudanças que exigem a profissionalização do setor. Por outro lado, mesmo anos depois, ainda encontram-se com facilidade fazendas que operam exatamente da mesma forma há mais de 20 anos. Ocorreram muitas mudanças na pecuária, como evolução do manejo de pastagem, manejo racional do rebanho, técnicas de reprodução, dentre outras, mas a principal mudança que pode ser observada se refere ao valor da @, como mostra o gráfico a seguir

Gestão da empresa pecuária Princípios para uma exploração lucrativa 225 200 175 R$/@ a vista 150 125 100 75 50 1954 1960 1966 1972 1978 1984 1990 1996 2002 2008 2011 Figura 1.1 - Variação do valor da @ no decorrer dos anos. Fonte: BM&F (adaptado Terra Desenvolvimento). O fato é que o negócio mudou na produção pecuária e quem não se adaptou vive a realidade de degradação do solo, depreciação das instalações e redução do rebanho e da própria área da fazenda. Operando numa margem de fluxo de caixa na ordem de 15% ou menos, isso em relação ao resultado obtido no passado. Este ciclo, que tende ao caos, assola qualquer negócio no qual a gestão não está presente. Diante disso, o presente treinamento, objetiva gerar informações para auxiliar o gerenciamento da empresa pecuária moderna, facilitando a tomada de decisão na busca pela sustentabilidade e lucro da atividade. 1.2 Gestão e flexibilidade Podemos encontrar que Gestão é uma sequência de medidas que buscam dirigir, administrar e empreender. Considera-se que o conceito clássico compreende uma série de funções que buscam o lucro como objetivo final, ou seja, gerir o processo pelo custo com melhor benefício para obter o melhor resultado de forma sustentável. 14 IEPEC

Capítulo 1 Diagnóstico geral Entendemos que a informação é pilar principal para aplicação do processo de gestão. Na pecuária de corte, notáveis instituições, entre elas a EMBRAPA, instituições de pesquisa e universidades, desenvolvem a cada dia tecnologias que auxiliam o produtor em seu trabalho, por outro lado, a pura existência dessas ferramentas não traduz benefícios se as mesmas não forem utilizadas da maneira correta e na hora certa. Ao contrário do que foi construído nos últimos quinze anos, o problema está fora da porteira, podemos afirmar que se cuidarmos muito bem do que está da porteira para dentro, obteremos o sucesso procurado. Desta forma, aplicando aquilo que foi desenvolvido pelos pesquisadores, aliados à experiência do empresário e de sua equipe, tudo isto voltado ao propósito de obtenção de um resultado específico, a fazenda estará inserida num ciclo virtuoso e sustentável. Neste momento as palavras de ordem são: flexibilidade e adaptação às mudanças. Para atingir flexibilidade estratégica, as fazendas precisam encarar a mudança como parte essencial e inevitável de seu crescimento. O que devemos fazer é preparar-nos para o futuro desconhecido, garantindo que a equipe esteja pronta para a mudança, venha esta de onde vier e quando vier. Em outras palavras, os funcionários precisam ser capazes de mudar a função, mudar a maneira de executar o que fazem e de mudar a equipe de uma hora para outra. Em termos práticos, a aplicação da gestão deve ser efetuada em quatro grandes etapas: onde estamos? (Diagnóstico), aonde queremos chegar? (Metas), como vamos chegar? (Planejamento) e estamos dentro do planejado? (Controle). 1.3 Foco na solução É indiscutível que a paixão é essencial para o sucesso de qualquer negócio. Ela é o alimento para nossa dedicação, superação dos desafios, para o trabalho árduo O portal do agroconhecimento 15

Gestão da empresa pecuária Princípios para uma exploração lucrativa e, sobretudo, para fazermos nosso melhor. E este melhor é cada vez mais necessário em todos os negócios de sucesso. O grande tema é quando a paixão cega a razão e desvia nosso foco do que realmente importa. Muitas vezes acabamos nos dedicando muito ao problema e pouco à solução. Quando falamos em pecuária de corte como negócio, o foco é: resultado gerencial por hectare, ou seja, lucro obtido em um ano em cada hectare de pastagem. Estamos convencidos que podemos ter uma pecuária de corte lucrativa nas diferentes fases do sistema produtivo. A única grande convergência em que não há alternativa é que temos que ser extraordinários em produzir e colher pastagem. Nunca podemos deixar de lembrar que pecuária de corte é a transformação de capim em carne. Retomando o ponto principal: foco na solução, podemos simplificar que o lucro por hectare por ano é consequência da interação de 4 fatores principais, em que seu produto representa de forma direta o lucro de uma fazenda. Esses fatores são: lotação x Ganho Médio Diário (GMD) X Margem Sobre a Venda (MSV) X valor da @. lotação: a lotação representa a carga animal mantida em uma unidade de área, podendo ser expressa em cabeças, unidade animal, ou peso vivo. Apesar da fragilidade deste indicador, que não leva em consideração a variação na disponibilidade de forragem existente, ele é largamente utilizado. Para utilização do indicador, existe o pré-requisito que a lotação esteja equilibrada com a pressão de pastejo, a qual expressa quilos de forragem que estão disponíveis para cada 100 kg de peso vivo mantidos por unidade de área. O que se busca diretamente é que a fazenda possa apascentar a máxima quantidade de animais possíveis, desde que estejam ganhando peso, que é o nosso próximo indicador. 16 IEPEC

Capítulo 1 Diagnóstico geral GMD: o ganho médio diário é a quantidade de kg que um animal ganha por dia. MSV: a margem sobre a venda é o percentual de resultado ou lucro que a fazenda obtém em cada @ vendida. Neste caso, se a MSV foi de 35%, significa que a fazenda teve 65% de desembolso sobre o faturamento obtido com uma @. valor da @: o valor da @ é o total de reais recebido por uma @ na hora da venda. Na figura a seguir, seguem os principais elementos que interferem em cada um dos quatro fatores. Habilidade de colheita Lei da oferta Alianças mercadológicas Categoria e qualidade de carcaça Outros Valor da @ Lotação Manejo Clima Fertilidade de solo Estratégia de entresafra Outros Quantidade & pagamento Grupos de compra Compras estratégicas Cumprimento orçamentário Racionalização de custos fixos Outros Lucro/HA/ano MSV GMD Quantidade e qualidade de alimento Potencial genético Condição sanitária Tamanho e homogeneidade de lotes Outros Figura 1.2 - Principais elementos que interferem no lucro por hectare/ano. O portal do agroconhecimento 17

Gestão da empresa pecuária Princípios para uma exploração lucrativa Desta forma, o lucro de uma fazenda normalmente é: R$/ha de pasto/ano = Lotação (cab./ha) x GMD (kg/cab/dia) x 365 dias X MSV (%) x Rendimento de Carcaça (%) x Valor da @ Devemos nos atentar que o ágil ou deságio pago na reposição interferem no resultado. De forma geral, toda decisão que tiver interferência nesses fatores deve acontecer de forma que o aumento de um não gere redução de outro numa proporção superior. Ou seja, o aumento da lotação só é valido quando não cause redução no GMD. Medidas que aumentem o GMD não podem gerar uma redução na MSV superior ao aumento no ganho obtido. Quando o processo produtivo é focado em interações positivas desses quatro fatores, a fazenda tem grandes chances de apresentar resultados que superem a tímida média brasileira estimada pela equipe da Terra em menos de R$ 100/ ha/ano, podendo chegar a valores maiores que R$ 450/ha/ano. É importante lembrar que a maximização desses fatores só irá acontecer se a pecuária estiver estabelecida sobre uma base sólida e virtuosa composta pelos itens descritos abaixo. Gestão dos recursos humanos Alinhamento da equipe aos propósitos da fazenda Homem Admin. do fluxo de caixa Planejamento e administração dos recursos financeiros Foco no resultado gerencial Rebanho Pastagem & nutrição Ações virtuosas ao manejo, sanitário, reprodutivo e genético do rebanho Produzir pasto com quantidade e qualidade objetivando lotação e ganho diário Figura 1.3 - Fatores essenciais na consolidação de uma empresa pecuária. 18 IEPEC

Capítulo 1 Diagnóstico geral 1.4 Diagnóstico geral 1º Passo - Precisamos saber onde estamos para determinar para aonde vamos. Quanto mais informações sobre as forças e fraquezas do empreendimento, maiores são as chances de sucesso na tomada de decisões. O diagnóstico [dia = por meio de + gnose = conhecimento ] elaborado é uma análise das características físicas, estruturais, produtivas e financeiras da fazenda e gera informações para auxiliar na tomada de decisões, no estabelecimento de metas e na elaboração do planejamento. É no diagnóstico que conseguimos classificar as fazendas que operam a pecuária de corte dentro de cinco grupos. Fazemos isso de acordo com o resultado (lucro) obtido por hectare de pastagem como apresentado na figura abaixo. +R R$ R$ R$ até Figura 1.4 - Divisão das fazendas em grupos de acordo com a rentabilidade por hectare. Além disso, no momento do diagnóstico, indicadores como produção de carne/ha, desfrute, parâmetros reprodutivos, relações entre custeio e investimentos, custos fixos e variáveis, custo da @ produzida, entre outros, devem ser observados. O portal do agroconhecimento 19

Gestão da empresa pecuária Princípios para uma exploração lucrativa Inventário geral onde estamos Antes de qualquer tomada de decisão, faz-se necessário o levantamento completo das informações relacionadas ao setor de produção e seus adjacentes. O inventário geral deve ser objetivo e criterioso para que possa fornecer o diagnóstico verdadeiro da atual situação da empresa. Levantamento de informações Este item é o componente básico na elaboração do inventário geral da empresa. Conclusões e recomendações Infraestrutura Eficiência financeira Diagnóstico Solo & pastagem Eficiência gerencial & equipe Rebanho Figura 1.5 - Esquema básico para elaboração do diagnóstico da empresa pecuária. 1.5 Informações físicas e estruturais Localização da propriedade Grande parte das características comerciais bem como de clima e outros, são reflexos da localização da propriedade. Área 20 IEPEC

Capítulo 1 Diagnóstico geral Na análise global da empresa pecuária é necessário o conhecimento total das áreas da empresa e a maneira de utilização. Informações importantes: reservas, áreas improdutivas, benfeitorias, agricultura, pastagens de produção, arrendamentos, forrageiras anuais, total pecuário, superfície total, outros. 2% 5% 22% 50% 21% Pastagens produção Reservas Áreas improdutivas Benfeitorias Agricultura Figura 1.6 - Divisão da área de uma empresa pecuária. 1.5.1 1ª Chave do sucesso - pastagem Os sistemas pecuários brasileiros são caracterizados fundamentalmente pela utilização de pastagens como fonte principal de alimento para o rebanho. Na pecuária, as pastagens assumem dois aspectos importantes. O primeiro é que elas viabilizam a competitividade brasileira, e o segundo é que possibilitam a produção de forma natural, com respeito ao ambiente e aos animais, viabilizando o atendimento de grande parte da demanda mundial por alimento. O portal do agroconhecimento 21

Gestão da empresa pecuária Princípios para uma exploração lucrativa Composição da pastagem O conhecimento da área, composição agrostológica, ano de formação, estado de degradação, condições de cercas, aguadas e invasoras são princípios básicos na elaboração do organograma de produção, lotação e investimentos na empresa. O custo médio de implantação das pastagens deve ser registrado a fim de gerar informações para avaliação econômica do sistema. Informações a coletar Tabela 1.1 Modelo de tabela para coleta de Informações das pastagens. Espécie forrageira Área Ano de formação Implantação Estado Degrad. Produção - - - - - - Total - - - - - 12% 65% 18% 5% Brizantha Tifton Mombaça Tanzânia Figura 1.7 - Composição agrostológica da pastagem. 22 IEPEC

Capítulo 1 Diagnóstico geral Tabela 1.2 Quadro de áreas e lotação. Nº Pastagem Área Status Estado* Suporte UA/ha Capacidade 1 B.Brizant/ B.Decumb. 40,02 Pasto inferior 0,5 20,01 2 B.decumbens 32,6 Pasto inferior 0,5 16,30 3 B.decumbens 30,7 Pasto inferior 0,5 15,35 4 B.brizantha 12 Pasto interm. 0,5 6,00 5 B.humidicola 17,1 Pasto interm. 0,7 11,97 6 B.humidicola 31,5 Pasto inferior 0,5 15,75 7 B.humidicola 33,3 Pasto inferior 0,5 16,65 8 B.humidicola 30 Pasto interm. 0,7 21,00 9 B.brizantha 76,5 Pasto elevado 2 153,00 10 B.brizantha 40,7 Pasto inferior 0,7 28,49 12 Mombaça 65,4 Pasto interm. 2 130,80 13 Mombaça 69,8 Pasto interm. 2 139,60 20 B.brizantha 54,1 Pasto interm. 1,2 64,92 22 B.brizantha 59,6 Pasto interm. 1 59,60 23 B.brizantha 64,6 Pasto interm. 1 64,60 Total - 657,92 - - - 764,04 *interm. = intermediário O portal do agroconhecimento 23

Gestão da empresa pecuária Princípios para uma exploração lucrativa Limitantes para utilização da capacidade de exploração forrageira: cercamentos; aguadas. 1.5.2 Área estrutural da empresa Informações sobre a estrutura física da empresa geram dados para o cálculo de depreciação, um dos componentes importantes do custo de produção. O estado geral de conservação, sobretudo das instalações produtivas, devem ser conhecidos por apresentarem relação direta com o manejo do rebanho. O levantamento de benfeitorias tem como principal função informar o gestor sobre as ferramentas estruturais disponíveis e suas condições. De forma geral, não representam impacto significativo na valorização produtiva do imóvel. Para uma avaliação mais ampla, pode-se pontuar as instalações quanto ao estado de conservação, funcionalidade e organização/limpeza. Recomenda-se notas de 1 a 4, em que 1: ruim, 2: regular, 3: bom e 4: ótimo. Diante disso podemos ter uma boa referência da forma que a fazenda lida com suas instalações. A tabela 2.3 segue como exemplo. Entendemos que a gestão da fazenda é plenamente profissional quando consegue adotar medidas de ordem em suas instalações. Por isto julgamos necessária a avaliação sugerida acima. 24 IEPEC

Capítulo 1 Diagnóstico geral Tabela 1.3 - Exemplo de levantamento de benfeitorias. Descrição Material Área capacidade Estado de conserv. Funcion. Organização e limpeza Casa sede Madeira 180 M 2-3 Casa capataz Madeira 120 M 2-1 Casa funcionário (1) Casa funcionário (2) Alvenaria 80 M 2-2 Madeira 48 M 3-3 Barracão Alvenaria 120 M 1 1 2 Barracão Madeira 80 M 2 2 1 Curral Madeira 250 Cab 2 2 1 Despensa curral Alvenaria 9 M 2 2 1 Aprisco Madeira 2 2 2 Reservatório Concreto 200.000 L 1 1 2 Rede elétrica - Monofásica 2 - - Portões Madeira 2,5 M 2 2 2 Caixa d agua Plástico 1000 L 2 2 2 Caixa d agua Amianto 1000 L 2 2 2 Roda d agua Ferro - 1 2 2 Média 1,7 1,8 1,9 1.5.3 Parque das máquinas Dados sobre a marca, modelo, potência, ano de fabricação e valor de aquisição são necessários nas avaliações de manutenção e depreciação do maquinário. O portal do agroconhecimento 25

Gestão da empresa pecuária Princípios para uma exploração lucrativa Tabela 1.4 Modelo de tabela para coletar informações sobre o parque de máquinas. Implemento Modelo Potência Ano de compra Horas. Trab. Valor - - - - - - - - - - - - O parque de máquinas na empresa pecuária deve apresentar objetivo claro de utilização. Ajustes quanto sua amplitude e utilização são necessários, pois os mesmos compõem o plano de contas da empresa através de manutenção, reparos, combustíveis e lubrificantes etc., além de sua taxa de depreciação. Normalmente se observa sub-utilização do maquinário, gerando, entre outros, acréscimo na composição do custo da @ produzida. A Tabela acima descreve um levantamento do parque de máquinas de uma empresa agropecuária. Tabela 1.5 - Indicadores do parque de máquinas. Tema Muitas máquinas Indicador Média de trabalho menor que 700 h/ano; valor superior a 10% do valor médio do rebanho (quando não há agricultura). Elevado desembolso em manutenção e conserto Mais que 6% do valor do parque novo ou 12% do valor atual. Pouco cuidado Baixo nível de controle Máquinas no tempo ; ausência de plano de manutenção; equipe não capacitada (< 2 cursos/ano). Ausência de relógio de vazão no reservatório; horímetros não funcionam; ausência de apontamentos; ausência de fechamentos e relatórios gerenciais. 26 IEPEC

Capítulo 1 Diagnóstico geral O conhecimento do valor real do custo da hora/máquina de cada trator nas principais atividades é fundamental na elaboração dos custos de confecção de silagem, salgação de cochos, operações agrícolas, entre outros. Para que possamos apurar o custo da hora/máquina são necessários os seguintes registros: data, atividade executada e total de horas trabalhadas na função; custo dos operadores; registro de abastecimento, peças, filtros e lubrificantes utilizados na manutenção; serviços de terceiros prestados no equipamento e outros. Destacamos que os gastos com retíficas se enquadram em investimentos e por isso devem ser depreciados. Por outro lado, a manutenção dever ser aplicada diretamente ao custo da hora trabalhada. O controle de máquinas pode ser elaborado manualmente ou com utilização de planilhas eletrônicas. O princípio básico para termos sucesso na obtenção deste valor é o correto apontamento por parte do operador, bem como da oficina que efetua as manutenções no equipamento. O portal do agroconhecimento 27

Gestão da empresa pecuária Princípios para uma exploração lucrativa 1.6 Informações de rebanho Na pecuária de corte, cada animal é uma célula de produção e seu desempenho determina os resultados obtidos na fazenda. Para avaliação do efetivo pecuário,deve ser levantado o estoque, as características de escore corporal, condição sanitária, condição reprodutiva e qualidade genética. 1.6.1 Levantamento quantitativo É exatamente conhecer as quantidades, o estoque pecuário da empresa e sua distribuição nas categorias. Apesar de o efetivo pecuário ser de simples controle, tem-se observado muita dificuldade de se obter a verdadeira quantidade de animais. O registro do estoque pecuário correto é necessário na elaboração de todo planejamento zootécnico, produtivo e financeiro da fazenda. Seguem exemplos de distribuição dos animais nas categorias em mapas pecuários. 28 IEPEC

Capítulo 1 Diagnóstico geral Tabela 1.6 Exemplo de levantamento de rebanho. Fazenda Maringá Categorias Quantidade Peso Escore Vacas (multíparas) 1980 450 5 Primíparas 245 440 6 Bezerro mamando 1470 100 6 Bezerro desmame 230 280 4 Bezerra desmame 252 250 4 Novilhas 441 350 5 Garrotes 735 380 5 Bois 588 440 6 Touros 66 750 7 Total geral 6007 2015070 Tropa, ovinos, caprinos e outros: na maioria dos casos, o controle de tropa, ovinos e caprinos está mais ligado ao aspecto organizacional que de extração forrageira propriamente dita. Por outro lado, não são raros ajustes no efetivo da tropa. O portal do agroconhecimento 29

Gestão da empresa pecuária Princípios para uma exploração lucrativa 1% Vacas (Multíparas) 10% Primíparas 12% 33% Bezerro mamando Bezerro desmame 7% Bezerra desmame 4% 4% 25% 4% Novilhas Garrotes Bois Touros Figura 1.8 - Distribuição do estoque pecuário. Tabela 1.7 Exemplo de levantamento de tropa. Categoria Serviço Doma Reprod. Descarte Total Potros/as - 8 - - 8 Cavalos 44 - - 3 47 Éguas 21-4 1 26 Burros 17 - - - 17 Mulas 12 - - 6 18 Garanhões - - 2-2 Asininos - - 1-1 Total 94 8 7 10 119 1.6.2 Levantamento qualitativo Este levantamento tem por objetivo o conhecimento qualitativo. Este deve ser elaborado individualmente para todas as categorias com os seguintes itens: 30 IEPEC

Capítulo 1 Diagnóstico geral qualidade genética; situação sanitária; situação reprodutiva; escore corporal e peso atual; outros. Como exemplo, para planejarmos quanto e quando os animais de determinada safra serão abatidos, são os parâmetros qualitativos que norteiam a decisão. 1.6.3 Levantamento do manejo utilizado Sistema de cria manejo nutricional; estação de monta; inseminação artificial; relação touro/vaca; sistema de cruzamento; O portal do agroconhecimento 31

Gestão da empresa pecuária Princípios para uma exploração lucrativa sanitário; índices zootécnicos; idade média de matrizes e reprodução; tamanho de lote; outros. Sistema de recria manejo nutricional; manejo sanitário; tamanho de lote; índices de produção; outros. Sistema de terminação manejo nutricional; manejo sanitário; tamanho de lote; 32 IEPEC

Capítulo 1 Diagnóstico geral idade e peso ao abate; outros. 1.7 Informações administrativo-financeiras Neste item devemos avaliar como a empresa desempenha o papel administrativo. Planejamento, controle de caixa, departamento pessoal, registros de informações produtivas, funcionários envolvidos, softwares, planilhas utilizadas, entre outros. Além disto, devemos nos atentar que uma verdadeira fazenda empresa conhece: custo da cabeça-ua/mês; custo do bezerro desmamado; custo da @ produzida; custo de formação de matrizes; lucro da fazenda; fluxo líquido de caixa; retorno sobre o investimento operacional; retorno sobre o capital total; pay back do empreendimento. O portal do agroconhecimento 33

Gestão da empresa pecuária Princípios para uma exploração lucrativa A seguir, uma tabela com alguns índices financeiros considerados como parâmetro para a atividade pecuária. Tabela 1.8 Índices financeiros. Descrição Valor Unidade Custeio/cabeça/mês < 19,50 R$ Desembolso/cabeça/mês < 23,00 R$ % manut. de past. sobre o faturamento > 14 % % Custo fixo sobre o custeio < 45 % Custo da @ produzida < 65 R$ Custo do bezerro desmamado < 400 R$ Resultado Gerencial por ha > 300 R$ Taxa interna de retorno (anual) > 24 % 1.8 Histórico da propriedade Dados sobre data de aquisição da empresa, histórico de lotação, produção, índices zootécnicos, clima, principais limitações produtivas e outros são determinantes na intervenção administrativa da empresa. Estes dados refletem o nível de utilização produtiva e econômica da fazenda. Servem também como parâmetros de comparação e balizamento após a intervenção técnico-administrativa. 1.9 Dados climáticos Uma das principais diferenças entre a empresa rural e a urbana é a total dependência de fatores climáticos. Estes determinam desde a utilização de culturas 34 IEPEC

Capítulo 1 Diagnóstico geral de inverno até o período da estação de monta. A coleta e o registro diário de dados, bem como seu histórico, são necessários para a elaboração do cronograma de produção. Os dados normalmente registrados são precipitação pluviométrica, temperaturas máximas, mínimas e médias e umidade relativa. 1.10 Matriz SWOT O termo SWOT é uma sigla oriunda do inglês, referenciando as Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats). A análise SWOT foi criada por dois professores da Harvard Business School. Por outro lado, indica-se que a idéia da análise SWOT já era utilizada há mais de três mil anos quando cita em uma epígrafe um conselho de Sun Tzu: Concentre-se nos pontos fortes, reconheça as fraquezas, agarre as oportunidades e proteja-se contra as ameaças (SUN TZU, 500 a.c.) Apesar de bastante divulgado e citado por autores, é difícil encontrar uma literatura que aborde diretamente esse tema. Análise SWOT Oportunidades Ameaças Pontos fortes Pontos fortes que potencializam oportunidades. Pontos fortes que inibem ameaças. Pontos fracos Pontos fracos que inibem oportunidades. Pontos fracos que potencializam ameaças. Figura 1.9 - Análise SWOT. O portal do agroconhecimento 35

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