A INSERÇÃO ECÔNOMICA DOS AGRICULTORES FAMILIARES INSERIDOS NO ASSENTAMENTO ERNESTO CHE GUEVARA



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Transcrição:

A INSERÇÃO ECÔNOMICA DOS AGRICULTORES FAMILIARES INSERIDOS NO ASSENTAMENTO ERNESTO CHE GUEVARA Mercedes Ferreira 1 - mercedita4@hotmail.com Maria Inês Vidal 2 Orientador: Luiz Alexandre Gonçalves Cunha 3 Resumo Este trabalho faz parte da pesquisa de monografia realizada em 2011, no curso de Licenciatura em Geografia. A pesquisa foi desenvolvida no assentamento Ernesto Che Guevara no Município de Teixeira Soares PR com o objetivo de analisar o processo de inserção econômica dos agricultores familiares que estão assentados desde 1997 atuando na economia do Município. Palavras chave: agricultura familiar, assentamento, economia. Introdução Este trabalho aborda a inserção econômica dos agricultores familiares no assentamento Ernesto Che Guevara no Município de Teixeira Soares PR. As transformações que vêm ocorrendo no meio rural paranaense e brasileiro decorrente da modernização da agricultura e do surgimento de apoio a agricultura familiar por meio do PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - trouxe uma nova configuração política, econômica e territorial para o campo com uma série de consequências para os sujeitos que vivem nas áreas rurais, entre eles os camponeses, meeiros, arrendatários, comunidades tradicionais, pequenos 1 Mercedes Ferreira Acadêmica do Curso de Licenciatura em Geografia da UEPG. 2 Maria Inês Vidal Licenciada em Geografia. 3 Prof. Dr. Luiz Alexandre Gonçalves Cunha Professor do Curso de Licenciatura e Geografia da UEPG

agricultores, dentre outros. Com a industrialização da agricultura patronal, que contou com incentivos do governo, como: financiamento da produção e investimento em tecnologia, o resultado foi o aumento de produtividade no que diz respeito à monocultura de exportação, porém como consequência ocorreu à concentração de renda e de terra, a ampliação da divisão do trabalho, a intensificação das desigualdades sociais e do desemprego. De acordo com Cardoso (2009) os camponeses foram expulsos e expropriados de seu território de origem, e obrigados a migrarem rumo aos centros urbanos onde, não encontrando outra possibilidade de sobrevivência e não possuindo condições financeiras para retornar ao campo, resolveram lutar pela conquista da terra e, também contra a subordinação/exploração a qual os trabalhadores rurais estão sujeitos. Para os sujeitos que vivem no e do campo a terra tem um significado que transcende o valor econômico e passa a ser vista como espaço de vida e produção de cultura A terra para o homem do campo possui um significado especial, ela não significa um bem, um valor para negocio, para obtenção de fins lucrativos com a sua venda. Para ele a terra é um meio de vida para ser trabalhada e retirar dela seu sustento garantido assim sua própria reprodução social (CARDOSO, 2009 p. 37). É com base nessa concepção que os sem-terra lutam e enfrentam o latifúndio, a fim de que possa ser garantindo a eles o acesso a terra e, consequentemente, a inserção social/econômico em uma sociedade excludente e exploratória onde cada vez mais valoriza as coisas em vez das pessoas. Segundo Burt e Correia (2006) o principal objeto de luta do MST é o acesso a terra, o acesso ao trabalho, a produção de alimentos, a fixação do homem no campo o resgate de valores relativos à dignidade do agricultor. Breve discussão sobre a agricultura familiar No Brasil a agricultura familiar é responsável pelos alimentos que chegam à mesa da população, haja vista que a produção patronal, quase na totalidade é

destinada a exportação. A agricultura familiar é constituída de pequenos e médios produtores rurais, comunidades tradicionais e assentados da reforma agrária. No entanto, o fortalecimento da agricultura familiar no país é primordial para a fixação do homem no campo, evitando assim o êxodo rural que tantos problemas causam nas cidades. Pois estas não possuem infraestrutura adequada para absorver o contingente de migrantes que todos os anos mudam de seu habitat natural. A população rural migra para os centros urbanos em busca de uma vida melhor do que a encontra no campo, mas, o que na realidade encontram nas cidades, são: o subemprego, a marginalidade, a miséria, a pobreza e consequentemente vão morar nas periferias aumentando assim as sub moradias e a violência. Os que permanecem no campo continuam em situação precária, sem acesso ou com aceso limitado a terra, à educação e demais serviço de infra-estrutura social e aos benefícios da política agrícola (BUAINAIN, 2003, p.317). Segundo estudos feitos pela Secretaria de Desenvolvimento Rural 2008, chegouse a conclusão que a agricultura familiar no Brasil ainda precisa aprimorar a sua estratégia de desenvolvimento. É preciso formular políticas de desenvolvimento rural integrada que contemplem os diversos seguimentos do rural, como: políticas agrárias e agrícolas para o fortalecimento da agricultura familiar, políticas de distribuição espacial bem determinada da agricultura familiar, juntamente com políticas de geração de novas oportunidades de empregos agrícola e não agrícola. [...] esse conjunto de políticas tenderia a ter uma distribuição espacial bem determinada, dado que há regiões onde predominam as atividades agrícolas e rurais e rurais não-agrícolas [...] Porém, a maior dificuldade do estudo está na idéia de que os setores de produção familiar (agroecologia etc) que poderia ser objeto de políticas específicas de apoio são limitados, excluindo como estruturalmente inviáveis uma grande massa de produtores (BUAINAIN,2003, p.319). Segundo Wanderley foi a partir de 1990, com a criação do PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar -, a partir da implantação de novas políticas públicas em apoio ao pequeno agricultor, que estes

agricultores passam a serem profissionalizados e entregados na sociedade como uma nova categoria. No entanto, sua utilização como significação e abrangência, que lhe tem sido atribuída nos últimos anos, assume ares de novidade e renovação. Os agricultores familiares ou modernos podem ser vistos como resultado de uma ruptura profunda e definitiva em relação ao passado, quando estes mesmos agricultores eram denominados de camponês, lavrador ou agricultura de subsistência. A partir de 1990, a agricultura familiar que era um modo de vida passou a ser uma profissão, uma forma de trabalho, capaz de incorporar as políticas governamentais e os principais avanços técnicos (Wanderley 1996). [...] a agricultura assume uma racionalidade moderna, o agricultor se profissionaliza, o mundo rural perde seus contornos de sociedade parcial e se integra plenamente à sociedade nacional [...] parece evidente que suas estratégias de reprodução, nas condições modernas de produção, em grande parte ainda se baseiam na valorização dos recursos que se dispõem internamente, no estabelecimento familiar, e se destinam a assegurar a sobrevivência da família no presente e no futuro. De certa forma os agricultores familiares modernos, enfrentam os novos desafios com as armas que possuem e que aprenderam a usar ao longo do tempo (WANDELEY, 1996, p. 166). Segundo a autora, a agricultura camponesa tradicional é uma forma de agricultura familiar, uma vez que ao passar pela nova denominação estes agricultores não perdem os seus conhecimentos adquiridos ao longo do tempo, uma vez que ela se funde entre a relação, entre a propriedade, trabalho e família. As políticas públicas dão o financiamento, mas não a assistência técnica para que estes agricultores mudem o seu estilo e possam produzir. O assentamento Ernesto Che Guevara não possui muitas características em relação ao demais assentamento do MST, justamente pela configuração empregada durante a luta pela posse da terra, as estratégias que eles usaram foi respeitar a lei, buscando assim, ter o menor impacto negativo sobre as benfeitorias da fazenda, sobre os animais, sobre as plantações e, sobretudo nas pessoas acampadas. Origem e contexto do assentamento

A fazenda Santo Antonio foi adquirida pelo INCRA em processo de desapropriação, por interesse social para fins de reforma agrária, o processo de negociação entre as duas partes interessadas ocorreu de forma pacífica, mostrando assim o interesse da proprietária em vender a área. Pela indenização da terra nua da Fazenda Santo Antonio, foi ofertado o preço de R$. 1.231.342.47 (um milhão, duzentos e trinta e um mil, trezentos e quarenta e dois). Portanto, a área foi adquirida por aquisição, não havendo assim, decreto de desapropriação nem processo que tenha tramitado na justiça, pois a venda e os valores foram a acertados de comum acordo. Porém, para os movimentos sociais esta forma de destinação da terra para fins de assentamento vai contra a proposta de reforma agrária já que, para o movimento a desapropriação deve ser feita sem o pagamento da mesma, visto que muitas vezes essas áreas se encontram em situações irregulares (latifúndio, escravidão, grilagem, entre outros). Segundo Roos (2007), essa forma de desapropriação por meio de aquisição não visa derrubar a estrutura agrária existente, mas sim, está a favor dos latifundiários e grileiros na medida em que transfere para as mãos destes a renda da terra. Considerações Finais No decorrer da presente pesquisa foi possível entender como as famílias assentadas desenvolveram e desenvolvem varias arranjos agrícolas, para a transformação e a continuação em um assentamento rural. No entanto apesar de muitos desafios vencidos muitos ainda virão. Neste sentido, é fundamental rever por parte do Estado a situação dos assentados, principalmente aqueles que conseguiram o seu lote de forma irregular. Que a reforma agrária não tenha somente por base o desenvolvimento territorial, oferecendo ao sem terra somente um pedaço de terra, mas, também condições de permanência, de inclusão econômica, cultural e social, a todos os sujeitos, tanto os que vieram com a ocupação ou os que chegaram depois. Referências

BUAINAIN, Antonio, M.; ROMERO, Ademar R.; GUANZIROLI, Carlos. Agricultura Familiar e o Novo Mundo Rural. Sociologias, Porto Alegre. Ano 5, n 10, jul/dez 2003, p. 312-347. Disponível em: <http://www.incra.gov.br/fao>. Acesso em: 23 mai 2011. BURT, Fernanda; CORREA, Walquiria Kruguer. Assentamento elemento de reconfiguração territorial de um movimento social. Revista Discente Expressões Geográficas. Florianópolis SC, n. 02, p. 24-37, jun/2006. Disponível em: <www.cfh.ufsc.br/~expgeograficas>. Acesso em: 24 abr 2011. CARDOSO, Lucimeire de Fátima. Assentamentos rurais: desafios de conquistas e permanência na terra do P. A. Fazenda Nova Tangará, Uberlândia (MG). Universidade Federal de Uberlândia, 2009. SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO RURAL. Política social e Desenvolvimento. IPEA Políticas Sociais: acompanhamento e análise. Edição especial. Disponível em: <www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/.../bps.../politicasocial.pdf>. Acesso em: 02 jul 2011. ROOS, Djoni. Lutas camponesas e diferentes atividades associativas nos assentamentos dos Sem-terra. Revista NERA, ano 02, n. 14, p. 97-111, jan/jun, 2009, Presidente Prudente, SP. Disponível em: <www4.fct.unesp.br/nera/ revistas/14/11_roos.pdf>. Acesso em: 01 ago 2011. WANDERLEY, Maria Nazaret. Agricultura familiar e uso do solo. Revista Scielo: São Paulo em Perceptivas, Abr/jun, 1996 vol. 02, pág. 73/78. Disponível em: <www.abramovay.pro.br/artigos_cientificos/.../agricultura_familiar.p.> Acesso em: 04 ago 2011,