USUCAPIÃO. bem pela usucapião. Sendo a usucapião um dos principais efeitos da posse, ela é também



Documentos relacionados
&RQVLGHUDo}HVVREUHRXVXFDSLmRHPIDFH

NOÇÕES BÁSICAS SOBRE USUCAPIÃO

Usucapião. É a aquisição do domínio ou outro direito real pela posse prolongada. Tem como fundamento a função social da propriedade

Turma e Ano: Turma Regular Master A. Matéria / Aula: Direito Civil Aula 19. Professor: Rafael da Mota Mendonça

Tanto bens móveis como imóveis podem ser usucapidos. Como nossa disciplina é direito imobiliário, dos imóveis é que estudaremos este instituto.

Usucapião. Usucapião de Móveis. Usucapião de outros direitos reais Processo. Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

DIREITO IMOBILIÁRIO. Aula 4. Forma de Aquisição Imobiliária Derivada, Usucapião na Constituição Federal, Usucapião na Legislação Ordinária.

a palavra é feminina porque vem do latim usus + capere, ou seja, é a captação/tomada/aquisição pelo uso.

USUCAPIÃO. forma jurídica de solução da tensão existente entre a posse e a propriedade

Nisnmgro' Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desembargadora Maria das Neves do Egito de

USUCAPIÃO E A POSSE DO IMÓVEL: DISCUSSÕES SÓCIO-JURÍDICAS. 1. Apresentação. 2. Introdução

AULA 07. Herança Jacente = herança sem herdeiros notoriamente conhecidos (arts e ss. do CC).

Conteúdo: Direito das Coisas: Posse: Conceito de Possuidor; Teorias da Posse; Natureza Jurídica; Composse; Detenção. - DIREITO DAS COISAS

Assim como ocorre com a posse, a. meio originário ou por um meio derivado.

Processos de Regularização de Imóveis

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL OAB XIII EXAME DE ORDEM C006 DIREITO TRIBUTÁRIO

Prova de Direito Civil Comentada Banca FUNDATEC

DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL APROVADO QUE IMPLICA NOVAÇÃO DOS CRÉDITOS ANTERIORES AO PEDIDO

14/06/2013. Andréa Baêta Santos

Posse e Usucapião Extraordinária

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

USUCAPIÃO FAMILIAR E A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE Amanda Nunes Stefaniak amanda-stefaniak@bol.com.br; Orientadora: Doutora Jeaneth Nunes Stefaniak

ASPECTOS DA DESAPROPRIAÇÃO POR NECESSIDADE OU UTILIDADE PÚBLICA E POR INTERESSE SOCIAL.

NÚCLEO PREPARATÓRIO PARA EXAME DE ORDEM. Peça Treino 8

Dados Básicos. Ementa. Íntegra

BuscaLegis.ccj.ufsc.Br

Direito de Família. Consuelo Huebra

2ª VARA DO TRABALHO DE BRASÍLIA - DF TERMO DE AUDIÊNCIA. Processo nº

A extinção da personalidade ocorre com a morte, que pode ser natural, acidental ou presumida.

ESTUDO DIRIGIDO SOBRE TUTELA E CURATELA 1

QUINTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO Nº 22290/ CLASSE CNJ COMARCA CAPITAL WANIA APARECIDA OLIVEIRA BRAGA - ME APELADO: BANCO ITAÚ S. A.

COMISSÃO DE SEGURIDADE SOCIAL E FAMÍLIA PROJETO DE LEI Nº 2.804, DE 2011

TEMÁTICA: A Modernização do Processo e a Ampliação da Competência da Justiça do Trabalho: Novas Discussões. AUTORA: Cinthia Maria da Fonseca Espada

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Ação Monitória. Ana Carolina Fucks Anderson Palheiro 1

V I S T O S, relatados e discutidos estes autos de

PADRÃO DE RESPOSTA PEÇA PROFISSIONAL

GRUPO III ESPELHO DE CORREÇÃO CRITÉRIO GERAL:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

ESTUDO DE CASO USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL DO SÍTIO PICA-PAU AMARELO - PONTA GROSSA PARANÁ

Superior Tribunal de Justiça

Sentença e Coisa Julgada

APELAÇÃO SEM REVISÃO Nº /2 Mogi das Cruzes Apelante: Maurício Guina Pires Apelado: Arnaldo Rufino Lopes Parte: Wagner Alves da Silva

Disciplina: Direito e Processo do Trabalho 3º Semestre Professor Donizete Aparecido Gaeta Resumo de Aula

Resumo. Sentença Declaratória pode ser executada quando houver o reconhecimento de uma obrigação.

NA IMPORTAÇÃO POR NÃO CONTRIBUINTE DO IMPOSTO ESTADUAL APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL N. 33 DE , CONTINUA NÃO INCIDINDO O ICMS.

Usucapião O que muda com o novo CPC?

USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL

Material de Apoio. Destes benefícios, os que terminam com "ão" são devidos aos dependentes, todos os demais são devidos aos segurados.

Autor: SINDICATO DOS TRABALHADORES EM HOTÉIS, APART HOTÉIS, MOTÉIS, FLATS, RESTAURANTES, BARES, LANCHONETES E SIMILARES DE SÃO PAULO E REGIÃO,

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

AS RESTRIÇÕES JUDICIAIS FACE ÀS TRANSMISSÕES DA PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA. Telma Lúcia Sarsur Outubro de 2011

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Direito

- GUIA DO EMPRESÁRIO -

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul

PROCEDIMENTO ESPECIAL - Ação de Usucapião. Projeto monitoria acadêmica Estefânia Côrtes AÇÃO DE USUCAPIÃO

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E BAIXA DE SOCIEDADE

PONTO 1: Contrato Individual de Trabalho: 1. Conceito. 2. Sujeitos. 3. Características. 4. Requisitos.

CARTILHA SOBRE DIREITO À APOSENTADORIA ESPECIAL APÓS A DECISÃO DO STF NO MANDADO DE INJUNÇÃO Nº 880 ORIENTAÇÕES DA ASSESSORIA JURIDICA DA FENASPS

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA PROVA ESCRITA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL I - TURMA A

CT.DSL-DR- /00 Rio de Janeiro, 10 de abril de

AÇÃO DE USUCAPIÃO - AUSÊNCIA DE REQUISITOS - UNIÃO DE POSSES - IMPOSSIBILIDADE

MÚSICA: Que não registra não é dono?

1º LABORATÓRIO. Professor Hermes Cramacon

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA

P.º R. P. 22/2009 SJC-CT-

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL XVI EXAME DE ORDEM UNIFICADO

TRATADOS INTERNACIONAIS E SUA INCORPORAÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO 1. DIREITOS FUNDAMENTAIS E TRATADOS INTERNACIONAIS

II - AÇÃO RESCISÓRIA

1. Direito das coisas 2. Posse 3. Classificação da Posse 4. Ações ou Interdito possessórios 5. Propriedade

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Parcelamento. Confissão irretratável do débito tributário e o princípio da legalidade tributária.

CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TRABALHO A TERMO.

Palavras-chave: usucapião, especial, abandono de lar.

MATERIAL DE AULA LEI Nº 9.296, DE 24 DE JULHO DE 1996.

PONTO 1: Litisconsórcio na Seara Laboral PONTO 2: Sucessão Trabalhista PONTO 3: Terceirização 1. LITISCONSÓRCIO NA SEARA LABORAL

DIREITO ADMINISTRATIVO

Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 1ª TURMA RECURSAL JUÍZO B

Prova Objetiva Disciplina: Direito Civil

Obs1: O possuidor direto pode fazer uso dos interditos possessórios contra o possuidor indireto e vice-versa.

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO PARECER Nº Senhora Procuradora-Geral:

DESTAQUES DO INVENTÁRIO 1

RELATÓRIO O SR. DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA (RELATOR):

DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO Carlos Roberto Gonçalves

GUERRA FISCAL: SÃO PAULO E ESPÍRITO SANTO ICMS - IMPORTAÇÃO


PADRÃO DE RESPOSTA PEÇA PROFISSIONAL

FICHA DOUTRINÁRIA. Diploma: CIVA. Artigo: 9º; 18º. Assunto:

DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO PROCESSO - QUESTÃO DE ORDEM PÚBLICA - EXTINÇÃO DO FEITO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO - ART. 557, DO CPC.

PADRÃO DE RESPOSTA PEÇA PROFISSIONAL

A PRISÃO PREVENTIVA E AS SUAS HIPÓTESES PREVISTAS NO ART. 313 DO CPP, CONFORME A LEI Nº , DE 2011.

Nº COMARCA DE FELIZ CONSTRUTORA SC LTDA A C Ó R D Ã O

Comentário às questões do concurso do TCE_RS/Oficial_de_Controle_Externo/CESPE/2013

REGULAMENTO DAS PROVAS ORAIS DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO

Assim, a validade de um contrato de trabalho está adstrita ao preenchimento de requisitos estabelecidos pelo art. 104 do CC.

O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas atribuições legais e regimentais,

Legislação e tributação comercial

Supremo Tribunal Federal

Transcrição:

USUCAPIÃO Sumário 1. Histórico 2. Espécies de Usucapião 2.1. Bem Imóvel 2.1.1. Extraordinário 2.1.2. Ordinário 2.1.3. Especial 2.1.3.1. Especial: Impedimento de usucapir 2.1.3.2. Espécies 2.1.3.2.1. Urbano 2.1.3.2.2. Rural 2.1.2.2.3. Coletivo 2.2. Bem Móvel 2.2.1. Ordinário 2.2.2. Extraordinário 3. Considerações Finais 4. Bibliografia. 1. HISTÓRICO A posse, embora seja requisito fundamental, não é o único para que se possa adquirir um bem pela usucapião. Sendo a usucapião um dos principais efeitos da posse, ela é também uma forma de prescrição aquisitiva. Como dito, o direito brasileiro não prevê apenas a posse (poder de fato) e o tempo como requisitos necessários à usucapião. Torna se necessário também a capacidade do possuidor, qualidades da coisa a ser usucapida, boa-fé (ignorância dos obstáculos que impedem a regular transmissão da propriedade) e justo título (título que contenha algum vício ou irregularidade que o impede de ser instrumento apto para promover a transmissão da propriedade; sua noção está intimamente ligada a de boa-fé) são outros requisitos que tanto o Código Civil de

1916 quanto o de 2002 estabeleceram para esta forma de aquisição da propriedade. Sendo a usucapião oriunda do étimo latim pertencente ao gênero feminino, nosso velhusco diploma civil de 1.916 erroneamente o utilizou no termo masculino. No trabalho em tela passo a utilizá-lo no termo feminino por achar mais plausível e também por este ser utilizado por nosso atual Código Civil. A usucapião tem seu significado original do vocábulo posse, seu instituto é antiquíssimo (450 a.c.) previsto pela Lei das XII Tábuas 1, que estabelecia que quem possuísse por dois anos um imóvel ou por um ano um móvel tornar-se-ia proprietário, correspondia está a uma aquisição do ius civile destinado somente para os cidadão romanos. A chamada praescriptio tinha tal denominação por causa do cabeçalho de um fórmula (pois era meio de defesa, de exceção, vindo a surgir posteriormente à usucapio, no Direito clássico. Poderia se repelir qualquer ameaça a sua propriedade pela longi temporis praescriptio. A prescrição era de 10 (dez) anos entre os presentes e, de 20(vinte) anos entre ausentes. Como visto, a prescrição determina por um lado a extinção das relações jurídicas, mas por outro, autoriza a aquisição de direitos. 1 Lei das XII Tabulas in http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/12tab.htm (Consultado em 20/10/2006).

Não é qualquer posse e, sim somente a qualificada. Dois elementos são cruciais: a posse e o tempo, e consistentes em três tipos: usucapião extraordinário, ordinário e o especial. 2. ESPÉCIES DE USUCAPIÃO 2.1. BEM IMÓVEL Entendo ser um equívoco considerar como originária a aquisição de propriedade, pois que pressupõe a perda do domínio por um, em benefício de outrem. Portanto, conclui-se ser está uma forma derivada de aquisição. Entende-se que no abandono da coisa pelo dono significa sua renúncia presumida. A tendência moderna de cunho objetivo, considerando a função social da propriedade, inclina-se no sentido de se prestigiar aquele que trabalha o bem usucapido, reintegrando-o pela sua vontade e ação. A posse ad usucapionem há de ser contínua, pacífica ou incontestada pelo tempo estipulado pela lei e com intenção de dono (animus domini). Não se exige que a posse pelo tempo necessário seja exercida pelo mesmo possuidor, pois é permitido que o prescribente, o possuidor atual, junte sua posse à de seu antecessor. É imprescindível a continuação da posse, ou seja, a posse associada pelo fator tempo. Outro requisito indispensável é que incida em res habilis, ou seja, suscetível da prescrição aquisitiva.

São insuscetíveis de usucapião os bens postos fora de comércio e os bens públicos (o de uso comum e uso especial). A usucapião é forma de alienação prescrita em lei. O Dec. 22.785 de 31 de maio de 1933 encerrou a questão: Os bens públicos de qualquer natureza não são sujeitos a usucapião Cumpre diferenciar a interrupção natural da civil sendo a primeira consistente no fato de perder o possuidor a sua posse ao passo que a civil assenta numa citação judicial. A usucapião constitui título oponível erga omnes e consolida o domínio (em favor de quem o adquiriu por título cuja eficácia é discutida). A doutrina moderna estruturou o usucapião nas seguintes bases: res habilis, insta causa (justa causa), bonas fides (boa fé), possessio (posse) e tempus (tempo). 2.1.1. Extraordinária A usucapião extraordinária é regulada no art. 1.238 NCC do Código Civil de 2002 e seus requisitos são: posse contínua por 15 a 10 anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel residência habitual ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo, exercida com animus domini, de forma contínua, mansa e pacífica. Dispensam-se o justo título e a boa fé. Antigamente, a praescriptio longi temporis ou imemorial chegou a ser de 40 (quarenta) anos. 2.1.2. Ordinária

A usucapião ordinária é prevista no art. 1.242 NCC e dita os seguintes requisitos: posse de 10 anos com animus domini, de forma contínua, mansa e pacificamente, além de justo título e de boa fé. Será menor o prazo e, portanto de 5 anos o lapso temporal, se o imóvel tiver sido adquirido onerosamente com respectivo competente(art. 1.242 parágrafo único). Preceitua o art. 2.029 das Disposições Transitórias que até dois após a entrada em vigor do CC, os prazos previstos no parágrafo único do art. 1.238 e 1.242 serão acrescidos de dois anos, qualquer que seja o tempo transcorrido ou vigência da anterior, a Lei 3.071/1916 será aplicável nas hipóteses de redução de prazos. 2.1.3.Especial A usucapião especial rural, pro labore surgiu na CF de 1934, conservada pela CF de 1937 e, ainda pela CF de 1946. Apesar da CF de 1967 e da Emenda Constitucional de 1969 não repetiram os textos anteriores, mas a última pontificou seus requisitos cruciais, e disciplinados pela 4.504/64 (o Estatuto da Terra) até o advento da Lei 6.969/1981 que regulamentou especificamente o usucapião especial de imóveis rurais. O art. 191 CF/88 aumentou de 25 de hectares para 50 hectares a área rural suscetível de usucapião com a vedação quanto aos imóveis públicos. E o art. 1.238 do NCC reproduziu literalmente o disposto do art. 191 do CF/1988. A usucapião especial urbana já uma inovação da CF/1988 e regulamentada pelo art. 183 dispõe sobre a área urbana em até 250 m2 por cincos contínuos; caracterizando-se como um

direito único não se repetindo ao novo possuidor mais de uma vez e mantém a vedação quanto aos bens públicos. Não reclama justo título e nem boa fé. Não inclui as posses anteriores. Os pedidos só poderão ser formulados a partir de 05/10/1993 e o novo Código Civil reproduziu no art. 1.240 o texto constitucional anterior. A ação de usucapião é uma ação declaratória que conforme os arts. 941 a 945 do CPC, no foro da situação do imóvel, deverá juntar aos autos planta da área usucapienda(art. 942 CPC). A sentença que julgar procedente o usucapião será transcrita mediante mandado no registro de imóveis, satisfeitas as obrigações fiscais (art.945 CPC) e sob a intervenção obrigatória do MP. Só é permitida a impetração da usucapião quem exerça a posse atual do imóvel usucapiendo. Justo título não se refere ao documento perfeito e hábil para a transcrição, o titulus ou justa causa é a causa ou razão pela qual alguém recebeu a coisa do precedente possuidor. E o fato gerador da posse. Título é o fundamento do direito. De sorte que o título é apreciado no processo de usucapião. A noção de justo título está intrinsecamente ligada à da boa fé. Distinções

A usucapião extraordinária vem contemplada no art. 1.238, independe de título e de boa fé, onde disciplina duas modalidades com dois prazos distintos e pode tanto se dirigir ao imóvel rural como também ao urbano. Em ambas situações prevalece como relevante o aspecto objetivo da posse, ou seja, o corpo restando o aspecto subjetivo situado na boa fé. Já a usucapião ordinário é disciplinado pelo art. 1.242 NCC se baseia na posse mansa, pacífica, com justo título e de boa fé pelo lapso de dez anos. E ainda a hipótese versada adianto no parágrafo único do art. 1.242 com a redução para cinco anos. A nova lei civilis protege quem, nessa situação, mantém o imóvel e moradia ou realizou investimentos de interesse social e econômico e não dispensa o justo título e nem a boa fé. O novo Código Civil aboliu a inútil distinção do art. 551 do CC/1916 e nas disposições transitórias abordavam as questões de direito intertemporal. 2.1.3.1. Especial: Impedimento de usucapir Com relação as modalidades do usucapião especial (rural e urbano) o sentido social fica ressaltado e mantidos os princípios tradicionais, no Estatuto da Cidade (Lei 10.357/2001) também repete com parco acréscimo, a mesmo disposição do usucapião especial de imóvel urbano (art. 9º).Há a ressalva expressa quanto aos bens públicos posto que não passíveis de serem usucapidos.

Todas as modalidades de usucapião presentes em face da nova dicção legal admitem a acessão das posses. Porém, o Estatuto da Cidade apõe, uma restrição que não existe constitucionalmente, dispõe in verbis, o parágrafo terceiro do art. 9º.: para os efeitos deste artigo o herdeiro legítimo contínua, de pleno direito, a posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel na ocasião da sucessão 2.1.3.2. ESPÉCIES 2.1.3.2.1. Urbano Para conceituação de urbano segue-se o critério de localização, seguindo a respectiva Lei Municipal. É curial que o usucapião urbano atenda aos requisitos urbanísticos. Enfatiza-se que a usucapião é concedida em razão e benefício da família independentemente do estado civil do homem e da mulher, já que a união estável é reconhecidamente fundadora de entidade familiar. 2.1.3.2.2. Rural Já o usucapião especial rural doa rt. 191 da CF/1988 foi recepcionado pelo art. 1.239 NCC e aumentou a extensão de terra. A contagem de tempo deve iniciar-se com a vigência da CF.

Mas a jurisprudência é vacilante e existem julgados que entendem pela imediata aplicação da norma constitucional TJSP Ap. 165.010-1/4, 1a., Câmara Rel. Des. Gomes de Amorim, com voto vencido, RT 690/73. É essencial que exista edificação no imóvel para que sirva de moradia, não exige justo título e nem mesmo boa fé. O procedimento é o mesmo do CPC previsto nos arts. 941 a 945 do CPC. 2.1.2.2.3. Coletivo Cria a nova lei civil a modalidade de usucapião coletivo, exigindo que a área tenha mais de 250 m2, não menciona que o dispositivo dirige-se a pessoas de baixa renda contínua a busca pelo sentido social da propriedade. Na situação enfocada pelo novo Código Civil a aquisição por usucapião coletivo mais se aproxima da desapropriação tendo em vista o art. 1.228, quinto, onde o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário. Só menciona que deve haver a ocupação de boa fé por mais de cinco anos. A usucapião coletiva da Lei 10.257/2001 aplica-se somente aos imóveis urbanos. No usucapião instituído pelo Estatuto da Cidade, a lei determina que o juiz atribuirá igual fração ideal de cada possuidor, salvo acordo escrito entre os condôminos com frações ideais diferentes é dirigida à população de baixa renda.

O art. 12 do Estatuto da Cidade define a legitimidade para a propositura da ação de usucapião: ao possuidor isolado ou em litisconsórcio, aos possuidores em composse e a associação de moradores, como substituto processual, desde que regularmente constituída. O usucapião especial pode ser alegado como matéria de defesa a fim de estagnar ação reinvidicatória. A sentença é título aquisitivo para o registro imobiliário. O rito do usucapião urbano é o sumário embora necessite de perícia e aí, cai por terra a celeridade processual tão almejada. 2.2. BEM MÓVEL 2.2.1. Ordinário Assim como os bens imóveis, os bens móveis também são sucestíveis de serem concebidos por meio da usucapião, assim como salienta o Código Civil em seu art. 1.260 que passo a transcrever: Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente durante 3 (três) anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a propriedade. Como vimos, aquele que, mediante justo título e boa-fé, portar como seu um bem móvel por prazo de 3 (três) anos, terá este bem adquirido por meio da usucapião. Assim sendo, na conformidade desse dispositivo legal, são requisitos do usucapião mobiliário trienal:

a) Coisa hábil para prescrever; Autor: b) Posse contínua e passífica; c) Animus domini; d) Justo título; e) Boa-fé; f) lapso de tempo. 2.2.2. Extraordinário Por outro lado, temos no art. 1.261, casos em que torna dispensável o justo título e boa-fé, desde que o possuidor tenha a coisa como sua por prazo superior a 5 (cinco) anos, como veremos a seguir: Se a posse da coisa móvel se prolongar por 5 (cinco) anos, produzirá usucapião, independentemente de título e boa-fé. Contudo, é de se notar que mesmo que o sujeito não possua justo título e até mesmo a boa-fé, poderá, mesmo que por meios escusos adquirir o bem por meio da usucapião, desde que preencha os requisitos animos domini, posse contínua, coisa hábil a prescrever e lapso temporal. Para justificar tal afirmativa, passo a transcrever jurisprudência pátria: USUCAPIÃO DE COISA MÓVEL Automóvel furtado. Reconhece-se usucapião extraordinário pela posse superior a cinco anos, mesmo

que o primeiro adquirente conhecesse o vitium furti. "O ladrão pode usucapir; o terceiro usucape, de boa ou má-fé, a coisa furtada" (Pontes de Miranda). Sentença confirmada. (TARS AC 190.012.799 4ª C Rel. Ernani Graeff J. 17.05.1990) (RJ 160/90). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A ação de usucapião possui eficácia declaratória e reconhece-se como modo de aquisição. Não constitui a propriedade por sentença esta aliás possui efeito ex tunc. Os arts. 941 e seguintes do CPC regulam o processo de usucapião, e a inicial deve ser instruída com a planta e descrição minudente do imóvel. É curial a citação dos confinantes. É necessária a juntada a certidão do registro imobiliário ainda que negativa o art. 942 do CPC exige a citação pessoal daquele em cujo nome estiver transcrito o imóvel. A ausência da citação acarreta a nulidade do processo e se o titular do domínio for menor contra ele não corre a prescrição. Duas fases distintas na ação de usucapião com a primeira com a audiência prévia, para a comprovação sumária da posse. Para essa audiência, deveriam ser citados pessoalmente o titular bem como os confinantes. Os representantes da Fazenda Pública são cientificados por carta e cita-se editaliciamente os titulares ausentes, incertos e desconhecidos.

A Súmula 263 do STF dispõe expressamente sobre a necessidade da citação pessoal do possuidor. E no mesmo sentido calca-se a Súmula 391 do STF. Pela nova redação do art. 942 CPC fornecida pela Lei 8.951/94 dispensada a audiência prévia da justificação da posse(onde se examinava superficialmente o caráter fático da posse). A prova produzida era testemunhal, nada impedindo a juntada de documentos. A nova redação do art. 942 do CPC determina ainda a citação pura e simples do titular da propriedade e demais confinantes. A intervenção obrigatória do MP no processo é devido a sua função de fiscal da lei (Art. 944 CPC), pode contestar o pedido e ainda requerer perícias e diligências que entender necessárias. A usucapião alegada em defesa não poderá ser registrado, salvo a exceção do art. 7o., da Lei 6.969/1981. O art. 945 do CPC dispõe que a sentença que julgar procedente a ação deverá ser transcrita mediante mandado no registro de imóveis satisfeita as obrigações fiscais. Não se paga ITBI pois a aquisição é originária apesar de algumas opiniões em contrário. Pela sucessão causa mortis e pelo princípio de saisine estatuído no art. 1.572 do CC/1916 e art. 1.784 do NCC. Não existe intervalo na posse e propriedade dos herdeiros que sucedem o falecido. O registro de formal de partilha serve apenas para dar continuidade a posse e a propriedade dos herdeiros e manter a mesma natureza e características tal qual exercidas pelo morto.

4. BIBLIOGRAFIA. Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2005. GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 2ª ed. rev. e atual. São Paulo: Rideel, 1999. Lei das XII Tábuas in http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/12tab.htm (Consultado em 20/10/2006) NERY JUNIOR, Nelson. Código Civil Comentado. 4ª ed. rev. atual. e ampl. São Pailo: RT, 2006. RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: direito das coisas. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002. vol. 5.