FATORES QUE IMPACTAM NO ATRASO DOS PROJETOS: ESTUDO DE CASO EM UMA FÁBRICA DE GERADORES EÓLICOS



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ANEXO II. (Relacione a(s) Parte(s) e entidades privadas e/ou públicas envolvidas na atividade de projeto e informe os dados para contato no Anexo 1.

Transcrição:

FATORES QUE IMPACTAM NO ATRASO DOS PROJETOS: ESTUDO DE CASO EM UMA FÁBRICA DE GERADORES EÓLICOS ERICA MOREIRA DOS SANTOS (UFPE) erica_m_santos@yahoo.com.br Luciana Hazin Alencar (UFPE) lhazin@ufpe.br A sociedade assiste uma corrida frenética em busca de empreendimentos sustentáveis em todos os segmentos da economia. A energia eólica se tornou um potencial atrativo onde se concentra a atenção dos investidores, além de ter se consolidado no país como uma matriz energética sustentável, limpa, com baixo custo e, ao mesmo tempo, reduzindo os impactos ambientais negativos. Os projetos de parques eólicos possuem a característica de terem novas tecnologias e grandes riscos associados. O estudo propõe-se a analisar os principais fatores que impactam no atraso na execução de projetos de parques eólicos. A revisão da bibliografia sobre o recente tema aborda predominantemente a gestão de projetos. O resultado do artigo contempla um estudo de caso em uma indústria montadora de geradores eólicos, os dados foram coletados por meio de entrevistas e observações, onde as informações levantadas foram a base para construção das análises e inferências. A análise do segmento de energia eólica mostra que esses projetos são fundamentais para o crescimento do país, não apenas por questões ambientais, como também por motivos econômicos, sociais e tecnológicos. Trata-se de um setor de concorrência acirrada, apesar de recente no país, onde as competências nos processos produtivos são vitais para a sobrevivência nesse segmento. Palavras-chaves: Atraso, energia eólica e gestão de projetos

1 Introdução Nas últimas décadas a sociedade apresenta-se mais crítica e consciente quanto aos impactos e mudanças climáticas decorrente do aumento das emissões de dióxido de carbono e de outros gases poluentes, principalmente pelo uso dos combustíveis fósseis como o petróleo, carvão mineral e gás natural. A dependência dos combustíveis fósseis acarreta diversas conseqüências negativas, tais como, a poluição do ar e o aumento do preço do barril. A instabilidade dos países produtores de petróleo leva à crescente busca por outras fontes de energia renovável e ao aquecimento desse mercado com desenvolvimento de novos projetos de geração e expansão (ALVES, 2010). Enquanto que as energias renováveis são praticamente inesgotáveis, as reservas de combustíveis fósseis poderão ser consumidas em algumas décadas caso mantenha-se o crescimento do consumo. Alves (2010) destaca que as tecnologias renováveis se encontrarem em um estagio inicial de desenvolvimento, com custo elevado e pouca participação no mercado. Segundo Martins, Guarnieri e Pereira (2008) no mercado energético mundial a energia eólica tem se mostrado uma alternativa viável para o fornecimento de energia dentre as fontes energética limpa. Compreende-se como limpa as fontes de energia que não acarretam a emissão de gases do efeito estufa. Essa matriz energética também se destaca no atendimento dos requisitos quanto aos custos produtivos, segurança de fornecimento e sustentabilidade ambiental. Um dos obstáculos à ampliação na exploração da energia eólica hoje no país é a pouca disponibilidade de recursos capacitados para trabalhar com essa tecnologia. A escassez de mão-de-obra especializada impacta diretamente no processo produtivo e conseqüentemente na execução dos projetos, gerando problemas de atraso (ALVES, 2010). Segundo Frej e Alencar (2010) o número de empresas que estão adotando a metodologia de gerenciamento de projetos tem crescido significativamente nos últimos anos. Essa necessidade decorre na busca em apresentar um alto nível de eficiência, principalmente em relação ao planejamento, controle e monitoramento dos recursos para atender as restrições quanto à custo, tempo e qualidade dos projetos. Alves (2010) afirma que as mudanças climáticas impulsionam a energia renovável a ganhar importância no espaço governamental destinado à matrizes energéticas. No Brasil o potencial eólico tem despertado o interesse de vários fabricantes de energia eólica de diversos países. Diante dessa importância, a pesquisa irá contribuir positivamente para a formulação de uma proposta que possa minimizar e/ou eliminar o atraso na entrega dos projetos de parque de energia eólica. Os atrasos na execução do projeto de parque eólico acarretam: a) Impacto no cliente quanto a não disponibilidade de energia para comercialização; b) Impacto pontual do projeto sobre a organização devido ao pagamento de multas e cláusulas rescisórias; 2

c) Impacto na sustentabilidade e crescimento da organização no futuro, decorrente ao abalo na imagem e credibilidade podendo inibir a geração de mais negócios para a empresa. Nesse contexto o objetivo do estudo é identificar e analisar os principais fatores que contribuem para o não-sucesso do gerenciamento projetos, especificamente quanto ao atraso no tempo de entrega dos projetos de parque eólico. O trabalho está estruturado da seguinte forma: na seção 2 são apresentados estudos e conceitos relacionados a gestão de projetos; na seção 3 a metodologia que norteia o desenvolvimento do trabalho é apresentada; as seções 4 e 5 apresesentam a análise e interpretação dos dados do estudo de caso e os resultados alcançados, respectivamente; a seção 6 apresenta as conclusões do trabalho. 2 Gestão de Projetos Segundo Júnior e Plonski (2011) os projetos têm papel importante na gestão estratégica dos negócios, pois são vetores das mudanças, implementação de inovações e trazem vantagens competitivas para as empresas. Apesar da importância, muitas organizações negligenciam a execução dos projetos conforme o planejado e não cumprem as metas estabelecidas. Entregar projetos que atendam às metas de prazo, custo e especificações planejadas é um grande desafio a ser superado nas empresas. Projeto é um empreendimento organizado para alcançar um objetivo. Tecnicamente um projeto é definido como um conjunto de atividades (tarefas) relacionadas e direcionadas para uma saída principal, e que para tanto necessita de um período de tempo para realização. Entende-se por projeto um empenho temporário, para criar um produto ou serviço único, sua conclusão dependente intimamente do atendimento dos objetivos que foram previamente estabelecidos no escopo do projeto (PMI, 2004). Os projetos possuem início e fim definidos, porém as etapas específicas e as entregas podem variar substancialmente, tanto de tamanho, duração e complexidade. Os projetos devem ser vistos pelas organizações como diferentes entre si. A gestão de cada projeto deve ser adaptada para contemplar essas diferenças em relação aos objetivos, tarefas, ambientes interno e externo, dada as incertezas de cada projeto (JUNIOR; PLONSKI, 2011). O gerenciamento de projetos inclui identificar os requisitos, adaptar as diferentes necessidades, preocupações e expectativas das partes. Resumidamente o gerenciamento de projetos pode ser definido como o planejamento, a direção e o controle de recursos para atender as restrições técnicas, de custo e de tempo. Além disso, envolve o balanceamento das restrições conflitantes (escopo, qualidade, cronograma, orçamento, recursos e risco), bem como a liderança e orientação das equipes (PMI, 2004). Um problema crônico em gerenciamento de projetos é que algumas empresas ainda não entendem o porquê da necessidade dessa atividade, pois, ao alegar perfeito controle dos gastos e despesas, desconsideram outros problemas relevantes. Ter apenas o controle contábil de custos não significa gerenciar com eficiência seus projetos (PMI, 2004). Compreende-se por controle a garantia do alcance do que foi projetado. É um processo de lidar com as variações do plano, e pode significar a necessidade de efetuar intervenções e re-planejamentos para alcançar o objetivo proposto. 3

Um exemplo clássico de problemas com gerenciamento de projetos está na indústria de construção civil no Brasil. Pesquisas indicam que projetos de construção têm atrasos médios de 103%. Neste cenário de baixas taxas de sucesso nos projetos, é natural que a abordagem predominante de gestão de projetos seja questionada (JUNIOR; PLONSKI, 2011). Segundo Shtub, Bard e Globerson (2002) a essência da gestão de projetos é planejar, organizar e monitorar a execução de determinado empreendimento. No entanto, tal atividade não se restringe a construir uma lista de tarefas e executá-las em seqüência. Quando as informações disponíveis são limitadas e imprecisas, bem como existe uma relação de causa e efeito indeterminada entre algumas atividades do projeto, além disso, uma pressão quanto ao tempo destinado para conclusão e recursos escassos, nesse contexto residem os componentes que constituem o moderno gerenciamento de projetos. Corrêa e Corrêa (2006) resumem o gerenciamento de projetos como sendo o planejamento, a direção e o controle de recursos para atender às restrições técnicas. O mesmo autor define projeto como uma série de atividades direcionadas para uma saída principal, e que necessita de um período de tempo para realização. Para Shtub, Bard e Globerson (2002) um projeto pode ser conceituado como um esforço organizado por algo almejado especificamente, embora que não repetitivo, muitas vezes necessita de especialistas de variadas áreas para solucionar o problema a que se propõe. Salienta-se que, apesar de usualmente um projeto ter um longo tempo de duração, o mesmo possui prazo de finalização determinado dentro de um contexto que também demanda que os recursos sejam estabelecidos previamente. Como resultado de um projeto tem-se a entrega de um produto ou serviço. Apesar de o desenvolvimento do projeto anteceder a produção, essa última atividade depende da primeira, criando um elo. Projetos e Operações se relacionam em alguns pontos do ciclo de vida de um produto. Mais especificamente durante a fase de encerramento de cada etapa e no momento das entregas, pois o conhecimento é transferido do projeto para que a operação possa implementar o trabalho. Podendo até mesmo ocorrer a transferência de recursos do projeto para a operação e vice versa (PMI, 2004). 3 Metodologia Para pesquisar os principais fatores que contribuem para o não-sucesso do gerenciamento projetos, especificamente quanto ao atraso no tempo de entrega dos projetos de parque eólico, realizou-se uma pesquisa bibliográfica e um estudo de caso exploratório. De acordo com Lopes (2006) o estudo de caso exploratório, tem o objetivo de compreender um ponto específico em determinada unidade e formular melhor o problema. Considera-se como unidade pesquisada o processo de gerenciamento de projetos em uma fabrica montadora de geradores eólicos, multinacional de origem Argentina, situada em Suape Pernambuco. Como procedimentos para coleta de dados no caso investigado utilizou-se a pesquisa documental, observação e entrevista semi-estruturada. Segundo Lopes (2006) a entrevista semi-estruturada fornece ao pesquisador uma flexibilidade e possibilidade de maior aprofundamento junto ao entrevistado durante a conversa. Previamente foi elaborado um roteiro a partir de alguns pontos de investigação préestabelecidos. O roteiro da entrevista teve como tópicos abordados: a) Quais os principais motivos para o atraso na entrega dos projetos? 4

b) Os fatores que impactam no atraso dos projetos são internos ou externos à organização? Foram entrevistados os profissionais das áreas de Planejamento e Controle da Produção (PCP), Administração de Materiais, Planejamento e Controle dos Insumos (PCI), Logística (Transportes), Compras e Produção. Os selecionados estão hierarquicamente no nível de gerência ao de analista da respectiva empresa. O critério de seleção dos respondentes foi quanto a sua participação e conhecimento técnico nas áreas funcionais citadas anteriormente, pois representam os principais atores envolvidos nesse processo. Para a observação no ambiente organizacional, o pesquisador utilizou como guia a coleta de dados e o mesmo roteiro da entrevista. Em relação a pesquisa documental, Lopes (2006) argumenta que o levantamento documental aproximada o pesquisador do assunto em estudo, objetivando ter uma visão geral. Nesse sentido fez-se uso do mapeamento do fluxo de valor da organização pesquisada para se obter uma compreensão das relações existente entre as atividades, bem como seu impacto sobre a execução do projeto. Tais informações permitiram uma maior imersão no problema e contribuíram para a análise, interpretação e consolidação das informações registradas nas entrevistas juntamente com os conceitos teóricos. 4 Análise e interpretação dos dados Nesta seção é apresentada a análise dos dados e a interpretação dos resultados obtidos na pesquisa documental, observação, bem como nas entrevistas semi-estruturadas quanto ao problema de atrasos na finalização dos projetos de parque eólico. Para melhor compreensão a análise descritiva e exploratória dos dados encontrados será feita uma separação em três blocos, de acordo com os tópicos abordados no roteiro das entrevistas. A seguir é apresentado o cronograma do projeto de parque de energia eólica, a figura representa um Gráfico de Gantt associado ao tempo envolvido no projeto e a seqüência na qual as atividades são realizadas (DAVIS; AQUILANO; CHASE, 2001). A figura apresenta o fluxo de forma resumida do processo interno desde o contato com cliente até a montagem do parque considerando o modelo de sistema produtivo puxado (Make-to-Order). O gráfico foi elaborado com base levantamento documental, por meio do mapeamento do fluxo de valor fornecido pela empresa pesquisada. 5

Figura 1 - Gráfico de Gantt com lista de tarefas e relação temporal para projeto parque eólico No modelo de produção sob encomenda ou produção puxada (Make-to-Order) o projeto básico pode ser desenvolvido a partir dos contatos iniciais com o cliente e das suas reais necessidades, porém a etapa de produção só se inicia após o recebimento formal do pedido. A interação com o cliente costuma a ser extensiva e o produto está sujeito a modificações, mesmo durante a fase de produção para atender as demandas do comprador. Em um sistema puxado os produtos geralmente possuem características únicas e o tempo de entrega tendem a ser de médio a longo prazo. A produção sob encomenda tem como diferencial competitivo o relacionamento estabelecido com o cliente, essa estratégia permite à empresa oferecer um maior grau de customização além de possibilitar a diminuição drástica do estoque de produto acabado (VIGNA; MIYAKE, 2009). Com base no levantamento bibliográfico a empresa pesquisada foi enquadrada no modelo de sistema produtivo puxado (MTO), pois, o início da produção do gerador eólico é feita com base nas especificações do cliente e somente após o fechamento do contrato de venda e compra entre as partes envolvidas. Além disso, o tipo de produto comercializado é projetado para atender uma determinada região, clima, velocidade dos ventos e outros fatores ambientais distintos que fazem com que o equipamento possua vários modelos (especificações) em um mesmo parque. Segundo Davis, Aquilano e Chase (2001) as técnicas de programação pelo caminho crítico chamam a atenção para que exista uma preocupação com as atividades individuais que podem impactar diretamente na conclusão do projeto. O caminho crítico do projeto é formado pela seqüência de atividades [a. b. c. e. f. g. h. i.] onde a atividade que mais impacta a duração do projeto é [c.compra dos componentes do gerador] e tem como precedente [b.processo de negociação e adequação do projeto]. Essa última atividade é executada pelos departamentos comercial e engenharia de produto juntamente com o cliente. Os riscos, incertezas e influencia das partes interessadas relacionados aos projetos são significativamente maiores no início, na fase de [a.elaboração do escopo do projeto] até [b.processo de negociação e adequação do projeto]. Pois nessas fases ainda não existe uma base de conhecimento relevante quando ao desenvolvimento futuro do projeto e por se caracterizar por ser algo único, o conhecimento prévio não existe (PMI, 2004). 4.1 Principais motivos para o atraso na entrega dos projetos Quando questionados sobre Quais os principais motivos para o atraso na entrega dos projetos os respondentes atribuíram aos consecutivos atrasos especificamente no cumprimento da tarefa [c.compra dos componentes do gerador]. Devido à singularidade do 6

produto feito sob encomenda, existe uma dependência do departamento de compras quando as especificações do equipamento e lista técnica dos componentes necessários. Esse período de construção dos requisitos do gerador é relativamente longo, pois sobre interferências da complexa rede envolvida. A área de compras apenas pode iniciar o processo de cotação e negociação de preços e prazo junto aos fornecedores apenas após a finalização da atividade [b.processo de negociação e adequação do projeto] descrita no gráfico de Gantt. Por conseguinte todas as atividades produtivas [e. f. g. h. i.] que dependem da chegada dos insumos ficam a aguardando a chegadas desses itens. A atividade [c.compra dos componentes do gerador], definida como crítica, demanda significativo tempo de execução, pois aproximadamente 60% dos itens que compõem o gerador eólico são adquiridos de fornecedores internacionais. O tempo necessário nesse processo de compra é relativamente superior as negociações com fornecedores locais, devido às dificuldades com fuso horário, câmbio e a própria língua. Outra implicação no tempo de execução do projeto decorre do risco que impacta a variância no tempo da atividade [b.processo de negociação e adequação do projeto] fazendo com que a organização destine tempo significativo para essa tarefa. Pois, segundo Alves (2010), ainda existe aversão dos financiadores ao risco, pois as energias renováveis apresentam alto custo de produção, o mercado ainda não está bem consolidado, a tecnologia muitas vezes não esta difundida e a escala de produção e reduzida. 4.2 Fatores internos vs. externos que impactam no atraso do projeto Foram evidenciados que os fatores que impactam no atraso do projeto são predominantemente externos à organização. Dentre os vários motivos citados, estão como mais representativos para o atraso da execução do projeto: a) Atrasos nas entregas dos fornecedores; b) Baixa qualidade de alguns itens que demandam retrabalho interno. Quanto ao primeiro item, verificou-se que existe pouca mobilidade quanto à seleção de novos fornecedores que poderiam oferecer um prazo de entrega mais curto e uma menor variabilidade. Porém, tanto os componentes quanto o respectivo fornecedor estão especificados na lista técnica do equipamento. A empresa estudada no presente artigo fabrica o gerador eólico, porém o desenho técnico e a tecnologia envolvida são adquiridos de outra organização que fornece a licença para montagem do equipamento, desde que a lista seja determinantemente seguida pela empresa que irá fabricar o equipamento Essa é uma restrição que limita a atuação da área de compras e o poder de negociação quantos aos prazos de entregas definidos pelos fornecedores de insumos. Faz-se importante ressaltar que vários componentes especificados na lista técnica possuem apenas um fornecedor autorizado. Os entrevistados ratificaram que os componentes importados possuem um elevado tempo transporte (modal marítimo), além de grande variância entre o tempo real e o médio. Pois esse tipo de modal demanda o tempo em transporte somado ao tempo de espera pelo desembaraço fiscal e alfandegário no porto (DIAS, 2010). 7

Foi evidenciado durante a inspeção de recebimento, realizada pelo departamento de qualidade interno, a baixa qualidade de alguns itens adquiridos. Pois haviam diversos registros de ocorrências de não conformidades nos componentes, o que acarreta o bloqueio imediato das peças e conseqüentemente necessidade de retrabalho interno. 5 Resultados A estimativa de tempo usada no projeto de parque energia eólica é com base no método PERT (Program Evaluation and Review Technique), onde os tempos são considerados variáveis probabilísticas. Segundo Corrêa e Corrêa (2006) nesse método os gestores estimam um tempo mais provável, um tempo otimista e um tempo pessimista. Estes valores são usados para estimar uma distribuição probabilística dos tempos e da duração total do projeto. De acordo com Ballestero-Alvarez (2010) as restrições em si estão presentes em qualquer tipo de empreendimento. O gestor precisa conhecê-las e administrá-las adequadamente, pois ignorá-las pode se tornar uma alavanca para o insucesso. Com o intuito de oferecer uma medida que efetivamente possa trazer benefícios para o projeto Os resultados obtidos nas entrevistas, observações na empresa e pesquisa documental estão dispostos no tópico 4. Na análise desses resultados pode-se concluir que o maior impacto sobre o tempo duração e a variância do projeto decorre da atividade [c.compra dos componentes do gerador]. Conforme o cenário apresentado, essa tarefa se tornou um gargalo a eficiência do projeto, desse fato surgiu à necessidade de alterar e adaptar os processos internos às restrições da organização. Alves (2010) afirma que o projeto de parque energia eólica envolve alta incerteza, devido à variabilidade no tempo de execução das atividades em relação ao desvio padrão. Essa variância se baseia nos desvios de cada valor em relação à média obtida (BARBETTA; REIS; BORNIA, 2010). Outro ponto determinante que afeta a variabilidade do tempo necessário para realizar as atividades são atrasos ou antecipação na entrega dos materiais, dificuldades no compartilhamento de informações entre fornecedor e cliente, problemas com tecnologia, retrabalho de materiais, onde todas essas fontes de variação interagem entre si e resultam na variabilidade do projeto (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2009). Sendo assim, optou-se por adotar uma abordagem contingencial que aumenta a chance de sucesso na duração dos projetos nessa organização. A tarefa [c.compra dos componentes do gerador] que apenas iniciaria após a finalização de [b.processo de negociação e adequação do projeto] foi alterada. Na proposta sugerida à empresa, haverá uma antecipação da atividade [c.compra dos componentes do gerador], sendo precedida por [a.elaboração do escopo do projeto]. A figura abaixo apresenta a mudança. 8

Figura 2 - Gráfico de Gantt com lista de tarefas e relação temporal para projeto parque eólico modificado Fundamenta-se nas informações técnicas coletadas sobre as especificações do gerador eólico, pode-se argumentar que a antecipação da atividade [c.compra dos componentes do gerador] é plausível, devido ao fato que na estrutura do equipamento existem materiais que são comuns e podem atender vários tipos de máquinas. Dessa forma, os itens cuja compra foi acelerada, mesmo na ocorrência de não fechamento do projeto poderão atender outros equipamentos. Apesar da probabilidade de insucesso da tarefa [b.processo de negociação e adequação do projeto] comparativamente com o custo de aquisição dos componentes é mais oneroso para organização o risco de atrasar a data de entrega do projeto. O custo relacionado ao não atendimento do prazo de entrega do parque de energia eólica, estabelecido em contrato, acarreta o ônus de multas, possibilidade de rescisão do contrato, refle na satisfação do cliente e indiretamente na imagem da empresa no mercado estudado (custo não mensurado). Conforme figura 1, a atividade [d.compra dos componentes para montagem do parque] não faz parte do caminho crítico no gráfico de Gantt do projeto para o parque de energia eólica. Somado a esse fato, a referida tarefa possui folga razoável que traz segurança para execução da atividade, justificando assim sua não antecipação. 6 Conclusão Este estudo evidenciou, por meio da análise dos fatores que impactam no tempo de execução do projeto de parque de energia eólica, que o efetivo uso das tradicionais técnicas e ferramentas de gerenciamento de projetos pressupõe um cenário estável e previsível. Júnior e 9

Plonski (2011) afirmam que tais condições não se verificam no atual ambiente de negócios, caracterizado pela instabilidade e imprevisibilidade, em que os projetos são influenciados pelas dinâmicas do ambiente, da tecnologia e dos mercados. A análise dos resultados da pesquisa apresenta que a variabilidade do tempo de entrega dos insumos e os constantes retrabalhos nos componentes rejeitados pela qualidade interna se tornaram as principais fontes de variação na atividade [c.compra dos componentes do gerador], que faz parte do caminho crítico do projeto (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2009). Por meio de um levantamento preliminar dos fatores que impactam na variabilidade do tempo de execução do projeto, pode-se observar o principal gargalo e atuar de forma a inibilo. Pois o gerenciamento de projetos eficiente nesse setor exige o emprego de ferramentas apropriadas para esse ambiente, que oferece alto risco e grande incerteza (ALVES, 2010) De posse do estudo bibliográfico, das informações e dados coletados e junto aos funcionários da empresa, pode-se concluir que as alterações influenciaram diretamente na rotina e dinâmica das atividades dos funcionários do departamento de compras, planejamento da produção e controle dos insumos. Constatou-se que houve impactos quanto aos custos relacionados à manutenção de estoque e a ampliação de capital investido no estoque de materiais produtivos. A empresa estudada continuará iniciando a tarefa [e.produção do gerador] somente após o fechamento de uma ordem de venda conforme contrato entre as partes envolvidas contida na tarefa [b.processo de negociação e adequação do projeto], apresentado em ambas as figuras. Caracterizando-se como um modelo de sistema produtivo puxado (MTO). Martins, Guarnieri e Pereira (2008) comentam que as melhorias no padrão de vida da população do país fomentam a ampliação da demanda energética e traz á tona a preocupação quanto ao planejamento energético. Nesse contexto a inserção de fontes complementares renováveis minimiza os impactos causados por crises internacionais que afetam a disponibilidade de combustíveis fósseis. Para suportar esse crescimento, torna-se fundamental a capacitação dos recursos humanos e o desenvolvimento de pesquisas científicas cujo objetivo seja produzir e disponibilizar informações fidedignas sobre projetos de energia eólica (MARTINS; GUARNIERI; PEREIRA, 2008). Corroborando com essa necessidade o presente artigo complementa as informações atualmente disponíveis no meio acadêmico. Referência bibliográfica ALVES, José. Análise Regional da Energia Eólica no Brasil. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v.6, n.1, p.165-188, 2010. BALLESTERO-ALVAREZ, María Esmeralda. Gestão de Qualidade, Produção e Operações. São Paulo: Atlas, 2010. BARBETTA, Pedro; REIS, Marcelo; BORNIA, Antonio. Estatística para Cursos de Engenharia e Informática. São Paulo: Atlas, 2010. BREMER, Carlos; LENZA, Rogério. Um Modelo de Referência para Gestão da Produção em Sistemas de Produção Assembly to Order Ato e suas Múltiplas Aplicações. Revista Gestão & Produção, v.7, n.3, p.269-282, 2000. 10

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