J O R N A L CONTROLE DE nº 70 ano XXIV Venda proibida Exemplar de assinante AS ROTAS PARA A SEGURANÇA DO PROFISSIONAL DE SAÚDE O Dr. Marcelo Pustiglione, coordenador do SESMT do HCUSP, avalia as medidas de prevenção de acidentes com perfurocortantes estabelecidas pela Portaria 1748 PÁG. 4 Prevenir é melhor que remediar Vera Lucia Cantalupo fala sobre os benefícios do Anexo III da Portaria 1748 para os profissionais da saúde. PÁG. 3 19 PASSOS CONTRA A INFECÇÃO CIRÚRGICA O checklist da cirurgia segura vem diminuindo o índice de infecções em sítios cirúrgicos no mundo. O Hospital São Francisco é exemplo. PÁG. 6 PROFISSIONAIS DE CI MELHOR REPRESENTADOS E INFORMADOS Dr. Marcelo Carneiro, presidente da Associação Gaúcha de Profissionais em Infecção Hospitalar, conta porque a entidade é referência no país. PÁG. 8
Ci EDITORIAL Novo em folha Inovar com experiência é o foco dessa 70ª edição do Jornal Controle de Infecção, que comemora seus 25 anos de cara nova, quando a própria área da Saúde passa por mudanças significativas. O novo projeto gráfico reflete nosso direcionamento editorial, que pretende ser cada vez mais atrativo. Assumimos o compromisso de selecionar dados e fatos relevantes, chamar ao debate personalidades que fazem a diferença e tornar seu tempo de leitura mais agradável. Confira nesta edição a portaria 1748 do MTE, que exige a implantação do Plano de Prevenção de Riscos de Acidentes com Material Perfurocortante (PPRAT-MP) em instituições de saúde do país, e os ótimos índices que o checklist da cirurgia segura alcança em hospitais pelo mundo, como o São Francisco, de Ribeirão Preto. Equipe do Jornal Controle de Infecção Ci EM FOCO Tempo de celebrar, refletir e agir Omês de maio é especial quando se trata de prevenção e controle de infecção. As três datas comemorativas o Dia Internacional de Higienização das Mãos (5), Dia Mundial do Enfermeiro (12) e o Dia Internacional de Controle de Infecção Hospitalar (15) são fortemente associadas, envolvendo fatos históricos e protagonistas importantes, como Florence Nightingale, introdutora da Enfermagem Moderna e Ignaz Philipp Semmelweis, idealizador do Controle de Infecção Hospitalar: visionários que reformularam os conceitos e métodos na assistência à saúde, em suas respectivas áreas de atuação. Essas três datas contribuem ano a ano para a reflexão sobre propostas e ações com o objetivo de melhorar os processos de prevenção e controle das infecções. Uma dessas ações vem sendo realizada no Brasil pela OMS, denominada Estratégia Multimodal de Melhoria de Higienização das Mãos. Trata-se de um projeto que envolve a intervenção de higienização das mãos em serviços de saúde, com a participação de 5 hospitais da Rede Sentinela, selecionados pela Coordenação Nacional (OPAS/OMS - Anvisa/MS). Essas instituições estão testando as diretrizes da OMS com o intuito de aumentar a adesão às práticas da higienização das mãos, que embora seja a maneira mais eficaz e barata de reduzir casos de infecção hospitalar, ainda é um procedimento praticado abaixo do recomendado. Prova disso é a pesquisa recente da Anvisa, que aponta que somente Isto é um QR code. Basta fotografá-lo com o aplicativo de leitura de QR codes do seu smartphone para ter acesso a websites e conteúdos extras da matéria. 30,7% dos hospitais apresentam taxa de adesão à higiene das mãos superior a 70%. Nesse sentido, o programa da OMS reforça a necessidade deste procedimento em serviços de saúde pelos profissionais, especialmente à beira do leito do paciente, conforme abordado nos trabalhos de Uma Assistência Limpa é uma Assistência mais Segura. Sobre o tema, vale também conferir o artigo As infecções hospitalares e a evolução histórica das infecções, de Rosane Teresinha Fontana (disponível em www.scielosp.org/pdf/ reben/v59n3/a02v59n3.pdf, ou pelo QR code acima). Capa da 1ª edição, em 1987 Ano XXIV Nº 70 Junho 2012 CONTROLE DE INFECÇÃO é uma publicação da Becton Dickinson Indústrias Cirúrgicas Ltda. Coordenação: Tássia Wagner Coordenação científica: Soraya Boccato e Fernando Malgueiro Jornalista responsável: Milton Nespatti (MTB 12.460-SP) Revisão: Fernanda Radtke (Folks CC) Projeto gráfico e diagramação: Folks Comunicação Conteúdo (www.folks.cc). As matérias desta publicação podem ser reproduzidas, desde que citada a fonte. As opiniões e conceitos publicados são de responsabilidade dos entrevistados e colaboradores dos artigos. Tiragem desta edição: 20 mil exemplares. BD Medical R. Alexandre Dumas, 1.976 São Paulo SP 04741-004 CRC 0800-055 56 54 www.bd.com/brasil 2 CONTROLE DE INFECÇÃO Nº 70
Ci LEGISLAÇÃO Ferramenta para a segurança e a saúde do profissional Mais do que estabelecer diretrizes para o controle e prevenção de acidentes com perfurocortantes, a Portaria 1748 do MTE incentiva a gestão orientada para a segurança do profissional da saúde Vera Lucia Cantalupo, assistente técnica da representação dos empregadores na CTPN da NR 32 desde 2004, consultora e instrutora da empresa NOSBUSINESS. Mais que um documento, a NR32 é uma ferramenta de gestão moderna e dinâmica, resultado da evolução das práticas e atualizações tecnológicas na área da Saúde. A norma atende às novas necessidades que surgem com essas mudanças e visa à melhoria da segurança e saúde do trabalhador. Nesse sentido, a Portaria 1748 do Ministério do Trabalho e Emprego, publicada em 30 de agosto de 2011 e com prazo para cumprimento até 31 de dezembro de 2011, é uma resposta às atuais dúvidas da sociedade que chegaram à CTPN da NR-32. A resolução orienta as instituições de saúde para que possam organizar e utilizar dados relevantes para a definição de ações e metas claras e contínuas como ferramenta de gestão dos riscos e dos acidentes que envolvem materiais perfurocortantes. Com isso, é possível traçar medidas eficazes de controle e prevenção. A portaria estabelece diretrizes que vão desde a definição do que é um material perfurocortante até a constituição de uma Comissão Gestora, que é o ponto essencial do sucesso de seu Anexo III. A Comissão Gestora do Plano de Prevenção de Riscos de Acidentes com Material Perfurocortante (PPRA-MP) tem responsabilidades bem definidas e sua constituição exige atenção especial. Dar condições operacionais para que a Comissão Gestora possa estabelecer seu plano de trabalho é uma VERA CANTALUPO: Estabelecer prioridades e traçar as metas de crescimento da instituição de saúde são demandas intimamente ligadas às práticas estabelecidas na NR 32 e agora reforçadas pela Portaria 1748 garantia de sucesso na implantação da Portaria. Os dados estatísticos necessários ao desempenho do trabalho dessa Comissão deverão ser disponibilizados sempre que necessários e a interação entre os representantes da Comissão e os funcionários, juntamente com a Direção do estabelecimento de Saúde, são de suma importância para o bom andamento do trabalho. É importante lembrar que dentre as atribuições da Comissão Gestora estão os cuidados e os critérios a serem estabelecidos para a implantação dos materiais perfurocortantes com dispositivo de segurança. Estabelecer prioridades e traçar as metas de crescimento da instituição de saúde são demandas intimamente ligadas às práticas estabelecidas na NR 32 e agora reforçadas pela Portaria 1748, com a qual os empregadores poderão mais uma vez ser beneficiados por melhores práticas de gestão, visando fatores essenciais como qualidade, segurança, saúde e preservação da integridade física e mental do maior capital da empresa, que são seus funcionários. CONTROLE DE INFECÇÃO Nº 70 3
Ci ENTREVISTA Dr. Marcelo Pustiglione (em pé, segundo da esq. para a dir.) e integrantes da CGM do HCUSP Um time que veste a camisa da prevenção O Hospital das Clínicas da FMUSP compartilha os desafios enfrentados por sua Comissão Gestora Multidisciplinar para a implantação do Plano de Prevenção de Riscos de Acidentes com Material Perfurocortante Desde a criação da Comissão Gestora Multidisciplinar (CGM) para implantação do Plano de Prevenção de Riscos de Acidentes com Material Perfurocortante (PPRAT-MP) em outubro passado, o Hospital das Clínicas de São Paulo já vê benefícios para os profissionais e melhorias no atendimento aos pacientes. De acordo com médico do trabalho e Coordenador do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina (SESMT) do HC, Dr. Marcelo Pustiglione, que também preside a CGM-MP, a comissão foi criada por determinação da Diretora Clínica da Instituição, Profa. Eloisa Bonfá. Segundo ele, durante os dois meses finais de 2011, antes do fim do prazo de implantação do plano, os membros da comissão elaboraram um regimento interno, fizeram levantamentos dos casos de acidentes percutâneos no último semestre e estabeleceram um cronograma de ações. Em entrevista à Ci, o Dr. Marcelo Pustiglione relata os fatos que envolvem a missão da Comissão Gestora Multidisciplinar e os benefícios que o PPRA-MP (veja nota ) pode gerar aos profissionais de saúde, além da melhora na qualidade do atendimento. CONTROLE DE INFECÇÃO Como a Portaria 1748 e seu Anexo III para a NR 32 podem contribuir na execução de um plano para prevenir acidentes com material perfurocortante? Dr. Marcelo Pustiglione Nós da Comissão Gestora Multidisciplinar para o PPRA-MP estamos vivenciando uma melhora importante no processo de implantação da NR 32, na medida em que a Portaria 1748 chamou a atenção e foi acolhida de imediato pela Diretoria Clínica do HC FMUSP. Entendemos que o Anexo III seja um avanço, pois orienta os serviços de saúde na gestão de um evento tão previsível quanto passível de prevenção e ao mesmo tempo tão dramático e prejudicial à vida do trabalhador da saúde. Ci O HC fez algo além do que exige o Anexo III? Dr. Marcelo Fomos além do que o Anexo III descreve. Ampliamos a composição da CGM-MP criando um Colegiado com sete Membros e três Grupos de Trabalho Ampliados que são representados na CGM-MP por seus Coordenadores. Assim, ao invés de termos apenas um representante do SESMT, podemos contar com profissionais de todas as áreas de especialidade deste serviço. Isto é muito importante, pois os Programas de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e de Controle Médico de Saúde Ocu- 4 CONTROLE DE INFECÇÃO Nº 70
pacional (PCMSO) são fundamentais na gestão do PPRAT-MP. Como exemplo, podemos citar o programa de vacinação e de controle sorológico, a abordagem, análise e seguimento dos casos de acidentes percutâneos, entre outros. Nossa comissão também agrega um representante do Núcleo de Informação em Saúde-NIS para gerenciar as notificações dos casos de acidentes, incorporando o método analítico e epidemiológico indispensável para a compreensão dos nexos e controle das causas envolvidas, elementos de grande utilidade na estruturação dos programas de capacitação. Ci Quais outros diferenciais esta comissão projeta na execução do PPRA-MP? E que resultados estão sendo obtidos? Dr. Marcelo Desde a publicação da Portaria 1748, em agosto do ano passado, incluímos em nosso programa a capacitação dos profissionais de saúde da Instituição, em parceria com a BD. Agora estamos trabalhando num projeto de capacitação em rede, nos moldes da educação a distância. Para isso, contamos com as parcerias internas da Escola de Educação Permanente e do Departamento de Telemedicina da FMUSP. Já temos um diagnóstico situacional mostrando que cerca de 71% das exposições acidentais com material biológico ocorrem com perfurocortantes e, dentre estas, as agulhas com lúmen estão em 67% dos casos. Observamos também que, na maioria dos casos, os acidentes ocorrem durante os procedimentos nas unidades de emergência e terapia intensiva nas atividades médi- Na maioria dos casos, os acidentes ocorrem durante os procedimentos nas unidades de emergência e terapia intensiva nas atividades médicas, enfermagem, higienização e limpeza cas (incluindo residentes), enfermagem, higienização e limpeza. Com estes dados preliminares, iniciamos um plano de prevenção focado na capacitação e na introdução de perfurocortantes com dispositivo de segurança. Ci Como o senhor avalia as dificuldades na gestão do PPRA-MP? Dr. Marcelo Existem dois obstáculos principais: um econômico e outro estratégico. Este último envolve a dificuldade de reunir os grupos de trabalhadores para as sessões de capacitação. Logicamente o cuidado ao paciente não pode ser interrompido e, por isso, é necessário programar escalas de horários para a capacitação de cada grupo. Além disso, muitos cuidadores, particularmente os que dão plantões, ficam exauridos e não têm condições de permanecerem Grupos de Trabalho Ampliados (GTs) GT1 Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho GT2 Atividades de Enfermagem GT3 Materiais Perfurocortantes mais algumas horas em processo de treinamento. É por isso que estamos trabalhando num projeto de educação a distância. O obstáculo econômico é mais simples, pois está relacionado à substituição dos perfurocortantes convencionais pelos que possuem dispositivo de segurança. Esta é uma decisão meramente administrativa, que porém deve ser baseada em diagnóstico técnico e científico de necessidade competente e claro. Ci Que recomendações o senhor dá aos profissionais e gestores de serviços de saúde quanto à implantação do Anexo III da Portaria 1748? Dr. Marcelo A banalização e a negação do risco, tão frequentes entre os profissionais de saúde, devem dar lugar a um verdadeiro espírito prevencionista. A NR 32 veio em boa hora, pois o que era uma solicitação dos SESMTs passou a ser uma obrigação legal. Se considerarmos os custos das autuações, multas e processos e compararmos com os custos de aquisição de materiais de segurança, equipamentos de proteção individuais e coletivos, além da disponibilização da capacitação, é fácil concluir que vale mais a pena prevenir do que remediar. Por dentro da CGM-MP Colegiado Representante da Diretoria Clínica Representante da Superintendência Coordenador Médico SESMT Vice-presidente CIPA Presidente CCIH Representante do Núcleo Técnico de Enfermagem Representante do Núcleo de Informação em Saúde Previsto no Anexo III da Portaria 1748 para a NR 32, o PPRA- MP estabelece modelos de processos preventivos visando à proteção, segurança e saúde dos trabalhadores e assistentes de saúde, no uso de materiais perfurocortantes. CONTROLE DE INFECÇÃO Nº 70 5
Ci ARTIGO Checklist contra a infecção hospitalar Milhões de pessoas no mundo enfrentam, anualmente, complicações cirúrgicas por conta de infecções que poderiam ser evitadas. Mas por que continuam ocorrendo? Como operar processos e equipamentos sofisticados sem erros, esquecimentos e distrações? Dra. Silvia Nunes Szente Fonseca, gerente médica do Hospital São Francisco, em Ribeirão Preto (SP). Na segunda metade do século XIX, a infecção era responsável pela morte de metade dos pacientes operados. Com a implementação da esterilização de instrumentos e conceitos de assepsia, o grande cirurgião britânico, Dr. Joseph Lister, conseguiu diminuir as mortes cirúrgicas em 70%, o que foi uma verdadeira revolução em cirurgia. Atualmente, pela primeira vez na história da humanidade, há mais cirurgias que partos. Estima-se que cerca de 240 milhões de cirurgias acontecem todos os anos no planeta, o que representa uma cirurgia para cada 25 habitantes. Entretanto, a taxa de complicações é assustadora: estima-se que no mundo todo cerca de 7 milhões de pessoas têm alguma complicação importante após cirurgia, com cerca de 1 milhão de mortes. Mesmo em países considerados desenvolvidos, como por exemplo, nos Estados Unidos, todos os anos 150 mil pessoas morrem após complicações cirúrgicas, o que representa três vezes mais mortes que em acidentes automobilísticos. Uma parcela destas mortes se deve à infecção cirúrgica. Estudiosos do assunto demonstraram que muitas destas mortes são evitáveis. Mas por que continuam ocorrendo? Porque a medicina se tornou a arte de lidar com processo de extrema complexidade e o desafio é a implementação de tratamentos sofisticados executados por pessoas, que são sujeitas a erros, esquecimentos e distrações. Provavelmente, não conseguimos implementar todas as boas práticas já descritas para diminuir complicações, incluindo as infecções. Checklist Em 2007, pesquisadores se reuniram na sede da Organização Mundial de Saúde para estudar o crescente problema das mortes e complicações que se seguiam às cirurgias, em todo Pioneirismo Em 2009, o Hospital São Francisco de Ribeirão Preto desenvolveu um plano pioneiro na região para implementação do checklist da cirurgia segura. A adesão ao checklist subiu de 7% em novembro de 2009 para 73% em fevereiro do ano seguinte. A partir de março de 2010, a adesão variou de 95% a 98%. Comparando-se os índices de infecção de sítio cirúrgico de 2009 com 2010 e 2011, houve uma queda de 65% (2010) e 75% (2011). As maiores quedas foram verificadas em cirurgias ortopédicas, cardíacas e neurocirurgias. Houve também uma queda significativa da mortalidade cirúrgica em 23%. O apoio da alta administração e a adesão de todas as equipes foram os elementos- -chave para o alcance destes bons resultados. 6 CONTROLE DE INFECÇÃO Nº 70
DRA. SILVIA FONSECA: Podemos diminuir o sofrimento e as mortes. A implementação do checklist da cirurgia segura é possível em qualquer hospital o mundo. Depois de muito estudo e pesquisa, que incluiu uma visita ao departamento de checklists da companhia Boeing em Seattle, Estados Unidos, foi criado o checklist da cirurgia segura. Este checklist é composto de 19 itens a serem verificados antes do início da anestesia, antes do início da cirurgia e antes do paciente sair da sala cirúrgica. A ênfase está nas questões de segurança, como por exemplo, certificação da identidade do paciente, qual cirurgia a fazer, lateralidade, se o paciente tem alergias ou outros problemas. Há também um importante componente de prevenção da infecção cirúrgica, a saber, o horário da administração do antibiótico profilático (imediatamente antes da incisão) e se todos os materiais necessários estão presentes, devidamente esterilizados e prontos para serem utilizados. As questões devem sempre ser perguntadas em voz alta, para que todos da equipe cirúrgica participem das respostas. Esta verificação deve durar no máximo entre 60 a 90 segundos. Os pesquisadores então testaram o checklist em 8 diferentes países, 4 considerados desenvolvidos e 4 considerados em desenvolvimento: Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Nova Zelândia, Jordânia, Índia, Tanzania e Filipinas. Cerca de oito mil pacientes submetidos a cirurgias foram estudados, antes e depois da implementação deste simples checklist. Ou seja, 4 mil tiveram suas cirurgias feitas da maneira habitual e 4 mil foram submetidos à cirurgia com a equipe usando o checklist. Os resultados foram surpreendentes: em todos os países, ricos e pobres, o índice de complicações caiu 36%, as mortes caíram em 47%. A maioria dos hospitais mostrou uma queda significativa dos índices de infecção, e no geral a queda do índice de infecção cirúrgica foi de 45%. Estes resultados foram publicados The New England Journal of Medicine em 2009, com grande repercussão em todo o mundo. A Organização Mundial de Saúde incluiu a implementação do checklist como a etapa necessária para diminuição de mortes em cirurgia no mundo, e a implementação do checklist faz parte do que é conhecido como Segundo Desafio Global Para Segurança do Paciente. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVI- SA, também abraçou a causa e, desde 2010, vem recomendando às instituições de saúde brasileiras que adotem o checklist em suas cirurgias. Em resumo Apesar de toda complexidade do atual atendimento à saúde, podemos melhorar, podemos diminuir sofrimento e mortes. A implementação do checklist da cirurgia segura é possível em qualquer hospital, rico ou pobre, de ensino ou rural. Possivelmente, uma cultura de disciplina, trabalho em Veja o modelo equipe e determinação implantada em aprovado pela do checklist todos os hospitais OMS e adaptado à realidade brasileiros poderá levar a estes disponível em brasileira, http://www. bons resultados medicinanet.com. conseguidos pelas br (ou pelo QR equipes cirúrgicas code acima) que implantaram o checklist da cirurgia segura em vários países. A experiência do Hospital São Francisco de Ribeirão Preto demonstra isso. Bibliografia e sites consultados 1. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Safe Surgery Program. Disponível em <http://www. who.int/patientsafety/safesurgery/en/>. Acesso em 29 de março de 2012. 2. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Segundo desafio global para a segurança do paciente Cirurgias seguras salvam vidas: orientações para cirurgia segura da OMS. Tradução de Marcela Sánchez Nilo e Irma Angélica Durán. Rio de Janeiro: Organização Pan-Americana da Saúde; Ministério da Saúde; Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2009. 3. GAWANDE, ATUL. The Checklist Manifesto: How to Get Things Right, 1 st edition, 2009. New York: Metropolitan Books. Henry Holt and Company, LLC, 2009. CONTROLE DE INFECÇÃO Nº 70 7
Ci ESPAÇO SCIH Por um profissional de controle de infecção conectado e atualizado A Associação Gaúcha de Profissionais em Infecção Hospitalar AGIH é referência na informação e educação para quem atua na área Um dos grandes desafios na área de controle de infecção é a falta de qualificação de profissionais especializados em hospitais que não possuem a estrutura ideal para o desenvolvimento do CIH. O problema acontece com muitos laboratórios de microbiologia, especialmente os que atendem o SUS, que não possuem o respaldo de um hospital-escola, o que acaba repercutindo na qualidade das culturas e testes de resistência, explica o Prof. Marcelo Carneiro, presidente da AGIH Associação Gaúcha de Profissionais em Controle de Infecção Hospitalar. A missão da AGIH é justamente promover a qualificação no exercício do controle de infecção, buscando o aperfeiçoamento dos profissionais e uma melhoria da qualidade nas instituições onde atuam. Em breve, a AGIH colocará em prática mais uma boa ação. Enviará ao Ministro da Saúde um parecer técnico em conjunto com a ABIH, do cenário caótico dos laboratórios de microbiologia, baseado num estudo com mais de 100 instituições do Brasil, idealizado pela Dra. Flávia Trench, CCIH do Hospital Ministro Costa Cavalcanti de Foz do Iguaçu e do Dr. Alessandro Pasqualotto, da Santa Casa de Porto Alegre. Está previsto também o lançamento de uma publicação oficial da associação. DR. MARCELO CARNEIRO: Mais do que manter-se atualizado, o profissional de controle de infecção deve buscar maior representatividade Representatividade política e em saúde pública Saiba mais! Desde 1991, a AGIH promove a qualificação para o controle de infecção, buscando o aperfeiçoamento dos profissionais e uma melhoria da qualidade nas instituições onde atuam, além de manter os profissionais de saúde congregados em equipes multidisciplinares e atualizados cientificamente. Na opinião do Dr. Marcelo Carneiro, mais do que manter-se atualizado sobre os aspectos importantes que fazem parte de seu trabalho diário, o profissional de contro- le de infecção hoje deve buscar maior representatividade, seja no ponto de vista político como de saúde pública. A entidade mantém parcerias com o Comitê Estadual de Controle de Infecção e o Centro de Vigilância Epidemiológica do RS em situações de multirresistência e de pandemia. Outras parcerias são com as instituições de ensino, capacitando os profissionais e acadêmicos da saúde de todas as cidades do Rio Grande do Sul. O site www.agih. com.br contém artigos, Isto é um QR code. documentos, normas, Basta fotografá-lo com o aplicativo manuais disponíveis de leitura de para download e até QR codes do um serviço de consultoria técnica. seu smartphone para ter acesso a websites e Todo o acervo científico digital da AGIH da matéria. conteúdos extras vem se desenvolvendo graças ao trabalho da diretoria, associados e parceiros. 8 CONTROLE DE INFECÇÃO Nº 70