Relatório do projecto SIEFI. A situação da inovação nas empresas do Norte de Portugal



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Transcrição:

Relatório do projecto SIEFI A situação da inovação nas empresas do Norte de Portugal

1. A IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO NA ECONOMIA GLOBALIZADA...2 2. O QUE SE ENTENDE POR I+D+I: DEFINIÇÕES BÁSICAS...5 3. DADOS SOBRE A SITUAÇÃO DA INOVAÇÃO E A UTILIZAÇÃO DAS TICS EM ESPANHA E PORTUGAL...8 4. MODELO PROPOSTO PARA O ESTUDO DA INOVAÇÃO NAS EMPRESAS DA GALIZA E DO NORTE DE PORTUGAL...12 4.1. O PAPEL DOS MODELOS DE INOVAÇÃO... 12 4.1.1. O modelo linear... 13 4.1.2. O modelo de ligações em cadeia... 14 4.2. MODELO PROPOSTO PARA O ESTUDO DA INOVAÇÃO NAS EMPRESAS NO ÂMBITO DO PROJECTO SIEFI 14 4.2.2. Indicadores propostos para realizar o trabalho de campo a partir do modelo de inovação.. 23 5. A SITUAÇÃO DA INOVAÇÃO NAS EMPRESAS DO NORTE DE PORTUGAL 30 5.1. METODOLOGIA UTILIZADA NO TRABALHO DE CAMPO... 30 5.2. CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS INCLUÍDAS NO TRABALHO DE CAMPO... 31 5.2.1. Dados sobre a dimensão das empresas... 31 5.2.2. Dados sobre a Gestão da Qualidade nas empresas... 32 5.3. O CONTEXTO E AS ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS DAS EMPRESAS... 32 5.3.1. As forças competitivas do sector... 32 5.3.2. Caracterização do mercado de fornecedores... 33 5.3.3. Caracterização do mercado de clientes... 34 5.3.4. A estratégia competitiva das empresas... 35 5.4. A SITUAÇÃO DA INOVAÇÃO NAS EMPRESAS DO NORTE DE PORTUGAL... 36 5.4.1. Percentagem de empresas classificadas como inovadoras... 36 5.4.2. Análise da incidência do contexto na inovação... 36 5.4.3. As empresas não inovadoras... 37 5.4.4. As empresas inovadoras... 40 5.4.5. Resumo e conclusões do estudo... 51 6. ANEXO I MODELO DO INQUÉRITO...58 7. BIBLIOGRAFIA...67 Página 1

1. A IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO NA ECONOMIA GLOBALIZADA A Nova Economia, a Sociedade de Informação, a Era Digital, a Economia em Rede, etc., são termos que desde há uns anos para cá aparecem constantemente nos meios de comunicação. A sociedade está a transformar-se a uma velocidade vertiginosa e as mudanças nas relações económicas e sociais traduzem-se em novos modelos de negócio e em novas formas de competir. A globalização da economia, o desaparecimento de barreiras no comércio, a queda dos velhos monopólios e a intensificação da concorrência a nível internacional estão a facilitar o acesso a novos mercados. Neste novo cenário da Sociedade de Informação e do Conhecimento, os mercados são muito mais ágeis e transparentes. Além disso, os clientes estão muito mais informados e são consideravelmente mais exigentes, solicitando todo o tipo de informação sobre a empresa e os seus produtos, exigindo soluções totalmente personalizadas e adaptadas às suas necessidades. O ritmo de mudança acelerou de forma dramática: os ciclos de vida dos produtos reduzemse notavelmente, a evolução dos negócios está a produzir-se a passos largos e a economia reage em tempo real às notícias e aos eventos, em mercados globalizados que operam de forma ininterrupta. Além disso, os novos meios digitais interactivos, como a Internet, permitem estabelecer uma comunicação directa entre as empresas e os seus clientes, a partir de qualquer lugar no mundo e em qualquer momento, oferecendo desta forma um serviço ininterrupto e de alcance global. No mundo actual ser líder de um sector não garante o êxito da empresa no futuro, uma vez que só sobrevivem aquelas organizações que assumem o desafio de reinventar-se constantemente. Na realidade, muitas empresas acabam presas pelo êxito dos seus próprios produtos: aqui sempre fizemos o mesmo, não sentimos necessidade de mudar.... É possível citar muitos casos de empresas de grande sucesso nos seus respectivos sectores de actividade, chegando mesmos a inventar o seu próprio sector com o lançamento de um novo produto ou serviço e que, contudo, vários anos depois ficaram relegadas a um segundo plano por empresas novas, que foram muito mais ágeis na altura de aproveitar as mudanças do meio envolvente e as novas possibilidades oferecidas por meios digitais, como a Internet. Assim, podíamos dar como exemplo o caso da indústria informática, onde uma nova empresa, a Dell, revolucionou o modelo de negócio e de relação com o cliente graças à venda directa e personalizada através da Internet, retirando, em poucos anos, empresas líderes como a IBM (que impulsionou este sector com o lançamento do IBM PC, em 1981) ou a HP-COMPAQ. Da mesma forma, motores de pesquisa como o Google estão a substituir as próprias enciclopédias e outros tradicionais meios de informação impressos, devido à grande quantidade e qualidade das suas ligações a todo o tipo de recursos na Internet. Na verdade, a Google é a empresa de maior revalorização em bolsa nos Estados Unidos nestes últimos anos, convertendo-se no início de Junho de 2005 na empresa mediática de maior valor em bolsa do mundo, depois de triplicar a sua cotização em menos de um ano. Página 2

Em apenas 10 anos, a Internet e as novas tecnologias da informação contribuíram para o desenvolvimento dos mercados globais e hiper-competitivos, caracterizados por um aumento drástico da oferta e dos agentes concorrentes, por uma maior transparência em relação aos preços e características dos produtos, por um âmbito de actuação global que não conhece fronteiras nem restrições horárias (funcionamento 24H-365D) e pela redução drástica dos custos de transição e intercâmbio de informação entre os participantes. Por tudo isto, Michael Porter assinalava num artigo de Março de 2001 que a estratégia tem hoje mais importância que nunca, num contexto hiper-competitivo: o objectivo final de uma estratégia é conseguir ser diferente dos demais. Criar valor para os agentes, em especial para os clientes, de maneira a que a oferta da empresa seja melhor e, se possível, única no mercado em que compete. Assim, por exemplo, Porter cita o exemplo da empresa Wal Mart, líder do sector de distribuição nos Estados Unidos. O modelo de negócio de Wal Mart é idêntico ao de outros centros comerciais: dispor de uma grande variedade de produtos a bons preços. Mas a sua estratégia foi historicamente única: abrir lojas em vilas ou cidades em que outras cadeias não se instalariam. As organizações ágeis e flexíveis são as que triunfam neste cenário: na era da Internet, o peixe grande já não come o peixe pequeno; é o peixe rápido que come o peixe lento ( speed kills ). Já não basta a redução de custos e a qualidade, aliadas à optimização da gestão e da produção. Tudo se pode copiar rapidamente e tende-se a uma comoditização dos produtos e serviços. Por isso, a destruição criativa proposta por Schumpeter, a reinvenção constante do modelo de negócio, tem uma maior importância. Na Sociedade Industrial, as barreiras de entrada num sector conseguiam implementar-se mediante a posse de determinados meios físicos (a rede telefónica que pertencia a um único operador), as economias de escala (para fabricar determinados produtos eram necessárias instalações industriais enormes), a curva de experiência, as relações com os fornecedores ou distribuidores, etc. Contudo, na Sociedade de Informação, as barreiras são de ordem mais intangível, uma vez que aparecem como propriedade intelectual ou know-how. Não é tanto o tamanho que importa, mas sim a flexibilidade e a agilidade. Na verdade, segundo Alvin Toffler, as economias de velocidade estão a substituir as economias de escala. Assim, a empresa Sun Microsystems estima que 20% do conhecimento que se gera na empresa fica desactualizado em menos de um ano. Por sua vez, a Hewlett-Packard destaca que a maior parte dos seus lucros procede de produtos que não existiam há apenas um ano atrás. Por outro lado, em 1996, a multinacional Sony colocou no mercado nada menos que 5000 produtos novos, mais de dois produtos por cada hora de trabalho. Também poderíamos citar o caso da multinacional 3M, que corporativamente pretende que cada uma das suas divisões seja capaz de gerar 30% das suas vendas graças a produtos ou serviços introduzidos no mercado há apenas quatro anos. As empresas necessitam de competir e, ao mesmo tempo, cooperar com outras empresas, surgindo o fenómeno que alguns chamam de coopetição, pelo que é necessário prestar uma especial atenção ao desenvolvimento de alianças estratégicas e aos novos modelos de criação de valor baseados na colaboração e o intercâmbio de informação entre empresas. Assim, alguns autores propõem a utilização do termo redes de valor em substituição da tradicional cadeia de valor. A partir da análise de quais são ou poderiam ser as capacidades nucleares de uma organização (as core competences, segundo Gary Hammel), assim como as necessidades que se Página 3

pretendem satisfazer nos seus potenciais clientes, as empresas de hoje em dia devem desenvolver a sua proposta de valor, materializada numa carteira de produtos e serviços. Muitas empresas optaram pela subcontratação das suas actividades que não constituem a essência ou o núcleo do seu negócio, gerando uma forte dependência de fornecedores especializados no desenvolvimento de produtos e actividades complementares. Portanto, as empresas deveriam evoluir face a modelos organizativos mais planos e flexíveis, para dispor de uma maior capacidade de adaptação às mudanças, de inovar e de oferecer uma resposta ágil e adequada às necessidades dos clientes. A redução dos custos de coordenação internos veio facilitar o acesso à informação e o seguimento e controlo centralizado de todas as actividades realizadas no seio de uma organização, ainda que esta trabalhe com um grande nível de dispersão, graças à eliminação de barreiras físicas e temporais. Podemos concluir assim, em definitivo, que na Sociedade de Informação e do Conhecimento a inovação permanente se converte na única fonte de vantagem competitiva. O meio envolvente tornou-se muito mais exigente, incerto e em constante mudança, pelo que as organizações devem desenvolver a sua capacidade para aprender e adaptar-se aos novos modelos de negócio. Neste meio em constante mudança, a capacidade para identificar rapidamente novos mercados e novas necessidades para satisfazer transforma-se numa vantagem competitiva mais importante que o tamanho ou a história de uma organização. Efectivamente, estes dois factores poderiam supor um travão à inovação e a adaptação à mudança numa organização. Página 4

2. O QUE SE ENTENDE POR I+D+I: DEFINIÇÕES BÁSICAS Quando, no geral, nos referimos às actividades de I+D+i, devemos partir das definições propostas pelos distintos organismos que a nível internacional constituem as principais referências através das suas publicações, como pode ser a própria OCDE através do Manual de Frascati (no caso da Investigação e Desenvolvimento) e, mais recentemente, do Manual de Oslo (no caso da Inovação Tecnológica), assim como as definições recolhidas nas normas aprovadas para a certificação das próprias actividades de I+D+i (norma UNE 166000:2000 EX). Assim, num primeiro nível, pode distinguir-se entre a Investigação Fundamental ou Básica, a Investigação Aplicada, o Desenvolvimento e os diferentes tipos de Inovação, tal como se reflecte na seguinte figura: Investigação - Fundamental ou básica - Industrial ou aplicada Desenvolvimento - Aplicação dos resultados da investigação - De produtos Inovação - De processos - De gestão - De negócio Figura 1: As actividades de I+D+i A Investigação Fundamental ou Básica consiste em trabalhos experimentais ou teóricos que são desenvolvidos principalmente para obter novos conhecimentos acerca dos fundamentos dos fenómenos e feitos observáveis, sem pensar em dar-lhes nenhuma aplicação ou utilização determinada. O seu propósito é, portanto, adquirir e ampliar os conhecimentos gerais científicos e técnicos, tendo como base de partida os conhecimentos, técnicas e tecnologias existentes e os novos. O resultado da investigação básica é a geração de novos conhecimentos gerais científicos e técnicos não vinculados directamente com produtos ou processos industriais. Por sua vez, a Investigação Industrial ou Aplicada consiste também na realização de trabalhos originais para adquirir novos conhecimentos. No entanto, neste caso, a investigação está dirigida fundamentalmente para um objectivo prático específico, como pode ser a resolução de um Página 5

determinado problema no âmbito industrial. O resultado que se pretende alcançar com a Investigação Aplicada é o de explorar os novos conhecimentos no desenvolvimento de novos produtos ou processos, ou suscitar melhorias importantes em produtos ou processos existentes. O Desenvolvimento consiste na realização de trabalhos sistemáticos que aproveitam os conhecimentos existentes obtidos a partir da investigação e/ou experiência prática e que se dirige à produção de novos materiais, produtos ou dispositivos; colocar em marcha novos processos, sistemas e serviços ou a melhoria substancial dos já existentes. Estas actividades incluem a materialização do resultado da investigação em protótipos não comercializáveis e projectos de demonstração inicial ou piloto, sempre que não se convertam ou utilizem em aplicações ou para a sua exploração comercial. É importante salientar que a I+D engloba tanto a I+D formal realizada nos departamentos de I+D, como a I+D informal ou ocasional realizada noutros departamentos de uma empresa ou organização. No que se refere à Inovação, devemos ter em conta que têm sido propostas várias definições. Assim, de acordo com Enquisa de Innovación Tecnolóxica (Inquérito de Inovação Tecnológica) do INE Instituto Nacional de Estatística (uma das referências nesta área em Espanha), uma empresa pode ser qualificada como inovadora se realizar alguma das seguintes actividades: I+D. Design. Equipa e engenharia. Lançamento da fabricação. Comercialização de novos produtos. Aquisição de tecnologias materiais e imateriais (patentes, licenças, etc.). Também, segundo o inquérito do INE, podem ser distinguidos os seguintes tipos de inovação: Inovação de produtos (bens ou serviços): Introdução no mercado de bens ou serviços novos ou melhorados de maneira significativa, pelo que diz respeito a características básicas, especificações técnicas, software incorporado ou outros componentes intangíveis. Inovação do processo: Implementação de processos de produção, métodos de distribuição ou actividades de apoio aos bens e serviços que sejam novos métodos ou que contribuam para uma melhoria significativa. Inovação organizativa: Aplicação de modificações novas ou significativas na estrutura da empresa ou nos métodos de gestão, destinadas a melhorar os conhecimentos, a qualidade dos seus bens e serviços, assim como a eficiência do fluxo de trabalho por parte da empresa. Página 6

Inovação na comercialização: Aplicação de modelos ou métodos de venda novos ou melhorados de forma significativa, destinados a aumentar o atractivo dos seus bens e serviços ou a penetrar em novos mercados. Página 7

3. DADOS SOBRE A SITUAÇÃO DA INOVAÇÃO E A UTILIZAÇÃO DAS TICS EM ESPANHA E PORTUGAL Vários estudos publicados recentemente demonstraram uma série de dados preocupantes sobre os gastos em I+D+i, o nível de investimento em TICs, a formação do Capital Humano, assim como o impacto de todos estes factores na competitividade das nossas empresas e em relação com as do resto da União Europeia: A Espanha estava situada no 29º lugar da classificação no que se refere à utilização das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) no mundo, segundo o Relatório Global sobre Tecnologia de Informação publicado no início de Março de 2005 pelo Fórum Económico Mundial, no qual foram analisados 104 países do mundo. A Espanha baixou vários lugares nesta classificação desde 2002, na altura situava-se na 25ª posição. Este ranking contempla também diferentes dados relativos ao ano de 2004, como a disponibilidade de especialistas científicos e engenheiros, em que a Espanha ocupa a 40ª posição; sofisticação dos mercados financeiros, 27ª posição; sofisticação tecnológica, 33ª posição; colaboração entre universidades e indústria, 33ª posição, ou legislação relativa às TICs, 39ª posição; etc. o o Na edição do mesmo relatório apresentada em Março de 2006, a Espanha caiu duas posições, passando para o 31º lugar da classificação do Fórum Económico Mundial. Os diversos planos impulsionados pelo governo, como o Info XXI ou Avanza não foram capazes de dar o impulso necessário à Espanha, de forma a que esta não perdesse competitividade tecnológica a nível internacional. No relatório apresentado em Março de 2007, a Espanha caiu para o 32º lugar, no ranking do Fórum Económico Mundial, de um total de 122 economias analisadas no âmbito desse relatório. Desta forma, a Espanha desceu sete posições nesta classificação, desde 2002, encontrava-se no 25º lugar, e durante 2003 e 2004 ficou no 29º, passando em 2005 para o 31º lugar. Por outro lado, e segundo dados do mesmo Relatório Global sobre Tecnologia de Informação do Fórum Económico Mundial, Portugal obtém uma pontuação melhor que a Espanha, mantendo-se no 28º lugar no ranking global de 2007. No entanto, este dado também representa uma descida para Portugal, do 27º lugar, que tinha alcançado nos rankings de 2006 e 2005. No início de Março de 2005, a associação que reúne as empresas tecnológicas europeias, foi muito clara ao afirmar num dos seus relatórios, que os objectivos da Cimeira de Lisboa (que a União Europeia se convertesse na zona económica com base na Sociedade do Conhecimento mais dinâmica do mundo, em 2010) não se poderiam cumprir devido ao escasso investimento em TICs. A organização estimava no seu estudo que o investimento da Europa dos quinze (agora dos vinte e sete) se encontrava nesse momento em níveis que os Estados Unidos se encontravam há 20 anos atrás, considerando que se não se produzirem mudanças nas políticas para o sector, a produtividade manter-se-á abaixo dos Estados Unidos e até de alguns países asiáticos. Efectivamente, o investimento europeu em novas tecnologias per capita foi de 24400 euros, em 2003, enquanto que nos Estados Unidos alcançou os 33000 euros. Para além disso, o relatório sublinha que as TICs contribuíram 42% para o crescimento da Página 8

produtividade laboral, entre 1996 e 2000, na União Europeia dos quinze, em contraste com os 80% no caso da economia dos Estados Unidos. Por sua vez, no início de Janeiro de 2005, o Banco de Espanha alertava sobre o deficit tecnológico e educativo do Estado Espanhol, destacando que o hiato relativo à União Europeia continuava a ser excessivo nos dois factores decisivos para a produtividade: investimento em capital humano e tecnológico. Segundo os dados do relatório, na educação a Espanha aproximava-se da média da Europa, pelo decréscimo de população, mas ainda estava a gastar menos em percentagem do PIB. No investimento na tecnologia, apesar dos grandes avanços dos últimos cinco anos, a Espanha nem sequer alcançava 50% da média comunitária. Em finais de 2004, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística de Espanha, a economia espanhola encontrava-se nas últimas posições da União Europeia no caso do investimento em I+D, educação secundária e formação dos trabalhadores. Mesmo assim, a produtividade laboral por hora em Espanha encontra-se 16 pontos abaixo da média da antiga Europa dos quinze. Se se tiver em conta a importância para a produtividade de factores como o investimento em I+D ou a educação, o panorama não era muito optimista, segundo este relatório do INE: no que diz respeito ao investimento em I+D, a Espanha ocupava a 16ª posição entre os 25 países membros da União Europeia, apesar de em 2002 ter superado pela primeira 1% do PIB. Acima da Espanha, encontram-se países teoricamente mais pobres, como é o caso da Eslovénia ou da República Checa. Em Maio de 2005, um estudo sobre a economia espanhola realizado pelo IESE (Instituto de Estudios Superiores de la Empresa), demonstrava a perda de competitividade da economia espanhola, que se encontra em grande desvantagem face à média dos países europeus mais desenvolvidos, tanto no que se refere aos preços como aos custos laborais unitários. Desde 1998, a perda acumulada de competitividade em relação aos países da zona euro é de 12,5%. Em comparação com os principais países desenvolvidos, a Espanha ainda está em maior desvantagem, uma vez que o número se eleva para 13,2%. A evolução da produtividade não prevê um diagnóstico mais positivo, já que mostra um hiato com os principais países desenvolvidos que também ameaça o crescimento futuro. O aumento de apenas 0,6% desta variável em Espanha, em 2004 (duas décimas menos que um ano antes e muito aquém das taxas em quase 3 pontos do que há uma década), difere dos elevados aumentos das grandes economias mundiais: os Estados Unidos prevêem um avanço de 4,1%; o Japão, 3,3%; o Reino Unido, 2,5% e o conjunto dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (*OCDE), 2,8%, mais de dois pontos acima do registo espanhol. Em 2004, a Espanha contava com 18 computadores por cada 100 habitantes, esta capacidade situava-se abaixo de quase todos os países da Europa Ocidental, a qual é insuficiente numa comparação internacional e em relação à importância que corresponde à economia espanhola dentro da União Europeia, segundo um relatório do Instituto de Estudos Económicos. O país com mais computadores pessoais por cada 100 habitantes era os Estados Unidos, com 80 computadores, seguidos por três países nórdicos (Dinamarca, Noruega e Suécia), com valores a rondar os 59 computadores por 100 habitantes. A Suíça contabilizava 51, enquanto que os Países Baixos e o Japão 48 e 44, respectivamente. Neste ranking aparecem também a Finlândia, com 43 Página 9

computadores por cada 100 habitantes, e a Grã-Bretanha, com 42, enquanto que a Alemanha tem 39. A média da Europa Ocidental situa-se nos 34 computadores por cada 100 habitantes, menos de metade do que os Estados Unidos. Países como a Áustria, a Irlanda e a França encontram-se também nessa média, mas Portugal e Espanha situamse bastante abaixo, com 18 computadores por cada 100 habitantes, tendo a Grécia a pior média da Europa Ocidental, com 12. Segundo os dados do relatório Sociedade de Informação em Portugal 2006, do Instituto Nacional de Estatística de Portugal, em Portugal, 42% dos cidadãos, entre os 16 e os 74 anos utilizava o computador, em contraste com 54% dos cidadãos espanhóis e os 61 % da média da União Europeia. Mesmo assim, em Portugal, 45% dos utilizadores tinham ligação à Internet, em contraste com os 57% dos utilizadores espanhóis e os 62% da média da União Europeia. No que se refere à percentagem de população utilizadora da Internet, em Portugal, este dado situava-se em 36% da população (cidadãos entre os 16 e os 74 anos) em 2006, em relação a 48% da população espanhola e 54 % da média de todos os Estados da União Europeia. Os dados do desenvolvimento do comércio electrónico reflectem novamente o atraso da Espanha e de Portugal. Assim, de acordo com os resultados dos inquéritos do EUROSTAT, no ano 2006 só 5% da população portuguesa utilizava o comércio electrónico, em contraste com 10% da população espanhola e 21% da média de toda a União Europeia. Segundo este mesmo organismo, a percentagem de empresas portuguesas com ligação à Internet era de 81%, em contraste com os 90% de empresas em Espanha e 91% na União Europeia. Este dado é agravado sensivelmente se considerarmos a presença das empresas na Internet: em 2006, só 43% das empresas espanholas e o 37% das empresas portuguesas tinham representação através de páginas Web, em relação a uma média de 61% no conjunto da União Europeia. Segundo o relatório COTEC 2006, as empresas espanholas estavam a investir metade em I+D que a média europeia, pelo que ainda se mantinha um hiato importante neste terreno face aos países mais avançados na União Europeia e da OCDE. Dados do Eurostat de 2005 confirmavam esta situação preocupante para Espanha e Portugal: assim, a Espanha estava a destinar 1,12% do PIB aos gastos em I+D, enquanto que o valor de Portugal ainda era inferior, 0,81% do PIB, face a 1,85% de média da Europa dos vinte e cinco. Em Julho de 2006, a Espanha encontrava-se em terceiro lugar no investimento em Tecnologias de Informação na União Europeia, segundo dados publicados pela AETIC e pelo Ministério da Indústria. Em Julho de 2006, dava-se também a conhecer o facto de que a Espanha perdera cerca de 10% da sua quota exportadora num só ano, devido fundamentalmente ao aparecimento de novos concorrentes e à perda de competitividade da economia espanhola. Posteriormente, em Março de 2007, o Fundo Monetário Internacional alertava novamente para a perda de competitividade da economia espanhola, o que constituía uma séria ameaça, pois poderia alastrar-se ao crescimento futuro da oitava potência económica do mundo. Página 10

Em Maio de 2007, um inquérito do CIS (Centro de Investigações Sociológicas) dava a conhecer que 70% das PMEs espanholas reconheciam que a inovação não fazia parte da sua estratégia actual. Também em Maio de 2007, a revista The Economist dava a conhecer os últimos dados de um estudo que estava a realizar há sete anos para descobrir quais eram os países mais inovadores do mundo, analisando quase 100 parâmetros qualitativos e quantitativos. Este ano, a Espanha aparece no 26º lugar e Portugal no 27º num total de 69 países, pelo que estes dois países caíram algumas posições em relação à classificação anterior. O ranking da e-preparação (no qual também participa a IBM) estuda o estado das infra-estruturas das tecnologias de informação num país, a sua utilização por parte de particulares, empresas e governos, e o grau de empenho destes no desenvolvimento dessas tecnologias. Portanto, à vista de todos os dados que foram citados nos parágrafos anteriores, podemos concluir que na situação actual, a maioria das empresas espanholas e portuguesas dedicam muito poucos recursos à inovação, à utilização das TICs e à gestão da mudança organizativa. O desconhecimento das novas ferramentas tecnológicas e a falta de sensibilização e de uma formação adequada também contribuem, em grande medida, para esta situação. Página 11

4. MODELO PROPOSTO PARA O ESTUDO DA INOVAÇÃO NAS EMPRESAS DA GALIZA E DO NORTE DE PORTUGAL 4.1. O papel dos modelos de inovação Os modelos de inovação surgem com o propósito de facilitar o estudo dos diferentes aspectos relacionados com a inovação nas organizações, com o objectivo de identificar quais são os factores mais importantes que podem contribuir para a inovação ou, pelo contrário, constituir um obstáculo. Na seguinte figura é representada, de forma esquemática, uma proposta sobre quais poderiam ser as várias etapas que constituem o processo de inovação numa organização: Estudo contexto Vigilância tecnológica Vigilância comercial Vigilância competitiva Prospectiva tecnológica Ideias Selecção e valorização de ideias Projectos I+D+i Optimização de geração de ideias Criatividade Patente Modelo de utilidade Design industrial Propriedade industrial ou intelectual Inovação Produto processo Trabalho em rede Consulta linhas de Financiamento Consulta oferta tecnológica Seguimento periódico Fonte: Guia de I+D+I (COETICOR) Melhoria contínua Identificação factores fracasso Figura 2: O processo de inovação Fonte: Guia de I+D+I (COETICOR) No entanto, podemos assinalar uma série de problemas que deve ser tida em conta ao identificar as diferentes actividades relacionadas com a inovação: O processo de inovação tem limites temporais difusos. A existência de diversas perspectivas ocultas. A inovação ocorre sempre num contexto concreto. A interacção desconhecida entre diversas variáveis. Página 12

A influência das pessoas e os seus planeamentos ideológicos. Os limites geográficos difusos, com a impossibilidade de isolamento do resto do mundo. Por este motivo, nestes últimos anos surgiram diversas propostas de modelos para explicar o processo de inovação. Modelos que são descritos de forma sucinta nos pontos seguintes. 4.1.1. O MODELO LINEAR De acordo com este modelo, a investigação é o motor e a origem da inovação. O modelo sugere que um mesmo processo de investigação e desenvolvimento pode dar origem a uma multitude de processos de inovação posteriores. Alguns deles podem ter êxito, mas outros não. Além disso, o modelo linear implica que o processo inovador deriva necessariamente de uma actividade de I+D directamente ligada. Na figura seguinte, é apresentado o esquema proposto por este modelo de inovação: I+D +i Investigação e Desenvolvimento Invenção 1 Inovação Difusão Conhecimentos científicos Conhecimentos tecnológicos Engenharia práctica Invenção 2 Inovação Invenção 3 Inovação Difusão Figura 3: Modelo linear (Fonte: Fundação COTEC) Podem salientar-se algumas deficiências apresentadas por este modelo linear: Este modelo considera o processo de inovação como uma sucessão de várias etapas. O modelo linear dá demasiada importância à I+D como desencadeador do processo. Não representa a realidade económica: numerosas empresas inovam com sucesso, com relativamente poucos recursos em I+D. Portanto, trata-se de um modelo que oferece uma visão demasiado simplista da realidade do processo de inovação, o que levou posteriormente ao surgimento de outros modelos mais completos e que têm em atenção outro tipo de inter-relações. Página 13

4.1.2. O MODELO DE LIGAÇÕES EM CADEIA Neste modelo a inovação é considerada como um conjunto de actividades relacionadas umas com as outras e com resultados finais que são frequentemente incertos. Devido a esta incerteza nos resultados não é possível atingir uma progressão linear. De acordo com este modelo, a I+D não é uma fonte de invenções, mas sim uma ferramenta que se utiliza para resolver os problemas que aparecem em qualquer uma das fases do processo. INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO CORPO DE CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS FICOS-TÉCNICOS CNICOS EXISTENTES MERCADO POTENCIAL Viabilidade Técnica Económica Selecção de ideias Projectos INVENÇÃO E/OU DESIGN ANALÍTICO DESIGN DETALHADO E PROVA REDESIGN E PRODUÇÃO COMERCIALIZAÇÃO PRODUTOS PROCESSOS Figura 4: Modelo de ligações em cadeia (Fonte: Fundação COTEC) Seguindo o esquema deste modelo, a empresa dispõe de uma base de conhecimentos à qual recorre para resolver os problemas que lhe surgem ao inovar. Por sua vez, a investigação aborda os problemas que não podem ser resolvidos com os conhecimentos existentes, ampliando, assim, a base de conhecimentos. Este modelo promove uma cultura de inovação em toda a empresa. Os incentivos para o quadro estão também em função da sua criatividade e a sua capacidade de aprender coisas novas. 4.2. Modelo proposto para o estudo da inovação nas empresas no âmbito do projecto SIEFI O modelo que é descrito a seguir pretende analisar a inter-relação de uma série de factores e em que medida esta pode contribuir para a inovação nas organizações empresariais. Os objectivos que se pretendem seguir com a definição deste modelo são os seguintes: Dispor de um ponto de referência que facilite a análise dos distintos factores que são necessários ter em conta para estudar a inovação empresarial. Página 14

Facilitar a identificação dos principais elementos que constituem um obstáculo para a inovação nas empresas da Euro-região Galiza-Norte de Portugal. Estabelecer um conjunto de indicadores e medidas para a catalogação e medição da actividade inovadora. Facilitar a catalogação por sectores das actividades inovadoras. Dispor de um quadro conceptual para orientar os distintos trabalhos de campo e servir de referência para o desenvolvimento do sistema de informação de SIEFI. Constituir um ponto de referência para facilitar o planeamento e seguimento das acções empreendidas pelas Administrações Públicas relacionadas com o fomento das actividades inovadoras. 4.2.1. ESTRUTURA DO MODELO DE INOVAÇÃO DE SIEFI O modelo de inovação de SIEFI estrutura-se em seis grandes grupos de factores, que são enumerados em seguida: Análise do meio envolvente em que se desenvolve a actividade da empresa. Orientação da empresa face à inovação (aspectos relacionados com a liderança e a cultura, assim como com os obstáculos e os principais motivadores da inovação). Classificação das actividades realizadas pelas empresas inovadoras. Análise dos recursos com que a empresa conta como apoio à inovação. Medição do esforço inovador. Resultados alcançados graças à inovação. Nas páginas seguintes será efectuada uma descrição mais detalhada de cada um destes grupos de factores, indicando quais são os principais indicadores que se incluem dentro de cada grupo para facilitar os estudos posteriores sobre a inovação. 4.2.1.1. Análise do meio envolvente O meio envolvente representa um factor de grande importância, já que condiciona muitas das actividades empresariais. Efectivamente, para muitos autores, o Sistema Nacional de Inovação está condicionado na sua maior parte pelas condições do meio envolvente que podem favorecer ou, pelo contrário, criar obstáculos, ao desenvolvimento dos processos de inovação. Página 15

Neste modelo, o estudo do papel do meio envolvente na relação com a inovação articula-se nos seguintes factores objecto de análise: 1. Apoio proporcionado pelas Administrações Públicas (ajudas e subvenções, fiscalidade, participação em iniciativas, etc.). 2. Acesso a fontes de informação sobre I+D+i. 3. Disponibilidade de centros de investigação, laboratórios e outros centros de apoio ao I+D+i. 4. Existência de uma rede empresarial e de outros agentes relacionados que possam proporcionar a colaboração em matéria de inovação. 5. Existência de formação especializada no meio envolvente. 6. Disponibilidade de pessoal investigador: é possível encontrar e contratar investigadores e técnicos à medida das necessidades da empresa? Página 16

4.2.1.2. Orientação da empresa face à inovação As empresas só irão comprometer recursos técnicos, humanos e económicos suficientes para as actividades relacionadas com a inovação se considerarem realmente que a inovação é de importância vital para garantir o seu futuro num mercado cada vez mais globalizado e competitivo. Por este motivo, deve ser estudada a orientação da empresa face à inovação, incidindo em aspectos como a importância concedida pela gerência e o papel da liderança, ou a valorização da cultura organizativa nos aspectos relacionados com a inovação. Mesmo assim, deve analisar-se quais podem ser os estímulos e os obstáculos para a inovação. Portanto, neste modelo, o estudo dos aspectos relacionados com a orientação da empresa face à inovação é articulado nos seguintes factores objecto de análise: 1. Importância concedida pela gerência à inovação e o papel da liderança. 2. Valorização da inovação na cultura da empresa e no clima organizativo. 3. Motivadores da inovação: exigência dos clientes e/ou do mercado, ameaça de nova concorrência, procura da diversificação da actividade (novos mercados e/ou novos negócios), aproveitamento dos recursos internos, etc. 4. Obstáculos à inovação: falta de recursos económicos/financiamento, falta de recursos tecnológicos adequados, falta de pessoal qualificado, resistência à mudança na organização, falta de informação/desconhecimento sobre a tecnologia disponível, falta de informação/desconhecimento sobre as necessidades do mercado, falta de apoio institucional suficiente e do meio envolvente, elevado custo das actividades requeridas, o risco é considerado excessivo para a empresa, etc. Página 17

4.2.1.3. Actividades realizadas pelas empresas inovadoras Um dos aspectos mais relevantes para compreender melhor o desenvolvimento da inovação nas empresas é o estudo das distintas actividades que poderiam ser tipificadas como de inovadoras, e que permitiriam classificar posteriormente as empresas em função desta relação de actividades em diferentes níveis de compromisso com a inovação. Por isso, neste modelo, o estudo das actividades relacionadas com a inovação encontra-se articulado na seguinte lista de factores: 1. Nível de planeamento e gestão da inovação na empresa. 2. Análise do meio envolvente e do mercado: implementação de um sistema de vigilância tecnológica; implementação de um sistema de inteligência competitiva; actividades relacionadas com a investigação de mercados. 3. Preparação do pessoal da organização para a inovação: contratação de pessoal especializado; acções de formação relacionadas com a inovação; acções de sensibilização e de motivação do pessoal para conseguir um maior empenho e orientação face à inovação. 4. Geração de conhecimento: aquisição de conhecimentos externos; actividades de I+D realizadas dentro da empresa; actividades de I+D subcontratadas a terceiros. 5. Gestão do conhecimento: implementação de um sistema para capturar, organizar e distribuir o conhecimento dentro da organização; mudanças organizativas para impulsionar a gestão do conhecimento. 6. Preparação para a exploração dos resultados: aquisição de bens de equipamento; preparativos para a produção e/ou distribuição de novos produtos. 7. Preparação para a comercialização: análise da viabilidade económica, técnica e/ou comercial de novos produtos/serviços; introdução no mercado de produtos/serviços novos ou sensivelmente melhorados. 8. Protecção e exploração dos resultados: registo de patentes e modelos de utilidade; transferência de tecnologia a terceiros. Página 18

8. Protecção e exploração de resultados Registo patentes e modelos de utilidade Transferência de tecnologia Licenças e royalties 7. Preparação para a comercialização Análise da viabilidade Introdução das inovações no mercado 6. Preparação para a exploração dos resultados Aquisição bens de equipamento Design e outros preparativos para produção e/ou distribuição 1. Planeamento e gestão da inovação Estabelecimento linhas de trabalho prioritárias rias Gestão de projectos I+D+i Actividades das Empresas Inovadoras 5. Gestão do Conhecimento Capturar, organizar e partilhar o conhecimento 2. Análise do meio e do mercado Vigilância tecnológica Inteligência competitiva Investigação de mercados 3. Preparação do pessoal Captação de pessoal espec. Actividades de formação Sensibilização e motivação 4. Geração de Conhecimento Aquisição de conhecimentos externos interna I + D externa Figura 5 Página 19