: DESEMBARGADOR CARLOS AZEREDO DE ARAÚJO



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Transcrição:

Relator : DESEMBARGADOR CARLOS AZEREDO DE ARAÚJO Agravante : WMS SUPERMERCADOS DO BRASIL LTDA Agravada : MINISTÉRIO PÚBLICO EMENTA AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIL PÚBLICA. DEFERIMENTO DE TUTELA ANTECIPADA. 1. O artigo 273 do Código de Processo Civil estabelece que o magistrado poderá, a requerimento da parte, antecipar total ou parcialmente os efeitos da tutela pretendida, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; 2. A petição inicial transcreve algumas reclamações sobre a máqualidade dos serviços da ré no ano 2011, transcrições feitas em caráter ilustrativo, pois a causa de pedir desta ação civil pública é prática de novas infrações no tocante à venda de produtos pela internet, conforme se extrai do inquérito civil público nº 28/2012 (fls.96/103). 3. Impugnação da multa diária que não merece guarida. Art.461, do código de processo civil. Incumbe ao magistrado, observados os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, reduzir ou majorar o valor, conforme se revele insuficiente ou exorbitante. Astreinte destinada coagir o devedor a prestar uma obrigação de fazer ou entregar coisa e in casu a multa diária foi fixada em patamar significativamente inferior ao requerimento do agravado. Precedentes. 4. Decisão que não se mostra teratológica, contrária à lei ou à prova dos autos. súmula TJRJ nº 59. Precedentes. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO, ART.557, CAPUT, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIL. DECISÃO MONOCRÁTICA Trata-se de interposto por WMS SUPERMERCADOS DO BRASIL LTDA nos autos de ação civil pública promovida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, autuação nº 20120011054770, em curso pelo Juízo de Direito da 1ª Vara Empresarial da Comarca da Capital. Página 1 de 7

O recurso visa cassação da decisão que antecipou tutela de mérito para determinar que o agravante cumpra os prazos de entrega dos produtos vendidos através da internet. teor: A decisão agravada está por cópia às fls.92/93 e possui o seguinte Trata-se de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público em face de WALMART BRASIL LTDA, na qual alega, em síntese, que a ré veicula propaganda enganosa aos anunciar produtos para venda que não se encontram nos estoques e descumpre os prazos de entrega estabelecidos no contrato de compra e venda, violando direitos básicos dos consumidores razão pela qual postula a concessão, ab initio, de tutela antecipada para condenar a ré ao cumprimento dos prazos avençados de entrega de seus produtos; a abstenção de divulgação de produtos que não constem nos estoques ou que preste informação de forma clara ao consumidor que o produto está indisponível no estoque no momento da compra e a realizar serviço de pós venda mais eficaz e veloz ao consumidor, todos sob pena de multa diária no valor de R$10.000,00 (dez mil reais). De início, cabe registrar que se trata de relação de consumo regida pela Lei 8.078/90. Ao compulsar os autos constata-se, de fato, a prática, pela ré, de atos que violam nitidamente os princípios norteadores dos direitos do consumidor. As reclamações feitas pelos consumidores das condutas abusivas resultaram na instauração de inquérito civil para apuração das irregularidades apontadas. Nesse contexto, vislumbra-se a presença dos requisitos indispensáveis para a concessão da medida antecipatória. Com efeito, diante da ameaça de dano irreparável aos direitos dos consumidores impõe-se, antes de firmado o contraditório, a concessão da tutela antecipada de forma parcial pois o item que determina a realização, pela ré, de um serviço de pós venda mais eficaz não pode ser acolhido pois reclama uma fiscalização efetiva que não pode ser realizada pelo Judiciário. Por essas razões, DEFIRO PARCIALMENTE A TUTELA ANTECIPADA para determinar, ab initio, que a ré cumpra, em todos os contratos de compra e venda, o prazo estipulado para a entrega de seus produtos; que se abstenha de divulgar, em todas as suas ofertas publicitárias, sobretudo nos sites de venda, produtos e serviços que não estejam em estoque, ou quando divulgados nessas condições e faça constar de Página 2 de 7

forma clara e destacada, para que o consumidor possa fácil e imediatamente ler a informação de que o produto está indisponível no estoque no momento da compra, fixando multa diária no valor de R$1.000,00 (hum mil reais) para o caso de descumprimento da ordem acima, com prazo de cinco dias para o cumprimento, contados da data da intimação. I-se e cite-se. Ciência ao MP. Publique-se o edital previsto no art.94 do CDC. O agravante afirma, em síntese, uma vez que a demanda proposta não foi instruída com o inquérito civil, limitando-se o agravado a transcrever nove reclamações extraídas do sítio Reclame Aqui, localizado na internet de forma que não há como aferir a identidade e/ou veracidade das reclamações, não havendo motivos para se conferir força probante às mesmas, até pelo fato de estarem isoladas perante aos milhares de consumidores atendidos pela recorrente, inclusive o consumidor Tiago Zuanazzi Tomazzi, autor da reclamação que deu origem ao novo inquérito. (fls.110 e 116). Assim é que não havendo quaisquer provas quanto aos fatos alegados, a decisão agravada deve ser revogada. Teceu explicações quanto às etapas que envolvem o processo de compra e venda eletrônica, declarando que cumpre o dever de informar os consumidores quanto aos eventuais atrasos (fls.09/14); reafirma a excelência dos serviços prestados (fls.15); impugnou a multa diária fixada pelo juízo singular (fls.16/23) e requereu a atribuição de efeito suspensivo e o provimento do recurso para cassar a decisão agravada ou para que somente seja possível a exigibilidade da astreinte após o efetivo trânsito em julgado. Prequestionou ofensa ao art. 56 usque art. 59 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, consoante a necessidade de observância da cláusula de reserva de Plenário constante do art.97 da Constituição Federal e Súmula Vinculante STF nº 10. O recurso foi instruído com a documentação de fls.29/148. ASSIM RELATADOS, DECIDO. O recurso é tempestivo e foi adequadamente preparado, podendo ser conhecido e decidido na forma autorizada no art.557 do Código de Processo Civil. Página 3 de 7

Importa à solução do recurso aferir se estão presentes os requisitos necessários ao deferimento da tutela antecipada e a razoabilidade e proporcionalidade do valor da multa pelo não cumprimento e ofensa aos seguintes dispositivos legais: art. 56 usque art. 59 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor e necessidade de observância da cláusula de reserva de Plenário (art.97 da Constituição Federal) e Súmula Vinculante STF nº 10. O artigo 273 do Código de Processo Civil estabelece que o magistrado poderá, a requerimento da parte, antecipar total ou parcialmente os efeitos da tutela pretendida, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação. A jurisprudência deste Tribunal entende que a aferição do preenchimento dos pressupostos supramencionados está adstrita ao juízo discricionário do juiz da causa e em não havendo, em princípio, abusividade ou ilegalidade neste atuar, a interferência da instância superior só ocorre quando a decisão for teratológica, contrária à lei ou à evidente prova dos autos. É o que resta consolidado no enunciado da súmula 59 deste Tribunal, in verbis: SUMULA TJ Nº. 59, DE 03/09/2003 (ESTADUAL) - DORJ-III, S-I 166 (4) - 03/09/2003 Somente se reforma a decisão concessiva ou não da antecipação de tutela, se teratológica, contrária à Lei ou a evidente prova dos autos. A petição inicial transcreve algumas reclamações sobre a má-qualidade dos serviços da ré no ano 2011, transcrições feitas em caráter ilustrativo, pois a causa de pedir desta ação civil pública é prática de novas infrações no tocante à venda de produtos pela internet, conforme se extrai do inquérito civil público nº 28/2012 (fls.96/103) A decisão agravada se encontra devidamente fundamentada, visto que a fase processual inicial é norteada por juízo de delibação não exauriente. Com efeito, ao contrário do que afirma o agravante, a demanda foi instaurada a partir de nova reclamação quanto à venda de produto inexistente no estoque. Deste modo e também na contramão do que afirma o agravante, a reclamação que deflagrou o inquérito civil nº 28/2012 foi feita pelo consumidor Vitor José Ervilha Moreno, residente na Comarca de Volta Redonda (recurso - fls.100; autos originários f.39) e não por Tiago Zuanazzi Tomazzoni, residente na cidade de São Paulo (recurso 116), pois do contrário o Procurador Federal que acolheu a reclamação sequer teria declinado de sua atribuição para o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. A transcrição das reclamações lançadas na peça inaugural refere descumprimentos contratuais ocorridos no ano 2011, o que também não macula a pretensão do Página 4 de 7

agravado. Com efeito, o inquérito que embasa a ação civil pública foi instaurado no ano corrente (fls.96/103), não guardando qualquer relação com os fatos apurados no inquérito 075/2011 em que foram apuradas reclamações ocorridas entre 2005 e 2011 (f.128). Tratando-se causa de pedir distinta, a ação proposta pelo agravado deve prosseguir. Não há se falar em ofensa aos art.56 usque art.59 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, pois a aplicação de sanções administrativas não exclui a sanção judicial, in casu, a multa diária arbitrada pelo juiz singular como, aliás, expressamente previsto no art.56 do Estatuto Consumerista, o mesmo podendo ser dito em relação aos demais dispositivos citados que versam sobre as possibilidades de aplicação das sanções. A impugnação da multa diária também não merece guarida. A multa diária ou astreinte tem por objetivo coagir o devedor a satisfazer, com maior retidão, a prestação de uma obrigação, fixada em decisão judicial. Daí dizer que a multa diária é medida coativa (ou coercitiva e não reparatória ou compensatória) e tem características patrimoniais e psicológicas, sendo a combinação de dinheiro e tempo 1. A multa diária não se destina à punição do devedor pelo fato de não ter cumprido a obrigação e também não possui natureza de ressarcimento dos danos. É meio de coação, de simples ameaça, que tem por escopo constranger o devedor a cumprir a ordem judicial, com finalidade de obter o resultado ideal. É digno de registro que a multa não tem a mesma natureza da obrigação a ser prestada e nem mesmo com as perdas e danos que possuem valor determinado, exato e definitivo. E também não há se falar em valor limitado, tanto assim, que o juiz poderá, a pedido da parte ou ex officio, modificar o seu valor, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva. Veja-se: RECURSO ESPECIAL Nº 973.879 - BA (2007/0176733-7) RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO CIL E PROCESSUAL CIL. CONTRATO TÁCITO DE FORNECIMENTO DE GÁS NATURAL. 1 Nesse sentido: KAZUO WATANABE, Tutela antecipatória e tutela específica das obrigações de fazer e não fazer, in Reforma do Código de Processo Civil, Coord. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Saraiva, 1996, pág. 47; ADA PELLEGRINI GRINOVER, Tutela jurisdicional nas obrigações de fazer e não fazer, in Reforma do Código de Processo Civil, Coord. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Saraiva, 1996, pág. 256; Página 5 de 7

PREQUESTIONAMENTO REEXAME DE FATOS. ASTREINTES. VALOR EXORBITANTE. REVISÃO. POSSIBILIDADE. (...) 7. É possível a redução do valor de multa diária (astreinte), quando se mostrar exorbitante, em desconformidade com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. (...) Veja-se: Encontramos o mesmo entendimento no âmbito deste Tribunal. 0043589-57.2011.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. JOSE CARLOS PAES - Julgamento: 26/08/2011 - DECIMA QUARTA CAMARA CEL AGRAVO DE INSTRUMENTO. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. PRESENÇA DOS REQUISITOS PARA SUA CONCESSÃO. ASTREINTE. REDUÇÃO. 1. Presentes os requisitos que autorizam a concessão da antecipação dos efeitos da tutela, consistentes na verossimilhança das alegações autorais e no perigo de dano irreparável, diante de descontos efetivados no contracheque do demandante, referentes a empréstimo alegadamente não contratado. Incidência do verbete nº 59 da súmula de jurisprudência do TJ/RJ. Precedentes. 2. A astreinte tem como finalidade inibir o descumprimento da determinação judicial e sua fixação deve observar o princípio da razoabilidade. Redução que se impõe. Precedente. 3. Parcial provimento ao recurso. 0022758-85.2011.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. CARLOS JOSE MARTINS GOMES - Julgamento: 20/11/0822 - DECIMA SEXTA CAMARA CEL Ementa: Agravo de instrumento contra decisão proferida em ação de obrigação de fazer, em fase de cumprimento de sentença, que reduziu o montante apurado da multa diária, pelo descumprimento da decisão judicial, para R$ 10.000,00. Página 6 de 7

Pretensão do agravante para manutenção do valor originário, totalizando R$ 50.050,00. Possibilidade de redução da astreinte a qualquer tempo sem ofensa a coisa julgada (CPC 461, 6º). In casu, o exame dos autos revela que a redução arbitrada pela decisão vergastada se encontra em sintonia com a razoabilidade e proporcionalidade, evitando-se o enriquecimento sem causa. Precedentes desta Corte. Recurso a que se nega seguimento. O art.461, do código de processo civil autoriza o magistrado a fixar astreinte para compelir a parte ao cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, observados os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade inclusive para reduzir ou majorar o valor, conforme se revele insuficiente ou exorbitante. Nessa toada, não vejo motivos que autorizem o afastamento da multa diária fixada em dez por cento sobre o valor pretendido pelo agravado (R$10.000,00), valor que parece adequado ao cumprimento da tutela, pelo menos até prova em contrário. O agravante referiu ofensa à cláusula de reserva de plenário, citando a Súmula STF nº 10 que estabelece que somente pelo voto da maioria absoluta de seus integrantes, os tribunais podem declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público e trouxe à colação decisão em que este Tribunal declarou a inconstitucionalidade da Lei Municipal nº 5.287, de 27/06/2011 que tratava de horário para entrega de mercadorias 2. Contudo, a matéria discutida nos autos originários não versa sobre horário de entrega, objeto da declaração de inconstitucionalidade, limitando-se a determinar que a agravante...cumpra, em todos os contratos de compra e venda, o prazo estipulado para a entrega de seus produtos; que se abstenha de divulgar, em todas as suas ofertas publicitárias, sobretudo nos sites de venda, produtos e serviços que não estejam em estoque, ou quando divulgados nessas condições e faça constar de forma clara e destacada, para que o consumidor possa fácil e imediatamente ler a informação de que o produto está indisponível no estoque no momento da compra, fixando multa diária.... Pelo fio do exposto e com fundamento no art.557, caput, do Código de Processo Civil, nego provimento ao recurso e mantenho íntegra a decisão vergastada. Intimem-se. Rio de Janeiro, 09 de agosto de 2012. 2 Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 0045347-61.2011.8.19.0000 (recurso - fls.124/125). Página 7 de 7